sábado, 19 de abril de 2014

Ibope, voto nulo e a mídia

Por Helena Sthephanowitz, na Rede Brasil Atual:

A pesquisa Ibope divulgada na noite desta quinta-feira (17) confirma que o fenômeno destas eleições estão sendo os votos brancos e nulos. Em primeiro lugar na pesquisa apareceu a presidenta Dilma Rousseff (PT) com 37% das intenções de votos. Em "segundo lugar" vêm os votos brancos e nulos, com 24%, bem acima dos candidatos de oposição. Em terceiro, aparece o senador Aécio Neves (PSDB) com 14%. Em quarto, o ex-governador Eduardo Campos (PSB), com 6%. A soma dos demais candidatos, dos partidos chamados nanicos, é 5%. O quadro permanece praticamente o mesmo quando Campos é trocado por Marina Silva, mudando pouca coisa, dentro da margem de erro.

Observe que votos brancos/nulos não incluem os indecisos, que respondem "ainda não sei em quem votar". Estes somam 13%, à parte dos que respondem com convicção que anularão seu voto. Até mesmo na pesquisa espontânea, onde o pesquisado não é induzido por uma lista de nomes, os votos em branco/nulos somam 19%, novamente ocupando o segundo lugar atrás apenas de Dilma Rousseff, que tem 23%. Os candidatos de oposição aparecem bem atrás. Aécio com 7%, Marina com 4% e Campos com 2%.

Para se ter uma ideia, nas eleições de 2010, no mês de abril, o Datafolha registrava apenas 7% de intenções de votos brancos/nulos. No primeiro turno estes votos cravaram 8,6% ao apurar as urnas.

O atual fenômeno não beneficia nenhum candidato especificamente. Esvazia significativamente as intenções de votos na presidenta Dilma, mas o mesmo ocorre com a oposição, mantendo o favoritismo da presidenta. Todos os candidatos oposicionistas juntos somam 25% de intenções de votos, bem menos do que os 37% da presidenta, o que ainda lhe garantiria a vitória no primeiro turno com 60% dos votos úteis.

O que levaria um em cada quatro eleitores que comparecem às urnas a anular seu voto?

Certamente um dos motivos é o crescimento do desencanto com a classe política como um todo. A oposição, tanto partidária como midiática, abandonou o confronto de ideias e a disputa por reformas, passando a dedicar-se a criminalizar a política, sobretudo no noticiário. Não se deu conta de que atinge indistintamente quem está no governo e todos os que estão no sistema político, mesmo que esteja na oposição, no momento.

Todos são rebaixados no conceito do eleitor quando o noticiário político só noticia escândalos, alguns até forjados, outros ganhando dimensão maior do que tem de fato, outros que seriam até rotina como ocorre em todas as corporações. Ao mesmo tempo, as emissoras de TV, principalmente, ao manter fora de pauta censuram o debate sobre políticas públicas e reformas que, inclusive, moralizariam a política. Preferem manter o status quo do estado atual das coisas, obstruindo as mudanças pedidas pelo povo com uma pauta de crises forjadas.

Quando as campanhas eleitorais passam a ser dominadas por baixarias e acusações pesadas, como tem ocorrido sistematicamente desde as eleições de 2006, por escolha da oposição, boa parte do eleitorado se desencanta com a política como instrumento de transformação e passa a anular o voto com o correr do tempo.

A oposição consegue até retirar um pouco de votos de quem está no governo, mas não consegue trazer esse eleitor para seu lado, porque o cidadão desencantado acha que seria trocar seis por meia dúzia.

Pelo teor do noticiário e do estado de ânimo da campanha pré-eleitoral da oposição que já está em curso, o fenômeno do voto nulo irá se confirmar em outubro. Se os votos válidos de fato encolherem tanto, quem for eleito sobrevive se mostrar serviço no governo. Mas os partidos que ficarem na oposição sairão menor do que entraram.

O favoritismo continua com a presidenta, mesmo com ela caindo três pontos em relação à pesquisa anterior do Ibope. Isso porque suas intenções de votos têm resistido acima do esperado a um teste de estresse diante de um intenso noticiário negativo, enquanto seus principais adversários tiveram exposição positiva, inclusive com horário partidário na TV, e não subiram. Mesmo se o fundo do poço ainda não tiver chegado, hoje ela ainda tem em torno de 60% de votos úteis, portanto ainda tem até gordura para queimar e ainda vencer no primeiro turno, em tese. E ainda há margem para crescer no decorrer da campanha quando ela terá oportunidade de mostrar sua agenda positiva.

Mas se há tormentas de difícil travessia para oposição até outubro, também há para a presidenta. Mais preocupante do que a queda de três pontos nas intenções de votos é a avaliação de seu governo. Do fim do ano passado para cá a avaliação de ótimo e bom caiu nove pontos de 43% para 34%, enquanto ruim e péssimo subiu dez pontos, de 20% para 30%.

Não aconteceu nenhum fato realmente impactante neste período que justifique esta mudança de quadro, a não ser o intenso bombardeio do noticiário negativo. A principal oposição ao governo Dilma está nos telejornais e neste noticiário negativo replicado nas redes sociais da internet, já que jornais em papel e revistas sozinhos não têm tamanho poder de fogo para derrubar a popularidade em 10%. Não há nenhuma surpresa de que a imprensa oposicionista agiria assim pelo retrospecto de eleições passadas. O desafio governista é mudar essa percepção de parte da população sobre seu governo. O desafio da oposição é não perder para o voto nulo.

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