Por Miguel do Rosário, no blog O Cafezinho:
2) a indiferença em relação a seu eleitorado, e a submissão à opinião da direita midiática;
3) a falta de uma agenda positiva, com políticas inspiradas no debate democrático com a sociedade;
4) a concentração excessiva de poder em mãos da presidenta, sem transferi-lo para seus próprios ministros. O chefe da Secom, Thomas Traumann, por exemplo, parece ter função apenas decorativa;
5) por que Dilma não pode montar um conselho político, com Lula à frente, para que estes tomem decisões políticas rápidas e efetivas. Por exemplo: escolher de uma vez o novo ministro do STF, escolher quem serão as novas lideranças do governo nos partidos da base aliada, escrever os discursos da presidenta, decidir quando ela deve aparecer ou não na TV?
Entretanto, esses problemas poderão ser equacionados ao longo dos próximos 4 anos.
Já o desmanche da Petrobrás e a extinção das empresas mais estratégicas do país, isso poderá demandar muito mais tempo, e afetar o nosso futuro por décadas.
O Brasil tem urgência de terminar suas grandes obras de infra-estrutura. Paralisá-las por causa de problemas de corrupção é duplicar o prejuízo causado pelos desvios, porque os atrasos elevam ainda mais os custos das obras e postergam o processo de desenvolvimento nacional.
E agora sabemos que a mídia estimula uma greve de caminhoneiros com perfil notoriamente patronal e política, nos moldes do que houve no Chile de Allende e volta e meia acontece na Argentina.
Procura-se produzir o caos para assustar o povo e forçá-lo a vender barato o seu voto e a sua soberania.
A presença de Nassif no palco da ABI, e os elogios que recebeu de Lula em seguida, mostram que cresceu a consciência sobre o papel central da batalha da comunicação na luta política.
A presença do escritor Eric Nepomuceno, por sua vez, mostra que essa comunicação, para ser efetiva, tem de ser produzida com arte e política, não com propaganda.
O discurso de Lula mostrou um político disposto a sacudir a inércia do governo e lutar pelo povo brasileiro.
A luta contra a corrupção tem de ser aliada do processo de desenvolvimento nacional, não sua inimiga.
Nenhuma empresa pode quebrar, nenhum trabalhador pode ser demitido, porque um punhado de procuradores, um juiz e alguns delegados aecistas, querem ganhar prêmios e confetes da Globo.
A era da mídia chega a seu fim porque o seu poder, por mais imenso que seja, é baseado numa mística declinante.
A mídia já gastou quase todos os seus cartuchos.
A sua ofensiva causou estragos terríveis.
A direita aumentou, tornou-se mais confiante e mais atrevida.
Mas agora teve início, finalmente, uma contra-ofensiva.
É parecido com o que testemunhamos nas últimas eleições. A direita, cujo poder emana de uma mídia centralizada e concentrada, lança ataques rápidos, demolidores, e mantém o adversário atônito através de bombardeios diários, que o impedem de raciocinar com calma e sangue frio.
O nosso campo demora para se organizar. Até hoje esperava, possivelmente, algum posicionamento do governo, para definir a melhor estratégia de contra-ataque à mídia.
Agora entendemos que o governo ainda está perdido, sem saber que rumo tomar, paralisado pela indecisão e quiçá também por covardia.
Cabe ao nosso campo tirar o governo dessa indecisão e trazê-lo para nosso lado. Quanto à covardia, daremos o exemplo.
A coragem, como se sabe, é contagiante.
Bem, ao menos o governo já começou a lutar pelo mais importante: não paralisar as grandes obras e não deixar que as empresas quebrem.
O esforço do Advogado Geral da União, Luis Adams, deve ser defendido por todos os brasileiros que não sucumbiram à loucura autodestrutiva da mídia.
O nosso campo demora para se organizar, mas quando o faz, emerge com uma força muito mais orgânica do que a mídia jamais possuirá.
