domingo, 3 de março de 2019

USP repudia professor bolsonarista

Nota de repúdio
Por Altamiro Borges

Aproveitando-se da onda reacionária no mundo e no Brasil, os fascistas decidiram sair do esgoto. Na segunda-feira (25), o “professor” Eduardo Lobo Gualazzi distribuiu aos seus alunos da Faculdade de Direito da USP um "texto acadêmico" com elogios à ditadura militar e afirmações malucas, como a de que os pobres são “a eterna minoria do submundo que se recusou a trabalhar" e a de que os grupos "LGBTs não são família, mas apenas uma aberração”, composta de “tarados e taradas”.

No panfleto carregado de ódio, preconceito e idiotices, o fascistoide também fez questão de declarar em quem votou em 2018: Jair Bolsonaro para presidente; Major Olympio para senador e o monarquista Luiz Philippe de Orléans e Bragança para deputado federal – todos do PSL (Partido Só de Laranjas); em Paulo Skaf, o patinho amarelo e corrupto da Fiesp e do MDB, para governador de São Paulo no primeiro turno. Já no segundo turno, ele explicita que votou no ex-prefake tucano João Doria.

O texto gerou a imediata reação dos estudantes e também da direção da instituição, segundo informa Mônica Bergamo: “A Faculdade de Direito da USP decidiu reprovar publicamente as declarações de um de seus professores, Eduardo Lobo Gualazzi... O diretor em exercício da faculdade, Celso Fernandes Campilongo, afirma que a USP ‘zela pela liberdade de cátedra e expressão’, mas repudia ‘manifestações de discriminação, preconceito, incitação ao ódio e afronta aos Direitos Humanos’”.

No texto enviado à coluna da jornalista da Folha, Celso Campilongo afirma ainda que a USP mantém a tradição “da promoção dos valores da igualdade e da cidadania”. E segue: “É dever dos docentes, em consonância com a ordem constitucional, enfrentar estereótipos de gênero, raça, cor, etnia, religião, origem, idade, situação econômica e cultural, orientação sexual e identidade de gênero (LGBT), dentre outras, jamais incentivá-los”.

O diretor da faculdade também alerta que “a liberdade de cátedra e expressão não pode se traduzir em abuso e desrespeito à diversidade... O respeito a todos, maiorias ou minorias, é valor inegociável. Vozes que, eventualmente, fujam dessas diretrizes não representam o pensamento prevalecente na Faculdade de Direito e merecem veemente desaprovação”. Mônica Bergamo conclui informando que “o professor Gualazzi não se manifestou sobre a polêmica gerada por suas afirmações".

Já o tradicional Centro Acadêmico 11 de Agosto divulgou nota de repúdio às declarações do fascista em sua conta no Facebook. Vale conferir a íntegra do documento:

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O Centro Acadêmico XI de Agosto vem a público rechaçar as declarações dadas por escrito pelo Professor Associado da Faculdade de Direito da USP Eduardo Lobo Botelho Gualazzi, em documento entregue a estudantes que estavam presentes em sala no dia 25 de fevereiro de 2019, na sua Disciplina “Direito Administrativo Interdisciplinar”, no qual reafirma seu posicionamento em favor da Ditadura Militar, denomina pobres de “eterna minoria do submundo que se recusou a trabalhar e produzir qualquer bem”, chama a esquerda de “minorias sociais de energúmenos” e defende que grupos LGBTs “(...) não são família, mas apenas aberração” e seriam “tarados e taradas”, também afirmando que a união entre pessoas deve consistir em “homem/mulher de mesma etnia”, tendo também, nesse documento, declarado voto em Jair Bolsonaro, homem que, durante sua campanha à presidência da república, endossou discursos de ódio a grupos historicamente marginalizados, tal como mulheres, LGBTs, negras, negros e indígenas.

Eduardo Gualazzi, ao reafirmar suas declarações referentes à ditadura civil-militar, ignora completamente que o golpe de 1964 representou uma mancha na história da democracia brasileira, tendo sido também um marco da repressão ideológica e consequente perseguição, tortura e morte de diversos brasileiros opositores ao regime.

O professor, ao denominar pobres de “eterna minoria do submundo que se recusam a trabalhar e produzir qualquer bem”, ignora também o passado colonial de exploração do Brasil, edificado em torno da desigualdade social e do racismo estrutural construído a partir de mais de três séculos de escravismo, que perpetua até hoje diferenças de classe gritantes na sociedade brasileira.

Além disso, chama militantes de esquerda de “energúmenos” e “baderneiros e terroristas”, discurso reproduzido atualmente por aqueles que visam criminalizar os posicionamentos ideológicos da esquerda no país.

Reafirma o discurso de ódio à população LGBT brasileira, com ideias ultrapassadas de que essas pessoas seriam “anomalias”, “aberrações” e “tarados e taradas”, ignorando que o Brasil atualmente é o país que mais mata LGBTs no mundo.

Outro absurdo encontrado no texto do professor é a referência a que casais seriam apenas aqueles formados por um homem e uma mulher da mesma etnia, em uma clara demonstração de racismo, que remonta às épocas mais obscuras de nosso país em que ideologias pseudo científicas eram utilizadas para justificar a segregação, sob o pretexto de alterar a “qualidade” racial da população.

O uso de trechos do discurso de Jair Bolsonaro para reiterar seus posicionamentos homofóbicos e racistas é mais uma reafirmação de que a eleição de Bolsonaro à Presidência da República representou a legitimação de posicionamentos que atacam as minorias sociais do Brasil, reafirmando seu discurso antidemocrático e antipovo.

Por isso, o Centro Acadêmico XI de Agosto da Faculdade de Direito da USP, que sempre se colocou em defesa da democracia e dos direitos humanos, compondo as trincheiras de defesa às minorias sociais brasileiras (pobres, mulheres, negros/as e LGBTs), vem a público repudiar as declarações do Professor Eduardo Gualazzi. Informamos também que será cobrado um posicionamento público da Faculdade de Direito da USP, bem como uma retratação do Eduardo Gualazzi. O Centro Acadêmico, enquanto entidade máxima representativa dos estudantes da FDUSP, estudará, em conjunto com sua comunidade acadêmica, a possibilidade de requerer que sejam tomadas medidas mais severas em relação ao comportamento reiterado do docente.

“Que a juventude destas arcadas nunca deixe de se indignar contra as injustiças, de participar das lutas de seu tempo e de sonhar e construir um mundo melhor para todos” (Centro Acadêmico XI de Agosto, 2003).

Não nos calaremos!

São Paulo, 25 de fevereiro de 2019.

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