quarta-feira, 13 de julho de 2011

Internet: É possível a neutralidade?

Por Marlos Mello

Num artigo publicado no jornal Mundo Jovem [ano 48, nº 406, maio 2010], trouxemos ao debate algumas provocações sobre o papel da internet nas campanhas eleitorais. O título do artigo era: “Internet e política: participação ou domesticação?” Naquele momento, nosso objetivo era questionar o otimismo tecnológico que tomava conta de grande parte dos brasileiros, principalmente dos políticos. Estes aguardavam ansiosamente por uma campanha que, pela primeira vez, seria caracterizada pela utilização das novas ferramentas de cunho virtual que permitiriam uma percepção em tempo real dos acontecimentos e, além disso, a esperança do financiamento das campanhas eleitorais pela internet.


Em termos gerais, a internet proporcionou momentos interessantes e intrigantes durante as campanhas eleitorais, porém ficou longe de substituir os antigos meios de comunicação, principalmente a televisão e o rádio. Diante disso, podemos, sem dúvida, interrogar-nos sobre a relação internet e política. É por esse caminho que vamos seguir.

É possível que alguns de nossos leitores estejam questionando o porquê de estarmos trazendo este assunto à baila. Procedendo por etapas, queremos explicar que, além de estarmos amadurecendo a ideia, também aguardávamos os resultados da pesquisa “O sonho brasileiro“, que teve por objetivo realizar um estudo sobre o Brasil e o futuro a partir da perspectiva dos jovens. A referida pesquisa afirma que há uma nova percepção sobre o significado do coletivo entre os brasileiros e que esta traz uma característica muito particular: interdependência entre o bem-estar individual e o da sociedade. Nesse sentido, os jovens acreditam que o fato de pensar em si mesmos não exclui o outro.

O tempo das grandes navegações

Se fosse possível, gostaríamos que você ficasse pensando na frase “os jovens acreditam que o fato de pensar em si mesmos não exclui o outro”. Observando atentamente, podemos perceber que essa frase está ancorada numa profunda reflexão ética e política, ou seja, no bem público. Porém, não acreditamos no mito do fácil, principalmente no que se refere a uma lógica de pensamento e comportamento. Não nos aprofundaremos nessa discussão, mas concordamos com Norbert Elias quando afirma em seu livro, A Sociedade dos Indivíduos: “Palavras como `indivíduo´, `sociedade´, `personalidade´ e `coletividade´, por serem armas ideológicas das lutas de poder de vários partidos e Estados, acham-se tão impregnadas de um conteúdo emotivo que é difícil destrinçar seu núcleo concreto dos desejos e temores dos que estão engajados nos combates.”

Contudo, a pesquisa “o sonho brasileiro” é interessante porque proporciona enxergarmos o Brasil diante do avanço tecnológico. Este, certamente, tem proporcionado mudanças consideráveis e isso é inegável. Na vida prática, no trato com as pessoas, podemos perceber, por exemplo, que a internet deu “gás” aos jovens no que se refere a diversos assuntos, mais especificamente na preocupação com o bem público, com o que é de todos.

Evidentemente, não são somente os jovens que andam se “aventurando” nas possibilidades da internet. Os políticos e as grandes empresas de comunicação (mídia tradicional) também estão dando as suas “navegadas” e tentando conquistar espaço no mundo virtual. Para alguns, estamos vivendo, novamente, o tempo das grandes navegações. E é dentro desse assunto que vamos mergulhar agora.

A internet está na moda

Outro dia, em uma entrevista, um importante deputado gaúcho relatou que o centro de divulgação do seu trabalho é a internet e, nesse sentido, o seu gabinete é mais “virtual” do que “físico”, ou seja, funcionando, basicamente, através de sua página pessoal e das redes sociais (Twitter, Orkut, Facebook). A partir do relato, podemos perceber que há um processo de transição, onde os políticos que conseguem se destacar no virtual adquirem uma determinada legitimidade – diferente da legitimidade proporcionada pela mídia tradicional, pois o que ocorre é uma autopromoção, estabelecida por uma relação direta entre o político e o eleitor.

