Reproduzo artigo de Marcos Coimbra, publicado no jornal Correio Braziliense:
Por uma coincidência extraordinária, denúncias pipocam a toda hora nestes últimos dias de campanha eleitoral. Faltando duas semanas para a eleição do sucessor ou, pelo que parece, da sucessora de Lula, falar delas se tornou uma verdadeira obsessão para nossa grande imprensa.
Se contarmos o tempo transcorrido desde quando surgiu o “escândalo da Receita”, já faz quase um mês que os grandes jornais de São Paulo e Rio, as maiores revistas de informação e o noticiário da principal emissora de televisão dão cobertura máxima a denúncias de vários tipos contra Dilma, sua campanha, o PT e o governo Lula.
O caso da Receita e o mais recente, envolvendo o filho da ex-ministra Erenice Guerra, receberam a atenção de todos. Outros, como a bombástica revelação que uma “falha” de Dilma redundara em prejuízo de R$ 1 bilhão aos consumidores de energia elétrica, ficaram reduzidos ao esforço isolado de um veículo. Como ninguém a levou a sério (sequer o jornal que a havia patrocinado), foi logo esquecida.
Essa disposição para denunciar não atinge o universo da imprensa. Brasil afora, jornais e revistas regionais e estaduais mostram-se menos dispostos a fazer coro com os “grandes”. O mesmo vale na mídia eletrônica, onde o tom escandaloso não é o padrão de todas.
É curioso, mas nenhuma dessas denúncias nasceu na internet, contrariando tendência cada vez mais comum em outros países. Lá, é nos blogs e sites independentes que coisas assim começam e têm seu curso, muitas vezes enfrentando a inércia da mídia tradicional. Aqui, ao contrário, são os jornalões e os grupos de comunicação mais poderosos os mais afoitos na apresentação e apuração de denúncias.
Não se discute se são falsas ou verdadeiras. É certo que algumas, como o “escândalo da eletricidade”, são apenas bobagens. Outras são importantes e produzem consequências reais, como a que levou à saída de Erenice.
Existem as que estavam na geladeira, ao que parece aguardando um “bom momento” para vir à tona, como o “escândalo da Receita”. E há as que, aparentemente, apenas coincidiram com outras, como o “escândalo do caseiro”, que ressurgiu das cinzas agora que a Caixa Econômica foi condenada a indenizar a vítima.
Também não se discute o que fazer nos casos em que há suspeita fundamentada ou confirmação de que alguma irregularidade foi praticada. Partindo da premissa de que somos um país sério e que as instituições funcionam, qualquer denúncia com verossimilhança precisa ser apurada e os culpados punidos. Aliás, todas estão sendo acompanhadas pelo Ministério Público, a Polícia Federal e a própria imprensa.
Mas só a velhinha de Taubaté acredita que a coincidência de tantos “escândalos” é obra do acaso. A onda nasceu em tal momento que é impossível não desconfiar que exista intencionalidade por trás dela.
Os segmentos na sociedade e na mídia insatisfeitos com a possibilidade de vitória de Dilma aguardavam ansiosos o começo da propaganda eleitoral na televisão e no rádio. Sabe-se lá de onde, imaginavam que Serra reagiria a partir de 17 de agosto e que conseguiria reverter suas perspectivas muito desfavoráveis.
Não viam que o mais provável era o oposto, que Dilma crescesse quando Lula chegasse à televisão. Como resultado de mais um dos equívocos que cometeram na avaliação das eleições, se surpreenderam quando a vantagem da candidata do PT rapidamente aumentou.
Foi de repente, quando a decepção com a performance de Serra e o susto com o bom desempenho de Dilma se generalizaram, que começamos a ter uma denúncia atrás da outra. A temporada de escândalos teve sua largada na última semana de agosto, quando saíram as primeiras pesquisas públicas feitas após o inicio do horário gratuito, mostrando que a diferença entre eles passava de 20 pontos.
De lá para cá, nada mudou nas intenções de voto. Alguns comentaristas procuram indícios de oscilações, com lupas esperançosas, ansiosos para encontrar sinais de que tanto barulho produza efeitos. Até agora, nada.
Chega a ser engraçado, mas há países em que se proíbe a divulgação de pesquisas eleitorais nos 30 dias que antecedem uma eleição. Tudo para não perturbar as pessoas na fase da campanha em que deveriam pensar mais. Eles acham que ninguém deveria interferir nesse momento de recolhimento e reflexão.
É porque não conhecem o que é capaz de fazer (ou de tentar fazer) nossa “grande imprensa”.
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domingo, 19 de setembro de 2010
Mídia planeja "Venezuelização" do Brasil
Reproduzo artigo de Vinicius Wu, publicado no sítio Carta Maior:
“Ressurge a Democracia! Vive a Nação dias gloriosos“. Trecho do editorial de “O Globo” de 1 de abril de 1964.
No sombrio despertar das ditaduras latino-americanas, ditadores jamais se apresentaram enquanto tal. Golpistas jamais aplicam “golpes”. Na pior das hipóteses adotam “medidas extremas” para salvaguardar a democracia, a liberdade e, em casos mais graves, o “sagrado” direito à propriedade. Esta foi uma das “inovações” mais bizarras das ditaduras que emergiram no contexto da guerra-fria. Não é por acaso que até hoje, nos círculos saudosistas do regime militar, o golpe que depôs o presidente eleito João Goulart seja saudado como “Revolução Redentora”.
De acordo com esta narrativa, as prisões, as torturas, o silêncio imposto à livre manifestação do pensamento e a perseguição política não foram mais do que gestos em defesa da “liberdade”. Até aí nada de novo. Porém, deve causar inquietação entre as forças democráticas no Brasil de hoje o ressurgimento desta retórica com uma força perturbadora ao longo das ultimas semanas.
Alguns dos principais jornais do país estão, há algumas semanas, trabalhando diariamente para imputar ao presidente Lula a pecha de “ditador” e qualificar a eventual vitoria de Dilma como uma ameaça à democracia.
Foi o próprio Serra quem retomou o termo “República Sindicalista”, em reunião com militares no Rio de Janeiro. Agora, o remake de uma antiga propaganda de um periódico de São Paulo insinua comparações entre Lula e Hitler (sic), numa ignóbil peça publicitária que insulta a inteligência dos brasileiros.
Justiça seja feita a um dos mais erráticos colunistas do jornal O Globo, que há alguns dias foi quem lançou a moda de comparar o presidente mais popular da história do país, eleito e reeleito pelo voto direto, ao líder nazista. O mesmo colunista andou reproduzindo um artigo denominado “A solução final” (sic), no qual era apresentada uma tosca análise de um recente pronunciamento do presidente Lula.
É sim preocupante o movimento, pois, embora não tenha força social e condições políticas de se transformar em um novo golpe, contribui para a emergência de um clima de recrudescimento da luta política no país, que pode ter graves conseqüências para a democracia e um desfecho imprevisível nos próximos anos.
Na verdade, o que buscam é a “venezuelização” do país. Ou seja, trabalham abertamente para a criação de um ambiente político de instabilidade permanente, fragilização das instituições democráticas e deslegitimação do voto popular.
O que está em jogo é o cenário em que se dará a luta política no país no próximo período.
Diante do fato de que a eleição de Dilma parece ter-se tornado um acontecimento praticamente irreversível, a questão passa a ser a definição do cenário em que se dará a luta política ao longo de um eventual governo Dilma. Pretendem inaugurar um ambiente de “crise permanente”, de confronto político aberto entre posições irredutíveis.
A comparação com a Venezuela é inevitável. Afinal, muito se fala por aqui dos erros de Hugo Chávez (em grande medida reais). No entanto, pouco é dito a respeito do comportamento golpista, desrespeitoso e grotesco dos grandes conglomerados de comunicação venezuelanos, que frequentemente chamam o presidente do país de “macaquito”.
Em seu renitente cinismo, os grandes monopólios da comunicação brasileiros alertavam para o “risco” da importação do chavismo por Lula. Agora passam, de fato, a incentivar a “Venezuelização” do Brasil, importando um comportamento golpista e irresponsável, característico da grande mídia venezuelana.
Já que não conseguem derrotar Lula trabalham para criar um ambiente de enfraquecimento da autoridade e da legitimidade social e política daquela que deve ser a próxima presidente do país.
A vitória do amplo diálogo social inaugurado por Lula – um dos elementos chaves do sucesso de seu governo – conta com a aversão de determinados setores da grande mídia, que perceberam a centralidade de combater o novo “pacto” social - inaugurado por Lula - em sua estratégia de derrotar o PT a qualquer custo.
À época de Goulart a deslegitimação da democracia fundava-se no argumento de que a fraqueza da democracia estava permitindo a “bolchevização” do país, através da supostas concessões que o governo Goulart fazia ao PCB.
Na época atual, os esforços em favor da mesma deslegitimação visam atingir diretamente a figura do presidente, identificando-o com o autoritarismo, o paternalismo e o clientelismo. Um grau de irresponsabilidade só compreensível face à enormidade do preconceito que lhes move.
Uma imprensa capaz de comparar um presidente democrata e com enorme popularidade ao criador de uma das maiores tragédias do século XX só pode mesmo estar disposta a tudo para fazer prevalecer sua visão de “democracia”. Estejamos atentos.
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“Ressurge a Democracia! Vive a Nação dias gloriosos“. Trecho do editorial de “O Globo” de 1 de abril de 1964.
No sombrio despertar das ditaduras latino-americanas, ditadores jamais se apresentaram enquanto tal. Golpistas jamais aplicam “golpes”. Na pior das hipóteses adotam “medidas extremas” para salvaguardar a democracia, a liberdade e, em casos mais graves, o “sagrado” direito à propriedade. Esta foi uma das “inovações” mais bizarras das ditaduras que emergiram no contexto da guerra-fria. Não é por acaso que até hoje, nos círculos saudosistas do regime militar, o golpe que depôs o presidente eleito João Goulart seja saudado como “Revolução Redentora”.
De acordo com esta narrativa, as prisões, as torturas, o silêncio imposto à livre manifestação do pensamento e a perseguição política não foram mais do que gestos em defesa da “liberdade”. Até aí nada de novo. Porém, deve causar inquietação entre as forças democráticas no Brasil de hoje o ressurgimento desta retórica com uma força perturbadora ao longo das ultimas semanas.
Alguns dos principais jornais do país estão, há algumas semanas, trabalhando diariamente para imputar ao presidente Lula a pecha de “ditador” e qualificar a eventual vitoria de Dilma como uma ameaça à democracia.
Foi o próprio Serra quem retomou o termo “República Sindicalista”, em reunião com militares no Rio de Janeiro. Agora, o remake de uma antiga propaganda de um periódico de São Paulo insinua comparações entre Lula e Hitler (sic), numa ignóbil peça publicitária que insulta a inteligência dos brasileiros.
Justiça seja feita a um dos mais erráticos colunistas do jornal O Globo, que há alguns dias foi quem lançou a moda de comparar o presidente mais popular da história do país, eleito e reeleito pelo voto direto, ao líder nazista. O mesmo colunista andou reproduzindo um artigo denominado “A solução final” (sic), no qual era apresentada uma tosca análise de um recente pronunciamento do presidente Lula.
É sim preocupante o movimento, pois, embora não tenha força social e condições políticas de se transformar em um novo golpe, contribui para a emergência de um clima de recrudescimento da luta política no país, que pode ter graves conseqüências para a democracia e um desfecho imprevisível nos próximos anos.
Na verdade, o que buscam é a “venezuelização” do país. Ou seja, trabalham abertamente para a criação de um ambiente político de instabilidade permanente, fragilização das instituições democráticas e deslegitimação do voto popular.
O que está em jogo é o cenário em que se dará a luta política no país no próximo período.
Diante do fato de que a eleição de Dilma parece ter-se tornado um acontecimento praticamente irreversível, a questão passa a ser a definição do cenário em que se dará a luta política ao longo de um eventual governo Dilma. Pretendem inaugurar um ambiente de “crise permanente”, de confronto político aberto entre posições irredutíveis.
A comparação com a Venezuela é inevitável. Afinal, muito se fala por aqui dos erros de Hugo Chávez (em grande medida reais). No entanto, pouco é dito a respeito do comportamento golpista, desrespeitoso e grotesco dos grandes conglomerados de comunicação venezuelanos, que frequentemente chamam o presidente do país de “macaquito”.
Em seu renitente cinismo, os grandes monopólios da comunicação brasileiros alertavam para o “risco” da importação do chavismo por Lula. Agora passam, de fato, a incentivar a “Venezuelização” do Brasil, importando um comportamento golpista e irresponsável, característico da grande mídia venezuelana.
Já que não conseguem derrotar Lula trabalham para criar um ambiente de enfraquecimento da autoridade e da legitimidade social e política daquela que deve ser a próxima presidente do país.
A vitória do amplo diálogo social inaugurado por Lula – um dos elementos chaves do sucesso de seu governo – conta com a aversão de determinados setores da grande mídia, que perceberam a centralidade de combater o novo “pacto” social - inaugurado por Lula - em sua estratégia de derrotar o PT a qualquer custo.
À época de Goulart a deslegitimação da democracia fundava-se no argumento de que a fraqueza da democracia estava permitindo a “bolchevização” do país, através da supostas concessões que o governo Goulart fazia ao PCB.
Na época atual, os esforços em favor da mesma deslegitimação visam atingir diretamente a figura do presidente, identificando-o com o autoritarismo, o paternalismo e o clientelismo. Um grau de irresponsabilidade só compreensível face à enormidade do preconceito que lhes move.
Uma imprensa capaz de comparar um presidente democrata e com enorme popularidade ao criador de uma das maiores tragédias do século XX só pode mesmo estar disposta a tudo para fazer prevalecer sua visão de “democracia”. Estejamos atentos.
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Eleição causa espanto e pavor. Em marte
Reproduzo artigo de Mino Carta, publicado na revista CartaCapital:
Estão na ribalta um candidato a Mussolini, ou a Hitler, ou a ambos, e uma assassina de criancinhas. Ou seja, Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff. Palavras de Fernando Henrique Cardoso, Rodrigo Maia e Mônica Serra. Um alienígena que baixasse à Terra ficaria entre o espanto e o pavor. Quanto a nós, brasileiros, não é o caso de maiores preocupações.
No caso de Lula, cujo estilo mussoliniano o príncipe dos sociólogos aponta, vale admitir que outra citação possível seria a de Luís XIV, personificava o poder todo. “O Estado sou eu”, dizia o monarca por direito divino. Pois segundo FHC, o presidente afirma, nas entrelinhas da sua atuação, “eu sou tudo e quero o poder total”. E isto “não pode”, proclama o ex, com aquela riqueza vocabular que o caracteriza.
Rodrigo Maia percebe outra semelhança, com Hitler, o qual pretendia “extirpar” a raça judia assim como Lula pretende “extirpar” a gente do DEM. Quanto a Dilma Rousseff, a própria mulher do candidato tucano à Presidência, Mônica, enxerga nela, favorável ao aborto, uma matadora de criancinhas. O que talvez soe estranho a ouvidos qualificados para um debate sério sobre a questão, mas casa à perfeição com vetustas ideias pelas quais mastigar bebês era praxe entre comunistas.
A mídia nativa desfralda estas patéticas definições da lavra dos cabos eleitorais de seu candidato enquanto tenta transformar o Caso Erenice em escândalo de imensas proporções. O enredo suscitado pela quebra de certos sigilos passa para o segundo plano, mas ninguém se surpreenda se for ressuscitada a versão da “guerrilheira terrorista Dilma”, capaz de violências inauditas de arma na mão. A revista Veja está aí para estas coisas, enquanto a Folha de S.Paulo reedita na tevê um velho anúncio disposto a evocar Hitler para concluir, à moda fernandista, que algumas verdades constroem uma mentira.
Permito-me anotar que a reportagem de Veja sobre as traquinagens do filho de Erenice Guerra conta uma história, lamentável, de nepotismo e clientelismo, problema gravíssimo da política brasileira em todos os tempos. Aspecto comum, e condenabilíssimo, dos comportamentos de um poder sempre inclinado a instalar cabides de emprego e traficar influências. Certo é, contudo, que a nau capitânia da frota da Editora Abril não consegue provar a ligação entre os fatos denunciados e a campanha de Dilma Rousseff.
Sempre falta algo para fechar o círculo. A despeito, até, de José Dirceu, com sua mania de protagonismo. É dele uma observação cometida por ocasião de uma palestra para petroleiros baianos. Disse ele que o PT depois da vitória de Dilma no primeiro turno vai ficar muito mais forte, hegemônico mesmo. Nada tão estimulante, digamos, para Dora Kramer, em nova apresentação do seu penteado.
Regala-se a colunista, a ponto de anunciar que Lula “quer eliminar da política a possibilidade da oposição”. Ela atende a demandas e convicções da minoria branca, à espera da mexicanização do Brasil, via transformação do PT em PRI, sem contar as soturnas intenções de manietar de vez a nossa indomável imprensa. CartaCapital, como de hábito supõe outros desfechos de um pleito disputado pela atual oposição de forma nunca dantes praticada, em termos de hipocrisias, falsidades e baixezas.
Somos otimistas. Acreditamos que a gestão Lula e Dilma precipitará finalmente o surgimento de uma oposição não golpista, ao contrário da atual, golpistas até a medula, a mesma que, com iguais propósitos, foi situação. Das cinzas do desastre tucano nascerá, esta a aposta, um avanço democrático decisivo. Lula, com seus dois mandatos, é o elemento fatal do enredo, acima e além de alguns méritos do seu governo. O Brasil precisa superar, agora, e superará, uma quadra que ainda o viu tolhido pela presença do partido do golpe, entendido como garantia do privilégio e sustentado pela mídia, seu braço direito e porta-voz.
CartaCapital percebe os sinais, nem tão tímidos, da mudança em andamento. Concordamos com José Dirceu quando defende a liberdade de imprensa. Mas a questão é outra: esta mídia é visceralmente antidemocrática, embora nem por isso deva ser coibida. Está a ser punida, aliás, e de outra maneira: prova-se, já há algum tempo, que não alcança o público na sua maioria. Tal é a nossa convicção, a mudança se dará naturalmente. E por este trilho, a mídia nativa vai perder o emprego.
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Estão na ribalta um candidato a Mussolini, ou a Hitler, ou a ambos, e uma assassina de criancinhas. Ou seja, Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff. Palavras de Fernando Henrique Cardoso, Rodrigo Maia e Mônica Serra. Um alienígena que baixasse à Terra ficaria entre o espanto e o pavor. Quanto a nós, brasileiros, não é o caso de maiores preocupações.
No caso de Lula, cujo estilo mussoliniano o príncipe dos sociólogos aponta, vale admitir que outra citação possível seria a de Luís XIV, personificava o poder todo. “O Estado sou eu”, dizia o monarca por direito divino. Pois segundo FHC, o presidente afirma, nas entrelinhas da sua atuação, “eu sou tudo e quero o poder total”. E isto “não pode”, proclama o ex, com aquela riqueza vocabular que o caracteriza.
Rodrigo Maia percebe outra semelhança, com Hitler, o qual pretendia “extirpar” a raça judia assim como Lula pretende “extirpar” a gente do DEM. Quanto a Dilma Rousseff, a própria mulher do candidato tucano à Presidência, Mônica, enxerga nela, favorável ao aborto, uma matadora de criancinhas. O que talvez soe estranho a ouvidos qualificados para um debate sério sobre a questão, mas casa à perfeição com vetustas ideias pelas quais mastigar bebês era praxe entre comunistas.
A mídia nativa desfralda estas patéticas definições da lavra dos cabos eleitorais de seu candidato enquanto tenta transformar o Caso Erenice em escândalo de imensas proporções. O enredo suscitado pela quebra de certos sigilos passa para o segundo plano, mas ninguém se surpreenda se for ressuscitada a versão da “guerrilheira terrorista Dilma”, capaz de violências inauditas de arma na mão. A revista Veja está aí para estas coisas, enquanto a Folha de S.Paulo reedita na tevê um velho anúncio disposto a evocar Hitler para concluir, à moda fernandista, que algumas verdades constroem uma mentira.
Permito-me anotar que a reportagem de Veja sobre as traquinagens do filho de Erenice Guerra conta uma história, lamentável, de nepotismo e clientelismo, problema gravíssimo da política brasileira em todos os tempos. Aspecto comum, e condenabilíssimo, dos comportamentos de um poder sempre inclinado a instalar cabides de emprego e traficar influências. Certo é, contudo, que a nau capitânia da frota da Editora Abril não consegue provar a ligação entre os fatos denunciados e a campanha de Dilma Rousseff.
Sempre falta algo para fechar o círculo. A despeito, até, de José Dirceu, com sua mania de protagonismo. É dele uma observação cometida por ocasião de uma palestra para petroleiros baianos. Disse ele que o PT depois da vitória de Dilma no primeiro turno vai ficar muito mais forte, hegemônico mesmo. Nada tão estimulante, digamos, para Dora Kramer, em nova apresentação do seu penteado.
Regala-se a colunista, a ponto de anunciar que Lula “quer eliminar da política a possibilidade da oposição”. Ela atende a demandas e convicções da minoria branca, à espera da mexicanização do Brasil, via transformação do PT em PRI, sem contar as soturnas intenções de manietar de vez a nossa indomável imprensa. CartaCapital, como de hábito supõe outros desfechos de um pleito disputado pela atual oposição de forma nunca dantes praticada, em termos de hipocrisias, falsidades e baixezas.
Somos otimistas. Acreditamos que a gestão Lula e Dilma precipitará finalmente o surgimento de uma oposição não golpista, ao contrário da atual, golpistas até a medula, a mesma que, com iguais propósitos, foi situação. Das cinzas do desastre tucano nascerá, esta a aposta, um avanço democrático decisivo. Lula, com seus dois mandatos, é o elemento fatal do enredo, acima e além de alguns méritos do seu governo. O Brasil precisa superar, agora, e superará, uma quadra que ainda o viu tolhido pela presença do partido do golpe, entendido como garantia do privilégio e sustentado pela mídia, seu braço direito e porta-voz.
CartaCapital percebe os sinais, nem tão tímidos, da mudança em andamento. Concordamos com José Dirceu quando defende a liberdade de imprensa. Mas a questão é outra: esta mídia é visceralmente antidemocrática, embora nem por isso deva ser coibida. Está a ser punida, aliás, e de outra maneira: prova-se, já há algum tempo, que não alcança o público na sua maioria. Tal é a nossa convicção, a mudança se dará naturalmente. E por este trilho, a mídia nativa vai perder o emprego.
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Globo insufla a verde Marina Silva
Reproduzo artigo de André Cintra, publicado no sítio Vermelho:
Não é de hoje que a grande mídia ataca a estratégia do tucano José Serra para bater Dilma Rousseff e chegar à Presidência da República. Mas, a 14 dias das eleições de 3 de outubro, a sinalização dos jornalões é ainda mais dura: por que lutar para ir ao segundo turno diante da inevitável derrota demo-tucana? Não seria melhor até que Dilma enfrentasse não Serra num turno final, mas, sim, Marina Silva?