No próximo dia 13, haverá manifestações, em todo país, contra essa campanha para destruir a Petrobrás, suas fornecedoras e todas as indústrias que dependem de ambas.
O encontro na ABI foi o nosso desembarque na Normadia.
O nosso dia D.
A luta pela liberdade, contra o fascismo midiático e suas patranhas, começou.
Imagine um evento que reúna milhares de pessoas.
Dezenas de cientistas e engenheiros importantes.
As principais lideranças dos movimentos sociais, sindicais e partidárias.
Juristas da OAB.
O ex-presidente da República, até hoje considerado o melhor da nossa história (não é “opinião”, é o que diz o Datafolha), e já favorito para as eleições de 2018.
Blogueiros, jornalistas, ativistas digitais.
Um representante do Conselho de Administração da Petrobrás.
Vereadores, deputados, sindicalistas, midialivristas.
Imagine um evento assim, e que mesmo diante dos terríveis perigos que ameaçam a economia brasileira, é realizado num clima de serenidade, confiança e espírito democrático.
Assim foi o evento realizado ontem no auditório da Associação Brasileira de Imprensa (ABI).
Um evento que marca um momento grave, quiçá decisivo, da nossa história.
Eu já aventei aqui a minha tese, segundo a qual de 1954 até hoje vivemos a “era da mídia”.
Uma era que agora chega ao seu fim, conforme explicarei adiante.
Desde o suicídio de Getúlio, em agosto de 1954, até a campanha midiática de hoje contra a Petrobrás, contra o governo e contra o PT, a mídia tem sido o principal ator político nacional.
O mais constante, o mais unido, o mais bem sucedido.
O mais coerente também: sempre contra o povo, sempre contra suas conquistas, sempre defendendo antes os interesses do Tio Sam do que os nossos.
Em nenhum lugar do mundo, com exceção talvez da Itália, a família mais rica do país domina, em regime de quase monopólio, a mídia de massa do mesmo país.
A reunião de tal poder financeiro e midiático em mãos de uma só família gera um poder político excessivo, que produz perigosas distorções no sistema democrático brasileiro.
Imprensa, cinema, literatura, agenda política do congresso, cpis, grandes investigações, julgamentos no STF, os tentáculos da Globo se estendem por toda a parte.
Nenhum escritor no Brasil consegue vender livros ou se sustentar sem o aval da Globo. Hora ou outra, resistam ou não, caem todos no colo dos Marinho e seus coligados.
É muito difícil obter um emprego decente como jornalista fora da esfera de influência da Globo.
A classe política vive sob chantagem constante de uma imprensa desprovida de qualquer escrúpulo ético e unida em torno de uma causa comum.
O Ministério Público tornou-se cúmplice dos barões da mídia. Somente os processos com repercussão midiática favorável têm continuidade.
Os processos que não contam com a simpatia da mídia são engavetados no Ministério Público ou prescrevem no Judiciário.
Todo tipo de malabarismo e inovações jurídicas são toleradas, e até mesmo incentivadas, para se atingir determinados objetivos políticos.
Domínio de fato, delações premiadas, vazamentos seletivos, prisões preventivas eternas, manipulação de provas, dar peso de verdade a depoimentos de bandidos, tortura psicológica.
Vale tudo. Basta ter apoio da mídia.
Ayres Brito, ex-presidente do STF, antes mesmo de encerrar sua função, escreveu prefácio do livro de Merval Pereira.
E quando saiu de lá foi direto para a Globo, assumir uma sinecura: a presidência do conselho do instituto innovare.
Existe um debate sobre o poder da mídia corporativa hoje.
Muitos dizem que o seu poder declinou bastante, em virtude da internet, que democratizou a opinião pública.
Eu acho que o seu poder nunca foi tão grande.
Primeiro porque a mídia também se espraia pelas redes sociais e internet.
Segundo porque ela conseguiu vencer a batalha da comunicação em alguns lugares estratégicos: nos centros de poder não balanceados pelo sufrágio.
