domingo, 27 de setembro de 2020

A democracia é um retrato na parede

Por Marcelo Zero

No Brasil de hoje, há gente que não tem nada a propor.

O governo Bolsonaro, por exemplo, não consegue apresentar nada de positivo a um país que sofre com morte, epidemia, desemprego e fome.

Trata-se de um governo que só destrói o que os outros construíram.

A agenda de Bolsonaro é a agenda da destruição; não a agenda da construção.

É a agenda do ódio; não a agenda da esperança.

Destruição dos direitos dos aposentados. Destruição dos direitos dos trabalhadores. Destruição dos empregos. Destruição dos salários dignos. Destruição da saúde pública. Destruição da educação pública. Destruição da segurança alimentar. Destruição dos sonhos.

Queima florestas e biomas inteiros.

Destrói a vida em todas as suas formas. Vidas humanas e a vida de animais e plantas. É, sem dúvida, um necrogoverno.

Põe-se fogo em tudo, não somente na Amazônia e no Pantanal.

No altar voraz do ultraneoliberalismo e do lucro sem limites, aos poucos o Brasil inteiro vira fumaça.

Põe-se fogo até mesmo na soberania do Brasil. Põe-se fogo na nossa autoestima.

Esfuma-se, sobretudo, a verdade.

Esse é um governo que foi eleito com base em fake news e que só se sustenta com mentiras.

Como a mentira de que o auxílio emergencial foi criado por ele.

Como as mentiras presidenciais anunciadas desavergonhadamente na ONU, de que foram distribuídos mil dólares para 65 milhões de pessoas, de que o governo é um campeão do meio ambiente, de que o governo enfrenta bem a pandemia.

O plano do governo Bolsonaro é destruir e mentir.

Mas o PT tem um plano de verdade.

É o Plano de Reconstrução e Transformação do Brasil, apresentado há poucos dias.

Esse plano, resultado de um grande esforço coletivo que envolveu mais de 500 pessoas de todos os matizes sociais, propõe medidas emergenciais e de médio e longo prazo para salvar vidas da epidemia, do desemprego, da fome, da pobreza, do racismo, da homofobia, da misoginia, da desigualdade e de tudo o mais que ameaça a qualidade de vida de brasileiras e brasileiros.

É um plano baseado na crença inquebrantável de que o Brasil pode ser muito melhor que este triste país encarcerado pela tragédia de Bolsonaro.

O plano é uma aposta de esperança e fé no Brasil.

É um plano de construção de um país muito melhor para todas e todos.

Pode-se até não gostar dele, pode-se dele discordar.

Porém, é uma proposta positiva para a democracia do Brasil.

O que a democracia brasileira mais necessita hoje é de debates, debates qualificados sobre os rumos do Brasil.

Debates de verdade, baseados em verdades e fatos.

Nas eleições de 2018, não tivemos debate algum.

Bolsonaro fugiu de todas as discussões e foi eleito com base num discurso de ódio e em escandalosas mentiras.

Na realidade, ninguém, ou quase ninguém, votou a favor da tragédia que assola o Brasil.

Ninguém votou a favor de queimar a Amazônia e o Pantanal.

Ninguém votou a favor do desemprego.

Com toda certeza, os aposentados não votaram a favor do fim das aposentadorias, e os trabalhadores não votaram a favor do fim dos direitos do trabalho.

Creio que ninguém votou contra a agricultura familiar e a favor do arroz a 40 reais.

O eleitor do Brasil também não deve ter votado a favor de vender nosso petróleo e outras riquezas do país a preço de banana.

Julgamos que ninguém, ou quase ninguém, votou a favor de colocar o Brasil sob o tacão de Trump.

O fato é que, desde as eleições de 2014, não se discutem, com a profundidade necessária, novas ideias e propostas para reerguer esse Brasil devastado.

A proposta do governo é sempre mais do mesmo. Mais do mesmo neoliberalismo que fracassou no mundo inteiro. Sempre mais das mesmas medidas contra os mais pobres, os mais frágeis. Sempre mais proteção e direitos apenas para os mais ricos.