É o que se pode deduzir da coluna de Merval Perreira publicada neste domingo (19) pelo jornal O Globo. O texto é um choramingo midiático só – mas Merval faz questão de debitar as críticas na conta dos cardeais tucanos. “Os principais líderes do PSDB vivem uma situação paradoxal. Gostariam de ir para o segundo turno para manter a polarização com o PT, mas não acreditam que seja possível vencer”.
Escondendo-se sob essa carapuça dos “principais líderes do PSDB”, O Globo volta a detonar a estratégia de campanha de Serra. O candidato “teria que mudar totalmente os rumos da campanha”, mas, não “se disporá a isso. Ao contrário, se convencerá de que a estratégia do marqueteiro Luiz Gonzales estava correta”.
Os tais próceres do PSDB sustentam até temer um segundo turno. Caso a eleição avance para além de 3 de outubro, as fissuras tucanas podem ficar maiores e incontornáveis. “É previsível que haja no PSDB um movimento para uma comissão partidária assumir o comando da campanha, o que pode gerar uma crise”, escreve Merval.
“Se chegar ao segundo turno mais devido à subida de Marina Silva do que por sua própria força, Serra estará fadado a perder para Dilma a maior parte do eleitorado que escolheu a candidata do Partido Verde no primeiro turno”, acrescenta. Pior: Serra pode ter “menos votos do que o candidato tucano Geraldo Alckmin teve em 2006. Dificilmente atingirá os 42% de votos válidos que o candidato do PSDB obteve naquela eleição, o que o enfraquece como candidato e também dentro do próprio partido”.
Pelo voto útil anti-Dilma
A esta altura, O Globo aventa uma única possibilidade de derrotar Dilma – e essa hipótese não passa mais por Serra. “Para ganhar a eleição da candidata de Lula, a maior chance estaria com Marina Silva, desde que ela mostrasse nessa reta final da eleição capacidade de crescer tirando votos tanto de Dilma quanto de Serra, superando o tucano.” Em outras palavras, O Globo já vê Serra como um defunto eleitoral. Só Marina salva...
“A mais recente pesquisa Datafolha mostra Marina subindo tirando votos de Serra e dos indecisos, mas sem alterar a posição de Dilma, o que não levaria ao segundo turno”, tenta explicar Merval. “Nas condições políticas atuais, o voto útil em Marina pode vir a se transformar em uma arma mais efetiva para derrotar o lulismo do que o voto em Serra. Hoje, nas grandes cidades, há um movimento pró-Marina que pode provocar uma ‘onda verde’ na reta final da eleição.”
Não que estivesse errada a ideia de um presidente “pós-Lula”, e não “anti-Lula”. Só que, na opinião de O Globo, Marina é quem encarna “com mais naturalidade” essa “alternativa” aos eleitores que querem continuidade ao governo. “O que parece a muitos uma fragilidade de sua campanha, pode ser o justo equilíbrio para levá-la a se tornar a opção do eleitor petista que esteja eventualmente desgostoso com os rumos que o governo vem tomando”, especula Merval Pereira.
Nas palavras do colunista, Marina “tem legitimidade para criticar o governo Lula sem se colocar como dissidente”, uma vez que teve “uma história de vida inteira dentro do PT” e foi “ministra do Meio Ambiente na maior parte do governo Lula”. É o fio de esperança para uma mídia que nunca digeriu a dupla Lula-Dilma – e está prestes a engolir mais uma derrota eleitoral.
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Não é de hoje que a grande mídia ataca a estratégia do tucano José Serra para bater Dilma Rousseff e chegar à Presidência da República. Mas, a 14 dias das eleições de 3 de outubro, a sinalização dos jornalões é ainda mais dura: por que lutar para ir ao segundo turno diante da inevitável derrota demo-tucana? Não seria melhor até que Dilma enfrentasse não Serra num turno final, mas, sim, Marina Silva?
É o que se pode deduzir da coluna de Merval Perreira publicada neste domingo (19) pelo jornal O Globo. O texto é um choramingo midiático só – mas Merval faz questão de debitar as críticas na conta dos cardeais tucanos. “Os principais líderes do PSDB vivem uma situação paradoxal. Gostariam de ir para o segundo turno para manter a polarização com o PT, mas não acreditam que seja possível vencer”.
Escondendo-se sob essa carapuça dos “principais líderes do PSDB”, O Globo volta a detonar a estratégia de campanha de Serra. O candidato “teria que mudar totalmente os rumos da campanha”, mas, não “se disporá a isso. Ao contrário, se convencerá de que a estratégia do marqueteiro Luiz Gonzales estava correta”.
Os tais próceres do PSDB sustentam até temer um segundo turno. Caso a eleição avance para além de 3 de outubro, as fissuras tucanas podem ficar maiores e incontornáveis. “É previsível que haja no PSDB um movimento para uma comissão partidária assumir o comando da campanha, o que pode gerar uma crise”, escreve Merval.
“Se chegar ao segundo turno mais devido à subida de Marina Silva do que por sua própria força, Serra estará fadado a perder para Dilma a maior parte do eleitorado que escolheu a candidata do Partido Verde no primeiro turno”, acrescenta. Pior: Serra pode ter “menos votos do que o candidato tucano Geraldo Alckmin teve em 2006. Dificilmente atingirá os 42% de votos válidos que o candidato do PSDB obteve naquela eleição, o que o enfraquece como candidato e também dentro do próprio partido”.
Pelo voto útil anti-Dilma
A esta altura, O Globo aventa uma única possibilidade de derrotar Dilma – e essa hipótese não passa mais por Serra. “Para ganhar a eleição da candidata de Lula, a maior chance estaria com Marina Silva, desde que ela mostrasse nessa reta final da eleição capacidade de crescer tirando votos tanto de Dilma quanto de Serra, superando o tucano.” Em outras palavras, O Globo já vê Serra como um defunto eleitoral. Só Marina salva...
“A mais recente pesquisa Datafolha mostra Marina subindo tirando votos de Serra e dos indecisos, mas sem alterar a posição de Dilma, o que não levaria ao segundo turno”, tenta explicar Merval. “Nas condições políticas atuais, o voto útil em Marina pode vir a se transformar em uma arma mais efetiva para derrotar o lulismo do que o voto em Serra. Hoje, nas grandes cidades, há um movimento pró-Marina que pode provocar uma ‘onda verde’ na reta final da eleição.”
Não que estivesse errada a ideia de um presidente “pós-Lula”, e não “anti-Lula”. Só que, na opinião de O Globo, Marina é quem encarna “com mais naturalidade” essa “alternativa” aos eleitores que querem continuidade ao governo. “O que parece a muitos uma fragilidade de sua campanha, pode ser o justo equilíbrio para levá-la a se tornar a opção do eleitor petista que esteja eventualmente desgostoso com os rumos que o governo vem tomando”, especula Merval Pereira.
Nas palavras do colunista, Marina “tem legitimidade para criticar o governo Lula sem se colocar como dissidente”, uma vez que teve “uma história de vida inteira dentro do PT” e foi “ministra do Meio Ambiente na maior parte do governo Lula”. É o fio de esperança para uma mídia que nunca digeriu a dupla Lula-Dilma – e está prestes a engolir mais uma derrota eleitoral.
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Ministério da Saúde desmente a Veja
Reproduzo a íntegra da nota do Ministério da Saúde:
Em relação à compra do antiviral fosfato de oseltamivir (Tamiflu) para o tratamento contra a gripe H1N1, o Ministério da Saúde esclarece que:
* Adquiriu em 2009 quantidade do antiviral suficiente para tratar 14,5 milhões de pessoas contra influenza. O total foi definido a partir de critérios exclusivamente técnicos estabelecidos pelo Departamento de Vigilância Epidemiológica do Ministério da Saúde. As compras foram realizadas diretamente entre o Ministério da Saúde e a diretoria do único laboratório produtor do medicamento, sem intermediários. Portanto, ao contrário do que afirma reportagem da revista Veja, a Casa Civil não teve interferência neste processo.
* As negociações do Ministério da Saúde com o laboratório produtor para a compra do antiviral resultaram num preço 76,7% mais baixo que o preço de mercado do produto. Os critérios técnicos adotados levaram em conta a previsão de 10% da população brasileira com indicação para o tratamento (o medicamento é indicado para casos graves e pessoas com fatores de risco), o que representaria aproximadamente 20 milhões de pessoas. Este percentual tem com base em modelo matemático do Center for Diseases Control, dos Estados Unidos, que considerou o número de casos graves em outras pandemias de influenza ocorridas historicamente.
* É importante lembrar que, em setembro de 2009, o Brasil chegou a ser criticado por ter estoque para apenas 5% da sua população, enquanto outros países adquiriram medicamentos para atender até 80% de sua população. Seguem exemplos dos estoques internacionais em 2009:
- Reino Unido - estoque suficiente para atender 80% da população; França e Austrália – estoque suficiente para 50% da população;
- Áustria, Japão, Cingapura e Irlanda – estoque para 45% da população;
- Suíça, Kuwait e Noruega - estoque para 40% da população;
- Nova Zelândia, Luxemburgo, Islândia e Catar - estoque para 35% da população;
- Estados Unidos, Holanda, Bélgica, Hong Kong e Macau - estoque para 30% da população.
* O volume adquirido também levou em conta a exigência de recomposição do estoque estratégico do oseltamivir, parcialmente utilizado na primeira onda da pandemia. A manutenção de um estoque nacional para garantir o atendimento da população em uma situação de pandemia mais grave, como a da gripe aviária, que tem letalidade de 70%, está estabelecida no Plano de Preparação Brasileiro para o Enfrentamento de uma Pandemia de Influenza, elaborado em 2005, de acordo com as recomendações da Organização Mundial da Saúde.
* Em 2009, foram realizadas sete compras de medicamento de Tamiflu. Um total de 75 milhões de comprimidos de 75 mg, 14 milhões de comprimidos de 45 mg e outros 16 milhões de 30 mg, além de 4 toneladas do medicamento em barril. Isso representa um total de 14,5 milhões de tratamentos (o tratamento para uma pessoa é composto por 10 comprimidos). O valor da compra soma R$ 400 milhões. O preço de cada tratamento saiu, em média, por R$ 28. Cada tratamento adulto saiu por R$ 34, 93. O preço autorizado pela CMED (Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos) para a venda dos medicamentos de uso adulto nas drogarias privadas é de R$ 150.
* Foram distribuídos aos Estados e DF, entre 2009 e 2010, um total de 4,86 milhões de tratamentos. Além disso, conforme preconizado, o Ministério da Saúde mantém, em sua reserva estratégica nacional, 20 milhões de tratamentos, o suficiente para tratar cerca de 10% da população em caso de nova pandemia.
* Ressalta-se que há apenas um produtor mundial do medicamento. A vacina contra a doença somente surgiu no segundo semestre de 2009 para os países do hemisfério Norte e a sinalização dos laboratórios produtores sobre a disponibilidade do insumo somente foi dada no final do ano. Para os países do Hemisfério Sul, a vacina somente estaria disponível no início deste ano. Ou seja, o medicamento era a única solução indicada contra a doença disponível naquele momento.
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Em relação à compra do antiviral fosfato de oseltamivir (Tamiflu) para o tratamento contra a gripe H1N1, o Ministério da Saúde esclarece que:
* Adquiriu em 2009 quantidade do antiviral suficiente para tratar 14,5 milhões de pessoas contra influenza. O total foi definido a partir de critérios exclusivamente técnicos estabelecidos pelo Departamento de Vigilância Epidemiológica do Ministério da Saúde. As compras foram realizadas diretamente entre o Ministério da Saúde e a diretoria do único laboratório produtor do medicamento, sem intermediários. Portanto, ao contrário do que afirma reportagem da revista Veja, a Casa Civil não teve interferência neste processo.
* As negociações do Ministério da Saúde com o laboratório produtor para a compra do antiviral resultaram num preço 76,7% mais baixo que o preço de mercado do produto. Os critérios técnicos adotados levaram em conta a previsão de 10% da população brasileira com indicação para o tratamento (o medicamento é indicado para casos graves e pessoas com fatores de risco), o que representaria aproximadamente 20 milhões de pessoas. Este percentual tem com base em modelo matemático do Center for Diseases Control, dos Estados Unidos, que considerou o número de casos graves em outras pandemias de influenza ocorridas historicamente.
* É importante lembrar que, em setembro de 2009, o Brasil chegou a ser criticado por ter estoque para apenas 5% da sua população, enquanto outros países adquiriram medicamentos para atender até 80% de sua população. Seguem exemplos dos estoques internacionais em 2009:
- Reino Unido - estoque suficiente para atender 80% da população; França e Austrália – estoque suficiente para 50% da população;
- Áustria, Japão, Cingapura e Irlanda – estoque para 45% da população;
- Suíça, Kuwait e Noruega - estoque para 40% da população;
- Nova Zelândia, Luxemburgo, Islândia e Catar - estoque para 35% da população;
- Estados Unidos, Holanda, Bélgica, Hong Kong e Macau - estoque para 30% da população.
* O volume adquirido também levou em conta a exigência de recomposição do estoque estratégico do oseltamivir, parcialmente utilizado na primeira onda da pandemia. A manutenção de um estoque nacional para garantir o atendimento da população em uma situação de pandemia mais grave, como a da gripe aviária, que tem letalidade de 70%, está estabelecida no Plano de Preparação Brasileiro para o Enfrentamento de uma Pandemia de Influenza, elaborado em 2005, de acordo com as recomendações da Organização Mundial da Saúde.
* Em 2009, foram realizadas sete compras de medicamento de Tamiflu. Um total de 75 milhões de comprimidos de 75 mg, 14 milhões de comprimidos de 45 mg e outros 16 milhões de 30 mg, além de 4 toneladas do medicamento em barril. Isso representa um total de 14,5 milhões de tratamentos (o tratamento para uma pessoa é composto por 10 comprimidos). O valor da compra soma R$ 400 milhões. O preço de cada tratamento saiu, em média, por R$ 28. Cada tratamento adulto saiu por R$ 34, 93. O preço autorizado pela CMED (Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos) para a venda dos medicamentos de uso adulto nas drogarias privadas é de R$ 150.
* Foram distribuídos aos Estados e DF, entre 2009 e 2010, um total de 4,86 milhões de tratamentos. Além disso, conforme preconizado, o Ministério da Saúde mantém, em sua reserva estratégica nacional, 20 milhões de tratamentos, o suficiente para tratar cerca de 10% da população em caso de nova pandemia.
* Ressalta-se que há apenas um produtor mundial do medicamento. A vacina contra a doença somente surgiu no segundo semestre de 2009 para os países do hemisfério Norte e a sinalização dos laboratórios produtores sobre a disponibilidade do insumo somente foi dada no final do ano. Para os países do Hemisfério Sul, a vacina somente estaria disponível no início deste ano. Ou seja, o medicamento era a única solução indicada contra a doença disponível naquele momento.
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sábado, 18 de setembro de 2010
Marina Silva erra e pede votos no 45
Reproduzo artigo de Brizola Neto, publicado no blog Tijolaço:
Deu na Band que a senadora Marina Silva, talvez empolgada pela hipótese – na qual não creio, honestamente – de ultrapassar José Serra, tomando dele parte dos votos da direita, que anda meio atucanada e perdendo as contas. Hoje, em Vitória, no Espírito Santo, ela errou o número de seu partido e acabou pedindo para que os eleitores votassem “no 45″.
“Ao perceber que havia trocado o número de seu partido, 43, pelo de seu adversário tucano, José Serra, a candidata se desculpou e afirmou que 'qualquer um erra'”.
Erra, sim, Marina, mas persistir no erro, você sabe…
A gente entende que você este “surfando na onda” da desilusão com o Serra. Você já o ultrapassou ou empatou em Brasília, no Rio e na Bahia. E tem muita gente que dá o voto a você por ter sido uma mulher pobre, uma lutadora, uma mulher que defende coisas que não se separam, que são as pessoas e a natureza.
Você, com suas posições ambientalistas, fez bem ao Governo Lula e faria bem a um governo de continuidade ao de Lula. Não dê uma de moralista, porque houve mil e uma irregularidades no Ibama, com você como Ministra, e eram coisas que aconteciam não apenas sem o seu conhecimento mas, com certeza, contra a sua vontade.
Mas perceba, Marina, que o lugar que você almeja lhe está sendo dado pela elite que devastou terra e gente deste país. O seringueiro “sangra” uma árvore não porque queira matá-la, mas porque o leite branco que dela goteja sustenta a sua família. A elite brasileira sangrou a terra e a natureza para engordar e enriquecer.
Marina, morena Marina, não se pinte de elite. Você é uma mulher a quem esta gente sempre desprezou. Agora, querem servir-se de você.
Em 2002, meu avô apoiava Ciro e não Lula. Mas quando viu a vontade do povo se deslocar para Lula, não teve dúvidas em dizer a Ciro, como disse Gláuber Rocha, que mais fortes eram os poderes do povo.
O que você fará, Marina?
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Deu na Band que a senadora Marina Silva, talvez empolgada pela hipótese – na qual não creio, honestamente – de ultrapassar José Serra, tomando dele parte dos votos da direita, que anda meio atucanada e perdendo as contas. Hoje, em Vitória, no Espírito Santo, ela errou o número de seu partido e acabou pedindo para que os eleitores votassem “no 45″.
“Ao perceber que havia trocado o número de seu partido, 43, pelo de seu adversário tucano, José Serra, a candidata se desculpou e afirmou que 'qualquer um erra'”.
Erra, sim, Marina, mas persistir no erro, você sabe…
A gente entende que você este “surfando na onda” da desilusão com o Serra. Você já o ultrapassou ou empatou em Brasília, no Rio e na Bahia. E tem muita gente que dá o voto a você por ter sido uma mulher pobre, uma lutadora, uma mulher que defende coisas que não se separam, que são as pessoas e a natureza.
Você, com suas posições ambientalistas, fez bem ao Governo Lula e faria bem a um governo de continuidade ao de Lula. Não dê uma de moralista, porque houve mil e uma irregularidades no Ibama, com você como Ministra, e eram coisas que aconteciam não apenas sem o seu conhecimento mas, com certeza, contra a sua vontade.
Mas perceba, Marina, que o lugar que você almeja lhe está sendo dado pela elite que devastou terra e gente deste país. O seringueiro “sangra” uma árvore não porque queira matá-la, mas porque o leite branco que dela goteja sustenta a sua família. A elite brasileira sangrou a terra e a natureza para engordar e enriquecer.
Marina, morena Marina, não se pinte de elite. Você é uma mulher a quem esta gente sempre desprezou. Agora, querem servir-se de você.
Em 2002, meu avô apoiava Ciro e não Lula. Mas quando viu a vontade do povo se deslocar para Lula, não teve dúvidas em dizer a Ciro, como disse Gláuber Rocha, que mais fortes eram os poderes do povo.
O que você fará, Marina?
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O fim de um ciclo da velha mídia
Reproduzo artigo de Luis Nassif, publicado em seu blog:
Dia após dia, episódio após episódio, vem se confirmando o cenário que traçamos aqui desde meados do ano passado: o suicídio do PSDB apostando as fichas em José Serra; a reestruturação partidária pós-eleições; o novo papel de Aécio Neves no cenário político; o pacto espúrio de Serra com a velha mídia, destruindo a oposição e a reputação dos jornais; os riscos para a liberdade de opinião, caso ele fosse eleito; a perda gradativa de influência da velha mídia.
O provável anúncio da saída de Aécio Neves marca oficialmente o fim do PSDB e da aliança com a velha mídia carioca-paulista que lhe forneceu a hegemonia política de 1994 a 2002 e a hegemonia sobre a oposição no período posterior.
Daqui para frente, o outrora glorioso PSDB, que em outros tempos encarnou a esperança de racionalidade administrativa, de não-sectarismo, será reduzido a uma reedição do velho PRP (Partido Republicano Paulista), encastelado em São Paulo e comandado por um político – Geraldo Alckmin – sem expressão nacional.
Fim de um período odioso
Restarão os ecos da mais odiosa campanha política da moderna história brasileira – um processo que se iniciou cinco anos atrás, com o uso intensivo da injúria, o exercício recorrente do assassinato de reputações, conseguindo suplantar em baixaria e falta de escrúpulos até a campanha de Fernando Collor em 1989.
As quarenta capas de Veja – culminando com a que aparece chutando o presidente – entrarão para a história do anti-jornalismo nacional. Os ataques de parajornalistas a jornalistas, patrocinados por Serra e admitidos por Roberto Civita, marcarão a categoria por décadas, como símbolo do período mais abjeto de uma história que começa gloriosa, com a campanha das diretas, e se encerra melancólica, exibindo um esgoto a céu aberto.
Levará anos para que o rancor seja extirpado da comunidade dos jornalistas, diluindo o envenenamento geral que tomou conta da classe.
A verdadeira história desse desastre ainda levará algum tempo para ser contada, o pacto com diretores da velha mídia, a noite de São Bartolomeu, para afastar os dissidentes, os assassinatos de reputação de jornalistas e políticos, adversários e até aliados, bancados diretamente por Serra, a tentativa de criar dossiês contra Aécio, da mesma maneira que utilizou contra Roseana, Tasso e Paulo Renato.
O general que traiu seu exército
Do cenário político desaparecerá também o DEM, com seus militantes distribuindo-se pelo PMDB e pelo PV.
Encerra-se a carreira de Freire, Jungman, Itagiba, Guerra, Álvaro Dias, Virgilio, Heráclito, Bornhausen, do meu amigo Vellozo Lucas, de Márcio Fortes e tantos outros que apostaram suas fichas em uma liderança destrambelhada e egocêntrica, atuando à sombra das conspirações subterrâneas.
Em todo esse período, Serra pensou apenas nele. Sua campanha foi montada para blindá-lo e à família das informações que virão à tona com o livro do jornalista Amaury Ribeiro Jr e da exposição de suas ligações com Daniel Dantas.
Todos os dias, obsessivamente, preocupou-se em vitimizar a filha e a ele, para que qualquer investigação futura sobre seus negócios possa ser rebatida com o argumento de perseguição política.
A interrupção da entrevista à CNT expôs de maneira didática essa estratégia que vinha sendo cantada há tempos aqui, para explicar uma campanha eleitoral sem pé nem cabeça. Seu argumento para Márcia Peltier foi: ocorreu um desrespeito aos direitos individuais da minha filha; o resto é desculpa para esconder o crime principal.
Para salvar a pele, não vacilou em destruir a oposição, em tentar destruir a estabilidade política, em liquidar com a carreira de seus seguidores mais fiéis.
Mesmo depois que todas as pesquisas qualitativas falavam na perda de votos com o denuncismo exacerbado, mesmo com o clima político tornando-se irrespirável, prosseguiu nessa aventura insana, afundando os aliados a cada nova pesquisa e a cada nova denúncia.
