domingo, 26 de janeiro de 2014

As “picuinhas partidárias” de Alckmin

Por Altamiro Borges

O governador Geraldo Alckmin (PSDB-SP) só entende a linguagem da violência. Na semana passada, a Polícia Civil desencadeou mais uma ação truculenta e intempestiva contra os usuários de droga na região conhecida como Cracolândia, no centro da capital paulista. A prefeitura, que iniciou um programa inovador de inclusão dos viciados, “Braços Abertos”, condenou a “lamentável” iniciativa. Ao invés de apurar as razões da violência – inclusive há suspeita de que policiais corruptos cobram pedágio dos traficantes da região –, o secretário estadual de Segurança elogiou a ação. Já Geraldo Alckmin decidiu polemizar com o prefeito Fernando Haddad, afirmando que o episódio não justifica “picuinha partidária”.

O que não se justifica é a postura autoritária, de viés fascista, do governador tucano. As “picuinhas” do seguidor do Opus Dei são conhecidas. Elas estiveram presentes na sádica desocupação dos moradores do Pinheirinho, em São José dos Campos, que completou em janeiro dois anos. Elas também se fizeram manifestar no início da mobilização pela redução das passagens do transporte público. A truculência do governador, que seguiu à risca às orientações dos jornais O Globo, Folha e Estadão para endurecer na repressão aos jovens, acabou tendo efeito inverso. Em repúdio à violência da PM tucana, o movimento se agigantou pelo Brasil. Elas também se manifestaram na repressão aos chamados "rolezinhos", com a polícia servindo de segurança privada para os ricos shopping centers.

Há indícios, inclusive, de que a “picuinha partidária” pode ter sido o motivo da ação estabanada da polícia na Cracolândia. Diante do entusiástico apoio de inúmeros setores da sociedade ao programa “Braços Abertos”, alguns tucanos teriam decidido sabotar a iniciativa arrojada do prefeito petista Fernando Haddad. Eles temeriam o efeito eleitoral do programa num ano de disputa pelo Palácio dos Bandeirantes. O PSDB comanda São Paulo há duas décadas e crescem os sinais do seu desgaste. Já há quem fale, inclusive na mídia amiga, em “fadiga de material”. Neste sentido, Geraldo Alckmin, que tentará a reeleição, tem várias “picuinhas” para se preocupar.

Tudo indica que os tucanos perderão o apoio do PSB, que hoje ocupa vários cargos no governo. Já os lançamentos das candidaturas de Paulo Skaf (PMDB) e de Gilberto Kassab (PSD) vão pulverizar a disputa e devem forçar o segundo turno. O tempo de rádio e tevê do PSDB também será menor no pleito deste ano e os recursos financeiros para a campanha tendem a diminuir. Em recente artigo na Folha, Eliane Cantanhêde, a da “massa cheirosa” tucana, expressou seu “medo” com uma possível derrota de Geraldo Alckmin. A jornalista, que adora defender a alternância de poder em Brasília e o fim da hegemonia “lulopetista”, teme pelo fim do longo e trágico reinado tucano em São Paulo.

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