Por Darío Pignotti, no site Carta Maior:
Filantropo em benefício de si mesmo. O recém eleito prefeito de São Paulo, João Doria, repetiu ontem sua promessa de campanha de “doar os seus salários durante os quatro anos de mandato. Serão 48 salários. Cada um entregue a uma entidade de beneficente distinta”.
Doria é um “não político” que desde o dia 1º de janeiro de ano que vem administrará uma megalópole de 12,5 milhões de habitantes, cujo Produto Interno Bruto é superior ao da maioria dos estados brasileiros.
Até há poucos meses, ele conduzia um programa de entrevistas show business, com entrevistas promocionais (algumas presumivelmente pagas) a empresários e celebridade, além de ser o responsável pela agência LIDE, que organiza encontros entre políticos e homens de negócios, atividades que permitiram a ele acumular um patrimônio de 60 milhões de dólares, segundo o declarado para a Justiça Eleitoral.
Dória nunca dissimulou seu respaldo ao golpe parlamentário que derrubou a presidenta Dilma Rousseff, nem seu desprezo pelo ex-presidente Lula da Silva (a quem chamava de “populista” e “corrupto”), e costumava enfatizar isso nos eventos organizados pelar LIDE com senadores, juízes e empresários. Num desses encontros, o convidado especial foi o juiz Sérgio Moro, encarregado da causa chamada “Petrolão”, que acaba de abrir um processo contra Lula.
Ao celebrar seu triunfo em São Paulo, Dória comentou com seus correligionários que “em algum momento, irei visitar o Lula em Curitiba”, onde estão os presos condenados por Moro.
Candidato pelo PSDB, graças ao apoio do governador de São Paulo Geraldo Alckmin, Dória ascendeu ao nível de popstar no domingo, quando obteve 53% dos votos válidos (sem contar nulos e brancos) sendo eleito no primeiro turno e derrotando o prefeito Fernando Haddad, pupilo de Lula e representante do PT.
Dória conquistou uma vitória mais folgada do que o previsto pelas pesquisas, que o apontavam como o candidato com mais votos, mas também mostravam a possibilidade de um segundo turno no dia 30 de outubro, onde enfrentaria Fernando Haddad, que ficou em segundo lugar, com 16%.
Perder o controle da cidade de São Paulo foi um revés importante para o PT, que se soma a outras derrotas sérias, em centenas de prefeituras pelo país.
Lula tampouco saiu ileso do fracasso de seu partido nos comícios municipais, embora isso não signifique um certificado de defunção como eventual candidato presidencial em 2018, pois sua popularidade continua de pé.
Ontem, Dória concedeu ao menos cinco entrevistas, nas que se lançou frases de impacto e foi apresentado como um novo “fenômeno” da política nacional.
“Você realmente vai doar o seu salário?”, se assustou uma jornalista. “Sempre disse que não sou um político, sou um gestor. Aceitei este desafio de administrar a maior prefeitura da América Latina (erro, da América do Sul) para servir ao próximo. Vou aplicar os critérios de eficiência que aprendi na atividade privada.”
Dias antes da eleição, em entrevista para a revista Exame, ele se definiu como um similar brasileiro do ex-prefeito de Nova York, Michael Bloomberg, outro que também renunciou aos seus salários. O milionário brasileiro também seguiu o exemplo do estadunidense ao financiar boa parte da sua campanha com recursos próprios.
Porém, a imagem altruísta de Dória é tão artificial como seu sorriso de botox.
Dória prepara um plano drástico de privatizações e concessões drástico cujos possíveis beneficiários serão os grupos econômicos interessados tanto em seu triunfo do domingo passado quanto na projeção do PSDB como força política, pensando nas eleições presidenciais de 2018.
Segundo o jornalista Luis Nassif, não se pode descartar que, uma vez no comando da prefeitura de São Paulo, Dória utilize sua agência de lobby Lide para terceirizar serviços públicos com as empresas das que recebe apoio econômico encoberto. Algo que já vinha fazendo nos últimos anos, quando várias firmas conseguiram contratos estatais através de sua mediação.
Por trás do marketing filantrópico se escondem acordos que permitiram a ele embolsar milhões de dólares nos últimos anos, e parte dos mesmos não foram declarados à Receita – como foi demostrado em documentos do escândalo Panamá Papers, onde aparecem operações em benefício de Dória.