Com isso, expôs de tal maneira a filha, que não será mais possível varrer suas estripulias para debaixo do tapete.
A marcha da história
Os episódios dos últimos dias me lembram a lavagem das escadarias do Senhor do Bonfim. Dejetos, lixo, figuras soturnas, almas penadas, todos sendo varridos pela água abundante e revitalizadora da marcha da história.
Dia após dia, mês após mês, quem tem sensibilidade analítica percebia movimentos tectônicos irresistíveis da história.
Primeiro, o desabrochar de uma nova sociedade de consumo de massas, a ascensão dos novos brasileiros ao mercado de consumo e ao mercado político, o Bolsa Família com seu cartão eletrônico, libertando os eleitores dos currais controlados por coronéis regionais.
Depois, a construção gradativa de uma nova sociedade civil, organizando-se em torno de conselhos municipais, estaduais, ONGs, pontos de cultura, associações, sindicatos, conselhos de secretários, pela periferia e pela Internet, sepultando o velho modelo autárquico de governar sem conversar.
Mesmo debaixo do tiroteio cerrado, a nova opinião pública florescia através da blogosfera.
Foi de extremo simbolismo o episódio com o deputado do interior do Rio Grande do Sul, integrante do baixo clero, que resolveu enfrentar a poderosa Rede Globo.
Durante dias, jornalistas vociferantes investiram contra um deputado inexpressivo, para puni-lo pelo atrevimento de enfrentar os deuses do Olimpo. Matérias no Jornal Nacional, reportagens em O Globo, ataques pela CBN, parecia o exército dos Estados Unidos se valendo das mais poderosas armas de destruição contra um pequeno povoado perdido.
E o gauchão, dando de ombros: meus eleitores não ligam para essa imprensa. Nem me lembro do seu nome. Mas seu desprezo pela força da velha mídia, sem nenhuma presunção de heroísmo, de fazer história, ainda será reconhecido como o momento mais simbólico dessa nova era.
Os novos tempos
A Rede Record ganhou musculatura, a Bandeirantes nunca teve alinhamento automático com a Globo, a ex-Manchete parece querer erguer-se da irrelevância.
De jornal nacional, com tiragem e influência distribuídas por todos os estados, a Folha foi se tornando mais e mais um jornal paulista, assim como o Estadão. A influência da velha mídia se viu reduzida à rede Globo e à CBN. A Abril se debate, faz das tripas coração para esconder a queda de tiragem da Veja.
A blogosfera foi se organizando de maneira espontânea, para enfrentar a barreira de desinformação, fazendo o contraponto à velha mídia não apenas entre leitores bem informados como também junto à imprensa fora do eixo Rio-São Paulo. O fim do controle das verbas publicitárias pela grande mídia, gradativamente passou a revitalizar a mídia do interior. Em temas nacionais, deixou de existir seu alinhamento automático com a velha mídia.
Em breve, mudanças na Lei Geral das Comunicações abrirão espaço para novos grupos entrarem, impondo finalmente a modernização e o arejamento ao derradeiro setor anacrônico de um país que clama pela modernização.
As ameaças à liberdade de opinião
Dia desses, me perguntaram no Twitter qual a probabilidade da imprensa ser calada pelo próximo governo. Disse que era de 25% - o percentual de votos de Serra. Espero, agora, que caia abaixo dos 20% e que seja ultrapassado pela umidade relativa do ar, para que um vento refrescante e revitalizador venha aliviar a política brasileira e o clima de São Paulo.
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Dia após dia, episódio após episódio, vem se confirmando o cenário que traçamos aqui desde meados do ano passado: o suicídio do PSDB apostando as fichas em José Serra; a reestruturação partidária pós-eleições; o novo papel de Aécio Neves no cenário político; o pacto espúrio de Serra com a velha mídia, destruindo a oposição e a reputação dos jornais; os riscos para a liberdade de opinião, caso ele fosse eleito; a perda gradativa de influência da velha mídia.
O provável anúncio da saída de Aécio Neves marca oficialmente o fim do PSDB e da aliança com a velha mídia carioca-paulista que lhe forneceu a hegemonia política de 1994 a 2002 e a hegemonia sobre a oposição no período posterior.
Daqui para frente, o outrora glorioso PSDB, que em outros tempos encarnou a esperança de racionalidade administrativa, de não-sectarismo, será reduzido a uma reedição do velho PRP (Partido Republicano Paulista), encastelado em São Paulo e comandado por um político – Geraldo Alckmin – sem expressão nacional.
Fim de um período odioso
Restarão os ecos da mais odiosa campanha política da moderna história brasileira – um processo que se iniciou cinco anos atrás, com o uso intensivo da injúria, o exercício recorrente do assassinato de reputações, conseguindo suplantar em baixaria e falta de escrúpulos até a campanha de Fernando Collor em 1989.
As quarenta capas de Veja – culminando com a que aparece chutando o presidente – entrarão para a história do anti-jornalismo nacional. Os ataques de parajornalistas a jornalistas, patrocinados por Serra e admitidos por Roberto Civita, marcarão a categoria por décadas, como símbolo do período mais abjeto de uma história que começa gloriosa, com a campanha das diretas, e se encerra melancólica, exibindo um esgoto a céu aberto.
Levará anos para que o rancor seja extirpado da comunidade dos jornalistas, diluindo o envenenamento geral que tomou conta da classe.
A verdadeira história desse desastre ainda levará algum tempo para ser contada, o pacto com diretores da velha mídia, a noite de São Bartolomeu, para afastar os dissidentes, os assassinatos de reputação de jornalistas e políticos, adversários e até aliados, bancados diretamente por Serra, a tentativa de criar dossiês contra Aécio, da mesma maneira que utilizou contra Roseana, Tasso e Paulo Renato.
O general que traiu seu exército
Do cenário político desaparecerá também o DEM, com seus militantes distribuindo-se pelo PMDB e pelo PV.
Encerra-se a carreira de Freire, Jungman, Itagiba, Guerra, Álvaro Dias, Virgilio, Heráclito, Bornhausen, do meu amigo Vellozo Lucas, de Márcio Fortes e tantos outros que apostaram suas fichas em uma liderança destrambelhada e egocêntrica, atuando à sombra das conspirações subterrâneas.
Em todo esse período, Serra pensou apenas nele. Sua campanha foi montada para blindá-lo e à família das informações que virão à tona com o livro do jornalista Amaury Ribeiro Jr e da exposição de suas ligações com Daniel Dantas.
Todos os dias, obsessivamente, preocupou-se em vitimizar a filha e a ele, para que qualquer investigação futura sobre seus negócios possa ser rebatida com o argumento de perseguição política.
A interrupção da entrevista à CNT expôs de maneira didática essa estratégia que vinha sendo cantada há tempos aqui, para explicar uma campanha eleitoral sem pé nem cabeça. Seu argumento para Márcia Peltier foi: ocorreu um desrespeito aos direitos individuais da minha filha; o resto é desculpa para esconder o crime principal.
Para salvar a pele, não vacilou em destruir a oposição, em tentar destruir a estabilidade política, em liquidar com a carreira de seus seguidores mais fiéis.
Mesmo depois que todas as pesquisas qualitativas falavam na perda de votos com o denuncismo exacerbado, mesmo com o clima político tornando-se irrespirável, prosseguiu nessa aventura insana, afundando os aliados a cada nova pesquisa e a cada nova denúncia.
Com isso, expôs de tal maneira a filha, que não será mais possível varrer suas estripulias para debaixo do tapete.
A marcha da história
Os episódios dos últimos dias me lembram a lavagem das escadarias do Senhor do Bonfim. Dejetos, lixo, figuras soturnas, almas penadas, todos sendo varridos pela água abundante e revitalizadora da marcha da história.
Dia após dia, mês após mês, quem tem sensibilidade analítica percebia movimentos tectônicos irresistíveis da história.
Primeiro, o desabrochar de uma nova sociedade de consumo de massas, a ascensão dos novos brasileiros ao mercado de consumo e ao mercado político, o Bolsa Família com seu cartão eletrônico, libertando os eleitores dos currais controlados por coronéis regionais.
Depois, a construção gradativa de uma nova sociedade civil, organizando-se em torno de conselhos municipais, estaduais, ONGs, pontos de cultura, associações, sindicatos, conselhos de secretários, pela periferia e pela Internet, sepultando o velho modelo autárquico de governar sem conversar.
Mesmo debaixo do tiroteio cerrado, a nova opinião pública florescia através da blogosfera.
Foi de extremo simbolismo o episódio com o deputado do interior do Rio Grande do Sul, integrante do baixo clero, que resolveu enfrentar a poderosa Rede Globo.
Durante dias, jornalistas vociferantes investiram contra um deputado inexpressivo, para puni-lo pelo atrevimento de enfrentar os deuses do Olimpo. Matérias no Jornal Nacional, reportagens em O Globo, ataques pela CBN, parecia o exército dos Estados Unidos se valendo das mais poderosas armas de destruição contra um pequeno povoado perdido.
E o gauchão, dando de ombros: meus eleitores não ligam para essa imprensa. Nem me lembro do seu nome. Mas seu desprezo pela força da velha mídia, sem nenhuma presunção de heroísmo, de fazer história, ainda será reconhecido como o momento mais simbólico dessa nova era.
Os novos tempos
A Rede Record ganhou musculatura, a Bandeirantes nunca teve alinhamento automático com a Globo, a ex-Manchete parece querer erguer-se da irrelevância.
De jornal nacional, com tiragem e influência distribuídas por todos os estados, a Folha foi se tornando mais e mais um jornal paulista, assim como o Estadão. A influência da velha mídia se viu reduzida à rede Globo e à CBN. A Abril se debate, faz das tripas coração para esconder a queda de tiragem da Veja.
A blogosfera foi se organizando de maneira espontânea, para enfrentar a barreira de desinformação, fazendo o contraponto à velha mídia não apenas entre leitores bem informados como também junto à imprensa fora do eixo Rio-São Paulo. O fim do controle das verbas publicitárias pela grande mídia, gradativamente passou a revitalizar a mídia do interior. Em temas nacionais, deixou de existir seu alinhamento automático com a velha mídia.
Em breve, mudanças na Lei Geral das Comunicações abrirão espaço para novos grupos entrarem, impondo finalmente a modernização e o arejamento ao derradeiro setor anacrônico de um país que clama pela modernização.
As ameaças à liberdade de opinião
Dia desses, me perguntaram no Twitter qual a probabilidade da imprensa ser calada pelo próximo governo. Disse que era de 25% - o percentual de votos de Serra. Espero, agora, que caia abaixo dos 20% e que seja ultrapassado pela umidade relativa do ar, para que um vento refrescante e revitalizador venha aliviar a política brasileira e o clima de São Paulo.
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Som e fúria da velha imprensa
Reproduzo excelente artigo de Gilson Caroni, publicado no sítio Carta Maior:
Em uma guerra onde cada queda nas pesquisas repercute como a perda de um exército do candidato tucano, a grande imprensa brasileira tem a reação previsível. Emissoras de televisão, jornais e revistas semanais se unem em grupos, deixando a confiança em uma improvável virada de José Serra se avolumar até atingir o êxtase nos estratos sociais que lhe dão sustentação rarefeita. Tal comportamento, onde todos os meios de comunicação atuam de forma orquestrada, em fina sintonia com os comitês de campanha, traduz a relação simbiótica entre o tucanato e as famílias que controlam os mecanismos de produção e difusão informativos. No estreitamento do processo, um projeta no outro seus interesses pessoais e políticos. Serra é a mídia. A mídia é Serra.
Cria-se uma vivência de alienação, situação de risco escolhida para se experimentar um novo cenário golpista. Neste clima, são negadas as dificuldades em se resolver os problemas sociais, políticos, econômicos e ideológicos de uma candidatura fadada a um “enterro de Gioconda”. É por esta anestesia da razão, alheamento da realidade, que se acentua a autoconfiança dos milicianos encastelados nas editorias de Política. Só assim acreditam que o desejo poderá ser satisfeito em um passe de mágica. Transitam pela animação da onipotência, acreditando possuir a força ilimitada dos deuses. Quando, no entanto, a história mostra o seu compasso, o efeito delirante dá lugar ao desconforto da depressão e do vazio ameaçador. Serra é a mídia. A mídia é Serra.
Não há espaço para o contraditório. Publicações que não fazem parte do pool tucano são censuradas no campo jornalístico. Escândalos são fabricados em escala crescente. Denúncias publicadas sem apuração. O contraditório inexiste. A imprensa golpista, involuntariamente, reaviva a advertência de Gramsci: enquanto o mundo velho não se finda e o novo não se afirma, a sociedade vive num estágio de morbidez latente, apta a produzir seus fenômenos mais perversos. Nesse interregno, os Mervais, Leitões, Noblats, Josias e Fernandos, entre tantos outros, fazem, ou tentam fazer, o retorno a uma formação política infantilizada, desagregada e primitiva.
Se for justa a indignação dos que militam no campo democrático, a perplexidade é imperdoável. Desculpem-me a sinceridade da pergunta, mas que tipo de comportamento vocês esperavam da mídia brasileira: isenção, equilíbrio, não alinhamento com a direita? Que os proprietários dos veículos fossem capazes de contrariar seus interesses financeiros e políticos em nome da cobertura lisa do processo democrático? O padrão editorial predominante em 1954 não se repetiu dez anos depois? Desde a eleição de Lula a que temos assistido? Por que razão ficamos esperando que agora fosse diferente?
Será que é preciso lembrar que continuamos vivendo em uma sociedade determinada pelos interesses de classe? E, quando se trata do principal, não podemos esquecer que somos o outro lado, os inimigos a serem derrotados, mais ainda a Dilma e o que ela representa simbolicamente. Ficar surpresos nos remete a uma ingenuidade inadmissível.
A credibilidade no jornalismo é puro mito, pura hipocrisia, recurso de marketing usado pelas empresas. Apesar de sabermos disso, esperamos, lá no fundo das nossas almas, que seja diferente, que a prática da mídia burguesa seja semelhante ao seu discurso publicitário, mas não é e não será jamais. A única forma de travar a batalha democrática no campo informativo é criar veículos eficientes, na forma e no conteúdo, que estejam a serviço dos interesses da maioria da população. E isto não é para “fazer a cabeça” do povão, mas simplesmente articular um discurso, uma argumentação contrária à estrutura narrativa da imprensa que representa o establishment. Se falarmos em luta pela hegemonia, como ignorar questões centrais?
Queremos “absolvição” por termos desconcentrado o mercado publicitário e realizado a Confecom? Creio que não. Para continuar reerguendo o país do descalabro, da frustração e da desesperança, o que podemos esperar senão som e fúria dos aparelhos ideológicos burgueses? A ausência de poder sobre a situação fará aumentar o rugido, o desejo destrutivo de forças que subestimaram a sociedade brasileira, que a ignora solenemente.
Todos os sinais de alarme já soaram. O velho Gramsci era do ramo. Ninguém poderá dizer, desta vez, que não foi alertado a tempo.
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Em uma guerra onde cada queda nas pesquisas repercute como a perda de um exército do candidato tucano, a grande imprensa brasileira tem a reação previsível. Emissoras de televisão, jornais e revistas semanais se unem em grupos, deixando a confiança em uma improvável virada de José Serra se avolumar até atingir o êxtase nos estratos sociais que lhe dão sustentação rarefeita. Tal comportamento, onde todos os meios de comunicação atuam de forma orquestrada, em fina sintonia com os comitês de campanha, traduz a relação simbiótica entre o tucanato e as famílias que controlam os mecanismos de produção e difusão informativos. No estreitamento do processo, um projeta no outro seus interesses pessoais e políticos. Serra é a mídia. A mídia é Serra.
Cria-se uma vivência de alienação, situação de risco escolhida para se experimentar um novo cenário golpista. Neste clima, são negadas as dificuldades em se resolver os problemas sociais, políticos, econômicos e ideológicos de uma candidatura fadada a um “enterro de Gioconda”. É por esta anestesia da razão, alheamento da realidade, que se acentua a autoconfiança dos milicianos encastelados nas editorias de Política. Só assim acreditam que o desejo poderá ser satisfeito em um passe de mágica. Transitam pela animação da onipotência, acreditando possuir a força ilimitada dos deuses. Quando, no entanto, a história mostra o seu compasso, o efeito delirante dá lugar ao desconforto da depressão e do vazio ameaçador. Serra é a mídia. A mídia é Serra.
Não há espaço para o contraditório. Publicações que não fazem parte do pool tucano são censuradas no campo jornalístico. Escândalos são fabricados em escala crescente. Denúncias publicadas sem apuração. O contraditório inexiste. A imprensa golpista, involuntariamente, reaviva a advertência de Gramsci: enquanto o mundo velho não se finda e o novo não se afirma, a sociedade vive num estágio de morbidez latente, apta a produzir seus fenômenos mais perversos. Nesse interregno, os Mervais, Leitões, Noblats, Josias e Fernandos, entre tantos outros, fazem, ou tentam fazer, o retorno a uma formação política infantilizada, desagregada e primitiva.
Se for justa a indignação dos que militam no campo democrático, a perplexidade é imperdoável. Desculpem-me a sinceridade da pergunta, mas que tipo de comportamento vocês esperavam da mídia brasileira: isenção, equilíbrio, não alinhamento com a direita? Que os proprietários dos veículos fossem capazes de contrariar seus interesses financeiros e políticos em nome da cobertura lisa do processo democrático? O padrão editorial predominante em 1954 não se repetiu dez anos depois? Desde a eleição de Lula a que temos assistido? Por que razão ficamos esperando que agora fosse diferente?
Será que é preciso lembrar que continuamos vivendo em uma sociedade determinada pelos interesses de classe? E, quando se trata do principal, não podemos esquecer que somos o outro lado, os inimigos a serem derrotados, mais ainda a Dilma e o que ela representa simbolicamente. Ficar surpresos nos remete a uma ingenuidade inadmissível.
A credibilidade no jornalismo é puro mito, pura hipocrisia, recurso de marketing usado pelas empresas. Apesar de sabermos disso, esperamos, lá no fundo das nossas almas, que seja diferente, que a prática da mídia burguesa seja semelhante ao seu discurso publicitário, mas não é e não será jamais. A única forma de travar a batalha democrática no campo informativo é criar veículos eficientes, na forma e no conteúdo, que estejam a serviço dos interesses da maioria da população. E isto não é para “fazer a cabeça” do povão, mas simplesmente articular um discurso, uma argumentação contrária à estrutura narrativa da imprensa que representa o establishment. Se falarmos em luta pela hegemonia, como ignorar questões centrais?
Queremos “absolvição” por termos desconcentrado o mercado publicitário e realizado a Confecom? Creio que não. Para continuar reerguendo o país do descalabro, da frustração e da desesperança, o que podemos esperar senão som e fúria dos aparelhos ideológicos burgueses? A ausência de poder sobre a situação fará aumentar o rugido, o desejo destrutivo de forças que subestimaram a sociedade brasileira, que a ignora solenemente.
Todos os sinais de alarme já soaram. O velho Gramsci era do ramo. Ninguém poderá dizer, desta vez, que não foi alertado a tempo.
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Outra comunicação na América Latina
Reproduzo entrevista concedida à jornalista Natalia Aruguete, do jornal argentino Página 12, publicada no sítio de Instituto Humanitas Unisinos:
Estudioso das transformações comunicacionais e culturais da era digital, Dênis de Moraes adverte que a tecnologia permite maior circulação de vozes, porém ao mesmo tempo reforça as desigualdades. Aqui ele analisa as mudanças em marcha na região, elogia o processo argentino e remarca o papel dos Estados (e suas dificuldades) na tarefa de limitar a concentração de meios e indústrias culturais. Eis a entrevista:
De que modo impacta o avanço tecnológico nos setores comunicacional e cultural?
A mudança digital permitiu a confluência de todas as linguagens, usos e expressões, bem como a fusão de dados, sons e imagens numa linguagem digital única. Este impacto não cessa de manifestar-se em todas as áreas da sociedade e em todos os campos do conhecimento. Vivemos uma época em que a estética, a educação, o mercado e os campos científico, cultural, monetário e social estão sob uma influência completamente desproporcional das tecnologias. Os benefícios são, a meu juízo, indiscutíveis: permitem mais contato, mais intercâmbio, mais avanços científicos, mais expressões culturais e estéticas de uma forma sem precedentes. Porém, há ademais toda uma coleção de problemas.
Como? Quais?
Mantêm-se um abismo entre conectados e desconectados. A sociedade continua sendo extremamente desigual e injusta. As diferenças no usufruto tecnológico acentuam as diferenças entre as classes, os grupos, as comunidades. E isso tem a ver com a hegemonia.
Que fatores devem acompanhar a expansão da digitalização para reverter este cenário desigual, tendo em conta que a tecnologia não pode fazê-lo sozinha?
O capitalismo é uma fábrica de desigualdades, não promove uma distribuição de vantagens e benefícios de maneira igualitária. O próprio modo de produção é, por definição, um modo de diferenças, de desigualdades, de oportunidades totalmente apartadas da harmonia das classes, dos grupos, das pessoas. Sob a influência da ideologia do modo de produção capitalista é muito difícil que a tecnologia se encaminhe para uma conjuntura que facilite e estimule uma divisão mais igualitária dos benefícios e das possibilidades da tecnologia. Porém a expansão do consumo das tecnologias se faz sob o signo das desigualdades, porque, embora se esteja ampliando o mercado tecnológico comunicacional básico, o mesmo se dá de maneira estratificada.
Em que se manifesta concretamente essa distribuição injusta?
Muita gente está utilizando computadores: nas escolas primárias e secundárias, nas empresas, nas organizações não governamentais. Há uma expansão da base de consumo e das possibilidades de uso. Mas, esta expansão se desenrola de maneira desigual, porque há um tipo de tecnologia para os pobres e um tipo de tecnologia para os ricos.
Num cenário de alta concentração econômica como o atual, qual deveria ser o papel do Estado e que tipo de valoração se deve fazer da política para que a expansão tecnológica não contribua a uma apropriação desigual?
O papel do Estado é fundamental, não o digo somente como constatação teórica. Tenho viajado com freqüência pela América Latina, e publiquei inclusive no Brasil um livro intitulado "A batalha da mídia", um trabalho de investigação sobre as novas políticas de comunicação dos governos progressistas latino-americanos. Inclui o governo de Chávez na Venezuela, de Evo Morales na Bolívia, de Nestor e Cristina Kirchner na Argentina, Tabaré Vázquez e Pepe Mujica no Uruguai, Michele Bachelet no Chile, Daniel Ortega na Nicarágua e – com algumas dúvidas – o presidente Lula no Brasil.
