domingo, 1 de setembro de 2019

“Veja” achou o Queiroz. Ele corre riscos?

Por Altamiro Borges

Após um longo e suspeitíssimo sumiço, Fabrício Queiroz, o “faz-tudo” da famiglia Bolsonaro, finalmente foi descoberto. A revista “Veja” encontrou o ex-motorista e ex-segurança de Flávio Bolsonaro, o pimpolho 01 do “capetão”, residindo no Morumbi, bairro nobre de São Paulo, e sendo atendido no Hospital Albert Einstein, um dos mais caros do país. Sergio Moro, o “superministro” da Justiça que já virou bagaço no laranjal, deve ter ficado surpreso com o trabalho investigativo dos jornalistas – já que a sua Polícia Federal não fez nada.

Fabrício Queiroz estava desaparecido há vários meses. O deputado-pornô Alexandre Frota, que foi expulso do PSL – já apelidado de “Partido Só de Laranjas” – e rompeu com as milícias bolsonaristas, chegou a sugerir que ele poderia ter sido assassinado. “Onde está enterrado o Queiroz?”, questionou da tribuna da Câmara. Sem ser incomodado pela Justiça, pela Polícia Federal e mesmo pela mídia falsamente moralista, o miliciano do clã Bolsonaro permanecia sem dar esclarecimentos sobre as suas “movimentações financeiras atípicas”.

As suspeitas contra o poderoso assessor de Flávio Bolsonaro, ex-deputado estadual e atual senador, foram apresentadas em dezembro passado pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), órgão ligado ao Ministério da Economia. Em fevereiro, Fabrício Queiroz confessou o seu crime, em depoimento por escrito ao Ministério Público, ao admitir que ficava com parte dos salários dos funcionários do gabinete na Alerj. Em uma jogada marota, ele jurou que o então deputado desconhecia as suas operações irregulares.

Diante da estranha explicação, o MP-RJ entrou com um pedido de quebra de sigilo fiscal e bancário de Flávio Bolsonaro, Fabrício Queiroz e de outros “laranjas”. O órgão apontou a existência de “indícios de organização criminosa” no gabinete do filho do presidente. Em abril, a Justiça do Rio de Janeiro autorizou o procedimento requisitado, mas ele foi suspenso em julho, de forma bastante ágil e curiosa, por Dias Toffoli, presidente do Supremo Tribunal Federal (STF). No meio dessa balbúrdia jurídica, Fabrício Queiroz simplesmente sumiu!

Descoberto na semana passada pela revista “Veja”, que deu capa à reportagem, a sinistra história de Fabrício Queiroz deve despertar novas dúvidas. Entre elas, como um ex-policial aposentado, que morava no subúrbio carioca, reside no luxuoso Morumbi e custeia seu tratamento no Hospital Albert Einstein? O advogado de defesa, Paulo Klein, garante que as despesas médicas são pagas “com recursos próprios e, quando possível, com o plano de saúde dele”. Só a cirurgia para tratar o câncer de cólon, em janeiro, custou R$ 136,6 mil. Já quanto à residência, ele disse “desconhecer” a localização ou saber quem paga e quanto custa o imóvel!

Homem de confiança do clã Bolsonaro – era amigo de pescaria do “capetão” –, Fabrício Queiroz é um arquivo vivo, um miliciano que deve despertar muitos calafrios no laranjal. Entre outras coisas, ele poderia explicar aquele suspeito cheque de R$ 24 mil para a primeira-dama Michele Bolsonaro – já apelidada carinhosamente de “Micheque”. Poderia ainda esclarecer as suas ligações com chefes das milícias do Rio do Janeiro. Isso sem falar sobre a origem da “movimentação atípica” de R$ 1,2 milhão em sua conta.

Com tantas histórias para contar, Fabrício Queiroz sabe do seu valor e dos riscos que corre. Segundo uma notinha postada na revista Época, ele já anda reclamando. “Desde que passou a ser investigado por peculato e lavagem de dinheiro pelo Ministério Público do Rio de janeiro, Fabrício Queiroz, ex-segurança de Flávio Bolsonaro, fez questão de sumir do radar. Em tratamento para um câncer, ele foi localizado nesta semana pela revista Veja no hospital Albert Einstein em São Paulo. Em conversa por áudio via WhatsApp obtida por Época, ele lamentou ter sido abandonado por algumas pessoas de sua confiança: ‘Eu não vejo ninguém mover nada para tentar me ajudar aí’”.

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