domingo, 29 de setembro de 2019

Bolsonaristas são poucos, mas cheios de ódio

Por Marcos Coimbra, na revista CartaCapital:

O bolsonarismo viveu dias melhores. Não faz muito tempo, ainda se pensava que fosse algo “grande”, capaz de mobilizar grandes massas. Alguns ficavam alegres, outros tristes, mas o bolsonarismo impressionava. Hoje, passados apenas oito meses desde que Bolsonaro assumiu o poder, é possível ver que as coisas não são assim. As estimativas a respeito do tamanho do bolsonarismo convergem para números modestos. As pesquisas de opinião sugerem que, ao contrário de se consolidar, ele míngua.

Calcular quantos são os bolsonaristas é mais do que um exercício acadêmico. Estar perante uma corrente de opinião que atrai a maioria da opinião pública (ou uma parcela ampla) é diferente de lidar com uma facção claramente minoritária. Daí não decorre que seus pontos de vista devam ser desprezados ou seus chefes ignorados. Mas quer dizer que a maioria tem o direito de tratá-la como a minoria que é.

Na mais recente pesquisa do instituto Vox Populi, realizada no fim de agosto, o tamanho do bolsonarismo foi objeto de uma pergunta direta, com a seguinte redação: “Tem-se falado muito sobre o bolsonarismo, a forma como Bolsonaro faz política, as ideias defendidas por ele e sua equipe, o modo como fala e se relaciona com os seus opositores e com as pessoas de uma maneira geral. Em relação ao bolsonarismo, você diria que: a) gosta muito, se sente uma(um) bolsonarista; b) gosta, mas não se sente uma(um) bolsonarista; c) não gosta, nem desgosta do bolsonarismo; d) não gosta, mas não chega a detestar; ou e) detesta o bolsonarismo”.

No total da amostra, 6% dos entrevistados escolheram a primeira resposta e se autoclassificaram como “bolsonaristas”. Os outros 94%, em respeito às suas opções, não podem ser identificados da mesma maneira, mesmo os 17% que disseram que “gostavam, mas não se sentiam bolsonaristas”. O que a pesquisa mostra é que 94% da população não se define como bolsonarista (admita-se, todavia, que pode haver bolsonaristas com vergonha de se assumir, o que seria compreensível).

Os bolsonaristas genuínos são poucos, em termos relativos, e são diferentes da média da população, a começar pelo gênero. Enquanto, na sociedade, as mulheres são uma maioria de 52%, entre os bolsonaristas elas não passam de 37%. Os homens são 63% dos bolsonaristas, o que talvez possa ser explicado por sua retórica de afirmação de toscos estereótipos masculinos (algo que nos faz pensar nos valores que as mulheres bolsonaristas compartilham).

Há outras diferenças, por exemplo na composição etária: na população adulta, os jovens de até 24 anos são 17%, mas não passam de 10% entre os bolsonaristas. Inversamente, aqueles com mais de 45 anos de idade são 39% do universo, enquanto representam 48% dos bolsonaristas. No que se refere à renda, 28% dos bolsonaristas pertencem a famílias que ganham acima de 25 salários mínimos. Na população, apenas 18% têm esse perfil.

Os bolsonaristas tendem a ser contra as políticas de cotas para acesso às universidades públicas e se opõem à atuação do governo na promoção de direitos da população LGBT. Quase a metade é evangélica e vai toda semana à igreja. Também quase a metade se define como de cor ou raça “branca”. Estão mais conectados à internet do que a média: em cada quatro bolsonaristas, três a acessam diariamente. Seu uso de redes sociais para se informar e interagir a respeito de questões políticas é quase o dobro do que se observa no conjunto da sociedade: no WhatsApp, 49% dos bolsonaristas compartilham conteúdos políticos, enquanto, na população, a proporção é de 25%.

Tanta informação não os torna realistas: 53% acreditam que os problemas econômicos do Brasil “já acabaram” ou “acabam até o fim deste ano”. No governo, seu preferido é Sérgio Moro: 61% supõem que ele tem “ótimo” desempenho, contra 25% que dizem o mesmo do ministro da Fazenda (na população, os números são 15% e 4%, respectivamente).

O bolsonarismo é uma minoria reduzida, mas com significativo potencial de militância: 86% afirmam que publicariam informações favoráveis a Bolsonaro em suas redes sociais, 48% adeririam a boicotes a seu pedido, 65% entrariam em perfis de artistas ou personalidades para defendê-lo e 89% pediriam votos para candidatos com ele alinhados. Para o capitão, talvez o mais relevante seja que 39% dos bolsonaristas asseguram que, “se necessário, brigariam com pessoas com ideias contrárias a Bolsonaro”.

É seu sonho: dispor de uma tropa para amedrontar quem discorda dele. É pouca gente, mas raivosa e beligerante.

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