Na maioria dos países, os governos estão conscientes da necessidade de desenvolver políticas eletrônicas de comunicação para valorizar o paradigma das redes. O Estado precisa fazer inversões – cada vez maiores, a meu juízo – no desenvolvimento da informação cidadã, a qual tenha como ponto de partida o fortalecimento das redes sem finalidades lucrativas. A maioria dos presidentes progressistas da América Latina tem consciência da necessidade urgente de inversões públicas em tecnologias direcionadas para o meio social, para fomentar as formas de comunicação e expressão cultural por fora da lógica hegemônica das indústrias culturais. Parece-me que o papel do Estado não deve anular a iniciativa privada. Não se trata de instituir ditaduras estatais que impeçam a existência de outras visões de mundo.
Por que faz esta declaração?
Quando defendemos o pluralismo, isso se refere a ambos os lados. O outro mundo e a outra comunicação que desejo viver inclui outros olhares sobre a vida social, cultural, econômica e política. O problema é que a dramática concentração dos meios de comunicação e das indústrias culturais constitui um obstáculo, uma barreira para a emergência de outras vozes na arena social.
Existe algum uso da tecnologia que não esteja subordinado à lógica mercantil por parte de atores não ligados ao mercado?
Este é um ponto que me mobiliza. Está se ampliando o uso alternativo e contra-hegemônico e, portanto, social, comunitário, cooperativo e colaborativo. Podemos observá-lo nas formas de apropriação das tecnologias digitais por fora da lógica comercial da mídia, das formas de controle ideológico e cultural das indústrias culturais. Claro que esta utilização não tem um caráter de massa, nem uma penetração harmônica e ampla em todas as classes, sociedades, países e povos. Mas isso não deve desviar-nos para uma forma de pensamento dogmático que deixe de reconhecer que há possibilidades imprevistas. Uma das consequências mais positivas e estimulantes deste processo de apropriação é que se incrementa a cooperação entre coletivos de periodistas, artistas plásticos, estudantes de diversos graus, grupos de trabalhadores ou desempregados, os quais utilizam, sobretudo, a Internet como centro gravitacional de suas manifestações e relações.
Neste cenário mercantil que você descreve, que capacidade de aproveitamento desta ferramenta tem os meios alternativos?
Está se construindo progressivamente um tipo de comunicação alternativa, mais aguerrida, combativa e estimulante do que a de décadas passadas. Os periódicos alternativos enfrentaram sempre uma dificuldade com os custos do papel, de impressão, de distribuição. Em troca, com as novas formas de comunicação eletrônica, sobretudo o ecossistema da Internet, não se depende mais disso. Com as novas formas de expressão, de comunicação, de interação e participação coletiva, se produziu uma espécie de quebra na relação com os usuários, com os consumidores, com os cidadãos. Essas novas formas estão em processo de formação, discussão e experimentação. É um processo que está ocorrendo fora do campo de visão de cada um de nós.
Em seu livro Mutações do visível você mencionava que é preciso “ganhar a batalha dos fluxos informativos”. Crê que essas possibilidades para a produção e circulação de conteúdos alternativos se vêem, a partir do discurso hegemônico, em termos de ameaça?
Não creio que a palavra correta seja ameaça, porém há uma preocupação crescente nos grandes meios comunicacionais. Não me parece que seja uma ameaça perigosa, no sentido de que possa acontecer algo que mude tudo, porque a lógica mercantil das indústrias culturais e comunicacionais por parte das grandes empresas não me parece que vá ser avassalada pela comunicação digital contra-hegemônica, alternativa, comunitária. No entanto, me parece que existe a possibilidade de um crescimento dessas novas formas de expressão, interação e intercâmbios que vão conviver com a hegemonia da mídia. Isso me parece uma grande novidade. Em décadas passadas, a comunicação alternativa – não digital senão impressa – era um tio de comunicação sedimentada, dirigida a militantes, a pessoas com maior consciência, a grupos organizados. Abrem-se hoje possibilidades para praticamente todos os setores da vida social, incluindo outras formas de organização, participação e construção.
No entanto, as indústrias culturais continuam fixando a agenda de temas, instalando as principais preocupações da sociedade.
Claro que continuam marcando, por isso não me parece que a palavra correta seja ameaça.
Mas você fala de convivência. Creio que tal convivência possa ter algum tipo de impacto na agenda política?
Creio que é uma expectativa perturbadora, porque, por um lado, há uma série de evidências de maior intercâmbio, maior contato, mais expressão e mais civilização. Porém, é cedo para avaliar se essas novas expressões vão canalizar-se em idéias e práticas mais ativas. Há uma diferença entre sociabilidade em rede e participação social e política em rede. Necessitamos ter uma percepção muito clara de que nem todas as expressões de sociabilidade em rede são manifestações ativas da cidadania. Há grupos políticos, sociais e comunitários muito organizados e mobilizados que utilizam as tecnologias digitais e, em especial, das redes com a finalidade de reivindicar a mudança social, a luta política aberta. Minha preocupação é se a sociabilidade em rede vai evolucionar para novas formas de consciência sobre o social, o político, o cultural, o comunitário.
A partir de que lhe surge essa preocupação?
Creio que a forma de organização da sociabilidade em rede se encaminha para uma direção mais relacionada com as questões existenciais ou espirituais, do que para o campo das expressões políticas e sociais mais organizadas e combativas. Parece-me muito interessante que se ampliem os canais de sociabilidade, de intercâmbio dos afetos, das manifestações espirituais e religiosas em rede. Porém, outra coisa é reconhecer a expressão dos afetos, das crenças religiosas e de aspirações existenciais como a única forma de usufruto das tecnologias.
Você mencionou o caso de ouros países da América Latina. Como vê o que está sucedendo na Argentina em relação com o setor comunicacional?
Creio que a nova Lei de Serviços Audiovisuais da Argentina deve ser um orgulho para todos os argentinos e para todos os latino-americanos. Esta legislação – conheço todas as que estão em vigência na América Latina – é a mais avançada do continente. Tem uma noção muito clara dos três setores que devem atuar no campo dos sistemas de comunicação: o campo público, o campo privado comercial e o campo social. Este equilíbrio entre os três setores é algo revolucionário, porque sempre os sistemas de comunicação – não só da Argentina, senão de todos os países latino-americanos – se caracterizaram por um desequilíbrio brutal que favoreceu historicamente o setor comercial da mídia. Temos, pois, um avanço com consequências de longo prazo.
De que modo impactará a nova legislação?
Será uma comunicação mais plural, mais complexa, mais participativa. Com a possibilidade de expressão de várias vozes ao mesmo tempo. Os diferentes setores sociais podem manifestar-se de maneira mito mais rica e estimulante e me parece que a interferência do poder estatal é fundamental para reequilibrar os marcos regulatórios dos meios de concessão pública. Veja, as licenças de rádio e televisão pertencem à sociedade, aos povos e não às empresas de comunicação que são concessionárias temporais. Os canais não pertencem ao Grupo Clarín, O Globo, El Mercúrio e demais grupos de comunicação latino-americanos, geralmente sob o controle de famílias que se reproduzem no comando da mídia, de geração em geração.
Um aspecto chave da lei que está em debate na Argentina é o não reconhecimento dos direitos adquiridos. Até que ponto deve avançar a regulação política num cenário como o argentino para obter uma real desconcentração do setor?
As pressões sobre a lei argentina de meios são similares às pressões que há na Venezuela, Bolívia e Equador. Em todas as partes, os grupos midiáticos estão desenvolvendo violentas campanhas contra as transformações, as mudanças nos marcos legais e nas leis, isto é, das normas que regulam a radiodifusão. As licenças de radio e televisão são “as jóias da coroa” dos grupos midiáticos. Então, essas campanhas tem como centro de sua argumentação o fato de que a liberdade de expressão está sendo agredida, violentada pelas novas regulamentações. É um argumento falso que oculta o que sempre tem sido ocultado pelos grupos da mídia. Os grupos da mídia latino-americana se consideram fora de qualquer tipo de controle, sobretudo do controle público democrático.
Por que crê que se instalou esse imaginário da liberdade de expressão na América Latina?
Ele tem a ver com a idéia mistificadora de que os meios representem a vontade geral e sejam, portanto, a esfera que tem condições de produzir uma espécie de síntese das aspirações sociais e coletivas. Então, se têm qualificação para ser a esfera de síntese do social, não há necessidade de nenhuma submissão a regulamentos, normas, leis. Porque são uma instância que tem relação direta com o povo, com os desejos das sociedades. Claro que tudo isso é uma estratégia argumentativa para ocultar as formas de domínio e hegemonia na formação das mentalidades e do imaginário social.
Que balanços faz do que se está produzindo na região em matéria de comunicação?
Creio que este processo de mudanças na comunicação latino-americana, sob a iniciativa oportuna dos governos, é um processo que põe a comunicação no centro do campo de batalhas pela hegemonia cultural e política. Neste campo de batalha os dois lados têm consciência de que não se podem deixar de lado as lutas pelo controle da opinião pública e do imaginário social. Este processo de ações em cadeia, que se estendem desde Caracas a Buenos Aires, é um processo articulado, muito bem pensado, muito competente do ponto de vista das articulações discursivas e que tem uma diferença crucial em relação com o campo do Estado e da sociedade civil.
Em que sentido se dá essa diferença?
Estes grupos detêm os canais de convencimento que são os diários, as rádios, as televisoras e os Estados não, com alguma exceção, como o caso da Venezuela que tem quatro redes estatais de televisão. Se os Estados e as organizações sociais não têm essa potência de persuasão, de conquista dos corações e da mente do público, temos um processo muito desequilibrado de formação de opinião pública – a meu juízo – sumamente perverso.
Por quê?
Porque o ideal que todos nós defendemos da liberdade de expressão deve ser o de uma liberdade generalizada e não pode concentrar-se em poucas mãos que definam o que é e o que não é liberdade de expressão. Se o governo do presidente Chávez contém erros, tem excessos, bem, vamos pressionar sobre as medidas do presidente Chávez, ele não é Deus. Porém, as mudanças profundas da comunicação venezuelana sob os dez anos do governo de Chávez são significativas.
Pode mencionar alguma dessas mudanças?
No canal educativo e cultural Vive TV, criado pelo presidente Chávez em 2003, todas as agendas informativas das programações culturais são definidas em assembléias de bairros pelo povo. Os executivos, os diretores, os periodistas, o grupo dirigente de Vive TV, vai aos bairros somente para coordenar, organizar as assembléias de bairro em que as comunidades indicam quais são os problemas, as ênfases informativas, que tipo de programação cultural as pessoas desejam. Na Argentina, outro motivo de orgulho para a sociedade latino-americana é o canal Encuentro [Encontro], uma experiência fabulosa de mudança das lógicas informativas, culturais e científicas. Com isso se modificou a concepção de um canal educativo, cultural e científico. Até o momento, só há algumas inserções da programação de Encuentro na televisão pública, no Canal 7, já que a maioria do público só acede a Encuentro nos pacotes de TV paga. Estou mencionando duas experiências de canais educativos, culturais e científicos, criados por governos progressistas, que mudaram a lógica perversa da mercantilização da informação e dos bens culturais.
Participa de algum projeto comunicacional, além de seu trabalho acadêmico na matéria?
Depois de viajar pela América Latina, estou hoje coordenando outro projeto latino-americano de comunicação contra-hegemônico e alternativo. Creio que a palavra esperança não é coisa inútil, é uma palavra de mobilização, de chamado, porque há coisas concretas que se estão construindo em distintos países da América Latina, em direções totalmente diferentes do cenário midiático e cultural que predomina. Em vários lugares da América Latina outra comunicação é possível. Esta é uma palavra de construção que não somente figure num papel, nas bandeiras políticas e retóricas, Vive TV ou Encuentro têm as tecnologias digitais como seus insumos, como recursos indispensáveis. É necessário um pensamento dialético entre os problemas, os bloqueios, as desigualdades e as injustiças de usos e acessos ao tecnológico. Ao mesmo tempo, há necessidade de uma avaliação muito sensível das possibilidades e apropriações, dos usos cidadãos e culturais, sem uma finalidade mercantil, como sucede hoje em nosso continente. Creio que a síntese dessa dialética é a palavra esperança.
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Estudioso das transformações comunicacionais e culturais da era digital, Dênis de Moraes adverte que a tecnologia permite maior circulação de vozes, porém ao mesmo tempo reforça as desigualdades. Aqui ele analisa as mudanças em marcha na região, elogia o processo argentino e remarca o papel dos Estados (e suas dificuldades) na tarefa de limitar a concentração de meios e indústrias culturais. Eis a entrevista:
De que modo impacta o avanço tecnológico nos setores comunicacional e cultural?
A mudança digital permitiu a confluência de todas as linguagens, usos e expressões, bem como a fusão de dados, sons e imagens numa linguagem digital única. Este impacto não cessa de manifestar-se em todas as áreas da sociedade e em todos os campos do conhecimento. Vivemos uma época em que a estética, a educação, o mercado e os campos científico, cultural, monetário e social estão sob uma influência completamente desproporcional das tecnologias. Os benefícios são, a meu juízo, indiscutíveis: permitem mais contato, mais intercâmbio, mais avanços científicos, mais expressões culturais e estéticas de uma forma sem precedentes. Porém, há ademais toda uma coleção de problemas.
Como? Quais?
Mantêm-se um abismo entre conectados e desconectados. A sociedade continua sendo extremamente desigual e injusta. As diferenças no usufruto tecnológico acentuam as diferenças entre as classes, os grupos, as comunidades. E isso tem a ver com a hegemonia.
Que fatores devem acompanhar a expansão da digitalização para reverter este cenário desigual, tendo em conta que a tecnologia não pode fazê-lo sozinha?
O capitalismo é uma fábrica de desigualdades, não promove uma distribuição de vantagens e benefícios de maneira igualitária. O próprio modo de produção é, por definição, um modo de diferenças, de desigualdades, de oportunidades totalmente apartadas da harmonia das classes, dos grupos, das pessoas. Sob a influência da ideologia do modo de produção capitalista é muito difícil que a tecnologia se encaminhe para uma conjuntura que facilite e estimule uma divisão mais igualitária dos benefícios e das possibilidades da tecnologia. Porém a expansão do consumo das tecnologias se faz sob o signo das desigualdades, porque, embora se esteja ampliando o mercado tecnológico comunicacional básico, o mesmo se dá de maneira estratificada.
Em que se manifesta concretamente essa distribuição injusta?
Muita gente está utilizando computadores: nas escolas primárias e secundárias, nas empresas, nas organizações não governamentais. Há uma expansão da base de consumo e das possibilidades de uso. Mas, esta expansão se desenrola de maneira desigual, porque há um tipo de tecnologia para os pobres e um tipo de tecnologia para os ricos.
Num cenário de alta concentração econômica como o atual, qual deveria ser o papel do Estado e que tipo de valoração se deve fazer da política para que a expansão tecnológica não contribua a uma apropriação desigual?
O papel do Estado é fundamental, não o digo somente como constatação teórica. Tenho viajado com freqüência pela América Latina, e publiquei inclusive no Brasil um livro intitulado "A batalha da mídia", um trabalho de investigação sobre as novas políticas de comunicação dos governos progressistas latino-americanos. Inclui o governo de Chávez na Venezuela, de Evo Morales na Bolívia, de Nestor e Cristina Kirchner na Argentina, Tabaré Vázquez e Pepe Mujica no Uruguai, Michele Bachelet no Chile, Daniel Ortega na Nicarágua e – com algumas dúvidas – o presidente Lula no Brasil.
Na maioria dos países, os governos estão conscientes da necessidade de desenvolver políticas eletrônicas de comunicação para valorizar o paradigma das redes. O Estado precisa fazer inversões – cada vez maiores, a meu juízo – no desenvolvimento da informação cidadã, a qual tenha como ponto de partida o fortalecimento das redes sem finalidades lucrativas. A maioria dos presidentes progressistas da América Latina tem consciência da necessidade urgente de inversões públicas em tecnologias direcionadas para o meio social, para fomentar as formas de comunicação e expressão cultural por fora da lógica hegemônica das indústrias culturais. Parece-me que o papel do Estado não deve anular a iniciativa privada. Não se trata de instituir ditaduras estatais que impeçam a existência de outras visões de mundo.
Por que faz esta declaração?
Quando defendemos o pluralismo, isso se refere a ambos os lados. O outro mundo e a outra comunicação que desejo viver inclui outros olhares sobre a vida social, cultural, econômica e política. O problema é que a dramática concentração dos meios de comunicação e das indústrias culturais constitui um obstáculo, uma barreira para a emergência de outras vozes na arena social.
Existe algum uso da tecnologia que não esteja subordinado à lógica mercantil por parte de atores não ligados ao mercado?
Este é um ponto que me mobiliza. Está se ampliando o uso alternativo e contra-hegemônico e, portanto, social, comunitário, cooperativo e colaborativo. Podemos observá-lo nas formas de apropriação das tecnologias digitais por fora da lógica comercial da mídia, das formas de controle ideológico e cultural das indústrias culturais. Claro que esta utilização não tem um caráter de massa, nem uma penetração harmônica e ampla em todas as classes, sociedades, países e povos. Mas isso não deve desviar-nos para uma forma de pensamento dogmático que deixe de reconhecer que há possibilidades imprevistas. Uma das consequências mais positivas e estimulantes deste processo de apropriação é que se incrementa a cooperação entre coletivos de periodistas, artistas plásticos, estudantes de diversos graus, grupos de trabalhadores ou desempregados, os quais utilizam, sobretudo, a Internet como centro gravitacional de suas manifestações e relações.
Neste cenário mercantil que você descreve, que capacidade de aproveitamento desta ferramenta tem os meios alternativos?
Está se construindo progressivamente um tipo de comunicação alternativa, mais aguerrida, combativa e estimulante do que a de décadas passadas. Os periódicos alternativos enfrentaram sempre uma dificuldade com os custos do papel, de impressão, de distribuição. Em troca, com as novas formas de comunicação eletrônica, sobretudo o ecossistema da Internet, não se depende mais disso. Com as novas formas de expressão, de comunicação, de interação e participação coletiva, se produziu uma espécie de quebra na relação com os usuários, com os consumidores, com os cidadãos. Essas novas formas estão em processo de formação, discussão e experimentação. É um processo que está ocorrendo fora do campo de visão de cada um de nós.
Em seu livro Mutações do visível você mencionava que é preciso “ganhar a batalha dos fluxos informativos”. Crê que essas possibilidades para a produção e circulação de conteúdos alternativos se vêem, a partir do discurso hegemônico, em termos de ameaça?
Não creio que a palavra correta seja ameaça, porém há uma preocupação crescente nos grandes meios comunicacionais. Não me parece que seja uma ameaça perigosa, no sentido de que possa acontecer algo que mude tudo, porque a lógica mercantil das indústrias culturais e comunicacionais por parte das grandes empresas não me parece que vá ser avassalada pela comunicação digital contra-hegemônica, alternativa, comunitária. No entanto, me parece que existe a possibilidade de um crescimento dessas novas formas de expressão, interação e intercâmbios que vão conviver com a hegemonia da mídia. Isso me parece uma grande novidade. Em décadas passadas, a comunicação alternativa – não digital senão impressa – era um tio de comunicação sedimentada, dirigida a militantes, a pessoas com maior consciência, a grupos organizados. Abrem-se hoje possibilidades para praticamente todos os setores da vida social, incluindo outras formas de organização, participação e construção.
No entanto, as indústrias culturais continuam fixando a agenda de temas, instalando as principais preocupações da sociedade.
Claro que continuam marcando, por isso não me parece que a palavra correta seja ameaça.
Mas você fala de convivência. Creio que tal convivência possa ter algum tipo de impacto na agenda política?
Creio que é uma expectativa perturbadora, porque, por um lado, há uma série de evidências de maior intercâmbio, maior contato, mais expressão e mais civilização. Porém, é cedo para avaliar se essas novas expressões vão canalizar-se em idéias e práticas mais ativas. Há uma diferença entre sociabilidade em rede e participação social e política em rede. Necessitamos ter uma percepção muito clara de que nem todas as expressões de sociabilidade em rede são manifestações ativas da cidadania. Há grupos políticos, sociais e comunitários muito organizados e mobilizados que utilizam as tecnologias digitais e, em especial, das redes com a finalidade de reivindicar a mudança social, a luta política aberta. Minha preocupação é se a sociabilidade em rede vai evolucionar para novas formas de consciência sobre o social, o político, o cultural, o comunitário.
A partir de que lhe surge essa preocupação?
Creio que a forma de organização da sociabilidade em rede se encaminha para uma direção mais relacionada com as questões existenciais ou espirituais, do que para o campo das expressões políticas e sociais mais organizadas e combativas. Parece-me muito interessante que se ampliem os canais de sociabilidade, de intercâmbio dos afetos, das manifestações espirituais e religiosas em rede. Porém, outra coisa é reconhecer a expressão dos afetos, das crenças religiosas e de aspirações existenciais como a única forma de usufruto das tecnologias.
Você mencionou o caso de ouros países da América Latina. Como vê o que está sucedendo na Argentina em relação com o setor comunicacional?
Creio que a nova Lei de Serviços Audiovisuais da Argentina deve ser um orgulho para todos os argentinos e para todos os latino-americanos. Esta legislação – conheço todas as que estão em vigência na América Latina – é a mais avançada do continente. Tem uma noção muito clara dos três setores que devem atuar no campo dos sistemas de comunicação: o campo público, o campo privado comercial e o campo social. Este equilíbrio entre os três setores é algo revolucionário, porque sempre os sistemas de comunicação – não só da Argentina, senão de todos os países latino-americanos – se caracterizaram por um desequilíbrio brutal que favoreceu historicamente o setor comercial da mídia. Temos, pois, um avanço com consequências de longo prazo.
De que modo impactará a nova legislação?
Será uma comunicação mais plural, mais complexa, mais participativa. Com a possibilidade de expressão de várias vozes ao mesmo tempo. Os diferentes setores sociais podem manifestar-se de maneira mito mais rica e estimulante e me parece que a interferência do poder estatal é fundamental para reequilibrar os marcos regulatórios dos meios de concessão pública. Veja, as licenças de rádio e televisão pertencem à sociedade, aos povos e não às empresas de comunicação que são concessionárias temporais. Os canais não pertencem ao Grupo Clarín, O Globo, El Mercúrio e demais grupos de comunicação latino-americanos, geralmente sob o controle de famílias que se reproduzem no comando da mídia, de geração em geração.
Um aspecto chave da lei que está em debate na Argentina é o não reconhecimento dos direitos adquiridos. Até que ponto deve avançar a regulação política num cenário como o argentino para obter uma real desconcentração do setor?
As pressões sobre a lei argentina de meios são similares às pressões que há na Venezuela, Bolívia e Equador. Em todas as partes, os grupos midiáticos estão desenvolvendo violentas campanhas contra as transformações, as mudanças nos marcos legais e nas leis, isto é, das normas que regulam a radiodifusão. As licenças de radio e televisão são “as jóias da coroa” dos grupos midiáticos. Então, essas campanhas tem como centro de sua argumentação o fato de que a liberdade de expressão está sendo agredida, violentada pelas novas regulamentações. É um argumento falso que oculta o que sempre tem sido ocultado pelos grupos da mídia. Os grupos da mídia latino-americana se consideram fora de qualquer tipo de controle, sobretudo do controle público democrático.