Os estamentos aristocráticos, as instâncias do Estado onde o povo não tem influência, foram os meios onde a ideologia midiática, esse fascismo enrustido, baseado no ódio, na mentira, no egoísmo, na brutalidade política, se desenvolveu com mais facilidade.
Aí que mora o perigo.
A mídia, sozinha, é um cão sem dentes.
Quando ela consegue instrumentalizar setores do Ministério Público e um ou outro juiz inebriado por um espírito vingador, ela se torna efetivamente perigosa.
Surge o “golpe paraguaio”.
Sim, a mídia chegou ao auge de seu poder.
Criou um exército de zumbis, cujo número cresce diariamente, num ritmo assustador.
A cada minuto, a mídia transforma um brasileiro num idiota midiático.
A mídia, além disso, tem aliados no exterior.
Tem dinheiro no exterior.
Não se esqueça que a evasão fiscal brasileira alcança mais de 13% do PIB, segundo a ONG Tax Justice.
Por isso, a nossa elite não se preocupa em incendiar o país.
Todas as questões econômicas que nos desesperam, emprego, conteúdo nacional, industrialização – não tem a mínima importância para a ala rentista da nossa elite.
Ela tem dinheiro guardado para suportar a crise econômica.
Não tinha muito em 2002, quando até a Globo estava quebrada.
Mas souberam aproveitar o crescimento econômico.
Qual os nazistas nos anos que antecederam a II Guerra, eles se prepararam.
Produziram armas, juntaram dinheiro, formaram quadros.
Então como é possível afirmar, perguntará o leitor, diante de tantas demonstrações de poder, que chegamos ao fim da era da mídia?
Porque é exatamente nos momentos mais difíceis, mais perigosos, mais conturbados da história, que são forjados as ideias mais firmes, mais luminosas, mais combativas daquele tempo.
Os marxistas podem alegar que é o dinheiro que faz girar as rodas da história.
Sim, é verdade.
Mas as ideias inventaram a roda.
As ideias inventaram a história.
Mesmo se eles ganharem as próximas batalhas, usando todo o tipo de mau caratismo penal, torturando as leis do mesmo jeito que fizeram na Ação Penal 470, e sob a liderança da mídia, e com isso aprofundarem o processo de criminalização da política, mesmo assim eles terão perdido.
Porque será uma vitória suja.
Uma vitória triste, de um punhado de barões midiáticos e almofadinhas promotores metidos a justiceiros.
Uma vitória sórdida, conquistada ao preço de centenas de milhares de empregos e o atraso das mais grandiosas obras de infra-estrutura em andamento no mundo.
É evidente que ninguém conseguirá se manter num poder, não numa democracia, através de operações tão abertamente inescrupulosas.
Assim que tiverem vencido, terão perdido.
Por isso eu reitero: a era da mídia acaba aqui. Eles perderão mesmo ganhando.
Não é fácil enxergar, em meio à fumaça das bombas, misturada à multidão agitada e nervosa, aquela moça de gestos elegantes e sorriso maroto, caminhando tranquilamente.
Não é fácil ver a história.
Porém não impossível.
Basta ficar atento.
É um conceito profundo da filosofia antiga, que eu li num livro de Heidegger sobre Heráclito.
Escutar. Prestar atenção.
Prestemos atenção, portanto, ao que aconteceu na ABI ontem.
Davyd Bacelar, petroleiro e sindicalista recém eleito para o Conselho de Administração da Petrobrás, fez um discurso marcado por uma notável consciência do que está em jogo.
Defendeu a continuidade e o aprofundamento das investigações sobre corrupção, e a punição dos culpados, mas denunciou também a espetacularização e a manipulação política da justiça.