Essa ausência de debates, de debates profundos e reais, corrói a democracia por dentro. A democracia brasileira está sem o oxigênio da dialética de ideias e propostas.

Há um muro de silêncio e de ódio que mantém as pessoas aprisionadas em suas bolhas digitais.

O plano do PT pretende furar essas bolhas.

Pretende introduzir uma cunha no muro de silêncio e de ódio que está sufocando nossa democracia.

O fascismo tem horror ao debate, ao saudável choque de ideias e de propostas.

O fascismo tem ódio ao intelecto. Tem medo da cultura. Mas a democracia, a democracia real, não vive sem isso.

O nazismo, assim como fazem hoje os “gabinetes de ódio” incrustados nas redes digitais de todo o mundo, apostava na redução da linguagem e do pensamento para se impor por meio das mentiras repetidas mil vezes.

Temos de pulverizar esse modelo digital “goebbeliano”.

O Brasil precisa urgentemente se discutir.

Precisamos debater os desafios econômicos, sociais e ambientais do Brasil, para o que resta da pandemia e para o período pós-pandemia. Um período muito difícil, que apresenta enormes obstáculos, porém grandes oportunidades.

Entre outras propostas, precisamos debater com urgência o Mais Bolsa Família, que pretende eliminar a pobreza extrema, reduzir a nossa grotesca desigualdade e levar alívio a milhões de famílias do Brasil. Essa sim é uma proposta a favor da família brasileira!

É urgente discutir e implantar medidas para salvar vidas para o que resta da pandemia. Chega de banalizar a morte!

Precisamos debater políticas para gerar empregos, recuperar os salários e combater o desabastecimento de alimentos e a fome.

É um escândalo que no segundo maior exportador de alimentos do mundo, nossa população passe fome!

Temos também de discutir a fundo medidas econômicas para propiciar as condições para a reconstrução do Brasil, como a urgente e imprescindível Reforma Tributária progressiva, que desonere os mais pobres e taxe aqueles que podem pagar: os mais ricos, as grandes fortunas e os estratosféricos rendimentos do setor financeiro.

Temos de debater o desmatamento zero e uma transição ecológica que preserve o meio ambiente e o clima e, ao mesmo tempo, gere bons empregos para os amazônidas, os pantaneiros e todos os brasileiros.

Precisamos de um incêndio de ideias; não de florestas.

Precisamos discutir medidas efetivas contra o racismo estrutural, contra a homofobia, contra a opressão das mulheres.

Necessitamos urgentemente debater propostas para proteger nossas populações originárias e os quilombolas.

É vital debater formas para implantar a indústria do futuro e a inclusão digital no Brasil. A hora do futuro é agora.

Não podemos adiar mais a defesa da democracia brasileira e propostas para aprofundá-la e enraizá-la nos interesses populares.

É imprescindível, acima de tudo, debater formas para recuperar a soberania nacional e recuperar nossa autoestima.

Ninguém aguenta mais essa vassalagem desavergonhada de Bolsonaro a Trump, que humilha e apequena o Brasil.

Tudo isso está lá, no Plano de Recuperação e Transformação do Brasil.

Um plano feito por um partido historicamente comprometido com a democracia e com os interesses populares.

Um partido que disputou todas as oito eleições presidenciais do período pós-ditadura, ganhando quatro e ficando em segundo lugar nas demais.

Portanto, ignorar esse plano seria algo semelhante a se ignorar um plano do Partido Democrata, nos EUA, ou um plano do Partido Trabalhista, no Reino Unido.

Ninguém está obrigado a com ele concordar, mas todos deveriam com ele dialogar.

Esse processo de debate democrático poderia retirar os brasileiros de suas bolhas e substituir o silêncio por vozes polifônicas e o ódio por esperança em dias melhores.

A democracia brasileira, lembrando Drummond, está se transformando cada vez mais num retrato na parede.

Um velho retrato em preto e branco. E como dói!

Temos de fazer desse retrato esquecido um belo filme colorido.

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