A frase que escolhemos de título poderia perfeitamente ser proferida por um torturador em pleno ato de violência, corrosão e degradação da dignidade humana.
Vivemos tempos estranhos. Alguns filmes fazem propaganda de métodos de tortura e recebem o aplauso de parte crítica. Alguns presidentes constroem atos legislativos que permitem a tortura e autorizam seu uso como prática institucionalizada.
É o que se lê em matéria do jornal Brasil de Fato:
O afogamento simulado de um preso “é legal porque os advogados dizem que é legal. Não sou advogado”, disse Bush em novembro de 2010, ao ser entrevistado pelo jornalista Matt Lauer. “Claro que o faria”, respondeu o ex-presidente ao ser perguntado se voltaria a tomar a mesma decisão.
Márcio Sotelo Felippe, em brilhante artigo publicado neste Viomundo, expôs os dilemas éticos e morais da atual sociedade, ao analisar a tentativa de se justificar a prática da tortura por parte de articulista de um jornal de um grande conglomerado de comunicação.
A tortura torna-se, assim, com uma contribuição aqui, outra ali, senso comum para uma parte do universo social e ganha a força tremenda da convencionalidade. Para uma outra parte, desliza para uma mera questão de ponto de vista. Você pode ser a favor ou contra a tortura do mesmo modo como é, digamos, a favor ou contra o parlamentarismo. Um tortura para salvar bebês. Outro, como agente do Estado, para defender a sociedade dos criminosos. Comentaristas de internet, após ler o artigo de Caligaris, assistir Tropa de Elite ou o filme de Bigelow se veem legitimados para escrever pérolas como “bandido bom é bandido morto” e “direitos humanos são para humanos direitos”.
Voltemos à frase do título. Anteontem, 25.03.13, em cadeia nacional de televisão e não em uma sala obscura do DOPS ou de Guantánamo, ela foi proferida por um jornalista/humorista.
O escárnio e desrespeito à dignidade da pessoa humana praticado por alguns programas de TV – que se dizem misto de jornalismo e humor – ultrapassou todos os limites éticos com a “matéria” que veio ao ar ontem, realizada na Câmara Federal e com intenção de agredir o deputado José Genoíno.
Pinçaremos algumas frases ditas pelo jornalista/humorista. Avisamos, desde já, que é preciso estômago para continuar a leitura.
“Feliciano na Comissão de Direitos Humanos, Genoíno na CCJ, chegou a hora de pegar o goleiro Bruno e colocar pra ministro do esporte, vai (…) ou botar o Nardoni pra vara da infância”.
O períplo “justiceiro” pelos tapetes da Câmara continua em ritmo de passo apressado, permeado por tiros certeiros de infâmia:
“Ô Genoino, quanto tempo a gente tá querendo te procurar, como é que está o senhor? Você veio aqui se esconder porque lá na prisão é pior? Aqui tem mais bandido, é mais fácil? Tá fazendo voto de silêncio, Genoino? Vai ser bom na prisão lá, além de X9 não se ferra, né? (…) A gente estava atrás de você o tempo todo, Genoino, fala com a gente um pouquinho, só dá um tchau”.
Atingindo o ápice da cretinice, arremata:
“Genoino, você vai passar onde o reveillon? Na papuda? Já sabe como é que vai ser? Qual prisão?”
Depois do constrangimento causado o repórter/humorista tenta justificar o ato de agressão dizendo que:
“como vocês puderam notar, mais uma vez o deputado Genoino não respondeu às perguntas do CQC o que ele tem feito constantemente com a imprensa nacional. A gente quer ouvir umas respostas, a população brasileira também quer”.
Pronto, a palavra mágica de estar agindo em nome do povo serve de véu para encobrir as nódoas de um péssimo jornalismo e de um humor sem graça alguma.
O programa ataca o deputado Genoino em razão de uma condenação evidentemente política que sequer transitou em julgado, mas não vê problema ético em se utilizar e obrigar uma criança a mentir, se dizendo filho de um militante petista, com intenção de enganar o parlamentar, para que ele profira algumas palavras sobre o seu processo.
Ao final, na bancada principal, – em que tomam assento os principais jornalistas/humoristas do programa – a infâmia não cessa. Ao contrário, se aprofunda com os risos sobre um “presente” que o programa oferece ao deputado: um livro sobre presídio com um fundo falso em que se esconde um celular (!).
A matéria toda é desrespeitosa não só para com o deputado, como também, aos parlamentares em geral. Busca-se, com isso, desacreditar o parlamento brasileiro com a tentativa de consolidação de um estereótipo de que todos os deputados e senadores que o compõem sejam ladrões, burros e não trabalhem.
O ataque é seletivo e premeditado. Não se vê matérias deste tipo de programa no Poder Judiciário. Não se vê matérias desses programas na FIESP ou FEBRABAN. O que se quer é por de joelhos o Congresso Nacional para que não se aprove leis que contrariem os interesses ideológicos dos grandes meios de comunicação.
Daí que o alvo seja sempre os parlamentares, ora com perguntas estultas para expô-los ao ridículo, ora com agressões e violências como as praticadas contra José Genoino.
