quarta-feira, 12 de novembro de 2014

Eduardo Cunha e a mídia democrática

Por Sônia Corrêa

Circula nos corredores da Câmara que Eduardo Cunha (PMDB/RJ) é o mais atuante “lobista” entre os congressistas. Cunha foi presidente da Companhia Estadual de Habitação (Cehab), que controla as verbas destinadas à construção de casas populares, durante o governo Garotinho e foi acusado de favorecer a empreiteira vencedora de concorrências consideradas irregulares pelo Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro (TCE).

Atualmente, Eduardo Cunha e Garotinho, ambos deputados federais, são inimigos assumidos. Em 2011, chegaram trocar pesadas farpas pelo Twitter. No STF, Eduardo Cunha responde inquérito por crimes contra a ordem tributária. Também pesa contra ele ações de improbidade administrativa e agora aparece como candidato a presidência da Câmara.

Apesar de um vasto currículo de acusações e processos, numa campanha, cuja imprensa tradicional colocou a carapaça de guardiã das eleições limpas e dos políticos “honestos e ficha limpa”, ficou nítida a blindagem dada pelos grandes veículos, ao (então) candidato à reeleição, Eduardo Cunha.

Tal comportamento dos barões da mídia têm explicação e (como tudo na mídia brasileira) lado. Eduardo Cunha é famoso por sua postura de enfrentamento feroz a qualquer tentativa de democratização da comunicação. Durante o processo de discussões, construção e votação do Marco Civil da Internet, Cunha atuou como um devotado e selvagem cão de guarda dos empresários das “teles”, visando impedir, principalmente, a neutralidade da rede que impedia a chamada cobrança de “pedágio” e impede a discriminação do tráfego de pacotes a partir do seu conteúdo, fonte ou destino.

Prova inconteste de suas intenções a serviço da grande mídia e seu “pagamento” ao desserviço de ocultação de sua biografia pela imprensa tradicional, é a própria declaração de Eduardo Cunha que afirmou peremptoriamente que, se depender dele, engavetará todos os projetos que visem a democratização da mídia que, eventualmente, cheguem até a Câmara dos Deputados. Tal declaração o torna, portanto, o candidato oficial dos barões da mídia e, por outro lado, o inimigo número 1 da mídia democrática.

O Brasil somente poderá avançar na consolidação de sua democracia, à medida que avançar para a constituição de uma imprensa que cumpra o seu verdadeiro papel. Enquanto tivermos uma mídia concentrada, com o nítido papel de formação de opinião social, a partir dos interesses dos poderosos, viveremos sob uma ditadura mascarada que, a exemplo do “fordismo”, na revolução industrial, apropria-se dos corações e mentes e forja-os de acordo com seus interesses.

Lutar contra a eleição de Eduardo Cunha, é lutar por uma nova Lei da Mídia Democrática, que assegure a pluralidade de ideias e opiniões, promova e fomente a cultura nacional e garanta a participação social na formulação, implementação e avaliação de políticas de comunicação.

Lutar contra a eleição de Eduardo Cunha à presidência da Câmara significa lutar pelo aprofundamento da democracia no Brasil.

* Sônia Corrêa é diretora de política públicas do Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé.

1 comentários:

Ramalho disse...

Uma coisa é Cunha se dizer contra a regulação da mídia e lutar contra essa regulação. Isto é democrático. Outra é impedir o debate sobre a regulação afirmando publicamente que ele sozinho bloqueará o debate engavetando iniciativas nesse sentido. Isso é ir na contramão da democracia, em pleno Congresso Nacional! É incrível como o viés antidemocrático explícito da declaração de Cunha não tenha sofrido forte condenação ao menos nos blogs.