Por Jeferson Miola, no site da Fundação Perseu Abramo:
“A liberdade de imprensa é um bem maior que não deve ser limitado. A esse direito geral, o contraponto é sempre a questão da responsabilidade dos meios de comunicação. E, obviamente, esses meios de comunicação estão fazendo de fato a posição oposicionista deste país, já que a oposição está profundamente fragilizada. E esse papel de oposição, de investigação, sem dúvida nenhuma incomoda sobremaneira o governo”.
“A liberdade de imprensa é um bem maior que não deve ser limitado. A esse direito geral, o contraponto é sempre a questão da responsabilidade dos meios de comunicação. E, obviamente, esses meios de comunicação estão fazendo de fato a posição oposicionista deste país, já que a oposição está profundamente fragilizada. E esse papel de oposição, de investigação, sem dúvida nenhuma incomoda sobremaneira o governo”.
Maria Judith Brito, Presidente da Associação Nacional de Jornais, no jornal O Globo de 18/3/2010. É funcionária daFolha de São Paulo.
O acidente com o candidato do PSB criou uma nova circunstância eleitoral. Mas não significa – como tentam sugerir analistas, oposição e mídia –, que tenha se iniciado uma “nova eleição”.
Marina Silva não é novidade; sempre figurou no radar eleitoral. Ao fracassar na criação da Rede, se juntou ao PSB para ser vice de Campos. Se tivesse conseguido criar seu partido, não seria sua vice, inclusive disputaria contra ele a ida para o segundo turno.
A candidatura de Marina aponta para a probabilidade estatística, ainda incerta, de ocorrência de dois turnos na disputa presidencial. As sondagens indicavam a vitória direta da Dilma já no primeiro turno; e esta ainda segue sendo uma hipótese plausível.
Marina não é, em razão disso, o fator de maior transcendência na conjuntura. O aspecto mais transcendente nessa nova circunstância eleitoral é o realinhamento estratégico da mídia operado a partir da trágica morte de Eduardo Campos.
Mídia e política são dois âmbitos interdependentes, imbricados, e se retroalimentam. A política enuncia, no espaço da mídia, o debate público que estrutura a disputa de poder, de hegemonia, de rumos e interesses societários.
A mídia, por outro lado, agenda a política e “inocula” na arena da política as tensões e disputas que intenciona ver processadas no debate público, segundo os interesses conjunturais ou estratégicos.
A mídia exerce um ativismo político exacerbado, característico de organizações partidárias. Por isso se diz da existência do PIG [Partido da Imprensa Golpista]. O PIG do Brasil tem longínqua participação em táticas desestabilizadoras: foi decisivo no suicídio de Getúlio Vargas e na ambientação da derrubada do Jango para a instalação da ditadura cívico-militar.
A simbiose mídia-oposição é irrefutável. No período dos governos Lula e Dilma, os principais debates ou escândalos políticos não foram gerados pela oposição partidária ou congressual, porque foram antes agendados pela mídia oposicionista.
Esse papel fica bem ilustrado nas palavras da Executiva da Folha de São Paulo e presidente da ANJ: “esses meios de comunicação estão fazendo de fato a posição oposicionista deste país, já que a oposição está profundamente fragilizada”.
A direita está sem discurso, sem base social e sem capacidade de oferecer perspectivas de futuro para o país. Em vista disso, a mídia se assume como vanguarda na oposição odiosa ao PT.
Depois de ver fracassarem todas suas profecias apocalípticas – crise energética, fiasco na Copa, descontrole inflacionário, recessão, desemprego, ... –, a mídia então fabricou a onda de pessimismo; é a moda do momento.
O acidente aéreo apareceu como uma chance de ouro numa eleição que tinha tudo para ser perdida no primeiro turno. Foi fundamental, então, super-explorar emocionalmente o acidente, para provocar profunda consternação na sociedade – foi o que se assistiu com a espetacularização da morte e a glorificação do morto.
Não teve luto no sentido literal da palavra. Desde a confirmação do acidente até o sepultamento dos corpos, a política reinou absoluta no palco da tragédia, num espetáculo contracenado pela família, correligionários, oposição e mídia. No script, até vaias para Dilma e Lula em pleno velório!
A cobertura midiática reforçou os dispositivos simbólicos identificados com o ideário oposicionista. O slogan “não vamos desistir do Brasil”, pinçado pelo William Bonner da entrevista de Campos ao Jornal Nacional, foi dotado de conotação mudancista e traduzido como “legado” a ser continuado por Marina, que passou a encarnar a aposta supersticiosa e messiânica.
Essa carga propagandística, entretanto, tem prazo de validade. Passada a ressaca emocional, a racionalidade tomará o lugar do emocionalismo lúgubre. A lógica vai desmistificar a fantasia da terceira via; Marina é um ramal ideológico do mesmo conservadorismo do Aécio: programa e equipe econômica neoliberal e alianças com o PSDB e PPS.
Além disso, o programa gratuito servirá para Dilma fazer contraposição à brutal oposição que sofre dos meios de comunicação. Dilma conseguirá finalmente mostrar ao povo brasileiro o novo e generoso Brasil que é protegido da crise mundial, que se desenvolve com pleno emprego, igualdade e justiça social; mas que incrivelmente não é retratado pela Rede Globo, Folha de São Paulo, Estadão, RBS e grupos midiáticos conservadores.
Seria ingenuidade pueril não imaginar o clima de guerra e terrorismo que poderá ser armado pela mídia contra Dilma, Lula e o PT. A cada artilharia fracassada da mídia e da direita no seu propósito de “arrancar o PT do poder”, outro arsenal ainda mais destrutivo será inventado.
