Por Ricardo Kotscho, em seu blog:
Acaba de sair a nova pesquisa CNT/MDA sobre as eleições presidenciais, depois de ter publicado esta coluna.
“Sem Lula e Barbosa, Bolsonaro lidera seguido por Marina e Ciro” é a manchete do UOL.
Aos números:
Jair Bolsonaro (PSL) – 18,3%
Marina Silva (rede) – 11,2%
Ciro Gomes (PDT) – 9%
Geraldo Alckmin (PSDB) – 5,3%
Os outros dez candidatos pesquisados atingem no máximo 3% e sete deles estão abaixo de 1%, entre eles Temer, Meirelles e Maia.
Na verdade, quem lidera a lista são os brancos e nulos, com 29,6%, quase um terço do eleitorado. Indecisos são 16,1%.
No cenário do primeiro turno com Lula, o ex-presidente continua liderando com muita folga: 32,4%, o dobro de Bolsonaro (16,7%).
No segundo turno, Lula derrotaria todos os adversários por larga margem.
Por isso mesmo ele continua preso em Curitiba.
Faltam quatro meses e meio para as eleições.
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O que até outro dia soava como uma aberração, a candidatura do ex-capitão Jair Bolsonaro à Presidência da República, pode se tornar um perigo real, a depender das próximas pesquisas.
Nas minhas andanças neste final de semana por São Paulo, só vi adesivos dele nos carros chiques desfilando pela cidade, parece até candidato único.
Com a debandada das “novidades” nos últimos dias, e a prisão de Lula, alijado da campanha eleitoral, o campo ficou livre para este troglodita da extrema direta, sem concorrentes competitivos à vista.
Dizem os analistas que ele já bateu no teto, com cerca de 20% de intenções de votos, mas pelo que ouço por aí em todos os círculos tenho minhas dúvidas.
Mesmo que esta previsão esteja correta, ele teria hoje grandes chances de chegar ao segundo turno, diante do contingente de eleitores que declara não querer votar em nenhum dos candidatos, fazendo disparar o índice de brancos, nulos e abstenções.
Olhando-se para a eleição parlamentar, o cenário é tão ou mais assustador: tudo indica que o “Centrão” ficará ainda mais forte para vender seu apoio a qualquer um que seja eleito.
Sob o título “Órfãos de Cunha se juntam para assombrar 2018”, o colunista Josias de Souza mostra nesta segunda-feira no UOL o tamanho da ameaça de termos um novo Congresso ainda mais fisiológico do que o atual.
“O fantasma do centrão ocupa novamente o noticiário. Órfãos de Eduardo Cunha, os partidos que integram o grupo se reorganizam para assombrar a sucessão presidencial de 2018. A pretexto de assegurar a governabilidade, equipam-se para impor ao próximo presidente uma espécie de projeto centrão de poder. Baseia-se na ocupação predatória do Estado”.
Com a falência dos grandes partidos, a Câmara foi dominada pelas bancadas BBB (boi, bala e bíblia), que sob o comando do ministro Carlos Marun, o ex-chefe da tropa de choque de Cunha, já deram as cartas nas votações do ano passado para salvar o mandato de Michel Temer, e mantém o presidente como refém.
Sim, meus amigos, corremos o risco de ter um Bolsonaro na Presidência da República e o “Centrão” mandando no Congresso Nacional, completando o serviço do golpe parlamentar-jurídico-midiático de 2016.
Diante da ameaça desta tempestade perfeita, não surpreende a entrevista da pesquisadora Márcia Cavallari, diretora executiva do Ibope Inteligência, publicada no Estadão, sob o título “Os eleitores estão sem perspectiva de melhora” sobre os sentimentos dos eleitores a apenas quatro meses e meio das eleições.
“Foi uma tristeza”, disse ela sobre a pesquisa qualitativa realizada pelo instituto ao ouvir grupos de eleitores sobre suas expectativas em relação ao futuro. “Os eleitores só demonstraram desesperança e angústia. Não conseguem ver como sair desse lugar em que estamos, não conseguem enxergar uma luz no fim do túnel”.
Pior ainda: a única luz pode vir a ser o farol do trem-bala de Bolsonaro avançando sobre nós.
Por falta de opções mais razoáveis numa eleição totalmente imprevisível, o desespero dos eleitores pode levar os indecisos a engrossar o eleitorado do ex-capitão, que é deputado federal há sete legislaturas, sem nunca ter aprovado um projeto relevante.
“Essa questão da desesperança, de não conseguir enxergar uma solução, é um sentimento muito sofrido, muito mesmo”, constata Márcia Cavallari.
Com a violência crescente e fora de controle nas áreas urbanas e mesmo nas zonas rurais, o discurso beligerante de Bolsonaro encontra terreno fértil para prosperar em todas as classes sociais.
A defesa veemente da ditadura, dos torturadores e dos assassinatos no regime militar, que o ex-capitão fez após as revelações da CIA na semana passada, fazem parte desta estratégia beligerante de um candidato que nada tem a perder nem propor ao país, além de mais violência, liberando o armamento da população.
Só o fato desta anomalia estar há meses entre os favoritos para as eleições, liderando as pesquisas sem Lula, mostra o grau de degradação a que chegamos, colocando em risco a própria democracia.
Pelo jeito, assim como o 1968 do AI-5, também o 1964 do golpe militar ainda não acabou. Tem muita gente brincando com fogo à beira deste depósito de pólvora chamado Brasil.
Se as piores previsões se confirmarem, com o avanço de Jair Bolsonaro e do “Centrão”, corremos o risco de ainda sentir saudades do governo de Michel Temer.
Vida que segue.
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