quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

O “orgulho hétero” de Eduardo Cunha

Por Altamiro Borges

O lobista Eduardo Cunha parece excitadíssimo no seu posto de novo presidente da Câmara Federal. A cada dia ele aparece com uma novidade. Em pleno feriado de Carnaval, ele anunciou que dará a presidência da estratégica Comissão de Finanças a um deputado tucano. Até a Folha estranhou a medida. “Depois de entregar o comando da reforma política ao DEM, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) decidiu oferecer a segunda comissão mais importante da Casa, a de Finanças e Tributação, ao PSDB. Com o aceno, ele contempla os dois partidos que lideram a oposição à presidente Dilma Rousseff e enfraquece ainda mais o PT, que ficou sem cadeira na Mesa Diretora da Casa e com menos influência nas comissões”. Com mais esta iniciativa intempestiva, o “peemedebista rebelde” vai confirmando os seus piores propósitos na direção do legislativo federal.

Além de preparar o terreno para um possível bote golpista, inclusive com a abertura do processo de impeachment contra a presidenta Dilma Rousseff, Eduardo Cunha acelera a guinada conservadora na Câmara Federal. Na semana passada, ele desengavetou vários projetos de caráter fundamentalista, principalmente contra as demandas dos movimentos feminista e gay. Como um dos principais líderes da bancada evangélica, ele já afirmou que não colocará em votação projetos favoráveis ao direito ao aborto e à união homoafetiva – “só ser for por cima do meu cadáver”, esbravejou em entrevista ao 'Estadão'. Como contraponto a estas propostas, ele autorizou a criação de uma comissão especial para discutir o projeto intitulado de “Estatuto da Família”, que define a família apenas como união entre homem e mulher e proíbe a adoção de crianças por casais gays.

Ele também desarquivou o risível projeto de sua autoria que cria o Dia do Orgulho Heterossexual, que passaria a ser comemorado no terceiro domingo de dezembro. A cômica proposta do “Dia do Orgulho Hétero” foi apresentada em 2011. Na ocasião, Eduardo Cunha alegou que ela visava “resguardar os direitos e garantias aos heterossexuais de se manifestarem e terem a prerrogativa de se orgulharem do mesmo e não serem discriminados”. Em outro trecho, o deputado se expunha totalmente ao ridículo. “No momento em que se discute preconceito contra homossexuais, acabam criando outro tipo de discriminação contra os heterossexuais e, além disso, o estímulo da ‘ideologia gay’ supera todo e qualquer combate ao preconceito”.

Motivo de galhofa em inúmeros eventos públicos, o projeto foi sumariamente arquivado. Agora, como presidente eleito da Câmara Federal, o orgulhoso hétero desengaveta a proposta – podendo transformar o parlamento brasileiro em motivo de galhofa internacional. Alguns dos seus fieis aliados – inclusive na mídia oposicionista – já se mostram assustados com a gula do ultraconservador. Como bem observou a blogueiro Luis Nassif, muita gente ainda vai se arrepender de ter apoiado o ambicioso lobista:

“Eduardo Cunha nunca teve moderação. Sempre foi um político alucinado para alcançar objetivos pouco dignificantes; e, de posse deles, se lambuzar em grandes lambanças. Seus primeiros dias na Câmara mostram isso. Desengavetamento da PEC da Bengala, do Orçamento Impositivo, a forçada de barra no projeto de reforma política de Cândido Vacarezza, o veto aos direitos das minorias, o desengavetamento do projeto de lei para o Dia do Orgulho Hétero. E, agora, a entrega de postos administrativos da casa para aliados. Elas são a comprovação de que, mesmo tendo quebrado a cara em vários cargos pelos quais passou, não conseguiu até hoje conter a gula. Vai se perder pela gula”.

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