Não foi preciso mais que 48 horas para as entidades e lideranças do patronato industrial despertarem assombradas do suicídio que cometeram por promoverem a candidatura de extrema-direita e o avanço do fascismo à guisa não de um projeto de desenvolvimento, mas do mesquinho e odioso antipetismo.
As medidas iniciais traçadas por Bolsonaro e Paulo Guedes ameaçam de morte a indústria brasileira e o setor produtivo nacional.
A primeira medida prometida é o abandono do Mercosul. Para eles, a relação comercial e institucional com a Argentina e o Mercosul não será prioridade.
O Mercosul, em especial a Argentina, é o destino de 10% das exportações brasileiras. Neste intercâmbio comercial, o Brasil é amplamente favorecido, produz saldo superavitário.
Em 2017 as exportações brasileiras para os demais países do bloco totalizaram US$ 22,6 bilhões, enquanto as importações de produtos procedentes dos países parceiros do bloco significaram US$ 11,9 bilhões – um superávit de US$ 10,7 bilhões, que correspondente a 16% do superávit do Brasil no comércio com todos os países do mundo.
Um aspecto importante é a qualidade do comércio no Mercosul, mesmo que maiormente intra-firmas. Mais de 85% das exportações brasileiras para os países do bloco é de produtos industrializados, manufaturados e semi-manufaturados, ou seja, produtos com maior valor agregado, que geram emprego, trabalho e renda. É o oposto do comércio que o Brasil mantém com o resto do mundo, cuja pauta exportadora é de matérias-primas e commodities.
O Mercosul é, por isso, fundamental para o desenvolvimento industrial, científico e tecnológico brasileiro e base para a geração de emprego, trabalho e renda no Brasil.
Outra medida prejudicial à indústria brasileira é a extinção do MDIC [Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços] e a absorção [ou extinção] das suas funções pelo hipertrofiado Ministério da Economia [ME].
O ME na realidade funcionará como ministério do rentismo e da rapinagem financeira, e será conduzido pelo banqueiro Paulo Guedes. Os instrumentos de pesquisa, indução e as políticas públicas do MDIC voltadas à estimulação da indústria e de outros segmentos produtivos simplesmente desaparecerão, acentuando o processo de desindustrialização do país.
A terceira medida que integra o bombardeio bolsonarista e rentista à produção nacional é a anunciada contenção do dólar, inclusive mediante o discutível uso das reservas cambiais, para excitação da banca internacional.
A apreciação do real retira competitividade dos produtos brasileiros no estrangeiro, ameaçando a sobrevivência do parque industrial brasileiro e demais setores produtivos.
O país, neste contexto, se transformará num grande consumidor de produtos importados dos países centrais do capitalismo – desde cacarecos a itens com alta tecnologia incorporada – e voltará a ser uma economia essencialmente primária.
O paraíso rentista levará o Brasil ao atraso. O país voltará a ser uma colônia subserviente, integrada de modo subordinado no mercado mundial como vendedor de matérias-primas e commodities. Uma nação, enfim, condenada ao subdesenvolvimento científico e tecnológico.
A CNI, a FIESP e as entidades do patronato que atuaram decisivamente no processo iniciado em 2014 para a desestabilização e derrubada da Presidente Dilma e que culminou na eleição do Bolsonaro, estão diante de um dilema: ou continuam “suicidando-se” ou, caso não queiram se converter em classe parasitária [e sócia] do rentismo, reagem às políticas ultraliberais que comprometem suas próprias existências, além de fazerem o país retroceder décadas no seu desenvolvimento.
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