quarta-feira, 23 de outubro de 2019

Mais um capítulo da crise que divide o PSL

Por Vilma Bokany, no site da Fundação Perseu Abramo:

Apesar do acordo entre a ala bolsonarista e o núcleo ligado à presidência do partido, a semana começou com desentendimentos no PSL. Desde a última semana, foram apresentadas seis listas para definir a liderança do partido na Câmara, duas delas não validadas, e a semana fechou sob liderança do deputado delegado Waldir (PSL-GO).

Na manhã desta segunda-feira (21/10), a ala bivarista teria firmado acordo “de trégua” com a ala bolsonarista para que nenhuma outra lista fosse apresentada para mudar a liderança do partido que previa a manutenção de Waldir até janeiro. Em troca, seria revogada a suspensão dos cinco deputados do grupo ligado a Bolsonaro que atacaram o PSL e correligionários em redes sociais e discursos, conforme foi imposto pelo presidente do partido, na última semana. Bivar chegou a anunciar a suspensão das penalidades dos cinco deputados que tiveram as atividades parlamentares restabelecidas.

Em descumprimento ao acordo, o outro lado, encabeçado pelo líder do governo na Câmara, Vítor Hugo (PSL-GO) apresentou novo requerimento assinado por 28 deputados da legenda, incluindo os cinco que haviam sido suspensos, para que Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) fosse elevado à liderança do partido na Câmara. Como a suspensão dos deputados havia sido cancelada pela direção do partido, as assinaturas foram consideradas válidas e a lista foi aprovada pela mesa da Câmara.

A questão, a princípio foi pacificada pelo deputado delegado Waldir, que disse que reconhecia a liderança de Eduardo e estaria a disposição para fazer a transição de forma “transparente”, mas mandou um recado para o Palácio do Planalto ao dizer que o Poder Executivo não pode interferir no Legislativo. "Nós não rasgamos a Constituição ainda. Nós não rasgamos a Constituição. A Constituição prevê que o Executivo não deve interferir no Parlamento em nenhuma ação".

Poucas horas após assumir a liderança, Eduardo Bolsonaro destituiu todos os 12 vice-líderes da legenda, a maior parte deles, da ala bivarista.

A direção do partido acusa o governo de quebra do acordo estabelecido entre o ministro-chefe da Secretaria de Governo, general Luiz Eduardo Ramos, e o presidente do PSL e decidiu que vai manter as suspensões e apresentar nova lista para devolver Waldir à liderança. Há ainda uma outra, para que Eduardo permaneça líder, à espera de análise da Mesa Diretora da Câmara.

Segundo o deputado aliado de Bivar, Júnior Bozzella (PSL-SP), a quebra do acordo reflete “a falta de articulação política do líder do governo e a desorganização do Palácio (do Planalto) com relação ao Congresso”, disse Bozzella “A gente não sabe se é incompetência ou se é falta de caráter mesmo”.

Nesta terça feira, o deputado Delegado Waldir, destituído do cargo de líder do governo da Câmara, criticou a influência dos filhos de Jair Bolsonaro no governo, “Ninguém é mais forte neste governo do que os filhos do presidente. O presidente é uma marionete. Os filhos estão governando”. Waldir disse também estar disposto a negociar a indicação de um terceiro nome para assumir a liderança.

A Executiva Nacional do PSL nesta terça-feira instituiu o Conselho de Ética do partido e abriu processo disciplinar contra 19 deputados, todos bolsonarista, inclusive o filho de Jair Bolsonaro e atual líder da legenda na Câmara, Eduardo Bolsonaro, agravando ainda mais a crise interna no partido.

Os dezenove parlamentares conseguiram uma liminar do Tribunal de Justiça do Distrito Federal para evitar a suspensão pelo comando do partido. O grupo de deputados terá cinco dias úteis para se defender antes que a sigla determine a suspensão. O partido ainda não se manifestou sobre a decisão.

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