Por Camila Queiroz, no sítio da Adital:
Abordagem sobre mulheres na política focada majoritariamente na disputa presidencial de 2010, violência contra as mulheres reduzida a caso de polícia e, nos dois temas, ausência de enfoque em políticas públicas. Estas são algumas deficiências da cobertura jornalística brasileira identificadas pelo projeto Monitoramento da Cobertura Jornalística como estratégia para a promoção da equidade de gênero.
Realizado pela ANDI, Instituto Patrícia Galvão e Observatório Brasil da Igualdade de Gênero, o monitoramento analisou a cobertura de 16 jornais de todas as regiões brasileiras em 2010 – quatro deles com circulação nacional –, observando os temas Mulheres e Política, Mulheres e Trabalho e Violência Contra as Mulheres.
Para Jacira Vieira, pesquisadora e diretora-executiva do Instituto Patrícia Galvão, o ano de 2010 foi marcado por presença importante do tema Mulheres e Política nos veículos pesquisados. "Há uma significativa produção midiática nos espaços de opinião, impulsionada pela candidatura expressiva de duas mulheres, Dilma Rousseff e Marina Silva. Então foi um ano excepcionalmente singular, por si só justificaria o interesse jornalístico pelo tema”, explica.
Apesar disso, o ponto negativo na cobertura é exatamente o enfoque quase que total nas eleições presidenciais, assunto presente em 40,99% das 231 notícias analisadas. "Isso é desfavorável. Porque no futuro pode ser que a gente não tenha um cenário de mulheres concorrendo, e aí não vai haver destaque jornalístico para o tema nas mulheres na política?”, questiona.
Entre as lacunas da cobertura, aponta a ausência de matérias sobre ações de estímulo à participação feminina na política. "Foi um tema quase ignorado, a imprensa garantiu apenas espaço residual”, ressalta.
De fato, apenas 4,24% das matérias trataram da Lei Eleitoral, embora a norma tenha sofrido mudanças importantes para o estímulo das mulheres na política. Uma minirreforma determinou que os partidos devem preencher cota de 30% de mulheres candidatas, ao invés de apenas reservar esse percentual para as mulheres. "Isso teve cobertura mínima, o tema não recebeu a devida atenção e faltou profundidade”, afirma.
Sobre a temática Violência Contra as Mulheres, a pesquisadora e editora-chefe da Agência Patrícia Galvão, Marisa Sanematsu, considera que há uma cobertura importante e significativa, quando mais de 20% das 1.506 matérias pesquisadas tiveram chamadas nas capas dos veículos. "A violência doméstica é um dos temas mais abordados, visto como um crime, não mais como uma coisa privada”, comemora.
Por outro lado, a pesquisadora enfatiza que "não falta quantidade, mas falta qualidade”. Isso porque as matérias têm enfoque policial, privilegiando abordagem individual do caso, presente em 73,78% das notícias analisadas. Até mesmo as chamadas nas capas têm apelo sensacionalista.
35,10% dos textos sobre violência cometida contra mulheres são publicados nas seções de notícias locais. Os cadernos policiais ficam com 15,70%, enquanto nos espaços opinativos estão menos de 6% das matérias, o que dá uma mostra da abordagem pouco reflexiva sobre o tema.
"A violência não é problematizada, não é vista como algo que tem a ver com políticas públicas e legislação. Por isso, as fontes mais ouvidas, 25,83%, são representantes policiais, delegados e delegadas. São ouvidos ainda especialistas, porém geralmente são advogados, e não estudiosos do assunto”, critica. A sociedade civil representa apenas 1,41% das fontes procuradas por jornalistas.
Marisa conclui que a cobertura é pouco crítica. 96% dos textos não fazem referência a serviços de denúncia ou atendimento às vítimas de violência, enquanto mais de 86,67% das notícias não mencionam nenhuma das legislações existentes na área. Apenas 2,13% das notícias sobre o assunto abordaram políticas públicas. Outro problema diz respeito à Lei Maria da Penha, muito citada, mas de conteúdo ainda pouco conhecido, segundo a pesquisadora.
"À mídia falta fazer seu papel de fiscalizador, crítico do Estado e prestar serviço, indicando locais onde as mulheres possam denunciar e procurar ajuda”, assinala.
Por fim, ela espera que o estudo cumpra seu papel de "apontar os pontos positivos, mas fazer a crítica à cobertura, apontando caminhos para que a mídia possa contribuir a esse esforço contra a violência de gênero”, arremata.