É importante destacar que não são somente os políticos tradicionais que estão utilizando as novas ferramentas virtuais. Vale apontar que, numa observação superficial, há um aumento considerável de pessoas se destacando no “mundo virtual” buscando a tão “sonhada” carreira política. Claro, nada poderia ser mais interessante do que ver os políticos tradicionais, dos mais diversos e diferentes partidos, cargos, etc. preocupados, procurando se apropriar deste espaço para se legitimar, primeiramente, com os seus pares, colegas de partido.

No fim das contas, podemos perceber que as novas ferramentas virtuais se transformaram numa espécie de “salvação” dos políticos. Estes, se sentindo “ameaçados” pela inconstante relação com os grandes grupos de comunicação do país, estão encontrando nas redes virtuais-sociais um grande espaço para se lançar, comunicar e, principalmente, se legitimar junto à população.

Ao lançarmos a atenção sobre o que está em jogo no que se refere à política e à internet, não pretendemos desenvolver uma análise cientifica, mas, ao invés disso, uma provocação. Para isso, pedimos a você que imagine uma brincadeira chamada cabo de guerra. Nessa brincadeira, quem consegue puxar a corda para o seu lado, ganha. Agora, imagine que a corda é a internet. Esta, quase tanto quanto o futebol, está na moda. As questões e reflexões que surgem na internet saem dos círculos dos técnicos, dos especialistas, dos intelectuais que pretendem estar na vanguarda dos fatos e passam para o domínio público através dos blogs e das redes sociais de alcance e ambição diferentes.

Uma relação de interdependência

Todavia, um tempo atrás a internet era desprezada por políticos e pelas grandes empresas de comunicação que se mantinham hostis ao seu desenvolvimento. No entanto, atualmente, meio que por encanto, tanto os políticos, como as empresas de comunicação decidiram se “aliar” à internet e, mais do que isso. decidiram “ajudar” publicizando sua informação... buscando, certamente, assumir as rédeas da situação, ou seja, pontuando o que deve ser destacado e o que não precisa de tanta divulgação. Nesse sentido, a internet, que representava um território livre de politicagens, neutro de interesses financeiros, se tornou um pote de ouro cobiçado, tanto por políticos como também pelos grandes empresários de comunicação no Brasil.

Por seu uso, a internet é a bola da vez. Para os jovens, parece ser a “salvação da manipulação da informação”. Para os grandes órgãos de comunicação, talvez, mais um espaço a ser “dominado”. E para os políticos? Quem sabe, mais um espaço para se mostrar – efeito vitrine.

Ao estudarmos esse importante assunto percebemos que mesmo com a internet não há mudança na lógica de se pensar a comunicação no Brasil. Portanto, a relação entre a mídia e a política (leia-se grandes empresas de comunicação e políticos tradicionais) continua sendo de interdependência. Nesse sentido, se não houver uma transformação a internet seguirá o mesmo caminho dos outros meios de comunicação, pois não é a internet que liberta, mas sim, as pessoas que fazem uso dela.

1 comentários:

Fredd Oliveiras disse...

Quanto mais a Internet se populariza, mais tentam transformá-la num sistema de radiodifusão e tv.

Hoje, vemos diversas ações que claramente revelam esta postura:

- O aumento da velocidade de "download" sem o proporcional aumento da velociadade de "upload". É como se estivessem dizendo: cala a boca a ouve mais, leia mais do que escreva, assista mais do que se mostre.

- criação de computadores sem teclado e com pouca capacidade de processamento. Com a computação na nuvem, basta uma tv.

- a não distribuição de um ip fixo. Se cada usuário tivesse o seu ip, isso o tornaria independente de empresas de blogs ou de host.

- A criação de sistemas intermediários para gerenciar o relacionamento social (orkut, facebook etc.)

E muitas outras ações que amarram o usuário com filtros de spam, regras de conduta totalemnte arbitrárias etc.

É possível transformar cada usuário da internet num poderoso difusor de informação e cultura mas os velhos donos da tradicional mídia (no mundo inteiro) tem trabalhado arduamente pra impedir isso.

Fredd Oliveiras