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Bolsa do Peru fechou ontem com queda de 12,5% |
Por Jacqueline Fowks, no sítio Opera Mundi:
Com a vitória do nacionalista Ollanta Humala praticamente assegurada na eleição presidencial peruana, segundo informa o ONPE (Escritório Nacional de Processos Eleitorais), o setor empresarial local já demonstra ansiedade com os novos rumos políticos do país.
Analistas políticos e empresários consultados pelo Opera Mundi, entre eles Humberto Speziani, presidente da Confiep (Confederação Nacional de Instituições Empresariais Privadas, em português), cobram rapidez em anúncios oficiais que sinalizem que o próximo governo optará por uma condução política de conciliação nacional. Segundo eles, o Peru não vive um momento de crise que permita mudanças radicais. Nesta segunda-feira, a Bolsa de Valores de Lima iniciou seus trabalhos registrando uma forte queda de 8,71% e chegou a suspender as operações.
Até as 15h40 desta segunda-feira (06/06), com 91,6% dos votos computados, o candidato nacionalista vencia com uma diferença de 2,7% à frente da rival Keiko Fujimori – ainda restam ser apuradas regiões onde Humala tem preferência eleitoral, segundo o ONPE. Humala já se declarou vencedor. Keiko anunciou aguardar até o último momento para admitir a derrota.
“Se Humala der sinais claros de conciliação e moderação, o setor empresarial vai se sentar para negociar com ele. Há muito espaço para negociar. O setor mineiro está disposto a pagar um imposto sobre o lucro das empresas mineradoras. Há dinheiro suficiente para ganhar”, disse ao Opera Mundi Steve Levitsky, professor de ciência política em Harvard e especialista no período de governo de Alberto Fujimori, o qual define como “autoritarismo competitivo”.
Levitsky afirmou, no entanto, que a conciliação política poderia ser um pouco mais difícil do que a econômica. Para ele, se o novo governo demonstrar disposição de formar alianças, “vários partidos políticos de centro-direita estarão dispostos a sentar-se com ele”, aposta.
Segundo o cientista político, “não há condições de que o país siga para uma mudança radical, o que acontece em momentos de crise – como no próprio Peru em 1990 ou na Venezuela em 1998. Aqui há muito descontentamento, mas não há base política ou social para isto”, afirma.
Levitsky observa a existência de condições favoráveis para que o líder da Ganha Peru possa cumprir suas promessas eleitorais. “Há dinheiro para fazer um forte investimento no lado social, algo parecido ao que Lula fez no Brasil. [A situação] é diferente de 20 anos atrás. Mas não se pode repetir facilmente [a experiência] do Brasil, ainda que [Humala] quisesse, pois não há um partido como o PT. O Estado é muito mais fraco; Humala não tem muita formação política; sua equipe não tem experiência; não há partidos fortes. Será um governo de novatos, sem partido político e com um Estado que não funciona bem. Isso torna mais complicado o caminho, se comparado com Lula. Mas os recursos estão no caminho da inclusão social”.
Por sua vez, Speziani, que atua no setor pesqueiro, declarou que o empresariado peruano espera “respeito ao investimento privado, nacional e estrangeiro. Eles estão preocupados em relação aos contratos assinados pelo Estado, em particular aos de concessão”.
Segundo o líder empresarial, “se [Humala] fizer um governo parecido com o de Lula ou com o da esquerda chilena, é evidente que os empresários vão se sentir muito mais tranqüilos. Isso é o que esperamos. O Peru cresceu 8,8% no ano passado. Para baixar e eliminar a extrema pobreza, é preciso investimento peruano e estrangeiro. [O presidente] precisa nos dar tranquilidade para investir e gerar empregos”, acrescentou Speziani.
Speziani indicou que, na semana passada, recebeu seis visitas ou ligações de estrangeiros que se diziam preocupados – especialmente nos setores de mineração e hidrocarbonetos.
"Há nervosismo na bolsa, é preciso aquietá-la. Algumas medidas que Humala poderia tomar seriam a nomeação do ministro da Economia, do primeiro-ministro e do presidente do Banco Central", pediu. “Quando alguém fala em mudança de regras ou modelo e isso resultar em maior inclusão social, então está bem”, afirmou Speziani.
Já o sociólogo e analista político Santiago Pedraglio afirmou que o desafio principal de Humala será conseguir “um primeiro gabinete que expresse uma combinação de sua proposta original: distribuição [de renda]; maior justiça social; papel regulador do Estado. Com a amplitude de alianças que se requer para governar o país”. Pedraglio lembra que o candidato da Ganha Peru “obteve maioria no segundo turno, mas com as forças econômicas principais contra ele”.
Diferente de Speziani, Santiago Pedraglio sustenta que Humala não pode governar olhando apenas para os empresários. "São um componente fundamental. Mas se ele se subordinar, vai terminar com um modelo parecido com o de Alan García, o da continuidade. E esta não foi a opção [dos peruanos]. Ele deve fazer o que García prometeu e não fez: a mudança responsável. E também anunciar a nomeação do premiê ou da premiê, dar uma resposta política primeiro".
César Alarcón, vendedor de jornais no distrito de San Isidro, explicou ao Opera Mundi por que votou em Ollanta Humala. "Eu, como todos os peruanos, estamos cansados de ser considerados apenas pessoas que estão aqui para servir e eles [que estão no poder] acreditam que nos resumimos a isso. Investidores estrangeiros colocam capital, obviamente. Mas não acredito que mereçam levar tanto dinheiro, a repartição de riquezas deveria ser mais justa. Acredito que Ollanta vai ser um pouco mais rígido".
"Nenhum governo militar foi bom. Ollanta foi militar, mas acredito que agora é um cidadão como qualquer outro. Talvez deva muitos favores ao senhor [Hugo] Chávez. Haverá uma maneira de que Chávez cobre, mas não com o dinheiro do Peru", alertou o trabalhador peruano.