Por Breno Altman, em seu blog:
O presidente norte-americano, Barack Obama, em entrevista concedida à rede de televisão CNN, mostrou os dentes.
Perguntado sobre o ataque cibernético realizado pelo grupo virtual Guardiões da Paz, hipoteticamente vinculado a Pyongyang, contra computadores da Sony Corporation, o inquilino da Casa Branca tomou as dores da empresa.
“Foi um ato de vandalismo que custou muito caro”, declarou à jornalista Candy Crowley. “Levamos isto muito a sério. Vamos responder de maneira proporcional. Estudaremos a possibilidade de reintegrar a Coreia do Norte à lista de países que patrocinam o terrorismo.”
O governo de Kim Jong-un rechaça as acusações. Respondendo às declarações de Obama, ameaçou os Estados Unidos com “severas retaliações”, caso o país seja sancionado por conta destas denúncias.
Multinacional de capital majoritariamente japonês, a Sony é dona dos estúdios de cinema Sony Pictures, sediados na Califórnia, e acionista da Metro-Goldwyn-Mayer. Recentemente produziu filme intitulado “A entrevista”, que retrata de forma debochada a liderança norte-coreana.
Os Guardiões da Paz violaram os servidores da companhia, dando ultimato contra a exibição do longa-metragem, estrelado pelos comediantes James Franco e Seth Rogen. Caso a exigência não fosse atendida, provocariam danos financeiros à empresa e exporiam seus segredos industriais.
A Sony decidiu cancelar a distribuição do filme, que já havia sido motivo de protestos norte-coreanos nas Nações Unidas.
Obama resolveu, então, entrar em cena.
Primeiro para criticar a própria Sony, por ceder aos arreganhos da organização cibernética. Depois, para agir como guarda pretoriana de uma companhia privada, colocando o Estado mais poderoso do mundo a serviço de negócios cinematográficos, transformando assunto de polícia em questão de segurança nacional.
Salta aos olhos a aberração de tratar como terroristas quem protesta, mesmo de forma ilegal, mas não violenta, contra um simples filme.
Mas é também ato falho, que revela a natureza da indústria norte-americana de entretenimento.
São inúmeros os estudos que consideram este ramo de atividade, além de altamente lucrativo, o principal braço cultural da hegemonia imperialista.
O cinema, ao longo de décadas, tem disseminado, junto com diversão de massas, valores e identidades que fortalecem o papel dos Estados Unidos, enaltecendo tanto o sistema político-econômico quanto o estilo de vida do capitalismo local.
Os adversários destas ideias e interesses, de maneira quase infalível e sem qualquer chance de defesa, são esculhambados como abutres da humanidade.
O discurso oficial, em situações rotineiras, busca se dissociar das empresas cinematográficas, tratadas como cidadelas da livre iniciativa e da liberdade de expressão.
Bastou ser invadida fortaleza tida como inexpugnável, no entanto, para o presidente dos Estados Unidos ocupar a ribalta e revelar como é carnal a relação entre os estúdios e o poder político.
Tal atitude expõe questões éticas de enorme importância.
Se o cinema é ferramenta do neocolonialismo, frente ao qual os povos da periferia do mundo, pela via do mercado, pouco ou nada podem, não são legítimas ações de resistência como as dos Guardiões da Paz?
Tenha-se ou não simpatia pelo regime norte-coreano, é razoável supor que seus líderes aceitassem a chacota de braços cruzados, ainda mais sabendo que a indústria cultural dos EUA normalmente se alista como vanguarda em operações de cerco econômico e agressão militar?
A imediata e ríspida intervenção de Obama não esclarece que, muito além da circulação de produto para entretenimento, o que está em jogo é a possibilidade ilimitada de colocar a industrialização do cinema no arsenal da geopolítica?
O fato é que estes piratas eletrônicos, sem fazer vítima alguma, atuando como herdeiros robóticos de Gandhi, bagunçaram o roteiro dos monopólios de imagem e som que se enlaçam com o supremacismo de Washington.
Vamos combinar: foi de tirar a barriga da miséria.
Pois então, longa vida aos presumidos hackers norte-coreanos!