Wadih Damous foi mais longe e fez uma denúncia duríssima contra a repetição de um padrão já iniciado na Ação Penal 470: a manipulação do processo penal, o fim da presunção da inocência, o uso da prisão preventiva como forma de chantagem penal e tortura psicológica, o sensacionalismo com as delações premiadas, vazadas seletivamente, o ódio político substituindo a serenidade imparcial de autoridades que deveriam, antes de tudo, garantir os direitos individuais de todos, pobres ou ricos, tucanos ou petistas, sem terra ou empreiteiros.
Em sua louca cavalgada para adquirir o poder pelo poder, a oposição midiática não hesita em ferir a Petrobrás, quebrar as principais empresas de construção civil do país e agredir até mesmo os direitos fundamentais de alguns executivos, tratados como cordeiros gordos a serem sacrificados no altar da imprensa.
A imprensa corporativa, mais uma vez, arvora-se promotor, juiz, júri e carrasco.
Em seu discurso na ABI, Lula deixou bem claro que entendeu o papel central da comunicação na luta dos trabalhadores brasileiros por sua liberdade.
O ex-presidente mencionou acontecimentos internacionais, onde a manipulação da opinião pública provocou “mudanças de regime” que trouxeram caos e desespero a vários países.
Sutilmente, Lula lembrou que não podemos ser ingênuos em relação à interferência imperialista em nosso país.
Outro dia, almocei com Franklin Martins, ex-ministro de Lula, que me disse a mesma coisa: os EUA voltaram a olhar para a América Latina, então temos que nos preparar, porque eles, sem poderem nos invadir militarmente, terão de fazer diferente; terão de dar um golpe por dentro da democracia; que é exatamente o que está acontecendo, através da manipulação judicial da Operação Lava Jato.
Com a espionagem feita pela NSA contra a Petrobrás e contra a presidenta Dilma, está claro que Operação Lava Jato interessa aos americanos.
Quebrar empreiteiras brasileiras e trazer as americanas para operar no Brasil?
Quebrar a Petrobrás e abrir o pré-sal às petroleiras americanas?
A Lava Jato tornou-se um sonho bom e confortante do Tio Sam.
É o triunfo do cinismo e da hipocrisia.
As empreiteiras e petroleiras americanas formam o setor mais corrupto do mundo.
São elas que financiam politicamente todas as guerras dos EUA, onde os países são destruídos e depois reconstruídos pelas empreiteiras americanas.
As milhões de vidas perdidas no caminho são mero detalhe.
Os contribuintes americanos transferiram, no caso do Iraque, mais de 2 trilhões de dólares de recursos públicos, para o bolso da indústria da guerra, que pratica uma corrupção jupiteriana.
E o nosso procurador-geral da república, Rodrigo Janot, vai aos EUA pedir ajuda para detonar a Petrobrás e suas fornecedoras?
Você sabia, Janot, que os EUA são considerados, por muitos analistas, como o país mais corrupto do mundo?
Onde vocês acham que foram parar os trilhões gastos nas guerras do Afeganistão e Iraque?
Não foram para Paulo Roberto Costa, e seus coleguinhas corruptos de Petrobrás, isso eu posso lhe garantir.
Nem os EUA permitem nenhuma “delação premiada” contra seus interesses.
João Pedro Stédile, representando os principais movimentos sociais do campo, afirmou que eles marcharão ao lado do campo progressista, para o que der e vier.
A presidenta da UNE, Virgínia Barros, assegurou que os estudantes também estão alertas, que eles, os golpistas, “não passarão”.
A UNE, vítima sistemática de campanhas difamatórias da grande mídia, desde os anos 50 até hoje, tem lado.
E não é ao lado da Globo e suas manipulações.
“Acredito que está por trás dessa campanha é o desmanche de nosso maior patrimônio, vem daqueles que não concordam com a política de conteúdo nacional e nossa autonomia científica”, afirmou Barros.
O grande ausente no evento da ABI foi o governo, aquele que tem se caracterizado justamente por isso: pela ausência.
O campo progressista tem várias críticas ao governo. Enumero algumas:
1) a estratégia suicida de só apanhar, apanhar e apanhar, como se quisesse vencer o adversário fazendo-o quebrar as mãos de tanto dar soco;
Dezenas de cientistas e engenheiros importantes.
