Editorial do site Vermelho:
A informação de que o presidente Jair Bolsonaro orientou a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) a infiltrar seus agentes nas manifestações contra o governo com o objetivo de monitoras os protestos, num forte indício de abuso de poder, e a presença do diretor da agência de inteligência dos Estados Unidos (CIA) em agenda oficial em Brasília, reforçam o pendor autoritário do bolsonarismo. Sem margens para levar adiante o seu projeto de poder, que passa pelas eleições presidenciais de 2022, por meio de mediações políticas, Bolsonaro recorre cada vez mais aos métodos antidemocráticos.
Sem muito a apresentar ao longos do seus 28 anos como deputado federal, além de exaltações à ditadura militar e agressões a parlamentares que dele divergissem e aos movimentos sociais, Bolsonaro não alterou sua conduta intolerante na Presidência da República. Os rompantes autoritários, protagonizados quase diariamente por ele, são reproduções explícitas do seu pensamento, do seu ideário de poder. Mesmo sob a vigência da Constituição, que preserva no essencial seu perfil democrático, “Bolsonaro ainda encontra terreno algum acolhimento para sua agressividade porque preserva bases sociais para isso, em que pese a crescente rejeição ao seu governo, como demonstram as pesquisas de opinião”.
A edição da Medida Provisória (MP) que prorroga o pagamento do auxílio emergencial por três meses, atendendo a mais de 39 milhões de brasileiros com valores entre R$ 150 e R$ 375 até outubro, certamente dá ao presidente margem para proselitismo eleitoreiro. A necessidade da medida é inegável, dada a elevadíssima taxa de desemprego, perto de 15%, e a ainda descontrolada disseminação da Covid-19, mas, em se tratando de Bolsonaro, ela está mais para demagogia eleitoreira do que para uma ação efetiva de enfrentamento à combinação grave das crises econômica e sanitária. Registre-se que as centrais sindicais brasileiras contestaram o valor e período curto em que será pago o auxílio e exigem R$ 600,00 até o fim da pandemia.
É sabido que o governo deu as costas para o povo desde o início da pandemia, que encontrou o país se arrastando numa crise econômica de grandes proporções. Em lugar de encarar o problema e tomar medidas para impedir a rápida propagação da Covid-19, Bolsonaro e seus asseclas tomaram atitudes de absoluto descaso tanto em relação à economia quando à saúde. Com o caos instalado, o presidente agora se arvora em defensor das vítimas.
Diante das pesquisas indicando sua rápida queda de popularidade, Bolsonaro certamente recorrerá mais e mais a esses métodos demagógicos. “Estamos prorrogando o auxílio emergencial por mais três meses enquanto acertamos o valor do novo Bolsa Família para o ano que vem”, disse o presidente. Há ainda a informação do ministro da Economia, Paulo Guedes, de que haverá o lançamento do Renda Brasil – na verdade, um novo nome a ser dado ao Bolsa Família – ainda neste ano. Tudo isso em meio a uma escalada de evidências de corrupção no governo que não tem fim a vista.
O caráter demagógico dessas medidas se expõe pela constatação de que são meros paliativos, sem lastro em um projeto que visa o enfrentamento efetivo das crises que assolam o país. E assim Bolsonaro vai tentando desbravar o caminho para a continuidade do seu projeto de poder, ancorado na administração da agenda de destruição do Estado nacional e da institucionalidade democrática do país, um desafio que exige réplica enérgica das forças democráticas para conter imediatamente os passos dessa marcha autoritária.
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