Por Altamiro Borges
A iniciativa não tem nada de “humanitária”. Afinal, os
bancos são os maiores culpados pela grave crise que atinge a Espanha e outros países
da Europa. No reinado neoliberal da desregulamentação financeira, eles sugaram
as riquezas da sociedade, especularam com papéis podres e, diante do colapso da
anarquia do mercado, foram socorridos com dinheiro público. Agora, eles voltam
a exigir mais sacrifícios da população para manter os seus lucros, o que
resulta em desemprego, arrocho, miséria e milhares de despejos.
Temendo o forte desgaste na sociedade, a Associação de
Bancos da Espanha anunciou nesta semana que não promoverá despejos por
inadimplência no pagamento de hipotecas pelos próximos dois anos. Segundo o
cínico comunicado oficial da entidade, a medida leva em conta “a situação de
desamparo de muitas pessoas, devido à crise econômica” e foi adotada por “razões
humanitárias e no marco de sua política de responsabilidade social”. Mas os
banqueiros informam que ela valerá apenas em casos de “extrema necessidade”.
Segundo o jornal El País, que sempre defendeu os rentistas e
agora também afunda na crise econômica, 172 mil processos relativos a hipotecas
foram executados na Espanha desde 2008 e há outros 178 mil ainda em curso.
Desempregados e endividados, milhares de famílias perdem seus imóveis e passam
a residir em casas de familiares ou abrigos. Nas ruas de Madri, por exemplo,
uma cena que há muito não se via no velho continente – a de moradores de rua,
dormindo em barracas ou ao relento.
O quadro ficou ainda mais dramático e desumano com o aumento
do número de suicídios no país. Na última semana, duas pessoas se suicidaram por
perderem suas casas após inadimplência no pagamento de hipotecas aos bancos. Os
casos tiveram forte repercussão e indignaram os espanhóis. Manifestações contra
os despejos foram promovidas no país. Os despejados chegaram a acampar diante
da sede do Bankia, um banco privado “estatizado” pelo governo neoliberal para
salvar os banqueiros e rentistas.
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