As principais lideranças dos movimentos sociais, sindicais e partidárias.
Juristas da OAB.
O ex-presidente da República, até hoje considerado o melhor da nossa história (não é “opinião”, é o que diz o Datafolha), e já favorito para as eleições de 2018.
Blogueiros, jornalistas, ativistas digitais.
Um representante do Conselho de Administração da Petrobrás.
Vereadores, deputados, sindicalistas, midialivristas.
Imagine um evento assim, e que mesmo diante dos terríveis perigos que ameaçam a economia brasileira, é realizado num clima de serenidade, confiança e espírito democrático.
Assim foi o evento realizado ontem no auditório da Associação Brasileira de Imprensa (ABI).
Um evento que marca um momento grave, quiçá decisivo, da nossa história.
Eu já aventei aqui a minha tese, segundo a qual de 1954 até hoje vivemos a “era da mídia”.
Uma era que agora chega ao seu fim, conforme explicarei adiante.
Desde o suicídio de Getúlio, em agosto de 1954, até a campanha midiática de hoje contra a Petrobrás, contra o governo e contra o PT, a mídia tem sido o principal ator político nacional.
O mais constante, o mais unido, o mais bem sucedido.
O mais coerente também: sempre contra o povo, sempre contra suas conquistas, sempre defendendo antes os interesses do Tio Sam do que os nossos.
Em nenhum lugar do mundo, com exceção talvez da Itália, a família mais rica do país domina, em regime de quase monopólio, a mídia de massa do mesmo país.
A reunião de tal poder financeiro e midiático em mãos de uma só família gera um poder político excessivo, que produz perigosas distorções no sistema democrático brasileiro.
Imprensa, cinema, literatura, agenda política do congresso, cpis, grandes investigações, julgamentos no STF, os tentáculos da Globo se estendem por toda a parte.
Nenhum escritor no Brasil consegue vender livros ou se sustentar sem o aval da Globo. Hora ou outra, resistam ou não, caem todos no colo dos Marinho e seus coligados.
É muito difícil obter um emprego decente como jornalista fora da esfera de influência da Globo.
A classe política vive sob chantagem constante de uma imprensa desprovida de qualquer escrúpulo ético e unida em torno de uma causa comum.
O Ministério Público tornou-se cúmplice dos barões da mídia. Somente os processos com repercussão midiática favorável têm continuidade.
Os processos que não contam com a simpatia da mídia são engavetados no Ministério Público ou prescrevem no Judiciário.
Todo tipo de malabarismo e inovações jurídicas são toleradas, e até mesmo incentivadas, para se atingir determinados objetivos políticos.
Domínio de fato, delações premiadas, vazamentos seletivos, prisões preventivas eternas, manipulação de provas, dar peso de verdade a depoimentos de bandidos, tortura psicológica.
Vale tudo. Basta ter apoio da mídia.
Ayres Brito, ex-presidente do STF, antes mesmo de encerrar sua função, escreveu prefácio do livro de Merval Pereira.
E quando saiu de lá foi direto para a Globo, assumir uma sinecura: a presidência do conselho do instituto innovare.
Existe um debate sobre o poder da mídia corporativa hoje.
Muitos dizem que o seu poder declinou bastante, em virtude da internet, que democratizou a opinião pública.
Eu acho que o seu poder nunca foi tão grande.
Primeiro porque a mídia também se espraia pelas redes sociais e internet.
Segundo porque ela conseguiu vencer a batalha da comunicação em alguns lugares estratégicos: nos centros de poder não balanceados pelo sufrágio.
Os estamentos aristocráticos, as instâncias do Estado onde o povo não tem influência, foram os meios onde a ideologia midiática, esse fascismo enrustido, baseado no ódio, na mentira, no egoísmo, na brutalidade política, se desenvolveu com mais facilidade.
Aí que mora o perigo.
