quarta-feira, 5 de março de 2014

Os gastos com a Copa e com os juros

Por Altamiro Borges

Alguns “calunistas” da mídia têm defendido abertamente a realização de protestos durante os jogos da Copa do Mundo no Brasil. Agitadores de ocasião, eles nem disfarçam que apostam na desestabilização política com propósitos eleitoreiros – talvez como única forma de pavimentar uma candidatura de direita no segundo turno no pleito de outubro. No campo popular também há setores de oposição que adotaram a bandeira do “Não vai ter Copa”, mas com propósitos distintos – contra os gastos públicos excessivos no torneio e contra as desapropriações de imóveis nas proximidades dos estádios, entre outros. Para ambos, porém, vale a pena ler um estudo publicado na semana passada pela Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf).

A entidade ligada à CUT mostra que, do total de R$ 2,36 trilhões do Orçamento Geral da União para este ano, 42,42% (mais de R$ 1 trilhão) estão reservados ao pagamento dos juros e amortizações da dívida pública. Ou seja: toda esta grana alimentará a ganância dos banqueiros e da minoria parasitária que vive da especulação financeira. Segundo o estudo, o Brasil gastará com os agiotas três vezes mais do que com a Copa do Mundo. A mídia rentista conhece bem estes números abjetos, mas evita dar destaque à roubalheira por motivos políticos e econômicos. Já os setores populares deveriam aproveitar estes dados para concentrar as suas energias na crítica ao arrocho monetário promovido pelo governo Dilma e à ditadura do capital financeiro que impera no Brasil.

Reproduzo abaixo a íntegra da nota da Contraf:

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A Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT) condena com veemência a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) de elevar mais uma vez a taxa básica de juros, por entender que esse aumento vai desacelerar o já débil crescimento econômico, colocando em risco a política de geração de empregos, melhoria dos salários dos trabalhadores e a distribuição de renda.

Com a elevação da Selic para 10,75% ao ano nesta quarta-feira 26, o Brasil volta ao topo dos países com as maiores taxas de juros reais do planeta. Para a Contraf-CUT, essa é uma medida inócua para combater a inflação, que em 2003 foi de 5,91%, apresenta viés de queda e está rigorosamente dentro dos parâmetros definidos pelo Banco Central (4,5% a 6,5%).

"O aumento de 0,25% na Selic representa outra capitulação do Copom diante do terrorismo do mercado financeiro, o único ganhador desse jogo de cartas marcadas em que todos os demais setores da sociedade perdem", afirma Carlos Cordeiro, presidente da Contraf-CUT.

Do total de R$ 2,36 trilhões do Orçamento Geral da União para 2014, 42,42% (mais de R$ 1 trilhão) estão reservados para o pagamento dos juros e amortizações da dívida pública, 20% da qual é composta por títulos corrigidos pela Selic. A Previdência Social, que atende 27 milhões de pessoas, ficará com 20,05% do total (R$ 473,38 bilhões).

No ano passado, o governo federal repassou aos cerca de 50 mil portadores de títulos da dívida R$ 75 bilhões de juros, enquanto o Programa Bolsa Família, que atende 14 milhões de famílias, recebeu apenas R$ 18,5 bilhões. Do total da dívida, 25% estão nas mãos dos bancos e outros 24% com os fundos de investimentos controlados por instituições financeiras.

Cada ponto percentual acrescido na Selic representa R$ 6 bilhões que saem do Tesouro Nacional diretamente para o bolso desses rentistas. Isso significa que somente o aumento dos 3,25 pontos percentuais na taxa básica de juros determinados pelo Copom a partir de abril passado significou um ganho de R$ 21 bilhões a essa casta, sem nenhum esforço.

Isso representa quase três vezes os R$ 8 bilhões que o Brasil está investindo, somando as verbas públicas e privadas, para construir e reformar os 12 estádios que receberão a Copa do Mundo de 2014. E sobre isso, não se lê nem se ouve nada na grande mídia.

"São mecanismos de concentração da riqueza desse tipo que explicam o fato de o Brasil, apesar de ser a sexta maior economia global, estar ainda entre os 12 países mais injustos e desiguais do mundo. E isso é inaceitável para os brasileiros que lutam por um país desenvolvido e com inclusão social", conclui Carlos Cordeiro.


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