Por que crê que se instalou esse imaginário da liberdade de expressão na América Latina?
Ele tem a ver com a idéia mistificadora de que os meios representem a vontade geral e sejam, portanto, a esfera que tem condições de produzir uma espécie de síntese das aspirações sociais e coletivas. Então, se têm qualificação para ser a esfera de síntese do social, não há necessidade de nenhuma submissão a regulamentos, normas, leis. Porque são uma instância que tem relação direta com o povo, com os desejos das sociedades. Claro que tudo isso é uma estratégia argumentativa para ocultar as formas de domínio e hegemonia na formação das mentalidades e do imaginário social.
Que balanços faz do que se está produzindo na região em matéria de comunicação?
Creio que este processo de mudanças na comunicação latino-americana, sob a iniciativa oportuna dos governos, é um processo que põe a comunicação no centro do campo de batalhas pela hegemonia cultural e política. Neste campo de batalha os dois lados têm consciência de que não se podem deixar de lado as lutas pelo controle da opinião pública e do imaginário social. Este processo de ações em cadeia, que se estendem desde Caracas a Buenos Aires, é um processo articulado, muito bem pensado, muito competente do ponto de vista das articulações discursivas e que tem uma diferença crucial em relação com o campo do Estado e da sociedade civil.
Em que sentido se dá essa diferença?
Estes grupos detêm os canais de convencimento que são os diários, as rádios, as televisoras e os Estados não, com alguma exceção, como o caso da Venezuela que tem quatro redes estatais de televisão. Se os Estados e as organizações sociais não têm essa potência de persuasão, de conquista dos corações e da mente do público, temos um processo muito desequilibrado de formação de opinião pública – a meu juízo – sumamente perverso.
Por quê?
Porque o ideal que todos nós defendemos da liberdade de expressão deve ser o de uma liberdade generalizada e não pode concentrar-se em poucas mãos que definam o que é e o que não é liberdade de expressão. Se o governo do presidente Chávez contém erros, tem excessos, bem, vamos pressionar sobre as medidas do presidente Chávez, ele não é Deus. Porém, as mudanças profundas da comunicação venezuelana sob os dez anos do governo de Chávez são significativas.
Pode mencionar alguma dessas mudanças?
No canal educativo e cultural Vive TV, criado pelo presidente Chávez em 2003, todas as agendas informativas das programações culturais são definidas em assembléias de bairros pelo povo. Os executivos, os diretores, os periodistas, o grupo dirigente de Vive TV, vai aos bairros somente para coordenar, organizar as assembléias de bairro em que as comunidades indicam quais são os problemas, as ênfases informativas, que tipo de programação cultural as pessoas desejam. Na Argentina, outro motivo de orgulho para a sociedade latino-americana é o canal Encuentro [Encontro], uma experiência fabulosa de mudança das lógicas informativas, culturais e científicas. Com isso se modificou a concepção de um canal educativo, cultural e científico. Até o momento, só há algumas inserções da programação de Encuentro na televisão pública, no Canal 7, já que a maioria do público só acede a Encuentro nos pacotes de TV paga. Estou mencionando duas experiências de canais educativos, culturais e científicos, criados por governos progressistas, que mudaram a lógica perversa da mercantilização da informação e dos bens culturais.
Participa de algum projeto comunicacional, além de seu trabalho acadêmico na matéria?
Depois de viajar pela América Latina, estou hoje coordenando outro projeto latino-americano de comunicação contra-hegemônico e alternativo. Creio que a palavra esperança não é coisa inútil, é uma palavra de mobilização, de chamado, porque há coisas concretas que se estão construindo em distintos países da América Latina, em direções totalmente diferentes do cenário midiático e cultural que predomina. Em vários lugares da América Latina outra comunicação é possível. Esta é uma palavra de construção que não somente figure num papel, nas bandeiras políticas e retóricas, Vive TV ou Encuentro têm as tecnologias digitais como seus insumos, como recursos indispensáveis. É necessário um pensamento dialético entre os problemas, os bloqueios, as desigualdades e as injustiças de usos e acessos ao tecnológico. Ao mesmo tempo, há necessidade de uma avaliação muito sensível das possibilidades e apropriações, dos usos cidadãos e culturais, sem uma finalidade mercantil, como sucede hoje em nosso continente. Creio que a síntese dessa dialética é a palavra esperança.
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Vejismo, folhismo e globismo
Reproduzo artigo de Renato Rovai, publicado em seu blog na Revista Fórum:
Os principais veículos da velha mídia estão dando um novo show de anti-jornalismo. Não é nada novo. Foi exatamente assim em 2006. Foi exatamente assim em muitos outros momentos recentes.
A cada dia um novo factoide é lançado.
O de hoje busca ser sempre mais escandaloso do que o de ontem.
Reputações são destroçadas a partir de relações absurdas, realizadas sem o menor critério jornalístico.
Sem que haja compromisso algum com a verdade factual.
Nesses últimos dias alguns absurdos já tornaram pessoas inocentes em bandidos midiáticos.
O caso do analista Amarante é um deles.
O funcionário público foi achincalhado em manchetes de jornais como tendo quebrado 11 vezes o sigilo de Eduardo Jorge.
Quando ele desmontou a farsa, ninguém se desculpou.
Não importa quem esteja no caminho, se é para destruir o PT e Lula vale tudo.
Jornalismo não é isso.
É legítimo que os veículos impressos de comunicação tenham posições. No caso de veículos concessionários, não.
Esses são concessões do Estado. Ou seja, de toda a sociedade. Devem ser pautados pelo equilibro e pela independência.
A Globo quando decide fazer campanha contra um candidato e a favor de outro está incorrendo num crime. Poderia ser multada e até sofrer punições.
De qualquer maneira, a diferença entre ter posição e construir uma narrativa de fim de mundo para tentar mudar o rumo de uma eleição são coisas absolutamente diferentes.
É isso que Veja, Folha e Globo, em especial esses três veículos, têm feito.
Isso tem custado caro inclusive para alguns, como este blogueiro, que acabam tendo de gastar boa parte do seu tempo desarmando bombas.
Neste momento poderíamos estar trabalhando em coisas mais interessantes. Entrevistando pessoas para discutir o modelo de desenvolvimento que queremos, quais devem ser os planos para a educação do país avançar, quais seriam as políticas necessárias para um equilíbrio regional etc.
Mas não.
É necessário trabalhar para desmoralizar a fábrica de mentiras.
Aliás, falando em mentiras e verdades, o amigo já imaginou o que aconteceria se um candidato que apoiasse a Dilma ou o Mercadante fosse preso por ser acusado de participação no PCC? Já imaginou se ele aparecesse com uma Ferraria de 1,4 milhão e seu patrimônio estimado fosse de 100 milhões sem que ele tivesse como explicar a renda.
Pois é, isso aconteceu.
A matéria de hoje da Folha de S.Paulo tratou do assunto, mas não mostrou, por exemplo, a foto desse candidato, do PSC, abraçado a um candidato a governador.
Nem citou o nome desse candidato a governador de São Paulo.
Eu também não vou fazê-lo.
Porque sinceramente acho que Alckmin não faz parte do PCC.
E porque sei que político tira foto abraçado com qualquer um.
Se fosse com a Dilma ou com o Mercadante que o sujeito estivesse abraçado, provavelmente você veria a foto na capa de todos os jornais.
E no Jornal Nacional.
Isso não é jornalismo.
É vejismo, folhismo e globismo.
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Os principais veículos da velha mídia estão dando um novo show de anti-jornalismo. Não é nada novo. Foi exatamente assim em 2006. Foi exatamente assim em muitos outros momentos recentes.
A cada dia um novo factoide é lançado.
O de hoje busca ser sempre mais escandaloso do que o de ontem.
Reputações são destroçadas a partir de relações absurdas, realizadas sem o menor critério jornalístico.
Sem que haja compromisso algum com a verdade factual.
Nesses últimos dias alguns absurdos já tornaram pessoas inocentes em bandidos midiáticos.
O caso do analista Amarante é um deles.
O funcionário público foi achincalhado em manchetes de jornais como tendo quebrado 11 vezes o sigilo de Eduardo Jorge.
Quando ele desmontou a farsa, ninguém se desculpou.
Não importa quem esteja no caminho, se é para destruir o PT e Lula vale tudo.
Jornalismo não é isso.
É legítimo que os veículos impressos de comunicação tenham posições. No caso de veículos concessionários, não.
Esses são concessões do Estado. Ou seja, de toda a sociedade. Devem ser pautados pelo equilibro e pela independência.
A Globo quando decide fazer campanha contra um candidato e a favor de outro está incorrendo num crime. Poderia ser multada e até sofrer punições.
De qualquer maneira, a diferença entre ter posição e construir uma narrativa de fim de mundo para tentar mudar o rumo de uma eleição são coisas absolutamente diferentes.
É isso que Veja, Folha e Globo, em especial esses três veículos, têm feito.
Isso tem custado caro inclusive para alguns, como este blogueiro, que acabam tendo de gastar boa parte do seu tempo desarmando bombas.
Neste momento poderíamos estar trabalhando em coisas mais interessantes. Entrevistando pessoas para discutir o modelo de desenvolvimento que queremos, quais devem ser os planos para a educação do país avançar, quais seriam as políticas necessárias para um equilíbrio regional etc.
Mas não.
É necessário trabalhar para desmoralizar a fábrica de mentiras.
Aliás, falando em mentiras e verdades, o amigo já imaginou o que aconteceria se um candidato que apoiasse a Dilma ou o Mercadante fosse preso por ser acusado de participação no PCC? Já imaginou se ele aparecesse com uma Ferraria de 1,4 milhão e seu patrimônio estimado fosse de 100 milhões sem que ele tivesse como explicar a renda.
Pois é, isso aconteceu.
A matéria de hoje da Folha de S.Paulo tratou do assunto, mas não mostrou, por exemplo, a foto desse candidato, do PSC, abraçado a um candidato a governador.
Nem citou o nome desse candidato a governador de São Paulo.
Eu também não vou fazê-lo.
Porque sinceramente acho que Alckmin não faz parte do PCC.
E porque sei que político tira foto abraçado com qualquer um.
Se fosse com a Dilma ou com o Mercadante que o sujeito estivesse abraçado, provavelmente você veria a foto na capa de todos os jornais.
E no Jornal Nacional.
Isso não é jornalismo.
É vejismo, folhismo e globismo.
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O striptease da grande imprensa
Reproduzo artigo de Eduardo Guimarães, publicado no Blog da Cidadania:
A imprensa tem dedicado um espaço ridiculamente pequeno ao fato mais espantoso desta campanha eleitoral — um fato que as pesquisas de intenção de voto escancaram vez após outra: o eleitorado parece que pretende eleger mesmo Dilma Rousseff para o cargo de presidente da República. E em primeiro turno.
Qualquer um que preste atenção à política, por menos que seja, fica espantado com esse fato, admitindo ou não. A eleição da candidata do PT, se ocorrer, será, acima de tudo – até dos seus adversários diretos na disputa eleitoral –, contra a vontade da grande imprensa brasileira.
A bem da clareza, o autor destas mal traçadas linhas deve esclarecer o que entende por “grande imprensa”. A rigor, são os principais jornais, revistas e meios de comunicação eletrônicos (rádio, tevê e internet).
Mas por que esse fenômeno só ocorre em relação à “grande” imprensa? Afinal de contas, blogs, sites, rádios, tevês comunitárias – e até comerciais –, jornais e revistas de menor porte vêm ganhando cada vez mais credibilidade entre o seu público.
A escassez de explicações da grande imprensa para o fenômeno de ter suas recomendações eleitorais subliminares ignoradas deixa ver, antes de mais nada, um destaque ridiculamente tímido para um fato escandalosamente evidente, o que esclarece por que cada vez menos gente lhe dá crédito, sobretudo quando o assunto é política.
E quando tais explicações aparecem, vêm revestidas da mais pura conversa mole para boi dormir. Colunistas, editorialistas, analistas, articulistas, âncoras de telejornais e assemelhados que figuram na folha de pagamento desses grandes meios de comunicação, desandaram a insultar a sociedade por esta não lhes estar seguindo as orientações eleitorais.
Talvez devessem ser (ainda mais) explícitos quanto à mensagem que desejam passar ao público. Pelo menos é o que parecem pensar esses “formadores de opinião” ao irem aumentado – em vez de diminuir – a aplicação de uma medicina que julgam adequada à desinformação ou à debilidade moral de que pensam que padece a sociedade ao não pretender votar majoritariamente em José Serra.
A grande imprensa, porém, está mais para traficante do que para médico. Não se dá conta de que a droga que vem inoculando no eleitorado, a doses cada vez maiores e mais freqüentes, como toda droga vai fazendo efeito cada vez menor com o passar do tempo, simplesmente porque o paciente acaba criando resistência, ou anticorpos.
Os poucos cidadãos que visitam tão profundamente a grande imprensa a ponto de encontrarem nela explicações para o seu insucesso em convencer os brasileiros a votarem no candidato do PSDB a presidente, só encontram insultos como o de que não entenderam as denúncias que visam a candidata do PT por terem “baixa escolaridade”, ou o de que preferem se vender aos badulaques que este governo lhes permite comprar a votarem no “super-ético” e “ultra-competente” candidato tucano.
Então vale a pena verificar a última pesquisa Datafolha, publicada hoje (16 de setembro) em um dos braços dessa “grande imprensa”, no jornal Folha de São Paulo. Por essa pesquisa, Dilma Rousseff tem 51% das intenções de voto e Serra, 27%. Depois das novas denúncias, a petista subiu um ponto percentual e o tucano ficou onde estava.
Sobre esse dado, os “formadores de opinião” dizem que se deve ao “fato” de que são todos ignorantes subornados pelo Bolsa Família. Todavia, lendo um pouco mais a pesquisa, percebe-se que não é bem assim.
Entre os que têm nível superior de instrução, a taxa de intenção de votos de Dilma fica em 46% (contra os 51%no cômputo geral). Serra vai a 33% e Marina oscila para 14%. Ou seja, a maioria absoluta dos mais instruídos e informados não deu a menor bola para o que a grande imprensa vem tentando lhe vender.
Dos eleitores que essa imprensa considera aptos a votar por terem curso superior e que não vão mais votar em Dilma– e que, antes da campanha de denúncias pré-eleitorais contra a petista, afirmavam que pretendiam votar nela –, menos de 10% se deixaram seduzir pelo canto da sereia midiático.
Dizer que só os formados que pretendem votar em Serra foram capazes de compreender as denúncias, é palhaçada. A maioria dos que têm curso superior pretende votar em Dilma porque que não está dando a menor bola para as denúncias da grande imprensa, e não dá bola porque é justamente aquele cidadão mais informado, educado e atento que tem como perceber as manipulações, os favorecimentos escandalosos a Serra.
Algumas das muitas perguntas que a elite intelectual do país se faz sobre o noticiário:
- Será que é tudo perfeito em São Paulo a ponto de a imprensa não destacar praticamente nenhum aspecto negativo dos governos Serra no Estado e na capital paulista?
- Por que grandes tevês, rádios, jornais, revistas e portais de internet dão destaque às denúncias da Veja contra Dilma e escondem as denúncias da CartaCapital contra Serra?
- Por que tantas denúncias exatamente quando Dilma dispara nas pesquisas?
- Por que o PT sempre sofre acusações às vésperas de eleições?
São questões básicas que as pessoas se fazem enquanto se indignam com as acusações da grande imprensa de que só os ignorantes e desinformados pretendem votar em Dilma.
Pessoas preparadas, informadas, que estão a par de todos os fatos, sentem-se esbofeteadas e impotentes, pois algumas tomam iniciativa de escrever a jornais, por exemplo, para rebaterem essas mentiras, mas são sumariamente barradas, pois os espaços para cartas de leitores, nos jornais e revistas aliados de Serra, são dedicados, quase que exclusivamente, aos eleitores do tucano.
A grande imprensa vai censurando cada fato ou opinião de que não gosta diante da visão arguta do eleitorado mais escolarizado. Por conta disso, as intermináveis denúncias pré-eleitorais contra Dilma vêm produzindo efeito apenas entre uma escassa minoria entre os mais informados e instruídos. Uma minoria que se guia por preconceitos e não pela razão.
Deixar de votar numa candidata que representa tanto a continuidade que desejam brasileiros dos quatro cantos do país, dos dois gêneros, de todos os estratos sociais – com exceção dos mais ricos, que nem sempre são os mais instruídos e informados –, de todas as faixas de escolaridade e de todas as faixas etárias, só com provas.
Não se pode punir alguém por conta de acusações sem provas, ainda mais se feitas por seus inimigos políticos. Deixar de votar na candidata de Lula seria uma punição antecipada e irreversível. Portanto, injusta. É simples assim. E é por isso que ninguém está formando a opinião que a grande imprensa quer – porque não acredita nela.
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A imprensa tem dedicado um espaço ridiculamente pequeno ao fato mais espantoso desta campanha eleitoral — um fato que as pesquisas de intenção de voto escancaram vez após outra: o eleitorado parece que pretende eleger mesmo Dilma Rousseff para o cargo de presidente da República. E em primeiro turno.
Qualquer um que preste atenção à política, por menos que seja, fica espantado com esse fato, admitindo ou não. A eleição da candidata do PT, se ocorrer, será, acima de tudo – até dos seus adversários diretos na disputa eleitoral –, contra a vontade da grande imprensa brasileira.
A bem da clareza, o autor destas mal traçadas linhas deve esclarecer o que entende por “grande imprensa”. A rigor, são os principais jornais, revistas e meios de comunicação eletrônicos (rádio, tevê e internet).
Mas por que esse fenômeno só ocorre em relação à “grande” imprensa? Afinal de contas, blogs, sites, rádios, tevês comunitárias – e até comerciais –, jornais e revistas de menor porte vêm ganhando cada vez mais credibilidade entre o seu público.
A escassez de explicações da grande imprensa para o fenômeno de ter suas recomendações eleitorais subliminares ignoradas deixa ver, antes de mais nada, um destaque ridiculamente tímido para um fato escandalosamente evidente, o que esclarece por que cada vez menos gente lhe dá crédito, sobretudo quando o assunto é política.
E quando tais explicações aparecem, vêm revestidas da mais pura conversa mole para boi dormir. Colunistas, editorialistas, analistas, articulistas, âncoras de telejornais e assemelhados que figuram na folha de pagamento desses grandes meios de comunicação, desandaram a insultar a sociedade por esta não lhes estar seguindo as orientações eleitorais.
Talvez devessem ser (ainda mais) explícitos quanto à mensagem que desejam passar ao público. Pelo menos é o que parecem pensar esses “formadores de opinião” ao irem aumentado – em vez de diminuir – a aplicação de uma medicina que julgam adequada à desinformação ou à debilidade moral de que pensam que padece a sociedade ao não pretender votar majoritariamente em José Serra.
A grande imprensa, porém, está mais para traficante do que para médico. Não se dá conta de que a droga que vem inoculando no eleitorado, a doses cada vez maiores e mais freqüentes, como toda droga vai fazendo efeito cada vez menor com o passar do tempo, simplesmente porque o paciente acaba criando resistência, ou anticorpos.
Os poucos cidadãos que visitam tão profundamente a grande imprensa a ponto de encontrarem nela explicações para o seu insucesso em convencer os brasileiros a votarem no candidato do PSDB a presidente, só encontram insultos como o de que não entenderam as denúncias que visam a candidata do PT por terem “baixa escolaridade”, ou o de que preferem se vender aos badulaques que este governo lhes permite comprar a votarem no “super-ético” e “ultra-competente” candidato tucano.
Então vale a pena verificar a última pesquisa Datafolha, publicada hoje (16 de setembro) em um dos braços dessa “grande imprensa”, no jornal Folha de São Paulo. Por essa pesquisa, Dilma Rousseff tem 51% das intenções de voto e Serra, 27%. Depois das novas denúncias, a petista subiu um ponto percentual e o tucano ficou onde estava.
Sobre esse dado, os “formadores de opinião” dizem que se deve ao “fato” de que são todos ignorantes subornados pelo Bolsa Família. Todavia, lendo um pouco mais a pesquisa, percebe-se que não é bem assim.
Entre os que têm nível superior de instrução, a taxa de intenção de votos de Dilma fica em 46% (contra os 51%no cômputo geral). Serra vai a 33% e Marina oscila para 14%. Ou seja, a maioria absoluta dos mais instruídos e informados não deu a menor bola para o que a grande imprensa vem tentando lhe vender.
Dos eleitores que essa imprensa considera aptos a votar por terem curso superior e que não vão mais votar em Dilma– e que, antes da campanha de denúncias pré-eleitorais contra a petista, afirmavam que pretendiam votar nela –, menos de 10% se deixaram seduzir pelo canto da sereia midiático.
Dizer que só os formados que pretendem votar em Serra foram capazes de compreender as denúncias, é palhaçada. A maioria dos que têm curso superior pretende votar em Dilma porque que não está dando a menor bola para as denúncias da grande imprensa, e não dá bola porque é justamente aquele cidadão mais informado, educado e atento que tem como perceber as manipulações, os favorecimentos escandalosos a Serra.
Algumas das muitas perguntas que a elite intelectual do país se faz sobre o noticiário:
- Será que é tudo perfeito em São Paulo a ponto de a imprensa não destacar praticamente nenhum aspecto negativo dos governos Serra no Estado e na capital paulista?
- Por que grandes tevês, rádios, jornais, revistas e portais de internet dão destaque às denúncias da Veja contra Dilma e escondem as denúncias da CartaCapital contra Serra?
- Por que tantas denúncias exatamente quando Dilma dispara nas pesquisas?
- Por que o PT sempre sofre acusações às vésperas de eleições?
São questões básicas que as pessoas se fazem enquanto se indignam com as acusações da grande imprensa de que só os ignorantes e desinformados pretendem votar em Dilma.
Pessoas preparadas, informadas, que estão a par de todos os fatos, sentem-se esbofeteadas e impotentes, pois algumas tomam iniciativa de escrever a jornais, por exemplo, para rebaterem essas mentiras, mas são sumariamente barradas, pois os espaços para cartas de leitores, nos jornais e revistas aliados de Serra, são dedicados, quase que exclusivamente, aos eleitores do tucano.
A grande imprensa vai censurando cada fato ou opinião de que não gosta diante da visão arguta do eleitorado mais escolarizado. Por conta disso, as intermináveis denúncias pré-eleitorais contra Dilma vêm produzindo efeito apenas entre uma escassa minoria entre os mais informados e instruídos. Uma minoria que se guia por preconceitos e não pela razão.
Deixar de votar numa candidata que representa tanto a continuidade que desejam brasileiros dos quatro cantos do país, dos dois gêneros, de todos os estratos sociais – com exceção dos mais ricos, que nem sempre são os mais instruídos e informados –, de todas as faixas de escolaridade e de todas as faixas etárias, só com provas.
