quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Pajelança tucana não tem acordo

Por Ricardo Kotscho, no blog Balaio do Kotscho:

Com Eduardo Campos em viagem à Europa e Marina Silva tirando 10 dias de folga, o palco da oposição estava livre para o PSDB ocupar os espaços neste começo de semana. Mais uma vez, porém, os tucanos perderam a chance de produzir algum fato político positivo, que tirasse o foco da interminável disputa interna entre os ex-governadores Aécio Neves, de Minas, e José Serra, de São Paulo.

Em almoço no Palácio dos Bandeirantes, que durou mais de três horas, com a participação do governador Geraldo Alckmin e do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o cardápio que trouxe Aécio a São Paulo previa a antecipação do lançamento oficial da sua candidatura para o final deste ano.

O próprio Aécio, no entanto, refugou da ideia, temendo entrar em choque com Serra, que quer deixar a definição da candidatura tucana para março. Essa foi a condição que o ex-governador paulista impôs para ficar no partido, depois de passar meses ameaçando trocar o PSDB pelo PPS de Roberto Freire.

A bancada federal e as principais lideranças nacionais do partido estão preocupadas com o avanço da dupla Eduardo-Marina, a grande novidade desta pré-campanha eleitoral, enquanto o PSDB patina nas agendas paralelas de Aécio e Serra, que dificultam as negociações do PSDB com outras siglas. Até agora, os tucanos não conseguiram o apoio nem dos tradicionais aliados DEM e PPS, que estão sendo cortejados pelo PSB, assim como o Solidariedade, de Paulinho da Força, e o PV, que abrigou a candidatura de Marina nas últimas eleições.

"Para que aguardar até março se há um sentimento de certeza na bancada e nos diretórios sobre a candidatura de Aécio? Essa indefinição, somada às movimentações de Serra, cria ambiguidade e tira a capacidade de articulação política do Aécio", queixou-se o deputado federal Carlos Sampaio, líder do PSDB na Câmara.

Mas nem todos concordam com ele. O secretário-geral do PSDB Antônio Carlos Mendes Thame, ligado a Serra, não tem pressa: "Se a candidatura sair mais cedo, é melhor para o partido. No entanto, a nossa prioridade é manter o PSDB unido". Pois é isso, exatamente, que o partido não consegue enquanto tiver dois candidatos circulando pelo país como pré-candidatos tucanos.

Na pajelança do Palácio dos Bandeirantes, Fernando Henrique Cardoso até aconselhou Aécio a se apresentar como candidato oficial do PSDB, que também é presidente do partido, em suas aparições públicas. E aí surge de novo a questão: como fazer isso, sem melindrar Serra, e descumprir o tal do acordo? Para se ter uma ideia dos cuidados com as reações de Serra, pelo mesmo motivo o governador Alckmin tem evitado acompanhar as andanças de Aécio por São Paulo, o que não deixa de soar estranho para os eleitores.

Ao final, só ficou acertado que Aécio embarca no próximo fim de semana para Belém e Manaus, em mais uma etapa do seu roteiro de viagens pelo país, depois de ter visitado cidades do interior de São Paulo, Maceió, Uberlândia e Curitiba. Serra ficará em São Paulo, onde irá abrilhantar, na sexta-feira, um encontro da Juventude do PSDB paulista.

Se continuarem nesta toada de almoços e jantares, em reuniões do tipo "nós com nós mesmos", os tucanos correm o risco não só de engordar, como de ficar de fora do segundo turno das eleições presidenciais, pela primeira vez nos últimos 12 anos.

Como diz a velha canção, "quem sabe faz a hora, não espera acontecer". Com um candidato para-oficial que hesita em ir para a guerra e outro que não quer largar o osso, o tempo urge para o PSDB. Nem FHC, ainda o principal líder tucano, consegue dar um jeito nisso, apesar do seu ostensivo apoio a Aécio Neves.

- Em tempo: depois de publicar o texto abaixo, li no R7 que Aécio Neves deu declarações na manhã desta terça-feira, em Brasília, em resposta ao noticiário dos jornais, negando disputa interna com Serra:

"Não há nenhuma tensão entre nós. Temos conversado, Serra e eu, muito mais do que vocês imaginam. E tudo está sendo construído com base naquilo que é melhor para o partido, para o desalento de todos aqueles que apostaram contra. Nós vamos estar juntos, pois temos um objetivo em comum: encerrar esse ciclo de governo do PT, porque ambos pensamos da mesma forma".


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