domingo, 22 de março de 2015

Mídia tenta controlar o 'Suiçalão'

Por Miguel do Rosário, no blog O Cafezinho:

Conforme havíamos previsto, a nossa mídia está fazendo de tudo para manter controle narrativo sobre o escândalo do Suiçalão.

Só que vai ser difícil.

Ainda queremos esclarecer as coincidências de datas entre as aberturas e fechamentos de contas secretas de barões de mídia no HSBC suíço, com fatos econômicos importantes, como o confisco da poupança, de Collor, e depois a mega desvalorização do real, no início de 1999.

Há suspeita de vazamento de informações privilegiadas, um problema comum no Brasil quando a elite financeira e barões de mídia (a nata da plutocracia) tinha presença maior no governo.

Ainda não tivemos tempo de fazer todas as investigações necessárias sobre os nomes que a imprensa tem, a contragosto, vazado a conta-gotas.

Por que UOL/Globo não vazam tudo de uma vez?

Transcrevo abaixo post do Fernando Rodrigues, até pouco tempo o único “dono” da lista do HSBC, que menciona oito doleiros conhecidos no Brasil, que tinham contas secretas no Suiçalão.

Rodrigues dá destaque, como era de se esperar de um jornalista do UOL, a um doleiro ligado ao mensalão do PT, Dario Messer.

Acusações sem prova feitas, anos atrás, contra o PT, voltam a ser destaque no post de Rodrigues.

Por que não faz o mesmo para acusações ligadas à privataria tucana?

O jornalista da UOL pratica uma omissão previsível: não diz que o mesmo Dario Messer, segundo o livro Privataria Tucana (que traz documentos), de Amaury Ribeiro, informa que Messer também operou para Ricardo Sérgio, do PSDB, levando para fora o dinheiro sujo da privataria tucana.

Aliás, é curioso que o UOL “pule” os oito anos do PSDB quando faz associações entre o momento político brasileiro e o histórico de doleiros com contas secretas na Suíça.

Interessante ainda notar que quase todas as operações da Polícia Federal que resultaram em investigações contra doleiros, por evasão fiscal e remessa ilegal de dinheiro ao exterior, aconteceram na era Lula, sobretudo durante a gestão de Paulo Lacerda, de 2003 a 2007.

Era a época em que Gilmar Mendes e mídia acusavam a PF de transformar o Brasil num “Estado Policial”. Lembram?

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Oito doleiros envolvidos em escândalos de corrupção estão no SwissLeaks

Fernando Rodrigues, no UOL.

Doleiros citados em escândalos como a Operação Lava Jato, o mensalão e o caso PC Farias aparecem na lista dos 8.667 brasileiros relacionados a contas no HSBC da Suíça. Em todos os casos, foram investigados pela suspeita de terem operado dinheiro de origem duvidosa e acobertado operações financeiras ilegais. Eles negam ter cometido irregularidades.

No acervo de dados do HSBC suíço, vazado em 2008 por um ex-funcionário do banco, aparecem Henrique José Chueke e sua filha, Lisabelle Chueke (caso PC Farias); Favel Bergman Vianna e Oscar Frederico Jager (propinoduto); Benjamin Katz (Banestado); Dario Messer (mensalão); Raul Henrique Srour (Lava-Jato) e Chaim Henoch Zalcberg (Operações Roupa Suja e Sexta-feira 13).

Chueke, tido nos anos 1990 como um dos doleiros mais ricos do Rio de Janeiro, foi acusado de ter alimentado contas do empresário Paulo Cesar Farias, tesoureiro de campanha de Fernando Collor de Melo, e de Ana Acioli, secretária do ex-presidente. Quando o escândalo veio à tona, os jornais publicaram que entre maio de 1991 e junho de 1992 o escritório de Chueke, situado no mesmo endereço da Belle Tours, empresa de sua filha Lisabelle, havia recebido 27 telefonemas da EPC, empresa de PC Farias. Nos registros do HSBC, Chueke e sua filha mantiveram uma conta conjunta de 24 de janeiro de 1989 a 28 de outubro de 2004.

MERCADO PARALELO

Vianna e Jager foram envolvidos no escândalo do propinoduto, revelado em 2003. Vianna foi assassinado com um tiro dentro de seu Audi, na Avenida Atlântica, no Leme, no Rio, em março daquele ano — 23 dias depois de o Departamento de Justiça dos Estados Unidos ter bloqueado US$ 9 milhões que ele mantinha em uma conta bancária em Nova York. O bloqueio estabelecido pelos americanos atendia a um pedido da Justiça suíça. Na época, as autoridades brasileiras suspeitaram que a conta de Vianna havia sido usada para remeter ao exterior dinheiro obtido ilegalmente pelos fiscais da Receita envolvidos no escândalo. O Ministério Público Federal também suspeitou que a conta de Vianna servia para lavar dinheiro da contravenção no Rio de Janeiro.

Mais recentemente, em 2004, os Chuekes, Jager e Vianna apareceram numa ação do Ministério Público Federal decorrente da Operação Farol da Colina, da PF. Eles foram acusados de evasão de divisas, formação de quadrilha e operação de instituição financeira sem a devida autorização.

Nessa ação, Vianna ainda foi acusado pelos procuradores de ter sido sócio de Jager em uma empresa chamada Eleven Finance Corporation, aberta nas Ilhas Virgens Britânicas. Segundo o MPF, a offshore teria sido criada para administrar uma conta com recursos de operações ilegais de câmbio. Nas planilhas do HSBC, os dois surgem dividindo uma conta identificada pelo nome “Eleven”. Ela foi criada em 24 de outubro de 1988 e fechada em 15 outubro de 1991. Em 2006/2007, estava zerada.

Abaixo, os dados das referidas contas (clique na imagem para ampliar):



Benjamin Katz foi investigado pela CPI do Banestado por “operar fortemente no mercado paralelo”. Não houve relatório final por divergência entre os membros da comissão. O nome de Katz aparece no caso SwissLeaks ligado a uma conta que durou apenas 15 dias, de 1º a 16 de outubro de 1991.

No episódio do mensalão, o doleiro Antonio Oliveira Claramunt, mais conhecido como Toninho da Barcelona, disse que Dario Messer recebia dólares do PT em uma offshore no Panamá e entregava ao partido o valor correspondente em reais no Banco Rural. Segundo a Polícia Federal e o Ministério Público Federal, entre 1998 e 2003, Messer teria enviado irregularmente ao exterior pelo menos US$ 1 bilhão. Em 2005, a CPI dos Correios pediu à PF que o localizasse, mas ele havia embarcado para Paris. As planilhas do HSBC indicam que, em 2006/2007, Messer tinha US$ 69 mil depositados na Suíça.

Raul Henrique Srour foi citado na investigação da Operação Lava-Jato. De acordo com o MPF, ele fez parte do grupo do doleiro Alberto Youssef e atuou no mercado negro, fraudando identidades para realizar cerca de 900 operações de câmbio. Segundo os dados do banco suíço, Srour teve três contas, mas todas já haviam sido fechadas em 2006/2007, quando os dados foram extraídos do HSBC.

Henoch Zalcberg foi alvo de duas operações da Polícia Federal, a Roupa Suja e a Sexta-feira 13, realizadas em 2005 e 2009, respectivamente, para desbaratar uma quadrilha acusada de fraudar licitações, evadir divisas e lavar dinheiro. Em 2006/2007, a conta de Zalcberg no HSBC também já havia sido encerrada.

Participaram da apuração desta reportagem os jornalistas Bruno Lupion, do UOL, e Chico Otavio, Cristina Tardáguila e Ruben Berta, do “Globo”.

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