Ninguém, sendo deputado ou não, está obrigado a dar entrevista a quem quer que seja. Isto deve ser respeitado. No entanto, sequer se tratava de uma entrevista, tendo em vista a virulência, desrespeito e impropriedades das perguntas lançadas pelo repórter/humorista.
A real intenção do jornalista/humorista, se é que é capaz de encontrar alguma racionalidade em seu ato, talvez fosse a de ser agredido e, assim, alcançar o estrelato de muitos minutos de fama na grande mídia. O deputado, no entanto, com toda sua dignidade, não passou recibo. Ignorou por completo a violência recebida e foi extremamente atencioso com a criança.
Em muitos casos, o híbrido humor/jornalismo é um salvo conduto para se ferir a dignidade das pessoas. Se por acaso precisam de credencial para entrar em lugares que se fazem presentes jornalistas, dizem que o são. Quando extrapolam qualquer limite ético para seu exercício, se dizem humoristas. E assim se vai levando.
No caso da matéria aqui analisada, não se tratou de jornalismo, sequer de humor. Não existe graça na violência gratuita. Poderíamos nominar como sadismo, mas não existe almoço grátis, estamos diante de uma estratégia política deliberada e colocada em curso há algum tempo.
* Patrick Mariano Gomes é advogado, integrante da Rede Nacional de Advogados e Advogadas Populares (Renap) e mestrando em Direito, Estado e Constituição na Universidade de Brasília – UnB.
8 comentários:
CQC esta lonje de ser um programa de humor inteligente, comedia pastelão ou uma inocente e descontraída critica jornalistica, na verdade, trata-se de uma peça publicitária reacionária preparada pra refletir todo o ódio de classe da direitona, transmitir o desprezo contra os avanços sociais nos ultimos 10 anos e destilar o preconceito contra as " minorias", movimentos sociais, e as pessoas que estão lutando contra a opressão capitalista, enfim, eu sinto pena daqueles profissionais que, no passado recente, contribuíam com seu trabalho pro Brasil ser melhor pro seu povo e hoje estão nestes descaminhos. lamentável
Concordo totalmente, agressao gratuita e despropositada, infelizmente eh por essa e outras que existe projeto visando controle de orgaos de imprensa
Disse a verdade.
conheço alguem que me disse ,certa feita, que dinheiro algum merece o sacrificio da nossa consciencia porque algum dia, cedo ou tarde,o remorço que vem a tona remove nossa paz de espirito. essas pessoas do CQC deveriam buscar dedicar-se a algo mais construtivo e edificante pra si mesmas e pro país, do que servir aos propósitos mesquinhos e egoistas do capital.
Miro, o Genoíno bem que merecia uma boa reportagem sobre sua vida, sua família e seus filhos (que não servem de laranja para receber bens).
Bem que os seus amigos da Record ou da TVT poderiam providenciar um vídeo deste para o circularmos na internet.
A história de homens como este precisa permancer viva pois do contrário só restarão as histórias dos outros políticos.
O CQC é um lixo que nem para reciclar serve. A baixeza desses "huoristas" caberia bem nos gabinetes dos ditadores Somoza, Videla, Pinochet e dos militares da ditadura brasileira. A Band - com exceção do Boechat - tem em seu cast o que de mais chulo há à disposição do mercado. Um dia desses, Neto - programa de espotes - fez elogiaos ao Malafaia!!! O Zé Paulo e o Salomão Esper vomitam tanto preconceito de classe que dá nojo. Dizem que todo ser humano tem a dimensão da transcendência. Esses do CQC e demais assemelhados não podem ser humanos.Eles dariam inveja ao famigerado torturador Flury. Ainda bem que não eram nascidos ou eram crianças(os do CQC)na época da ditadura brasileira. Se fossem,os assassinatos e desaparecimento de cidadãos teria sido bem maior. Punição para essa ralé reacionária e nazifascista que ocupa a TV.
Infelizmente, eu não posso usar esse espaço para dizer o que penso de verdade sobre esse pessoal do CQC, em respeito às mães deles. Apesar de que foram elas que criaram esses seus filhos das...
Bem, não li todo o artigo em virtude do exagero do autor em relação a temas dignos da inocência de "pseudointelectuais" que um dia, e eu não desejo isso pra ninguém, mas um dia deveria passar por momentos de tortura pelo menos pscológicas nas mãos de bandidos.Eu sou a favor da frase.."bandido bom é bandido morto".Não acho isso exagero.Enquanto o cidadãos de bem trabalham, fazem seus trajetos suado para a luta do di-a-dia, intelectóides débeis mentais como esse autor se acha no direito de defender bandido?.....véi....na boa, vc está na profissão errada.Deveria ter cursado direito e ir pra porta de uma cadeia defender por exemplo um estrupador de crianças, ou um assasíno que matou por causa de 5 reais, ou outro que matou por causa de uma moto, celular, correntinha...ou memso um que um dia possa te matar por causa de sua caneta.Esta mais que certa a fraze:Direitos Humanos para Humanos Direitos...por que bandidos tem que ter como único instrumento de defeza os seus advogados e não a sociedade!!!!
Maurício Santos
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