Não se pode punir alguém por conta de acusações sem provas, ainda mais se feitas por seus inimigos políticos. Deixar de votar na candidata de Lula seria uma punição antecipada e irreversível. Portanto, injusta. É simples assim. E é por isso que ninguém está formando a opinião que a grande imprensa quer – porque não acredita nela.
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A covardia do governo diante da mídia
Reproduzo artigo de Cláudio Gonzalez, publicado no blog Papillon:
Uma das vantagens de manter um blog pessoal é poder escrever sem o compromisso de ter de observar algumas normas de conduta que o exercício do jornalismo nos obriga a seguir. Este é um espaço livre, sem as amarras de um veículo de comunicação. Portanto, posso desabafar e questionar: até quando os covardes do governo Lula vão permitir ser esmagados pelo denuncismo midiático sem esboçar qualquer reação à altura? Qualquer um ligado ao governo que faça um mínimo comentário sobre os excessos da imprensa é imediatamente desautorizado. Gente do próprio Palácio do Planalto atende telefonemas de Lo Pretes e Bergamos da vida para desautorizar quem critica a imprensa.
Esta “denúncia” da Folha de ontem, repercutida com naturalidade espantosa em todos os veículos da grande imprensa, é tão escandalosamente falsa, montada, superficial… que se eu fosse um dos jornalistas que a assinaram, passaria o resto da vida envergonhado. Mas como o governo não reage – pelo contrário, dá corda para as ilações –, eles vão em frente. Acusações sem nenhuma prova e com inúmeros indícios de falsidade vão sendo reproduzidas aos borbotões e chega a um ponto tão surreal que ninguém mais sabe exatamente quais são as acusações ou onde está a infração. Fica no ar apenas a atmosfera de escândalo.
E o que faz o governo diante deste cenário? Simplesmente aceita a chantagem midiática, pois parece concordar que não há pecado maior para um político do que criticar a imprensa, mesmo quando ela comete um crime grave de calúnia e difamação com claros objetivos eleitorais. Eu gostaria muito de estar errado. Sei lá, talvez os que estão no centro do poder, como Franklin Martins, o Lula, o Marco Aurélio, o Santana… já tenham pensado em tudo, traçado um plano de reação que nós, pobres militantes que conhecemos apenas aquilo que a imprensa divulga, não podemos saber qual é para não atrapalhar o sucesso da empreitada.
Mas, infelizmente, desconfio que eles não têm plano nenhum. São apenas seres acovardados diante do poder da mídia. Aí ficamos nós aqui, fazendo papel de ridículos em nossos blogs, no Twitter, nas redes sociais, esperneando diante dos abusos da corja midiática, enquanto as “fontes palacianas” atendem com sorrisos o telefonema do jornalista da Folha e confirmam: “é, a Erenice errou no tom da nota, não podia ter atacado a imprensa e a candidatura do Serra como ela fez…”.
O governo Lula tem muitos méritos. Muitos mesmo. Mas sua relação covarde e de submissão em relação à grande imprensa é de dar dó. Parece que eles não aprenderam nada, absolutamente nada, com a crise política de 2005. Repetem os mesmos erros e se submetem pacificamente às pressões do mesmo denuncismo irresponsável e golpista. Ainda que isso não tenha conseguido, até o momento, produzir resultados eleitorais concretos – Dilma continua favorita – a mídia se fortalece de tal forma que os poderes Judiciário, Legislativo, Executivo e até os movimentos sociais acabam ficando sem armas para enfrentar os abusos da imprensa. Viram reféns de um quinto-poder sem limites, que se coloca acima do bem e do mal, destrói reputações, acaba com carreiras, prejudica negócios legítimos com a certeza da impunidade. Lembra muito um trecho daquele poema “No caminho com Maiakovski”:
Na primeira noite eles se aproximam
e roubam uma flor
do nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na segunda noite, já não se escondem:
pisam as flores,
matam nosso cão,
e não dizemos nada.
Até que um dia,
o mais frágil deles
entra sozinho em nossa casa,
rouba-nos a luz, e,
conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.
E já não podemos dizer nada.
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Uma das vantagens de manter um blog pessoal é poder escrever sem o compromisso de ter de observar algumas normas de conduta que o exercício do jornalismo nos obriga a seguir. Este é um espaço livre, sem as amarras de um veículo de comunicação. Portanto, posso desabafar e questionar: até quando os covardes do governo Lula vão permitir ser esmagados pelo denuncismo midiático sem esboçar qualquer reação à altura? Qualquer um ligado ao governo que faça um mínimo comentário sobre os excessos da imprensa é imediatamente desautorizado. Gente do próprio Palácio do Planalto atende telefonemas de Lo Pretes e Bergamos da vida para desautorizar quem critica a imprensa.
Esta “denúncia” da Folha de ontem, repercutida com naturalidade espantosa em todos os veículos da grande imprensa, é tão escandalosamente falsa, montada, superficial… que se eu fosse um dos jornalistas que a assinaram, passaria o resto da vida envergonhado. Mas como o governo não reage – pelo contrário, dá corda para as ilações –, eles vão em frente. Acusações sem nenhuma prova e com inúmeros indícios de falsidade vão sendo reproduzidas aos borbotões e chega a um ponto tão surreal que ninguém mais sabe exatamente quais são as acusações ou onde está a infração. Fica no ar apenas a atmosfera de escândalo.
E o que faz o governo diante deste cenário? Simplesmente aceita a chantagem midiática, pois parece concordar que não há pecado maior para um político do que criticar a imprensa, mesmo quando ela comete um crime grave de calúnia e difamação com claros objetivos eleitorais. Eu gostaria muito de estar errado. Sei lá, talvez os que estão no centro do poder, como Franklin Martins, o Lula, o Marco Aurélio, o Santana… já tenham pensado em tudo, traçado um plano de reação que nós, pobres militantes que conhecemos apenas aquilo que a imprensa divulga, não podemos saber qual é para não atrapalhar o sucesso da empreitada.
Mas, infelizmente, desconfio que eles não têm plano nenhum. São apenas seres acovardados diante do poder da mídia. Aí ficamos nós aqui, fazendo papel de ridículos em nossos blogs, no Twitter, nas redes sociais, esperneando diante dos abusos da corja midiática, enquanto as “fontes palacianas” atendem com sorrisos o telefonema do jornalista da Folha e confirmam: “é, a Erenice errou no tom da nota, não podia ter atacado a imprensa e a candidatura do Serra como ela fez…”.
O governo Lula tem muitos méritos. Muitos mesmo. Mas sua relação covarde e de submissão em relação à grande imprensa é de dar dó. Parece que eles não aprenderam nada, absolutamente nada, com a crise política de 2005. Repetem os mesmos erros e se submetem pacificamente às pressões do mesmo denuncismo irresponsável e golpista. Ainda que isso não tenha conseguido, até o momento, produzir resultados eleitorais concretos – Dilma continua favorita – a mídia se fortalece de tal forma que os poderes Judiciário, Legislativo, Executivo e até os movimentos sociais acabam ficando sem armas para enfrentar os abusos da imprensa. Viram reféns de um quinto-poder sem limites, que se coloca acima do bem e do mal, destrói reputações, acaba com carreiras, prejudica negócios legítimos com a certeza da impunidade. Lembra muito um trecho daquele poema “No caminho com Maiakovski”:
Na primeira noite eles se aproximam
e roubam uma flor
do nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na segunda noite, já não se escondem:
pisam as flores,
matam nosso cão,
e não dizemos nada.
Até que um dia,
o mais frágil deles
entra sozinho em nossa casa,
rouba-nos a luz, e,
conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.
E já não podemos dizer nada.
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Carta capital a um jornalista do futuro
Reproduzo artigo de Lula Miranda, publicado no sítio Carta Maior:
Prezado Jornalista,
Escrevo-lhe do Brasil, cidade de São Paulo, em meados de Setembro do ano de 2010 (a caminho da sagração da Primavera). Peço-lhe o máximo de paciência [a prosa será por demasiado extensa], cuidado, ponderação e desprendimento ao ler esse depoimento/testemunho. Intuo que um calendário, na parede à sua frente, registre um ano qualquer na segunda metade desse século XXI. Certamente, se tomar como parâmetro a realidade dos tempos que você vivencia aí, aquilo que chamaria grosseiramente de “übermídia”, achará absurdos, inacreditáveis mesmo, os fatos que passarei a lhe narrar. Mas, asseguro-lhe, trata-se da mais pura verdade (a tal “factual”).
Estou seguro de que o seu “olhar épico” propiciará um julgamento e uma visão mais eqüidistante e reveladora dos dias difíceis que vivemos por aqui. Remeto-lhe essa mensagem com a esperança de que zele para que parte da história da imprensa seja contada de forma a que esteja preservada a verdade dos fatos, como eles ocorreram realmente; para que não prevaleça apenas a versão deturpada daqueles que chamamos de “donos do poder” [ver Raymundo Faoro].
Aqui, nos dias que correm e, em verdade, desde sempre, os principais veículos de comunicação pertencem a cerca de meia-dúzia de famílias [sim, por incrível que pareça tal oligopólio existe e, o que é pior, ainda é permitido]. Dá para você imaginar o que disso resulta em termos de controle e manipulação da informação? Compreendo ser difícil você ter a mais remota idéia do que essa realidade que vivemos hoje significa [algo aos seus olhos tão distante, extemporâneo, atrasado, estapafúrdio e espúrio], mas…
Digo-lhe ainda outra [impropriedade]: os proprietários desses veículos são aqueles aos quais esses mesmos meios deveriam fiscalizar. Grandes empresários e/ou parlamentares são donos [ou sócios majoritários] dos principais jornais, revistas, redes de rádio e televisão, e suas retransmissoras – até portais de internet. Já pensou no absurdo dessa situação?! Ou seja: a raposa no encargo de tomar conta do galinheiro. Impensável, não?
Esses veículos trabalham em sintonia e em rede. “Claro! Como conseqüência do avanço da tecnologia das comunicações” – exclamaria você, inocentemente. Não propriamente, esclareço. A “sintonia” e a “rede” funcionam aqui com o seguinte significado e fim: todos os veículos, mancomunados, em “sintonia fina”, transmitem de maneira massiva a mesma versão dos fatos e, claro, só os temas e notícias que interessam à preservação do status quo. Estão todos a serviço dos conservadores de sempre, aqueles que querem manter as coisas exatamente como estão; os que defendem o estabelecido [os já citados “donos do poder”].
Captou a nuance da coisa? Tentando ser ainda mais claro: quando eles desejam se ver livre de algum ministro ou alto funcionário do governo que está atrapalhando seus negócios e interesses, ou mesmo se livrar de algum membro do partido desse governo (ou de um partido aliado do governo), ou ainda, em última instância, quando querem/desejam derrubar o próprio presidente começam a “operação bombardeio”. Exemplo de caso: um determinado veículo [por exemplo, a revista Veja, cuja tiragem já foi de um milhão de exemplares, hoje, caindo, na casa dos oitocentos mil] dá como matéria de capa um suposto escândalo contra determinado integrante da máquina pública. Então, na seqüência, o principal noticiário da rede de televisão [o jornal Nacional da Rede Globo – audiência também cadente] dá a notícia com pompa e circunstância. Em seguida, quase sempre de modo simultâneo, todos os demais veículos esquentam e repercutem essa matéria até transformar aquele “suposto” escândalo num fato consumado. Com esse ardil, aprenderam a forjar “novas realidades” ou “supra-realidades”, bem como “novas” lógicas e linguagens, muito semelhantes à “novilíngua” e ao “duplipensar” [ler “1984” de George Orwell].
Um dos dois maiores jornais daqui de São Paulo [com circulação em todo o Brasil], tamanho é o seu parcialismo às escâncaras, que foi recentemente ridicularizado, em escala global, com piadas e mensagens sarcásticas no Twitter [foi trending topic: com cerca de 50.000 mensagens postadas!]. Ou seja: exagerou tanto na dose que se tornou motivo de zombaria na rede. Sobre esse veículo pesquise os seguintes termos ou expressões: “ditabranda” e “ficha falsa da Dilma”. Veja a que ponto seus editores chegaram, a que nível baixaram! É de estarrecer.
Porém, reitero o devido registro, talvez até por se utilizarem desses artifícios antiéticos, capciosos, esses veículos estão perdendo, a cada dia, mais e mais leitores, condenados que estão ao descrédito – e, você bem sabe, a credibilidade é o maior patrimônio intangível de uma empresa de comunicação. A falta de credibilidade certamente os conduzirá, de modo célere, à bancarrota.
Peço-lhe desculpas, pois sei que falo sobre coisas que há muito deixaram de existir aí no seu tempo: revistas, jornais, televisão, Veja, Rede Globo etc. Imagino que aí, na segunda metade do séc. XXI, a internet holográfica (em 3D) e a blogosfera sejam as principais fontes de informação. Por aqui ainda vivemos a expectativa desse auspicioso “porvir”. Mas a blogosfera já se insinua como a ponte que nos auxiliará nessa grande e instigante travessia.
As redações dos grandes veículos da mídia, nos dias de hoje, têm, como se fossem supermercados, um verdadeiro estoque de falsas denúncias. Metaforicamente falando, são prateleiras e mais prateleiras onde estão dispostas, e muito bem organizadas [por partido, por grupo de interesse, por esfera de governo (federal, estadual e municipal), por cargo na hierarquia governamental etc.], denúncias diversificadas, “escândalos” variados. Tem escândalo para toda hora e ocasião.
“Mas não é exatamente essa a função dos jornalistas: vigiar governos, instituições e fazer denúncias?” – ponderaria você, com legítima razão. É verdade. Mas o “demônio” se esconde nos detalhes – como se diz por aqui. O problema é que os grandes veículos nos dias de hoje só fazem denúncias contra os partidos desse governo que aí está, de um perfil e estrato mais popular, e nenhuma crítica ou denúncia para valer contra os partidos das elites conservadoras, que desejam a todo custo e meios retomar o poder. Outra: a maior parte dessas denúncias é nitidamente falsa ou manipulada; muitas delas são “plantadas” pelas máfias da política e da imprensa, algumas são grosseiras “armações”. Acredite no que lhe digo.
Quem são/eram os “fornecedores” dessas denúncias ardilosas? Os jornalistas compactuavam/aceitavam esse estado de coisas? São perguntas mais do que legítimas, óbvias, e sei que você as está formulando nesse exato instante. Com relação aos fornecedores, num dado instante, houve uma deturpação do chamado “jornalismo investigativo”. Jornalistas passaram a se utilizar dos serviços de estelionatários e “arapongas” [inclusive ex-agentes da época da ditadura] que, por sua vez, se utilizavam de métodos similares aos utilizados pelas máfias – foi aí, tudo indica que, o jornalismo se irmanou ao crime e começou a cair em desgraça.
Já sobre o silêncio e cumplicidade, tenho uma teoria, pois testemunhei inúmeros casos: basta dar a um jornalista trinta, cinqüenta e até cem mil “dinheiros” [converta à moeda da sua época] de salário por mês que esse indivíduo, como num passe de mágica, se transforma e passa a falar com a voz do chefe, e a pensar com a cabeça do patrão. Os demais, os “focas” ou os jornalistas “proletários”, são, quase sempre, pessoas honestas, decentes, mas nada podem fazer por medo de perder o emprego (têm muitas bocas a alimentar – daí utilizar-me do termo “proletários”). Em face disso, creio, o mau-caratismo começou a prevalecer.
Tem também a questão do “mensalão” da mídia [“Mensalão” - rótulo que a grande mídia deu a esquema de caixa 2 dos partidos da base aliada ao atual governo]. Mas esse tema requer uma outra carta.
Sei que você deve estar pensando que tudo isso é absurdo, vergonhoso e se indagando como é possível que jornalistas e cidadãos em geral se submetessem a esse estado de coisas. Saiba que, para mim, é deveras constrangedor confessar-lhe que vivi nesses tempos de vergonha e infâmia. Porém, informo-lhe, apenas para registro, por mais incrível que isso possa lhe parecer, quando reclamávamos disso (perante o Congresso e as instituições) éramos estratégica e maliciosamente rotulados de “stalinistas”, de “inimigos da democracia”, e de que estávamos cometendo um atentado contra a liberdade de imprensa; redargüíamos, tentávamos explicar, incessantemente, diuturnamente, que estávamos indo em verdade, não contra, mas a favor desse “princípio dos princípios” – de nada adiantavam os nossos argumentos. Assim tentavam nos calar e impediam qualquer tentativa de democratização dos meios, ou mesmo qualquer embrionária iniciativa que visasse esse fim.
Veja bem, o que buscávamos era exatamente uma imprensa livre! Livre por princípio. Livre das sombras, das amarras e dos ditames dos interesses escusos dos patrões e seus grupos de pressão. “Utópicos”, “idealistas”, desejávamos exatamente uma imprensa livre, libertária e comprometida apenas com a verdade factual e a serviço de todas as classes [com ênfase, claro, nos desassistidos e nos trabalhadores]; a serviço do homem enfim. Acredite se quiser, mas, como disse, é a pura verdade.
Desculpe-me ter me utilizado de excessivo número de caracteres nessa comunicação. Ainda somos demasiadamente “prolixos” e pretensamente “literários”. Saudações de tempos pretéritos.
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Prezado Jornalista,
Escrevo-lhe do Brasil, cidade de São Paulo, em meados de Setembro do ano de 2010 (a caminho da sagração da Primavera). Peço-lhe o máximo de paciência [a prosa será por demasiado extensa], cuidado, ponderação e desprendimento ao ler esse depoimento/testemunho. Intuo que um calendário, na parede à sua frente, registre um ano qualquer na segunda metade desse século XXI. Certamente, se tomar como parâmetro a realidade dos tempos que você vivencia aí, aquilo que chamaria grosseiramente de “übermídia”, achará absurdos, inacreditáveis mesmo, os fatos que passarei a lhe narrar. Mas, asseguro-lhe, trata-se da mais pura verdade (a tal “factual”).
Estou seguro de que o seu “olhar épico” propiciará um julgamento e uma visão mais eqüidistante e reveladora dos dias difíceis que vivemos por aqui. Remeto-lhe essa mensagem com a esperança de que zele para que parte da história da imprensa seja contada de forma a que esteja preservada a verdade dos fatos, como eles ocorreram realmente; para que não prevaleça apenas a versão deturpada daqueles que chamamos de “donos do poder” [ver Raymundo Faoro].
Aqui, nos dias que correm e, em verdade, desde sempre, os principais veículos de comunicação pertencem a cerca de meia-dúzia de famílias [sim, por incrível que pareça tal oligopólio existe e, o que é pior, ainda é permitido]. Dá para você imaginar o que disso resulta em termos de controle e manipulação da informação? Compreendo ser difícil você ter a mais remota idéia do que essa realidade que vivemos hoje significa [algo aos seus olhos tão distante, extemporâneo, atrasado, estapafúrdio e espúrio], mas…
Digo-lhe ainda outra [impropriedade]: os proprietários desses veículos são aqueles aos quais esses mesmos meios deveriam fiscalizar. Grandes empresários e/ou parlamentares são donos [ou sócios majoritários] dos principais jornais, revistas, redes de rádio e televisão, e suas retransmissoras – até portais de internet. Já pensou no absurdo dessa situação?! Ou seja: a raposa no encargo de tomar conta do galinheiro. Impensável, não?
Esses veículos trabalham em sintonia e em rede. “Claro! Como conseqüência do avanço da tecnologia das comunicações” – exclamaria você, inocentemente. Não propriamente, esclareço. A “sintonia” e a “rede” funcionam aqui com o seguinte significado e fim: todos os veículos, mancomunados, em “sintonia fina”, transmitem de maneira massiva a mesma versão dos fatos e, claro, só os temas e notícias que interessam à preservação do status quo. Estão todos a serviço dos conservadores de sempre, aqueles que querem manter as coisas exatamente como estão; os que defendem o estabelecido [os já citados “donos do poder”].
Captou a nuance da coisa? Tentando ser ainda mais claro: quando eles desejam se ver livre de algum ministro ou alto funcionário do governo que está atrapalhando seus negócios e interesses, ou mesmo se livrar de algum membro do partido desse governo (ou de um partido aliado do governo), ou ainda, em última instância, quando querem/desejam derrubar o próprio presidente começam a “operação bombardeio”. Exemplo de caso: um determinado veículo [por exemplo, a revista Veja, cuja tiragem já foi de um milhão de exemplares, hoje, caindo, na casa dos oitocentos mil] dá como matéria de capa um suposto escândalo contra determinado integrante da máquina pública. Então, na seqüência, o principal noticiário da rede de televisão [o jornal Nacional da Rede Globo – audiência também cadente] dá a notícia com pompa e circunstância. Em seguida, quase sempre de modo simultâneo, todos os demais veículos esquentam e repercutem essa matéria até transformar aquele “suposto” escândalo num fato consumado. Com esse ardil, aprenderam a forjar “novas realidades” ou “supra-realidades”, bem como “novas” lógicas e linguagens, muito semelhantes à “novilíngua” e ao “duplipensar” [ler “1984” de George Orwell].
Um dos dois maiores jornais daqui de São Paulo [com circulação em todo o Brasil], tamanho é o seu parcialismo às escâncaras, que foi recentemente ridicularizado, em escala global, com piadas e mensagens sarcásticas no Twitter [foi trending topic: com cerca de 50.000 mensagens postadas!]. Ou seja: exagerou tanto na dose que se tornou motivo de zombaria na rede. Sobre esse veículo pesquise os seguintes termos ou expressões: “ditabranda” e “ficha falsa da Dilma”. Veja a que ponto seus editores chegaram, a que nível baixaram! É de estarrecer.
Porém, reitero o devido registro, talvez até por se utilizarem desses artifícios antiéticos, capciosos, esses veículos estão perdendo, a cada dia, mais e mais leitores, condenados que estão ao descrédito – e, você bem sabe, a credibilidade é o maior patrimônio intangível de uma empresa de comunicação. A falta de credibilidade certamente os conduzirá, de modo célere, à bancarrota.
Peço-lhe desculpas, pois sei que falo sobre coisas que há muito deixaram de existir aí no seu tempo: revistas, jornais, televisão, Veja, Rede Globo etc. Imagino que aí, na segunda metade do séc. XXI, a internet holográfica (em 3D) e a blogosfera sejam as principais fontes de informação. Por aqui ainda vivemos a expectativa desse auspicioso “porvir”. Mas a blogosfera já se insinua como a ponte que nos auxiliará nessa grande e instigante travessia.
As redações dos grandes veículos da mídia, nos dias de hoje, têm, como se fossem supermercados, um verdadeiro estoque de falsas denúncias. Metaforicamente falando, são prateleiras e mais prateleiras onde estão dispostas, e muito bem organizadas [por partido, por grupo de interesse, por esfera de governo (federal, estadual e municipal), por cargo na hierarquia governamental etc.], denúncias diversificadas, “escândalos” variados. Tem escândalo para toda hora e ocasião.