O presidente norte-americano, Barack Obama, em entrevista concedida à rede de televisão CNN, mostrou os dentes.
Perguntado sobre o ataque cibernético realizado pelo grupo virtual Guardiões da Paz, hipoteticamente vinculado a Pyongyang, contra computadores da Sony Corporation, o inquilino da Casa Branca tomou as dores da empresa.
“Foi um ato de vandalismo que custou muito caro”, declarou à jornalista Candy Crowley. “Levamos isto muito a sério. Vamos responder de maneira proporcional. Estudaremos a possibilidade de reintegrar a Coreia do Norte à lista de países que patrocinam o terrorismo.”
O governo de Kim Jong-un rechaça as acusações. Respondendo às declarações de Obama, ameaçou os Estados Unidos com “severas retaliações”, caso o país seja sancionado por conta destas denúncias.
Multinacional de capital majoritariamente japonês, a Sony é dona dos estúdios de cinema Sony Pictures, sediados na Califórnia, e acionista da Metro-Goldwyn-Mayer. Recentemente produziu filme intitulado “A entrevista”, que retrata de forma debochada a liderança norte-coreana.
Os Guardiões da Paz violaram os servidores da companhia, dando ultimato contra a exibição do longa-metragem, estrelado pelos comediantes James Franco e Seth Rogen. Caso a exigência não fosse atendida, provocariam danos financeiros à empresa e exporiam seus segredos industriais.
A Sony decidiu cancelar a distribuição do filme, que já havia sido motivo de protestos norte-coreanos nas Nações Unidas.
Obama resolveu, então, entrar em cena.
Primeiro para criticar a própria Sony, por ceder aos arreganhos da organização cibernética. Depois, para agir como guarda pretoriana de uma companhia privada, colocando o Estado mais poderoso do mundo a serviço de negócios cinematográficos, transformando assunto de polícia em questão de segurança nacional.
Salta aos olhos a aberração de tratar como terroristas quem protesta, mesmo de forma ilegal, mas não violenta, contra um simples filme.
Mas é também ato falho, que revela a natureza da indústria norte-americana de entretenimento.
São inúmeros os estudos que consideram este ramo de atividade, além de altamente lucrativo, o principal braço cultural da hegemonia imperialista.
O cinema, ao longo de décadas, tem disseminado, junto com diversão de massas, valores e identidades que fortalecem o papel dos Estados Unidos, enaltecendo tanto o sistema político-econômico quanto o estilo de vida do capitalismo local.
Os adversários destas ideias e interesses, de maneira quase infalível e sem qualquer chance de defesa, são esculhambados como abutres da humanidade.
O discurso oficial, em situações rotineiras, busca se dissociar das empresas cinematográficas, tratadas como cidadelas da livre iniciativa e da liberdade de expressão.
Bastou ser invadida fortaleza tida como inexpugnável, no entanto, para o presidente dos Estados Unidos ocupar a ribalta e revelar como é carnal a relação entre os estúdios e o poder político.
Tal atitude expõe questões éticas de enorme importância.
Se o cinema é ferramenta do neocolonialismo, frente ao qual os povos da periferia do mundo, pela via do mercado, pouco ou nada podem, não são legítimas ações de resistência como as dos Guardiões da Paz?
Tenha-se ou não simpatia pelo regime norte-coreano, é razoável supor que seus líderes aceitassem a chacota de braços cruzados, ainda mais sabendo que a indústria cultural dos EUA normalmente se alista como vanguarda em operações de cerco econômico e agressão militar?
A imediata e ríspida intervenção de Obama não esclarece que, muito além da circulação de produto para entretenimento, o que está em jogo é a possibilidade ilimitada de colocar a industrialização do cinema no arsenal da geopolítica?
O fato é que estes piratas eletrônicos, sem fazer vítima alguma, atuando como herdeiros robóticos de Gandhi, bagunçaram o roteiro dos monopólios de imagem e som que se enlaçam com o supremacismo de Washington.
Vamos combinar: foi de tirar a barriga da miséria.
Pois então, longa vida aos presumidos hackers norte-coreanos!
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