A mídia, sozinha, é um cão sem dentes.
Quando ela consegue instrumentalizar setores do Ministério Público e um ou outro juiz inebriado por um espírito vingador, ela se torna efetivamente perigosa.
Surge o “golpe paraguaio”.
Sim, a mídia chegou ao auge de seu poder.
Criou um exército de zumbis, cujo número cresce diariamente, num ritmo assustador.
A cada minuto, a mídia transforma um brasileiro num idiota midiático.
A mídia, além disso, tem aliados no exterior.
Tem dinheiro no exterior.
Não se esqueça que a evasão fiscal brasileira alcança mais de 13% do PIB, segundo a ONG Tax Justice.
Por isso, a nossa elite não se preocupa em incendiar o país.
Todas as questões econômicas que nos desesperam, emprego, conteúdo nacional, industrialização – não tem a mínima importância para a ala rentista da nossa elite.
Ela tem dinheiro guardado para suportar a crise econômica.
Não tinha muito em 2002, quando até a Globo estava quebrada.
Mas souberam aproveitar o crescimento econômico.
Qual os nazistas nos anos que antecederam a II Guerra, eles se prepararam.
Produziram armas, juntaram dinheiro, formaram quadros.
Então como é possível afirmar, perguntará o leitor, diante de tantas demonstrações de poder, que chegamos ao fim da era da mídia?
Porque é exatamente nos momentos mais difíceis, mais perigosos, mais conturbados da história, que são forjados as ideias mais firmes, mais luminosas, mais combativas daquele tempo.
Os marxistas podem alegar que é o dinheiro que faz girar as rodas da história.
Sim, é verdade.
Mas as ideias inventaram a roda.
As ideias inventaram a história.
Mesmo se eles ganharem as próximas batalhas, usando todo o tipo de mau caratismo penal, torturando as leis do mesmo jeito que fizeram na Ação Penal 470, e sob a liderança da mídia, e com isso aprofundarem o processo de criminalização da política, mesmo assim eles terão perdido.
Porque será uma vitória suja.
Uma vitória triste, de um punhado de barões midiáticos e almofadinhas promotores metidos a justiceiros.
Uma vitória sórdida, conquistada ao preço de centenas de milhares de empregos e o atraso das mais grandiosas obras de infra-estrutura em andamento no mundo.
É evidente que ninguém conseguirá se manter num poder, não numa democracia, através de operações tão abertamente inescrupulosas.
Assim que tiverem vencido, terão perdido.
Por isso eu reitero: a era da mídia acaba aqui. Eles perderão mesmo ganhando.
Não é fácil enxergar, em meio à fumaça das bombas, misturada à multidão agitada e nervosa, aquela moça de gestos elegantes e sorriso maroto, caminhando tranquilamente.
Não é fácil ver a história.
Porém não impossível.
Basta ficar atento.
É um conceito profundo da filosofia antiga, que eu li num livro de Heidegger sobre Heráclito.
Escutar. Prestar atenção.
Prestemos atenção, portanto, ao que aconteceu na ABI ontem.
Davyd Bacelar, petroleiro e sindicalista recém eleito para o Conselho de Administração da Petrobrás, fez um discurso marcado por uma notável consciência do que está em jogo.
Defendeu a continuidade e o aprofundamento das investigações sobre corrupção, e a punição dos culpados, mas denunciou também a espetacularização e a manipulação política da justiça.
Wadih Damous foi mais longe e fez uma denúncia duríssima contra a repetição de um padrão já iniciado na Ação Penal 470: a manipulação do processo penal, o fim da presunção da inocência, o uso da prisão preventiva como forma de chantagem penal e tortura psicológica, o sensacionalismo com as delações premiadas, vazadas seletivamente, o ódio político substituindo a serenidade imparcial de autoridades que deveriam, antes de tudo, garantir os direitos individuais de todos, pobres ou ricos, tucanos ou petistas, sem terra ou empreiteiros.
