terça-feira, 20 de abril de 2010

Eleição na Bolívia e distorções da mídia

Reproduzo artigo enviado pelo amigo Max Altman, um internacionalista militante:

Assim que saíram os primeiros resultados de boca de urna das eleições para governadores de departamento e prefeitos levadas a efeito no início de abril na Bolívia, a nossa açodada e interessada mídia estampou que Evo Morales perdia terreno. Ganhava na maioria dos nove departamentos, mas perdia em sete das 10 principais cidades. E o mais grave, segunda a nossa grande imprensa, o MAS (Movimiento Al Socialismo) de Evo recebia menos votos que Evo Morales havia recebido nas eleições presidenciais de dezembro de 2009.

Em defesa de sua tese, a grande mídia, maliciosamente, tentou comparar o que não pode ser comparado: uma coisa é a eleição presidencial, outra, eleição para governador e mais ainda, para prefeito. Fatores díspares entram em jogo nessas distintas eleições, como todos, inclusive os jornalões, rádios e televisões, estamos cansados de saber. Ainda assim, Evo e seu partido ganharam em seis dos nove departamentos – avançando proporcionalmente em todos eles, especialmente nos três da ‘media luna’, onde perdeu - e 229 das 337 prefeituras.

No entanto, para o escrutínio e as devidas conclusões dos leitores, vamos comparar abaixo alho com alho e não com bugalho. A comparação correta é: eleições ‘prefecturales’ (chamavam-se prefeitos os governadores dos departamentos pela anterior constituição) de 2005 com as eleições ‘gubernamentales’ (chamam-se agora governadores pela atual Constituição) de 2010.

Antes cabe ressaltar que o pleito de 4 de abril foi a quinta consulta popular desde que Evo Morales foi eleito presidente em 2005. Sob a égide da Constituição Plunacional Política do Estado é a segunda. Foi mais uma grande vitória da democracia. Comparecimento maciço, cerca de 5% de abstenção, sede de votar e participar, tranqüilidade e lisura do processo – salvo exceções vindas exatamente de gente do passado.

O modelo democrático que começou a ser aplicado no país e que está expresso na atual Constituição, aprovada em referendo popular por esmagadora maioria, garante o direito civil e político a seus homens e mulheres, brancos, mestiços e indígenas, de expressar livremente seus pensamentos e opiniões. Ficou para trás a era de golpes militares e conchavos das oligarquias, de costas e contra os interesses do povo. A democracia na Bolívia se consolida visivelmente e, sob a liderança de Evo e Garcia Liñera, avança para conquistas no campo econômico e social

Vamos agora aos números. Observem que as cifras do MAS estão em negrito e que incluí outros partidos melhor colocados em 2005 e os dois primeiros em 2010. Peço que se centrem mais nas porcentagens visto que, a par de um notável avanço tecnológico na constituição do registro eleitoral, houve um extraordinário crescimento do eleitorado de 2005 a 2010. Os dados são da Corte Nacional Eleitoral de Bolívia.


Estado 2005 2010


Chuquisaca MAS 66.999 (42,30 %) MAS 109.270 (53,6 %)

Podemos 57.552 (36,34 %) CST 72.314 (35,5 %)


La Paz MAS 321.385 (33,81 %) MAS 534.402 (50,0 %)

UM 361.055 (37,98 %) MSM 248.006 (23,2 %)


Cochabamba MAS 222.895 (43,09 %) MAS 415.245 (61,9 %)
AUN 246.417 (47,64 %) UM 174,175 (26,0 %)


Oruro MAS 63.630 (40,95 %) MAS 107,470 (59,6 %)
Podemos 43,912 (28,26 %) MSM 53.104 (29,5 %)


Potosi MAS 79.710 (40,69 %) MAS 163.989 (66,8 %)
Podemos 58.392 (29,80 %) AS 31.564 (12,9 %)


Tarija (media luna) MAS 28,690 (20,43 %) MAS 88.014 (44,1 %)
Encuentro 64.098 (45,64 %) CC 97.726 (48,9%) CR 47.637 33,92 %


Santa Cruz (media luna) MAS 151.306 (24,16 %) MAS 372.672 (38,3 %)
APB 299.730 (47,87 %) Verdes 511.684 (52,6 %) MNR 175.010 (27,95 %)


Beni (media luna) MAS 7.954 (6,72 %) MAS 60.477 (40,1 %)
Podemos 46.842 (44,63 %) Primero 64.055 (42,5 %)
MNR 31.290 (29,81 %) AUE 19.755 (18,82 %)


Pando (media luna) MAS 1.244 (6,00 %) MAS 17.003 (49,7 %)
Podemos 9.958 (48,03 %) CP 16.579 48,4 %
UM-MAR 9.530 (45,96 %)

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