“Mas não é exatamente essa a função dos jornalistas: vigiar governos, instituições e fazer denúncias?” – ponderaria você, com legítima razão. É verdade. Mas o “demônio” se esconde nos detalhes – como se diz por aqui. O problema é que os grandes veículos nos dias de hoje só fazem denúncias contra os partidos desse governo que aí está, de um perfil e estrato mais popular, e nenhuma crítica ou denúncia para valer contra os partidos das elites conservadoras, que desejam a todo custo e meios retomar o poder. Outra: a maior parte dessas denúncias é nitidamente falsa ou manipulada; muitas delas são “plantadas” pelas máfias da política e da imprensa, algumas são grosseiras “armações”. Acredite no que lhe digo.
Quem são/eram os “fornecedores” dessas denúncias ardilosas? Os jornalistas compactuavam/aceitavam esse estado de coisas? São perguntas mais do que legítimas, óbvias, e sei que você as está formulando nesse exato instante. Com relação aos fornecedores, num dado instante, houve uma deturpação do chamado “jornalismo investigativo”. Jornalistas passaram a se utilizar dos serviços de estelionatários e “arapongas” [inclusive ex-agentes da época da ditadura] que, por sua vez, se utilizavam de métodos similares aos utilizados pelas máfias – foi aí, tudo indica que, o jornalismo se irmanou ao crime e começou a cair em desgraça.
Já sobre o silêncio e cumplicidade, tenho uma teoria, pois testemunhei inúmeros casos: basta dar a um jornalista trinta, cinqüenta e até cem mil “dinheiros” [converta à moeda da sua época] de salário por mês que esse indivíduo, como num passe de mágica, se transforma e passa a falar com a voz do chefe, e a pensar com a cabeça do patrão. Os demais, os “focas” ou os jornalistas “proletários”, são, quase sempre, pessoas honestas, decentes, mas nada podem fazer por medo de perder o emprego (têm muitas bocas a alimentar – daí utilizar-me do termo “proletários”). Em face disso, creio, o mau-caratismo começou a prevalecer.
Tem também a questão do “mensalão” da mídia [“Mensalão” - rótulo que a grande mídia deu a esquema de caixa 2 dos partidos da base aliada ao atual governo]. Mas esse tema requer uma outra carta.
Sei que você deve estar pensando que tudo isso é absurdo, vergonhoso e se indagando como é possível que jornalistas e cidadãos em geral se submetessem a esse estado de coisas. Saiba que, para mim, é deveras constrangedor confessar-lhe que vivi nesses tempos de vergonha e infâmia. Porém, informo-lhe, apenas para registro, por mais incrível que isso possa lhe parecer, quando reclamávamos disso (perante o Congresso e as instituições) éramos estratégica e maliciosamente rotulados de “stalinistas”, de “inimigos da democracia”, e de que estávamos cometendo um atentado contra a liberdade de imprensa; redargüíamos, tentávamos explicar, incessantemente, diuturnamente, que estávamos indo em verdade, não contra, mas a favor desse “princípio dos princípios” – de nada adiantavam os nossos argumentos. Assim tentavam nos calar e impediam qualquer tentativa de democratização dos meios, ou mesmo qualquer embrionária iniciativa que visasse esse fim.
Veja bem, o que buscávamos era exatamente uma imprensa livre! Livre por princípio. Livre das sombras, das amarras e dos ditames dos interesses escusos dos patrões e seus grupos de pressão. “Utópicos”, “idealistas”, desejávamos exatamente uma imprensa livre, libertária e comprometida apenas com a verdade factual e a serviço de todas as classes [com ênfase, claro, nos desassistidos e nos trabalhadores]; a serviço do homem enfim. Acredite se quiser, mas, como disse, é a pura verdade.
Desculpe-me ter me utilizado de excessivo número de caracteres nessa comunicação. Ainda somos demasiadamente “prolixos” e pretensamente “literários”. Saudações de tempos pretéritos.
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sexta-feira, 17 de setembro de 2010
Cureau tenta intimidar CartaCapital
Reproduzo matéria publicada no sítio Vermelho:
A revista CartaCapital, reduto isolado de jornalismo independente na grande mídia, virou alvo de intimidação de Sandra Cureau — a polêmica vice-procuradora-geral eleitoral. Na quinta-feira (16), ela encaminhou ofício a Mino Carta, diretor de redação e proprietário majoritário da revista.
A vice-procuradora, no ofício datado do dia 9 de setembro, cobra de CartaCapital "relação das publicidades do governo federal dos anos 2009/2010, os respectivos contratos, bem como os valores recebidos a esse título". Cureau dá à revista o prazo de cinco dias para que as informações sejam enviadas "sob pena de responsabilização nos termos do artigo 8º, parágrafo 3º, da Lei complementar nº75/93, cumulada com o artigo 330 do Código Penal".
Em entrevista a Bob Fernandes, do Terra Magazine, Cureau diz que apenas recebeu uma denúncia e abriu “um procedimento”, que foi encaminhado “para a Casa Civil da Presidência da República, para o Tribunal de Contas da União e para a CartaCapital”. A crer em suas palavras, a acusação beira a leviandade: a revista editada por Mino Carta “apoia o governo Lula e a candidatura de Dilma e para tanto receberia verbas do governo federal”.
Mino — que também conversou com Bob Fernandes — não passou recibo. “Isso é uma atitude indevida — não teria sentido sequer se fosse dirigida a mesma requisição às demais editoras do país”, declarou.
O ofício, segundo ele, “significa que a senhora Cureau entende que nós somos comprados pelo governo federal, via publicidade. Se ela se dedicasse, ou se dedicar, porém, à mesma investigação junto às demais editoras de jornais, revista, e outros órgãos da mídia verificaria, verificará, talvez com alguma surpresa, que todos eles têm publicidade de instituições do governo em quantidade muito maior e com valor maior do que CartaCapital”.
Mino agregou que, ao ser boicotado pelo governo de Fernando Henrique Cardoso, não houve preocupação semelhante. “Fomos literalmente perseguidos pela absoluta ausência de publicidade do governo federal”, lembra. “Alguém, inclusive na mídia, se incomodou com isso? Ninguém considerou esse fato estranho? Uma revista de alcance nacional não receber publicidade alguma enquanto todas as demais recebiam?”
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A revista CartaCapital, reduto isolado de jornalismo independente na grande mídia, virou alvo de intimidação de Sandra Cureau — a polêmica vice-procuradora-geral eleitoral. Na quinta-feira (16), ela encaminhou ofício a Mino Carta, diretor de redação e proprietário majoritário da revista.
A vice-procuradora, no ofício datado do dia 9 de setembro, cobra de CartaCapital "relação das publicidades do governo federal dos anos 2009/2010, os respectivos contratos, bem como os valores recebidos a esse título". Cureau dá à revista o prazo de cinco dias para que as informações sejam enviadas "sob pena de responsabilização nos termos do artigo 8º, parágrafo 3º, da Lei complementar nº75/93, cumulada com o artigo 330 do Código Penal".
Em entrevista a Bob Fernandes, do Terra Magazine, Cureau diz que apenas recebeu uma denúncia e abriu “um procedimento”, que foi encaminhado “para a Casa Civil da Presidência da República, para o Tribunal de Contas da União e para a CartaCapital”. A crer em suas palavras, a acusação beira a leviandade: a revista editada por Mino Carta “apoia o governo Lula e a candidatura de Dilma e para tanto receberia verbas do governo federal”.
Mino — que também conversou com Bob Fernandes — não passou recibo. “Isso é uma atitude indevida — não teria sentido sequer se fosse dirigida a mesma requisição às demais editoras do país”, declarou.
O ofício, segundo ele, “significa que a senhora Cureau entende que nós somos comprados pelo governo federal, via publicidade. Se ela se dedicasse, ou se dedicar, porém, à mesma investigação junto às demais editoras de jornais, revista, e outros órgãos da mídia verificaria, verificará, talvez com alguma surpresa, que todos eles têm publicidade de instituições do governo em quantidade muito maior e com valor maior do que CartaCapital”.
Mino agregou que, ao ser boicotado pelo governo de Fernando Henrique Cardoso, não houve preocupação semelhante. “Fomos literalmente perseguidos pela absoluta ausência de publicidade do governo federal”, lembra. “Alguém, inclusive na mídia, se incomodou com isso? Ninguém considerou esse fato estranho? Uma revista de alcance nacional não receber publicidade alguma enquanto todas as demais recebiam?”
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A mídia em busca do golpe
Reproduzo artigo de Luciano Martins Costa, publicado no Observatório da Imprensa:
As eleições estão aí e as próximas duas semanas prometem mais fúria e sangue. Se ainda existe a possibilidade de análises frias e não engajadas sobre o papel da imprensa nesse cenário, é preciso antes registrar alguns elementos.
1. Os grandes jornais, aqueles que são chamados de circulação nacional, e que concentram o noticiário mais agressivo, funcionam claramente como linhas auxiliares da campanha oposicionista.
2. O governo é extremamente vulnerável a ações de lobistas, tem uma assessoria de comunicação pouco eficiente e tende a negligenciar cuidados básicos quando trata com correligionários.
3. O sistema partidário e o modelo de financiamento de campanha favorecem a corrupção.
Isso posto, observe-se que o interesse jornalístico desapareceu das páginas da imprensa, uma vez que as linhas de divulgação dos escândalos associados ao noticiário político já não seguem uma lógica de investigação, de reportagem, mas o objetivo de causar impacto na opinião pública. Predominam as ilações sobre as informações.
Ruído puro
No caso que custou o cargo à ex-ministra Erenice Guerra, por exemplo, uma análise das mensagens supostamente enviadas pelo consultor ou lobista que é a fonte principal da imprensa deixa indícios de que o acusador tentava chantagear os supostos intermediários.
O prontuário policial do acusador recomendaria mais cuidado dos jornalistas, se de fato o que motivasse as reportagens fosse o desejo de informar e esclarecer os fatos.
O objetivo da imprensa parece ser provocar o segundo turno na eleição presidencial. O resto, ou seja, a apuração e o esclarecimento, ficam para depois, como aconteceu em 2002 e 2006. Ou para nunca.
Mas quais as chances de os grandes jornais e as revistas semanais de informação influenciarem a escolha de um número suficiente de eleitores?
Vejamos: o Brasil tem 135 milhões de cidadãos aptos a votar. Desse total, uma porcentagem desconhecida – predominante entre os menos educados – perderá o voto por causa da exigência de levar junto com o título de eleitor um documento com fotografia e pela complexidade do processo.
Os grandes jornais são lidos por cerca de 1,5 milhão de pessoas diariamente, ou seja, pouco mais de 1% do eleitorado. Com mais 2 milhões de leitores de revistas, esse total não chega a 3% dos que vão às urnas.
Para a maioria, que só se informa pela televisão, os telejornais são puro ruído — a não ser nos casos em que a notícia pode ser vista.
Aguarde-se, portanto, para os próximos dias, alguma cena de mala com dinheiro, dinheiro na cueca — ou na calcinha, coisa do gênero.
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As eleições estão aí e as próximas duas semanas prometem mais fúria e sangue. Se ainda existe a possibilidade de análises frias e não engajadas sobre o papel da imprensa nesse cenário, é preciso antes registrar alguns elementos.
1. Os grandes jornais, aqueles que são chamados de circulação nacional, e que concentram o noticiário mais agressivo, funcionam claramente como linhas auxiliares da campanha oposicionista.
2. O governo é extremamente vulnerável a ações de lobistas, tem uma assessoria de comunicação pouco eficiente e tende a negligenciar cuidados básicos quando trata com correligionários.
3. O sistema partidário e o modelo de financiamento de campanha favorecem a corrupção.
Isso posto, observe-se que o interesse jornalístico desapareceu das páginas da imprensa, uma vez que as linhas de divulgação dos escândalos associados ao noticiário político já não seguem uma lógica de investigação, de reportagem, mas o objetivo de causar impacto na opinião pública. Predominam as ilações sobre as informações.
Ruído puro
No caso que custou o cargo à ex-ministra Erenice Guerra, por exemplo, uma análise das mensagens supostamente enviadas pelo consultor ou lobista que é a fonte principal da imprensa deixa indícios de que o acusador tentava chantagear os supostos intermediários.
O prontuário policial do acusador recomendaria mais cuidado dos jornalistas, se de fato o que motivasse as reportagens fosse o desejo de informar e esclarecer os fatos.
O objetivo da imprensa parece ser provocar o segundo turno na eleição presidencial. O resto, ou seja, a apuração e o esclarecimento, ficam para depois, como aconteceu em 2002 e 2006. Ou para nunca.
Mas quais as chances de os grandes jornais e as revistas semanais de informação influenciarem a escolha de um número suficiente de eleitores?
Vejamos: o Brasil tem 135 milhões de cidadãos aptos a votar. Desse total, uma porcentagem desconhecida – predominante entre os menos educados – perderá o voto por causa da exigência de levar junto com o título de eleitor um documento com fotografia e pela complexidade do processo.
Os grandes jornais são lidos por cerca de 1,5 milhão de pessoas diariamente, ou seja, pouco mais de 1% do eleitorado. Com mais 2 milhões de leitores de revistas, esse total não chega a 3% dos que vão às urnas.
Para a maioria, que só se informa pela televisão, os telejornais são puro ruído — a não ser nos casos em que a notícia pode ser vista.
Aguarde-se, portanto, para os próximos dias, alguma cena de mala com dinheiro, dinheiro na cueca — ou na calcinha, coisa do gênero.
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Baixarias: restam duas capas da Veja
Reproduzo matéria publicada do sítio Carta Maior:
A coalizão demotucana e seu dispositivo midiático atiram-se com sofreguidão em qualquer ‘língua negra’ que desponte no solo ressequido da semeadura eleitoral demotucana.
Como tem anunciado todos os seus colunistas de forma mais ou menos desabrida, às vezes escancarada, a exemplo de Fernando Rodrigues, da Folha, há uma ‘encomenda’ em licitação aberta no mercado de compras do denuncismo lacerdista: “…é necessário um escândalo de octanagem altíssima (com fotos e vídeos de dinheiro) …”, especificou o jornalista em seu blog do dia 14-09.
Na ausencia de oferta equivalente, usa-se por enquanto o que aparecer. Apareceu um ‘empresário’ indignado com supostas práticas de lobby, segundo ele, encasteladas na engrenagem da Casa Civil do governo, comandada pela agora ex-ministra Erenice Guerra.
A Folha elevou-o à condição de paladino da honestidade. Esponjou-se no material pegajoso derramado da obscura tubulação. Claro, há o Manual de Redação, sobretudo as aparências de uma redação. Muito lateralmente, então, informa-se na ‘reportagem-derruba Dilma’ que a fonte da indignação cívica que adiciona um novo tempero à mesmice do cardápio diário apregoado pelos Frias inclui em sua folha corrida o envolvimento comprovado com roubo de carga, falsificação de notas de cinquenta reais e crime de coação, não detalhado. Há pouco tempo e espaço para detalhes. Nem o mínimo cuidado com a averiguação de valores se observa.
O escroque que já cumpriu pena de 10 meses de cadeia, lambuzou a Folha com cifras suculentas e isso era o bastante: a negociata envolveria a ‘facilitação’ para um empréstimo de R$ 9 bilhões junto ao BNDES , desde que em contrapartida fossem desviados quase R$ 500 milhões a intermediários de uma cadeia supostamente iniciada com parentes ou subalternos da ministra Erenice Guerra para desembocar em caixas de campanha de candidatos do governo.
Se a sofreguidão da Folha fosse menor, o jornalista, quem sabe seu editor, quiça o próprio diretor do jornal teriam tido a cautela de verificar a existência no BNDES de projeto e valores mencionados, já que o acepipe oferecido pelo ladrão de carga de tempero remetia à liberação de financiamento barrado na instituição. Se tal fosse a prática, o leitor teria a oportunidade de saber, em primeiro lugar, que os valores relatados são absurdos (equivalem a meia usina de Belo Monte para fornecer 6% da energia que ela prevê); ademais, há discrepância de cifras entre o relato do meliante e o projeto que deu entrada no BNDES, cujo corpo técnico jamais o aprovaria. Diz a nota do banco divulgada 5º feira,”[o referido projeto]…foi encaminhado por meio de carta-consulta, solicitando R$ 2,25 bilhões (e não R$ 9 bilhões como afirma a reportagem) para a construção de um parque de energia solar”.
O BNDES considerou que o montante solicitado era incompatível com o porte da referida empresa. Vetou a solicitação. Naturalmente, isso comprometeria um pouco a ‘octanagem’ da manchete de seis colunas com duas linhas bombásticas saídas da sinergia estabelecida entre a Folha e um ladrão de carga de condimento. Não há tempo para minúcias. Restam apenas duas capas de Veja para detonar a vantagem de Dilma e tentar uma sobrevida que leve Serra ao 2º turno. Essa é a lógica do que vem por aí.
A esposa do candidato, Monica Serra, já diz em campanha de rua que “ela [Dilma] quer matar as criancinhas”. Nas redações circulam rumores de que o comando demotucano estaria interessado em depoimentos de parentes de militares mortos em confrontos com grupos da esquerda armada, nos anos 70. Em especial se houver, ao menos, leve insinuação de suposto comprometimento de Dilma Rousseff.
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A coalizão demotucana e seu dispositivo midiático atiram-se com sofreguidão em qualquer ‘língua negra’ que desponte no solo ressequido da semeadura eleitoral demotucana.
Como tem anunciado todos os seus colunistas de forma mais ou menos desabrida, às vezes escancarada, a exemplo de Fernando Rodrigues, da Folha, há uma ‘encomenda’ em licitação aberta no mercado de compras do denuncismo lacerdista: “…é necessário um escândalo de octanagem altíssima (com fotos e vídeos de dinheiro) …”, especificou o jornalista em seu blog do dia 14-09.
Na ausencia de oferta equivalente, usa-se por enquanto o que aparecer. Apareceu um ‘empresário’ indignado com supostas práticas de lobby, segundo ele, encasteladas na engrenagem da Casa Civil do governo, comandada pela agora ex-ministra Erenice Guerra.
A Folha elevou-o à condição de paladino da honestidade. Esponjou-se no material pegajoso derramado da obscura tubulação. Claro, há o Manual de Redação, sobretudo as aparências de uma redação. Muito lateralmente, então, informa-se na ‘reportagem-derruba Dilma’ que a fonte da indignação cívica que adiciona um novo tempero à mesmice do cardápio diário apregoado pelos Frias inclui em sua folha corrida o envolvimento comprovado com roubo de carga, falsificação de notas de cinquenta reais e crime de coação, não detalhado. Há pouco tempo e espaço para detalhes. Nem o mínimo cuidado com a averiguação de valores se observa.
O escroque que já cumpriu pena de 10 meses de cadeia, lambuzou a Folha com cifras suculentas e isso era o bastante: a negociata envolveria a ‘facilitação’ para um empréstimo de R$ 9 bilhões junto ao BNDES , desde que em contrapartida fossem desviados quase R$ 500 milhões a intermediários de uma cadeia supostamente iniciada com parentes ou subalternos da ministra Erenice Guerra para desembocar em caixas de campanha de candidatos do governo.
Se a sofreguidão da Folha fosse menor, o jornalista, quem sabe seu editor, quiça o próprio diretor do jornal teriam tido a cautela de verificar a existência no BNDES de projeto e valores mencionados, já que o acepipe oferecido pelo ladrão de carga de tempero remetia à liberação de financiamento barrado na instituição. Se tal fosse a prática, o leitor teria a oportunidade de saber, em primeiro lugar, que os valores relatados são absurdos (equivalem a meia usina de Belo Monte para fornecer 6% da energia que ela prevê); ademais, há discrepância de cifras entre o relato do meliante e o projeto que deu entrada no BNDES, cujo corpo técnico jamais o aprovaria. Diz a nota do banco divulgada 5º feira,”[o referido projeto]…foi encaminhado por meio de carta-consulta, solicitando R$ 2,25 bilhões (e não R$ 9 bilhões como afirma a reportagem) para a construção de um parque de energia solar”.
O BNDES considerou que o montante solicitado era incompatível com o porte da referida empresa. Vetou a solicitação. Naturalmente, isso comprometeria um pouco a ‘octanagem’ da manchete de seis colunas com duas linhas bombásticas saídas da sinergia estabelecida entre a Folha e um ladrão de carga de condimento. Não há tempo para minúcias. Restam apenas duas capas de Veja para detonar a vantagem de Dilma e tentar uma sobrevida que leve Serra ao 2º turno. Essa é a lógica do que vem por aí.
A esposa do candidato, Monica Serra, já diz em campanha de rua que “ela [Dilma] quer matar as criancinhas”. Nas redações circulam rumores de que o comando demotucano estaria interessado em depoimentos de parentes de militares mortos em confrontos com grupos da esquerda armada, nos anos 70. Em especial se houver, ao menos, leve insinuação de suposto comprometimento de Dilma Rousseff.
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O papel dos jornalistas tucanos
Reproduzo artigo de Marcos Coimbra, presidente do Instituto Vox Populi, publicado na revista CartaCapital:
Quando, no futuro, for escrita a crônica das eleições de 2010, procurando entender o desfecho que hoje parece mais provável, um capítulo terá de ser dedicado ao papel que nelas tiveram os jornalistas tucanos.
Foram muitas as causas que concorreram para provocar o resultado destas eleições. Algumas são internas aos partidos oposicionistas, suas lideranças, seu estilo de fazer política. É bem possível que se saíssem melhor se tivessem se renovado, mudado de comportamento. Se tivessem permitido que novos quadros assumissem o lugar dos antigos.
Por motivos difíceis de entender, as oposições aceitaram que sua velha elite determinasse o caminho que seguiriam na sucessão de Lula. Ao fazê-lo, concordaram em continuar com a cara que tinham em 2002, mostrando-se ao País como algo que permanecera no mesmo lugar, enquanto tudo mudara. A sociedade era outra, a economia tinha ficado diferente, o mundo estava modificado. Lula e o PT haviam se transformado. Só o que se mantinha intocada era a oposição brasileira: as mesmas pessoas, o mesmo discurso, o mesmo ar perplexo de quem não entende por que não está no poder.
Em nenhum momento isso ficou tão claro quanto na opção de conceder a José Serra uma espécie de direito natural à candidatura presidencial (e todo o tempo do mundo para que confirmasse se a desejava). Depois, para que resolvesse quando começaria a fazer campanha. Não se discutiu o que era melhor para os partidos, seus militantes, as pessoas que concordam com eles na sociedade. Deram-lhe um cheque em branco e deixaram a decisão em suas mãos, tornando-a uma questão de foro íntimo: ser ou não ser (candidato)?
Mas, por mais que as oposições tivessem sido capazes de se renovar, por mais que houvessem conseguido se libertar de lideranças ultrapassadas, a principal causa do resultado que devemos ter é externa. Seu adversário se mostrou tão superior que lhes deu um passeio.