Em sua louca cavalgada para adquirir o poder pelo poder, a oposição midiática não hesita em ferir a Petrobrás, quebrar as principais empresas de construção civil do país e agredir até mesmo os direitos fundamentais de alguns executivos, tratados como cordeiros gordos a serem sacrificados no altar da imprensa.
A imprensa corporativa, mais uma vez, arvora-se promotor, juiz, júri e carrasco.
Em seu discurso na ABI, Lula deixou bem claro que entendeu o papel central da comunicação na luta dos trabalhadores brasileiros por sua liberdade.
O ex-presidente mencionou acontecimentos internacionais, onde a manipulação da opinião pública provocou “mudanças de regime” que trouxeram caos e desespero a vários países.
Sutilmente, Lula lembrou que não podemos ser ingênuos em relação à interferência imperialista em nosso país.
Outro dia, almocei com Franklin Martins, ex-ministro de Lula, que me disse a mesma coisa: os EUA voltaram a olhar para a América Latina, então temos que nos preparar, porque eles, sem poderem nos invadir militarmente, terão de fazer diferente; terão de dar um golpe por dentro da democracia; que é exatamente o que está acontecendo, através da manipulação judicial da Operação Lava Jato.
Com a espionagem feita pela NSA contra a Petrobrás e contra a presidenta Dilma, está claro que Operação Lava Jato interessa aos americanos.
Quebrar empreiteiras brasileiras e trazer as americanas para operar no Brasil?
Quebrar a Petrobrás e abrir o pré-sal às petroleiras americanas?
A Lava Jato tornou-se um sonho bom e confortante do Tio Sam.
É o triunfo do cinismo e da hipocrisia.
As empreiteiras e petroleiras americanas formam o setor mais corrupto do mundo.
São elas que financiam politicamente todas as guerras dos EUA, onde os países são destruídos e depois reconstruídos pelas empreiteiras americanas.
As milhões de vidas perdidas no caminho são mero detalhe.
Os contribuintes americanos transferiram, no caso do Iraque, mais de 2 trilhões de dólares de recursos públicos, para o bolso da indústria da guerra, que pratica uma corrupção jupiteriana.
E o nosso procurador-geral da república, Rodrigo Janot, vai aos EUA pedir ajuda para detonar a Petrobrás e suas fornecedoras?
Você sabia, Janot, que os EUA são considerados, por muitos analistas, como o país mais corrupto do mundo?
Onde vocês acham que foram parar os trilhões gastos nas guerras do Afeganistão e Iraque?
Não foram para Paulo Roberto Costa, e seus coleguinhas corruptos de Petrobrás, isso eu posso lhe garantir.
Nem os EUA permitem nenhuma “delação premiada” contra seus interesses.
João Pedro Stédile, representando os principais movimentos sociais do campo, afirmou que eles marcharão ao lado do campo progressista, para o que der e vier.
A presidenta da UNE, Virgínia Barros, assegurou que os estudantes também estão alertas, que eles, os golpistas, “não passarão”.
A UNE, vítima sistemática de campanhas difamatórias da grande mídia, desde os anos 50 até hoje, tem lado.
E não é ao lado da Globo e suas manipulações.
“Acredito que está por trás dessa campanha é o desmanche de nosso maior patrimônio, vem daqueles que não concordam com a política de conteúdo nacional e nossa autonomia científica”, afirmou Barros.
O grande ausente no evento da ABI foi o governo, aquele que tem se caracterizado justamente por isso: pela ausência.