Abordagem sobre mulheres na política focada majoritariamente na disputa presidencial de 2010, violência contra as mulheres reduzida a caso de polícia e, nos dois temas, ausência de enfoque em políticas públicas. Estas são algumas deficiências da cobertura jornalística brasileira identificadas pelo projeto Monitoramento da Cobertura Jornalística como estratégia para a promoção da equidade de gênero.
Realizado pela ANDI, Instituto Patrícia Galvão e Observatório Brasil da Igualdade de Gênero, o monitoramento analisou a cobertura de 16 jornais de todas as regiões brasileiras em 2010 – quatro deles com circulação nacional –, observando os temas Mulheres e Política, Mulheres e Trabalho e Violência Contra as Mulheres.
Para Jacira Vieira, pesquisadora e diretora-executiva do Instituto Patrícia Galvão, o ano de 2010 foi marcado por presença importante do tema Mulheres e Política nos veículos pesquisados. "Há uma significativa produção midiática nos espaços de opinião, impulsionada pela candidatura expressiva de duas mulheres, Dilma Rousseff e Marina Silva. Então foi um ano excepcionalmente singular, por si só justificaria o interesse jornalístico pelo tema”, explica.
Apesar disso, o ponto negativo na cobertura é exatamente o enfoque quase que total nas eleições presidenciais, assunto presente em 40,99% das 231 notícias analisadas. "Isso é desfavorável. Porque no futuro pode ser que a gente não tenha um cenário de mulheres concorrendo, e aí não vai haver destaque jornalístico para o tema nas mulheres na política?”, questiona.
Entre as lacunas da cobertura, aponta a ausência de matérias sobre ações de estímulo à participação feminina na política. "Foi um tema quase ignorado, a imprensa garantiu apenas espaço residual”, ressalta.
De fato, apenas 4,24% das matérias trataram da Lei Eleitoral, embora a norma tenha sofrido mudanças importantes para o estímulo das mulheres na política. Uma minirreforma determinou que os partidos devem preencher cota de 30% de mulheres candidatas, ao invés de apenas reservar esse percentual para as mulheres. "Isso teve cobertura mínima, o tema não recebeu a devida atenção e faltou profundidade”, afirma.
Sobre a temática Violência Contra as Mulheres, a pesquisadora e editora-chefe da Agência Patrícia Galvão, Marisa Sanematsu, considera que há uma cobertura importante e significativa, quando mais de 20% das 1.506 matérias pesquisadas tiveram chamadas nas capas dos veículos. "A violência doméstica é um dos temas mais abordados, visto como um crime, não mais como uma coisa privada”, comemora.
Por outro lado, a pesquisadora enfatiza que "não falta quantidade, mas falta qualidade”. Isso porque as matérias têm enfoque policial, privilegiando abordagem individual do caso, presente em 73,78% das notícias analisadas. Até mesmo as chamadas nas capas têm apelo sensacionalista.
35,10% dos textos sobre violência cometida contra mulheres são publicados nas seções de notícias locais. Os cadernos policiais ficam com 15,70%, enquanto nos espaços opinativos estão menos de 6% das matérias, o que dá uma mostra da abordagem pouco reflexiva sobre o tema.
"A violência não é problematizada, não é vista como algo que tem a ver com políticas públicas e legislação. Por isso, as fontes mais ouvidas, 25,83%, são representantes policiais, delegados e delegadas. São ouvidos ainda especialistas, porém geralmente são advogados, e não estudiosos do assunto”, critica. A sociedade civil representa apenas 1,41% das fontes procuradas por jornalistas.
Marisa conclui que a cobertura é pouco crítica. 96% dos textos não fazem referência a serviços de denúncia ou atendimento às vítimas de violência, enquanto mais de 86,67% das notícias não mencionam nenhuma das legislações existentes na área. Apenas 2,13% das notícias sobre o assunto abordaram políticas públicas. Outro problema diz respeito à Lei Maria da Penha, muito citada, mas de conteúdo ainda pouco conhecido, segundo a pesquisadora.
"À mídia falta fazer seu papel de fiscalizador, crítico do Estado e prestar serviço, indicando locais onde as mulheres possam denunciar e procurar ajuda”, assinala.
Por fim, ela espera que o estudo cumpra seu papel de "apontar os pontos positivos, mas fazer a crítica à cobertura, apontando caminhos para que a mídia possa contribuir a esse esforço contra a violência de gênero”, arremata.
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