Olhando-a da perspectiva de hoje, a habilidade de Lula na montagem do quadro eleitoral de 2010 só pode ser admirada. Fez tudo certo de seu lado e conseguiu antecipar com competência o que seus oponentes fariam. Ele se parece com um personagem de histórias infantis: construiu uma armadilha e conduziu os ingênuos carneirinhos (que continuavam a se achar muito espertos) a cair nela.
Se tivesse feito, nos últimos anos, um governo apenas sofrível, sua destreza já seria suficiente para colocá-lo em vantagem. Com o respaldo de um governo quase unanimemente aprovado, com indicadores de performance muito superiores aos de seus antecessores, a chance de que fizesse sua sucessora sempre foi altíssima, ainda que as oposições viessem com o que tinham de melhor.
Entre os erros que elas cometeram e os acertos de Lula, muito se explica do que vamos ter em 3 de outubro. Mas há uma parte da explicação que merece destaque: o quanto os jornalistas tucanos contribuíram para que isso ocorresse.
Foram eles que mais estimularam a noção de que Serra era o verdadeiro nome das oposições para disputar com Dilma Rousseff. Não apenas os jornalistas profissionais, mas também os intelectuais que os jornais recrutam para dar mais “amplitude” às suas análises e cobertura.
Não há ninguém tão dependente da opinião do jornalista tucano quanto o político tucano. Parece que acorda de manhã ansioso para saber o que colunistas e comentaristas tucanos (ou que, simplesmente, não gostam de Lula e do governo) escreveram. Sabe-se lá o motivo, os tucanos da política acham que os tucanos da imprensa são ótimos analistas. São, provavelmente, os únicos que acham isso.
Enquanto os bons políticos tucanos (especialmente os mais jovens) viam com clareza o abismo se abrir à sua frente, essa turma empurrava as oposições ladeira abaixo. Do alto de sua incapacidade de entender o eleitor, ela supunha que Serra estava fadado à vitória.
Quem acompanhou a cobertura que a “grande imprensa” fez destas eleições viu, do fim de 2009 até agora, uma sucessão de análises erradas, hipóteses furadas, teses sem pé nem cabeça. Todas inventadas para justificar o “favoritismo” de Serra, que só existia no desejo de quem as elaborava.
Se não fossem tão ineptas, essas pessoas poderiam, talvez, ter impulsionado as oposições na direção de projetos menos equivocados. Se não fossem tão arrogantes, teriam, quem sabe, poupado seus amigos políticos do fracasso quase inevitável que os espera.
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Quando, no futuro, for escrita a crônica das eleições de 2010, procurando entender o desfecho que hoje parece mais provável, um capítulo terá de ser dedicado ao papel que nelas tiveram os jornalistas tucanos.
Foram muitas as causas que concorreram para provocar o resultado destas eleições. Algumas são internas aos partidos oposicionistas, suas lideranças, seu estilo de fazer política. É bem possível que se saíssem melhor se tivessem se renovado, mudado de comportamento. Se tivessem permitido que novos quadros assumissem o lugar dos antigos.
Por motivos difíceis de entender, as oposições aceitaram que sua velha elite determinasse o caminho que seguiriam na sucessão de Lula. Ao fazê-lo, concordaram em continuar com a cara que tinham em 2002, mostrando-se ao País como algo que permanecera no mesmo lugar, enquanto tudo mudara. A sociedade era outra, a economia tinha ficado diferente, o mundo estava modificado. Lula e o PT haviam se transformado. Só o que se mantinha intocada era a oposição brasileira: as mesmas pessoas, o mesmo discurso, o mesmo ar perplexo de quem não entende por que não está no poder.
Em nenhum momento isso ficou tão claro quanto na opção de conceder a José Serra uma espécie de direito natural à candidatura presidencial (e todo o tempo do mundo para que confirmasse se a desejava). Depois, para que resolvesse quando começaria a fazer campanha. Não se discutiu o que era melhor para os partidos, seus militantes, as pessoas que concordam com eles na sociedade. Deram-lhe um cheque em branco e deixaram a decisão em suas mãos, tornando-a uma questão de foro íntimo: ser ou não ser (candidato)?
Mas, por mais que as oposições tivessem sido capazes de se renovar, por mais que houvessem conseguido se libertar de lideranças ultrapassadas, a principal causa do resultado que devemos ter é externa. Seu adversário se mostrou tão superior que lhes deu um passeio.
Olhando-a da perspectiva de hoje, a habilidade de Lula na montagem do quadro eleitoral de 2010 só pode ser admirada. Fez tudo certo de seu lado e conseguiu antecipar com competência o que seus oponentes fariam. Ele se parece com um personagem de histórias infantis: construiu uma armadilha e conduziu os ingênuos carneirinhos (que continuavam a se achar muito espertos) a cair nela.
Se tivesse feito, nos últimos anos, um governo apenas sofrível, sua destreza já seria suficiente para colocá-lo em vantagem. Com o respaldo de um governo quase unanimemente aprovado, com indicadores de performance muito superiores aos de seus antecessores, a chance de que fizesse sua sucessora sempre foi altíssima, ainda que as oposições viessem com o que tinham de melhor.
Entre os erros que elas cometeram e os acertos de Lula, muito se explica do que vamos ter em 3 de outubro. Mas há uma parte da explicação que merece destaque: o quanto os jornalistas tucanos contribuíram para que isso ocorresse.
Foram eles que mais estimularam a noção de que Serra era o verdadeiro nome das oposições para disputar com Dilma Rousseff. Não apenas os jornalistas profissionais, mas também os intelectuais que os jornais recrutam para dar mais “amplitude” às suas análises e cobertura.
Não há ninguém tão dependente da opinião do jornalista tucano quanto o político tucano. Parece que acorda de manhã ansioso para saber o que colunistas e comentaristas tucanos (ou que, simplesmente, não gostam de Lula e do governo) escreveram. Sabe-se lá o motivo, os tucanos da política acham que os tucanos da imprensa são ótimos analistas. São, provavelmente, os únicos que acham isso.
Enquanto os bons políticos tucanos (especialmente os mais jovens) viam com clareza o abismo se abrir à sua frente, essa turma empurrava as oposições ladeira abaixo. Do alto de sua incapacidade de entender o eleitor, ela supunha que Serra estava fadado à vitória.
Quem acompanhou a cobertura que a “grande imprensa” fez destas eleições viu, do fim de 2009 até agora, uma sucessão de análises erradas, hipóteses furadas, teses sem pé nem cabeça. Todas inventadas para justificar o “favoritismo” de Serra, que só existia no desejo de quem as elaborava.
Se não fossem tão ineptas, essas pessoas poderiam, talvez, ter impulsionado as oposições na direção de projetos menos equivocados. Se não fossem tão arrogantes, teriam, quem sabe, poupado seus amigos políticos do fracasso quase inevitável que os espera.
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O caso do sigilo fiscal e o “bebê-diabo”
Reproduzo artigo de Hideyo Saito, publicado no sítio Carta Maior:
A acusação de que o comitê de Dilma Rousseff teria violado o sigilo fiscal de um grupo de pessoas ligadas ao PSDB e a seu candidato presidencial, José Serra, saiu das manchetes coincidentemente depois de confirmado que não está arranhando o favoritismo da petista, após feroz campanha que ocupou as manchetes da mídia oligopólica durante mais de três semanas. Nesse período, o assunto foi martelado diariamente, com manchetes anunciando supostos “desdobramentos” do caso, que, entretanto, não trouxeram qualquer prova da ligação dos fatos alegados com a coligação petista. Em 2 de setembro, aliás, o corregedor eleitoral do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Aldir Passarinho Junior, já havia arquivado uma representação demotucana, que pedia nada menos que a cassação da candidatura Dilma, justamente por falta de provas. Mesmo assim a campanha da mídia – em dobradinha com a propaganda eleitoral do candidato tucano – prosseguiu, imperturbável.
A maior evidência de que se tratava de um factóide eleitoral de péssima fatura é que não houve qualquer uso de informações fiscais das supostas vítimas na campanha de Dilma ou de seus aliados. Aliás, a denúncia ganharia alguma verossimilhança se essa candidata estivesse desesperada por causa de pesquisas eleitorais desfavoráveis. Outro importante detalhe é que, como já lembrado, os fatos apontados remontam a setembro de 2009, quando Serra se engalfinhava com seu companheiro de partido, Aécio Neves, na disputa pela candidatura tucana. Naqueles dias, surgiram falatórios sobre o jogo pesado que ambos os lados estavam protagonizando.
Mesmo a ilação, surgida a partir do episódio, de que a Receita Federal está “aparelhada” pelo PT dificilmente se encaixa com as denúncias. Ora, se isso é verdade por que o partido teria de apelar a um obscuro contador para solicitar, mediante uma procuração falsa, as informações desejadas? Recordemos que os operadores tucanos, quando manobraram para colocar a Previ a favor de Daniel Dantas na privatização das empresas de telecomunicações, não se valeram de recursos tão toscos. Tinham o controle do Banco do Brasil e dispensaram intermediários de baixo calibre (1).
O fato é que o assunto subitamente saiu das manchetes, substituído por outro. O jornal eletrônico “Brasília Confidencial” de 10 de setembro, em editorial intitulado “Monstruosa armação”, registrou que a própria “Folha de S. Paulo”, na edição do dia imediatamente anterior, teve de desmentir as acusações. Diz o editorial: “A Folha confessa, em texto sem assinatura, produzido pela sucursal de Brasília: o comitê de Dilma não produziu um dossiê; apenas teve acesso a um dossiê feito pelo PT de São Paulo há cinco anos. Trata-se, na verdade, de uma papelada de cem páginas escrita pelo partido para solicitar que o Ministério Público e a Procuradoria da República investigassem possíveis irregularidades em privatizações tucanas, que poderiam ter beneficiado José Serra, sua filha e seu genro”. Mesmo assim, constata, “a Folha não se retrata: limita-se a noticiar ‘naturalmente’ que mentiu”. (2)
O leitor atento poderia legitimamente questionar esse sumiço repentino da notícia: afinal, não diziam que se tratava de um fato capaz de por em cheque até mesmo a democracia brasileira? A oposição, incluída aí toda a grande imprensa e seus jornalistas mais subservientes, gastou toneladas de papel para alardear uma ameaça de mexicanização e o avanço do totalitarismo no Brasil. É legítimo questionar como um assunto tão transcendental desaparece das manchetes de uma hora para outra. Mas foi exatamente assim, sem qualquer cerimônia, que o assunto ficou relegado às páginas internas.
O “bebê-diabo” que infernizou São Paulo
A mídia oligopólica, definitivamente, mandou às favas qualquer compromisso com a verdade, com a ética e com os mais comezinhos princípios do jornalismo. A sucessão diária de manchetes vazias desse caso lembra um lamentável precedente, clássico do jornalismo marrom, criado pelo hoje extinto jornal “Notícias Populares”, também do grupo Folha (ora, ora, eles têm tradição no ramo!). Trata-se da farsa anunciada em manchete da edição de 10 de maio de 1975: “Nasceu o diabo em São Paulo”. O jornalista Edward de Souza assinou involuntariamente a primeira matéria, que resultou de completa distorção do que havia sido efetivamente apurado na rua. O mais incrível é que a mentira foi sustentada durante quase um mês, em seguidas manchetes.
Tudo começou, segundo ele, quando o editor do jornal o escalou para averiguar um boato segundo o qual, em São Bernardo do Campo, havia nascido uma criança estranha, com chifres e até rabo. Os médicos do hospital esclareceram, entretanto, que se tratava apenas de um bebê com malformação, que apresentava “um prolongamento no cóccix e duas pequenas saliências na testa”. O problema foi eliminado por uma cirurgia simples realizada na própria maternidade. “Escrevi o relato – prossegue o jornalista – sem nenhum sensacionalismo, em texto de 30 linhas. No domingo pela manhã vi o jornal com a manchete forçada e a minha assinatura. Fiquei apavorado, temendo processo e demissão por justa causa.” (3)
O texto da notícia tinha trechos completamente inventados, como este, de abertura: “Durante um parto incrivelmente fantástico e cheio de mistérios, correria e pânico por parte de enfermeiros e médicos, uma senhora deu a luz num hospital de São Bernardo do Campo, a uma estranha criatura, com aparência sobrenatural, que tem todas as características do diabo, em carne e osso. O bebezinho, que já nasceu falando e ameaçou sua mãe de morte, tem o corpo totalmente cheio de pelos, dois chifres pontiagudos na cabeça e um rabo de aproximadamente cinco centímetros, além do olhar feroz, que causa medo e arrepios”.
O repórter conta que, longe de ser demitido, foi elogiado pelo presidente do grupo Folha, Octavio Frias de Oliveira, que o chamou a seu gabinete. Ele determinou ainda que a matéria deveria ter continuidade. Foram ao todo 27 “reportagens”, que ajudaram a elevar a tiragem do jornal de 80 mil para 200 mil exemplares diários, de acordo com Souza. Algumas das mirabolantes manchetes da série: “Bebê-diabo inferniza padre no ABC”; “Nós vimos o bebê-diabo”; “Feiticeiro irá ao ABC expulsar bebê-diabo”; “Viu bebê-diabo e ficou louca”; “Santo previu bebê-diabo”; “Fazendeiro é o pai do bebê-diabo” e “Bebê-diabo foge para o nordeste”. O ponto alto foi alcançado no dia em que o jornal “informou” que o bebê-diabo tomou um taxi e assustou o motorista quando ordenou: “Toca para o inferno”. Mas assim que o assunto começou a cansar, o jornal anunciou a fuga do seu incrível personagem. E a notícia saiu das capas do jornal de uma hora para outra, como aconteceu com o caso do sigilo fiscal.
Ambas as fraudes são similares, pois visam em essência enganar o leitor. O objetivo do “Notícias Populares” foi meramente o de ganhar dinheiro com a mistificação, que foi então desdenhosamente ignorada pelo resto da imprensa. Já a tentativa de induzir em erro os leitores atuais, atribuindo (explícita ou implicitamente) a responsabilidade pelas quebras do sigilo fiscal à candidata Dilma Rousseff, foi encampada pelo conjunto da mídia dominante (dizem que com a isolada – e significativa – exceção dos grandes jornais de Belo Horizonte) por ideologia. A imprensa transformou-se em defensora de uma candidatura que representa melhor os seus interesses – mas o faz fraudulentamente, como se não fosse parte visceralmente interessada na disputa eleitoral. E a primeira vítima dessa postura, como sempre, é a verdade.
NOTAS
1- Segundo gravações de conversas telefônicas dos responsáveis pelo caso, que vieram à tona na ocasião, cogitou-se até envolver o “chefe” (isto é, o então presidente FHC) na negociata.
2- Brasília Confidencial. Monstruosa armação. Brasília, 10/09/2010. Ver no endereço http://www.brasiliaconfidencial.inf.br/?p=21097.
3- O depoimento do jornalista foi retirado de http://www.brasilwiki.com.br/noticia.php?id_noticia=5903.
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A acusação de que o comitê de Dilma Rousseff teria violado o sigilo fiscal de um grupo de pessoas ligadas ao PSDB e a seu candidato presidencial, José Serra, saiu das manchetes coincidentemente depois de confirmado que não está arranhando o favoritismo da petista, após feroz campanha que ocupou as manchetes da mídia oligopólica durante mais de três semanas. Nesse período, o assunto foi martelado diariamente, com manchetes anunciando supostos “desdobramentos” do caso, que, entretanto, não trouxeram qualquer prova da ligação dos fatos alegados com a coligação petista. Em 2 de setembro, aliás, o corregedor eleitoral do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Aldir Passarinho Junior, já havia arquivado uma representação demotucana, que pedia nada menos que a cassação da candidatura Dilma, justamente por falta de provas. Mesmo assim a campanha da mídia – em dobradinha com a propaganda eleitoral do candidato tucano – prosseguiu, imperturbável.
A maior evidência de que se tratava de um factóide eleitoral de péssima fatura é que não houve qualquer uso de informações fiscais das supostas vítimas na campanha de Dilma ou de seus aliados. Aliás, a denúncia ganharia alguma verossimilhança se essa candidata estivesse desesperada por causa de pesquisas eleitorais desfavoráveis. Outro importante detalhe é que, como já lembrado, os fatos apontados remontam a setembro de 2009, quando Serra se engalfinhava com seu companheiro de partido, Aécio Neves, na disputa pela candidatura tucana. Naqueles dias, surgiram falatórios sobre o jogo pesado que ambos os lados estavam protagonizando.
Mesmo a ilação, surgida a partir do episódio, de que a Receita Federal está “aparelhada” pelo PT dificilmente se encaixa com as denúncias. Ora, se isso é verdade por que o partido teria de apelar a um obscuro contador para solicitar, mediante uma procuração falsa, as informações desejadas? Recordemos que os operadores tucanos, quando manobraram para colocar a Previ a favor de Daniel Dantas na privatização das empresas de telecomunicações, não se valeram de recursos tão toscos. Tinham o controle do Banco do Brasil e dispensaram intermediários de baixo calibre (1).
O fato é que o assunto subitamente saiu das manchetes, substituído por outro. O jornal eletrônico “Brasília Confidencial” de 10 de setembro, em editorial intitulado “Monstruosa armação”, registrou que a própria “Folha de S. Paulo”, na edição do dia imediatamente anterior, teve de desmentir as acusações. Diz o editorial: “A Folha confessa, em texto sem assinatura, produzido pela sucursal de Brasília: o comitê de Dilma não produziu um dossiê; apenas teve acesso a um dossiê feito pelo PT de São Paulo há cinco anos. Trata-se, na verdade, de uma papelada de cem páginas escrita pelo partido para solicitar que o Ministério Público e a Procuradoria da República investigassem possíveis irregularidades em privatizações tucanas, que poderiam ter beneficiado José Serra, sua filha e seu genro”. Mesmo assim, constata, “a Folha não se retrata: limita-se a noticiar ‘naturalmente’ que mentiu”. (2)
O leitor atento poderia legitimamente questionar esse sumiço repentino da notícia: afinal, não diziam que se tratava de um fato capaz de por em cheque até mesmo a democracia brasileira? A oposição, incluída aí toda a grande imprensa e seus jornalistas mais subservientes, gastou toneladas de papel para alardear uma ameaça de mexicanização e o avanço do totalitarismo no Brasil. É legítimo questionar como um assunto tão transcendental desaparece das manchetes de uma hora para outra. Mas foi exatamente assim, sem qualquer cerimônia, que o assunto ficou relegado às páginas internas.
O “bebê-diabo” que infernizou São Paulo
A mídia oligopólica, definitivamente, mandou às favas qualquer compromisso com a verdade, com a ética e com os mais comezinhos princípios do jornalismo. A sucessão diária de manchetes vazias desse caso lembra um lamentável precedente, clássico do jornalismo marrom, criado pelo hoje extinto jornal “Notícias Populares”, também do grupo Folha (ora, ora, eles têm tradição no ramo!). Trata-se da farsa anunciada em manchete da edição de 10 de maio de 1975: “Nasceu o diabo em São Paulo”. O jornalista Edward de Souza assinou involuntariamente a primeira matéria, que resultou de completa distorção do que havia sido efetivamente apurado na rua. O mais incrível é que a mentira foi sustentada durante quase um mês, em seguidas manchetes.
Tudo começou, segundo ele, quando o editor do jornal o escalou para averiguar um boato segundo o qual, em São Bernardo do Campo, havia nascido uma criança estranha, com chifres e até rabo. Os médicos do hospital esclareceram, entretanto, que se tratava apenas de um bebê com malformação, que apresentava “um prolongamento no cóccix e duas pequenas saliências na testa”. O problema foi eliminado por uma cirurgia simples realizada na própria maternidade. “Escrevi o relato – prossegue o jornalista – sem nenhum sensacionalismo, em texto de 30 linhas. No domingo pela manhã vi o jornal com a manchete forçada e a minha assinatura. Fiquei apavorado, temendo processo e demissão por justa causa.” (3)
O texto da notícia tinha trechos completamente inventados, como este, de abertura: “Durante um parto incrivelmente fantástico e cheio de mistérios, correria e pânico por parte de enfermeiros e médicos, uma senhora deu a luz num hospital de São Bernardo do Campo, a uma estranha criatura, com aparência sobrenatural, que tem todas as características do diabo, em carne e osso. O bebezinho, que já nasceu falando e ameaçou sua mãe de morte, tem o corpo totalmente cheio de pelos, dois chifres pontiagudos na cabeça e um rabo de aproximadamente cinco centímetros, além do olhar feroz, que causa medo e arrepios”.
O repórter conta que, longe de ser demitido, foi elogiado pelo presidente do grupo Folha, Octavio Frias de Oliveira, que o chamou a seu gabinete. Ele determinou ainda que a matéria deveria ter continuidade. Foram ao todo 27 “reportagens”, que ajudaram a elevar a tiragem do jornal de 80 mil para 200 mil exemplares diários, de acordo com Souza. Algumas das mirabolantes manchetes da série: “Bebê-diabo inferniza padre no ABC”; “Nós vimos o bebê-diabo”; “Feiticeiro irá ao ABC expulsar bebê-diabo”; “Viu bebê-diabo e ficou louca”; “Santo previu bebê-diabo”; “Fazendeiro é o pai do bebê-diabo” e “Bebê-diabo foge para o nordeste”. O ponto alto foi alcançado no dia em que o jornal “informou” que o bebê-diabo tomou um taxi e assustou o motorista quando ordenou: “Toca para o inferno”. Mas assim que o assunto começou a cansar, o jornal anunciou a fuga do seu incrível personagem. E a notícia saiu das capas do jornal de uma hora para outra, como aconteceu com o caso do sigilo fiscal.
Ambas as fraudes são similares, pois visam em essência enganar o leitor. O objetivo do “Notícias Populares” foi meramente o de ganhar dinheiro com a mistificação, que foi então desdenhosamente ignorada pelo resto da imprensa. Já a tentativa de induzir em erro os leitores atuais, atribuindo (explícita ou implicitamente) a responsabilidade pelas quebras do sigilo fiscal à candidata Dilma Rousseff, foi encampada pelo conjunto da mídia dominante (dizem que com a isolada – e significativa – exceção dos grandes jornais de Belo Horizonte) por ideologia. A imprensa transformou-se em defensora de uma candidatura que representa melhor os seus interesses – mas o faz fraudulentamente, como se não fosse parte visceralmente interessada na disputa eleitoral. E a primeira vítima dessa postura, como sempre, é a verdade.
NOTAS
1- Segundo gravações de conversas telefônicas dos responsáveis pelo caso, que vieram à tona na ocasião, cogitou-se até envolver o “chefe” (isto é, o então presidente FHC) na negociata.
2- Brasília Confidencial. Monstruosa armação. Brasília, 10/09/2010. Ver no endereço http://www.brasiliaconfidencial.inf.br/?p=21097.
3- O depoimento do jornalista foi retirado de http://www.brasilwiki.com.br/noticia.php?id_noticia=5903.
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