O campo progressista tem várias críticas ao governo. Enumero algumas:
1) a estratégia suicida de só apanhar, apanhar e apanhar, como se quisesse vencer o adversário fazendo-o quebrar as mãos de tanto dar soco;
2) a indiferença em relação a seu eleitorado, e a submissão à opinião da direita midiática;
3) a falta de uma agenda positiva, com políticas inspiradas no debate democrático com a sociedade;
4) a concentração excessiva de poder em mãos da presidenta, sem transferi-lo para seus próprios ministros. O chefe da Secom, Thomas Traumann, por exemplo, parece ter função apenas decorativa;
5) por que Dilma não pode montar um conselho político, com Lula à frente, para que estes tomem decisões políticas rápidas e efetivas. Por exemplo: escolher de uma vez o novo ministro do STF, escolher quem serão as novas lideranças do governo nos partidos da base aliada, escrever os discursos da presidenta, decidir quando ela deve aparecer ou não na TV?
Entretanto, esses problemas poderão ser equacionados ao longo dos próximos 4 anos.
Já o desmanche da Petrobrás e a extinção das empresas mais estratégicas do país, isso poderá demandar muito mais tempo, e afetar o nosso futuro por décadas.
O Brasil tem urgência de terminar suas grandes obras de infra-estrutura. Paralisá-las por causa de problemas de corrupção é duplicar o prejuízo causado pelos desvios, porque os atrasos elevam ainda mais os custos das obras e postergam o processo de desenvolvimento nacional.
E agora sabemos que a mídia estimula uma greve de caminhoneiros com perfil notoriamente patronal e política, nos moldes do que houve no Chile de Allende e volta e meia acontece na Argentina.
Procura-se produzir o caos para assustar o povo e forçá-lo a vender barato o seu voto e a sua soberania.
A presença de Nassif no palco da ABI, e os elogios que recebeu de Lula em seguida, mostram que cresceu a consciência sobre o papel central da batalha da comunicação na luta política.
A presença do escritor Eric Nepomuceno, por sua vez, mostra que essa comunicação, para ser efetiva, tem de ser produzida com arte e política, não com propaganda.
O discurso de Lula mostrou um político disposto a sacudir a inércia do governo e lutar pelo povo brasileiro.
A luta contra a corrupção tem de ser aliada do processo de desenvolvimento nacional, não sua inimiga.
Nenhuma empresa pode quebrar, nenhum trabalhador pode ser demitido, porque um punhado de procuradores, um juiz e alguns delegados aecistas, querem ganhar prêmios e confetes da Globo.
A era da mídia chega a seu fim porque o seu poder, por mais imenso que seja, é baseado numa mística declinante.
A mídia já gastou quase todos os seus cartuchos.
A sua ofensiva causou estragos terríveis.
A direita aumentou, tornou-se mais confiante e mais atrevida.
Mas agora teve início, finalmente, uma contra-ofensiva.
É parecido com o que testemunhamos nas últimas eleições. A direita, cujo poder emana de uma mídia centralizada e concentrada, lança ataques rápidos, demolidores, e mantém o adversário atônito através de bombardeios diários, que o impedem de raciocinar com calma e sangue frio.
O nosso campo demora para se organizar. Até hoje esperava, possivelmente, algum posicionamento do governo, para definir a melhor estratégia de contra-ataque à mídia.
Agora entendemos que o governo ainda está perdido, sem saber que rumo tomar, paralisado pela indecisão e quiçá também por covardia.
Cabe ao nosso campo tirar o governo dessa indecisão e trazê-lo para nosso lado. Quanto à covardia, daremos o exemplo.
A coragem, como se sabe, é contagiante.
Bem, ao menos o governo já começou a lutar pelo mais importante: não paralisar as grandes obras e não deixar que as empresas quebrem.
O esforço do Advogado Geral da União, Luis Adams, deve ser defendido por todos os brasileiros que não sucumbiram à loucura autodestrutiva da mídia.
O nosso campo demora para se organizar, mas quando o faz, emerge com uma força muito mais orgânica do que a mídia jamais possuirá.
No próximo dia 13, haverá manifestações, em todo país, contra essa campanha para destruir a Petrobrás, suas fornecedoras e todas as indústrias que dependem de ambas.
O encontro na ABI foi o nosso desembarque na Normadia.
O nosso dia D.
A luta pela liberdade, contra o fascismo midiático e suas patranhas, começou.
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