quarta-feira, 27 de agosto de 2014

Marina é espuma eleitoral ou fenômeno?

Por Bepe Damasco, em seu blog:

Como qualquer pesquisa, os números do Ibope divulgados nesta terça-feira (26) se prestam a múltiplas interpretações. Mas desta vez está fora de questão que a presença de Marina na disputa virou pelo avesso a corrida presidencial. Todo cuidado é pouco, porém, com conclusões açodadas. Tanto é cedo para apontar a ex-senadora do Acre como favorita como para decretar que Aécio é carta fora do baralho. E muito menos para dizer que a presidenta Dilma está fadada a perder para Marina no segundo turno. Pesquisa é radiografia de momento. É a dinâmica da campanha de agora em diante que vai consolidar posições ou provocar novas mudanças e solavancos na disputa. A eleição está aberta.

A intenção de voto em Marina não devia causar tanto espanto. Ela se beneficiou de um somatório de fatores positivos. Primeiro é importante lembrar que ela já alcançara nada menos que 27% na última pesquisa em que seu nome foi incluído, feita quando ainda tentava colocar de pé seu fracassado projeto de partido. Depois vieram as manifestações de junho, das quais saiu ilesa. Ah, recuando um pouco mais no tempo, não podemos esquecer dos quase 20 milhões de votos que Marina obteve em 2010. Por fim, veio a morte trágica de Eduardo Campos, de cuja comoção nacional se tornou herdeira, incensada pela politização abjeta dos funerais promovida pelo monopólio midiático.

O fato é que Marina chegou até aqui sem fazer campanha. Só que eleição se ganha ou se perde enfrentando a dureza do confronto, os ataques mais duros e ásperos, e até golpes abaixo da linha cintura. Soa estranho e repetitivo, mas campanha se ganha na campanha. Recém-chegada à vida como ela é, Marina de agora em diante verá expostas suas contradições, incoerências, falta de consistência e de propostas exequíveis, além de suas posições obscurantistas na área do comportamento.

As próximas pesquisas mostrarão como se saírá. Na minha opinião, perderá terreno. Caso isso não ocorra, no entanto, estaremos diante de um fenômeno político-eleitoral complexo, de um caso para os estudiosos em psicologia de massas se debruçarem. Ou seja, se estiver em curso no Brasil a cristalização de um sentimento coletivo alheio a argumentos e teses racionais da política, aí estaremos a caminho da aventura, do voo cego de um eventual governo Marina Silva. Rodrigo Vianna, em artigo publicado em seu blog, o Escrevinhador, traça um paralelo entre o moralismo udenista que levou Jânio Quadros e Fernando Collor ao poder e a ascensão de Marina.

Mas tem muita lenha ainda para queimar. Marina dispõe de pouco tempo na propaganda eleitoral de rádio e TV e palanques fracos nos estados. Além disso, bota parte da mídia e do mercado segue apostando em Aécio, e vai tentar ajudá-lo a sair da enrascada atual. É difícil, mas ele conta com estrutura de campanha, apoios e alianças regionais bem mais fortes do que Marina. E também mais tempo de TV. Penso que, como já começou a fazer no debate da Band, não lhe restará outra alternativa a não ser partir de peito aberto para o embate com Marina. Mas seus apoiadores têm pressa : ou reage rapidamente ou será definitivamente "cristianizado".

Sobre a campanha pela reeleição da presidenta Dilma, o recomendável é muita calma nesta hora. Além da expectativa óbvia de esperar a decantação do furacão Marina, as pesquisas qualitativas sobre a aceitação dos programas e das inserções de Dilma na televisão mostram um ótimo resultado. Pudera, vamos combinar que os programas do João Santana são primorosos

Só que os entendidos em marketing político dizem não ser imediata a transformação em intenção de voto de programas bem avaliados pelo eleitor. São necessárias, pelo menos, duas semanas. Cabe registrar que os pesquisadores do Ibope foram a campo depois que apenas dois programas de TV da Dilma tinham ido ao ar. Nesse momento, é correto colocar Marina como alvo das críticas de Dilma e da campanha, mas seria uma precipitação fazer disso o centro da tática eleitoral. Por enquanto, o eixo principal deve continuar sendo as realizações de Lula e Dilma nos últimos 12 anos.

Como nada capaz de mexer as peças do tabuleiro eleitoral aconteceu no debate entre os presidenciáveis desta terça-feira, os próximos 15 dias serão decisivos para todo mundo.

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