Existem sinal de tensões graves no ar. A postura desiquilibrada e truculenta – para não dizer delinquente – do William Bonner na entrevista da Dilma no Jornal Nacional mostra que a Rede Globo afia as armas, multiplica o arsenal bélico e organiza o exército conservador.
Alerta total: no ar, a Rede Globo de 1989, numa guerra titânica contra o PT.
* Jeferson Miola é integrante do Instituto de Debates, Estudos e Alternativas de Porto Alegre (Idea), foi coordenador-executivo do 5º Fórum Social Mundial
O acidente com o candidato do PSB criou uma nova circunstância eleitoral. Mas não significa – como tentam sugerir analistas, oposição e mídia –, que tenha se iniciado uma “nova eleição”.
Marina Silva não é novidade; sempre figurou no radar eleitoral. Ao fracassar na criação da Rede, se juntou ao PSB para ser vice de Campos. Se tivesse conseguido criar seu partido, não seria sua vice, inclusive disputaria contra ele a ida para o segundo turno.
A candidatura de Marina aponta para a probabilidade estatística, ainda incerta, de ocorrência de dois turnos na disputa presidencial. As sondagens indicavam a vitória direta da Dilma já no primeiro turno; e esta ainda segue sendo uma hipótese plausível.
Marina não é, em razão disso, o fator de maior transcendência na conjuntura. O aspecto mais transcendente nessa nova circunstância eleitoral é o realinhamento estratégico da mídia operado a partir da trágica morte de Eduardo Campos.
Mídia e política são dois âmbitos interdependentes, imbricados, e se retroalimentam. A política enuncia, no espaço da mídia, o debate público que estrutura a disputa de poder, de hegemonia, de rumos e interesses societários.
A mídia, por outro lado, agenda a política e “inocula” na arena da política as tensões e disputas que intenciona ver processadas no debate público, segundo os interesses conjunturais ou estratégicos.
A mídia exerce um ativismo político exacerbado, característico de organizações partidárias. Por isso se diz da existência do PIG [Partido da Imprensa Golpista]. O PIG do Brasil tem longínqua participação em táticas desestabilizadoras: foi decisivo no suicídio de Getúlio Vargas e na ambientação da derrubada do Jango para a instalação da ditadura cívico-militar.
A simbiose mídia-oposição é irrefutável. No período dos governos Lula e Dilma, os principais debates ou escândalos políticos não foram gerados pela oposição partidária ou congressual, porque foram antes agendados pela mídia oposicionista.
Esse papel fica bem ilustrado nas palavras da Executiva da Folha de São Paulo e presidente da ANJ: “esses meios de comunicação estão fazendo de fato a posição oposicionista deste país, já que a oposição está profundamente fragilizada”.
A direita está sem discurso, sem base social e sem capacidade de oferecer perspectivas de futuro para o país. Em vista disso, a mídia se assume como vanguarda na oposição odiosa ao PT.
Depois de ver fracassarem todas suas profecias apocalípticas – crise energética, fiasco na Copa, descontrole inflacionário, recessão, desemprego, ... –, a mídia então fabricou a onda de pessimismo; é a moda do momento.
O acidente aéreo apareceu como uma chance de ouro numa eleição que tinha tudo para ser perdida no primeiro turno. Foi fundamental, então, super-explorar emocionalmente o acidente, para provocar profunda consternação na sociedade – foi o que se assistiu com a espetacularização da morte e a glorificação do morto.
Não teve luto no sentido literal da palavra. Desde a confirmação do acidente até o sepultamento dos corpos, a política reinou absoluta no palco da tragédia, num espetáculo contracenado pela família, correligionários, oposição e mídia. No script, até vaias para Dilma e Lula em pleno velório!
A cobertura midiática reforçou os dispositivos simbólicos identificados com o ideário oposicionista. O slogan “não vamos desistir do Brasil”, pinçado pelo William Bonner da entrevista de Campos ao Jornal Nacional, foi dotado de conotação mudancista e traduzido como “legado” a ser continuado por Marina, que passou a encarnar a aposta supersticiosa e messiânica.
Essa carga propagandística, entretanto, tem prazo de validade. Passada a ressaca emocional, a racionalidade tomará o lugar do emocionalismo lúgubre. A lógica vai desmistificar a fantasia da terceira via; Marina é um ramal ideológico do mesmo conservadorismo do Aécio: programa e equipe econômica neoliberal e alianças com o PSDB e PPS.
Além disso, o programa gratuito servirá para Dilma fazer contraposição à brutal oposição que sofre dos meios de comunicação. Dilma conseguirá finalmente mostrar ao povo brasileiro o novo e generoso Brasil que é protegido da crise mundial, que se desenvolve com pleno emprego, igualdade e justiça social; mas que incrivelmente não é retratado pela Rede Globo, Folha de São Paulo, Estadão, RBS e grupos midiáticos conservadores.
Seria ingenuidade pueril não imaginar o clima de guerra e terrorismo que poderá ser armado pela mídia contra Dilma, Lula e o PT. A cada artilharia fracassada da mídia e da direita no seu propósito de “arrancar o PT do poder”, outro arsenal ainda mais destrutivo será inventado.
Existem sinal de tensões graves no ar. A postura desiquilibrada e truculenta – para não dizer delinquente – do William Bonner na entrevista da Dilma no Jornal Nacional mostra que a Rede Globo afia as armas, multiplica o arsenal bélico e organiza o exército conservador.
Alerta total: no ar, a Rede Globo de 1989, numa guerra titânica contra o PT.
* Jeferson Miola é integrante do Instituto de Debates, Estudos e Alternativas de Porto Alegre (Idea), foi coordenador-executivo do 5º Fórum Social Mundial
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