* Artigo publicado no jornal argentino Página/12. Tradução: Victor Farinelli.
Doria é um “não político” que desde o dia 1º de janeiro de ano que vem administrará uma megalópole de 12,5 milhões de habitantes, cujo Produto Interno Bruto é superior ao da maioria dos estados brasileiros.
Até há poucos meses, ele conduzia um programa de entrevistas show business, com entrevistas promocionais (algumas presumivelmente pagas) a empresários e celebridade, além de ser o responsável pela agência LIDE, que organiza encontros entre políticos e homens de negócios, atividades que permitiram a ele acumular um patrimônio de 60 milhões de dólares, segundo o declarado para a Justiça Eleitoral.
Dória nunca dissimulou seu respaldo ao golpe parlamentário que derrubou a presidenta Dilma Rousseff, nem seu desprezo pelo ex-presidente Lula da Silva (a quem chamava de “populista” e “corrupto”), e costumava enfatizar isso nos eventos organizados pelar LIDE com senadores, juízes e empresários. Num desses encontros, o convidado especial foi o juiz Sérgio Moro, encarregado da causa chamada “Petrolão”, que acaba de abrir um processo contra Lula.
Ao celebrar seu triunfo em São Paulo, Dória comentou com seus correligionários que “em algum momento, irei visitar o Lula em Curitiba”, onde estão os presos condenados por Moro.
Candidato pelo PSDB, graças ao apoio do governador de São Paulo Geraldo Alckmin, Dória ascendeu ao nível de popstar no domingo, quando obteve 53% dos votos válidos (sem contar nulos e brancos) sendo eleito no primeiro turno e derrotando o prefeito Fernando Haddad, pupilo de Lula e representante do PT.
Dória conquistou uma vitória mais folgada do que o previsto pelas pesquisas, que o apontavam como o candidato com mais votos, mas também mostravam a possibilidade de um segundo turno no dia 30 de outubro, onde enfrentaria Fernando Haddad, que ficou em segundo lugar, com 16%.
Perder o controle da cidade de São Paulo foi um revés importante para o PT, que se soma a outras derrotas sérias, em centenas de prefeituras pelo país.
Lula tampouco saiu ileso do fracasso de seu partido nos comícios municipais, embora isso não signifique um certificado de defunção como eventual candidato presidencial em 2018, pois sua popularidade continua de pé.
Ontem, Dória concedeu ao menos cinco entrevistas, nas que se lançou frases de impacto e foi apresentado como um novo “fenômeno” da política nacional.
“Você realmente vai doar o seu salário?”, se assustou uma jornalista. “Sempre disse que não sou um político, sou um gestor. Aceitei este desafio de administrar a maior prefeitura da América Latina (erro, da América do Sul) para servir ao próximo. Vou aplicar os critérios de eficiência que aprendi na atividade privada.”
Dias antes da eleição, em entrevista para a revista Exame, ele se definiu como um similar brasileiro do ex-prefeito de Nova York, Michael Bloomberg, outro que também renunciou aos seus salários. O milionário brasileiro também seguiu o exemplo do estadunidense ao financiar boa parte da sua campanha com recursos próprios.
Porém, a imagem altruísta de Dória é tão artificial como seu sorriso de botox.
Dória prepara um plano drástico de privatizações e concessões drástico cujos possíveis beneficiários serão os grupos econômicos interessados tanto em seu triunfo do domingo passado quanto na projeção do PSDB como força política, pensando nas eleições presidenciais de 2018.
Segundo o jornalista Luis Nassif, não se pode descartar que, uma vez no comando da prefeitura de São Paulo, Dória utilize sua agência de lobby Lide para terceirizar serviços públicos com as empresas das que recebe apoio econômico encoberto. Algo que já vinha fazendo nos últimos anos, quando várias firmas conseguiram contratos estatais através de sua mediação.
Por trás do marketing filantrópico se escondem acordos que permitiram a ele embolsar milhões de dólares nos últimos anos, e parte dos mesmos não foram declarados à Receita – como foi demostrado em documentos do escândalo Panamá Papers, onde aparecem operações em benefício de Dória.
* Artigo publicado no jornal argentino Página/12. Tradução: Victor Farinelli.
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