Por Ricardo Kotscho, em seu blog:
No mais duro ataque aos seus opositores desde o início da campanha eleitoral, o capitão Jair Bolsonaro rasgou a fantasia e se apresentou já como ditador aos seus adoradores reunidos domingo na avenida Paulista.
Em vídeo-conferência de 10 minutos, o ainda candidato proferiu as seguintes barbaridades, sem que até o momento nenhuma autoridade do Poder Judiciário tenha tomado qualquer providência:
- “Vamos varrer do mapa esses bandidos vermelhos do país. Essa turma, se quiser ficar aqui, vai ter que se colocar sob a lei de todos nós. Ou então vão para fora ou vão para a cadeia. Vou fazer uma limpeza nunca vista na história desse Brasil”.
- “Senhor Lula da Silva, se você estava esperando o Haddad ser presidente para assinar o decreto de indulto, vou te dizer uma coisa: você vai apodrecer na cadeia”.
O discurso do capitão, gerado diretamente do seu bunker na Barra da Tijuca, onde permanece refugiado longe dos debates, serviu como mais um alerta sobre o que nos espera, a apenas seis dias da eleição presidencial.
A escalada final da insanidade que está tomando conta do país, diante de uma Justiça acoelhada e inerme, não tem mais limites.
As milícias bolsonarianas estão soltas nas ruas. Os métodos da ditadura militar a que Bolsonaro serviu já estão de volta.
Com larga vantagem nas pesquisas, conquistada graças à lavagem cerebral feita com a contratação de milhões de fake news, Bolsonaro quer não só vencer a eleição no domingo, mas esmagar os adversários, antes mesmo do povo votar.
Como é que este celerado pode definir o destino de um preso, ex-presidente da República, à disposição da Justiça, que ainda nem teve julgamento do mérito do processo em última instância?
As declarações nazifascistas do capitão foram registradas pela imprensa nesta segunda-feira, em meio ao noticiário, como se fossem as coisas mais normais do mundo numa disputa eleitoral.
Mais adiante, a metralhadora giratória do candidato enfurecido foi dirigida também ao jornal Folha de S. Paulo, o único que denunciou a grande maracutaia das mentiras disseminadas nas redes sociais às vésperas do primeiro turno:
- “A Folha de S. Paulo é a maior fake news do Brasil. Vocês não terão mais verba publicitária do governo. Imprensa vendida, meus pêsames”.
Para delírio do seu público uniformizado de camisetas amarelas e óculos escuros, ameaçou tipificar as ações do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra como terrorismo e prometeu dar retaguarda jurídica para a polícia “fazer valer a lei”. Em outras palavras, atirar para matar.
No mesmo domingo que antecede as eleições, foi divulgado o vídeo com as ameaças feitas ao Supremo Tribunal Federal por um dos filhos parlamentares do capitão, Eduardo Bolsonaro, deputado federal mais votado do país. Em palestra num cursinho para a Polícia Federal, no Paraná, recheado de palavrões, o filho do capitão deu o tom da nova ordem:
- “Cara, se quiser fechar o STF, sabe o que você faz? Você não manda um jipe. Manda um soldado e um cabo. Não é querer desmerecer o soldado e o cabo, não”.
- “O que é o STF? Tira o poder da caneta de um ministro do STF. Se prender um ministro do STF, você acha que vai ter uma manifestação popular a favor do ministro do STF, milhões na rua?”.
- "É igual soltar o Lula. O Moro peitou um desembargador que está acima dele. Por quê? Porque o Moro está com moral para cacete. Você vai ter que ter um culhão filho da puta para reverter uma decisão dele”.
Até as 10h40 desta segunda-feira, só o decano do STF, ministro Celso de Mello, havia se manifestado sobre esta afronta, para qualificar o filho do presidenciável como “inconsequente e golpista”.
Dias Toffoli, o presidente do STF, estava em viagem a Veneza, e preferiu ficar em silêncio, “para não jogar mais lenha na fogueira”.
Rosa Weber, presidente do TSE, convocou uma entrevista coletiva, que durou três horas, para no fim dizer que “ainda não descobrimos milagre contra as fake news”. Providência? Nenhuma.
Mas ela garantiu que “as instituições continuam funcionando normalmente”.
O empenho da ministra em apurar as denúncias ficou evidente nesta declaração:
“Nós entendemos que não houve falha alguma da Justiça Eleitoral no que tange a isso que se chama fake news. Todos sabemos que a desinformação é um fenômeno mundial”.
E ficamos assim.
Vida que segue.
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