Na sexta-feira (4) a CPI da Covid-19 completou um mês do início dos depoimentos. Desde o primeiro deles, o do ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta, foi denunciada a existência de um “ministério paralelo”, utilizado para fundamentar as medidas contrárias às orientações da ciência tomadas por Bolsonaro, confirmada por vários depoimentos posteriores, inclusive da médica Nise Yamagushi, que tentou minimizar seu papel nefasto como cúmplice e talvez a principal referência contrária à ciência do governo.
Há ainda as imagens divulgadas na sexta-feira passada, mostrando que o ministro da Saúde de direito de então (Eduardo Pazuello) sequer estava presente e as decisões ali tomadas lhe seriam comunicadas pelo ministro de fato (Osmar Terra). Mostra ainda um médico indicando o combate à vacina. Ou seja: os ataques de Bolsonaro à vacina e a não aquisição do imunizante foi uma decisão pensada, um ato que pode ser compreendido como genocida, na medida em que dezenas milhares de vida poderiam ter sido poupadas.
É óbvio que esses fatos fazem parte de uma concepção política e ideológica. Bolsonaro e seu séquito optaram, se margem para dúvida, pelo obscurantismo no lugar da ciência. Essa opção está na raiz da sua formação como processo político e projeto de poder. É da essência da ideologia da extrema direita a negação de qualquer ideia que representa o pensamento científico, consequentemente progressistas. A ciência e o progresso social são a antítese dessa ideologia negacionista.
Em todos os tempos, o avanço das conquistas civilizatórias enfrentou o obscurantismo e a violência, como sua derivação. A formações de grupos políticos com essa orientação se dá exatamente pelos impasses criados com a superação sistemática de resquícios de processos históricos que perderam a razão para continuar existindo, mas que ainda não foram liquidados.
A crise estrutural do capitalismo, que produz constantemente contradições e antagonismos sociais, proporciona, também, a existência das condições para a emergência de grupos políticos autoritários e obscurantistas, como é o bolsonarismo. O que a CPI da Covid-19 vem demonstrando, portanto, é, essencialmente, a importância da ciência e como ela é sabotada por essa política do governo Bolsonaro, bem definida como genocídio.
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