quinta-feira, 14 de maio de 2015

Zelotes não sensibiliza Justiça e mídia

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Por André Barrocal, na revista CartaCapital:

O Ministério Público (MP) entrou com uma representação na Corregedoria do Tribunal Regional Federal (TRF) da Primeira Região, sediado em Brasília, contra o juiz responsável pela Operação Zelotes, que investiga um bilionário esquema de anulação de dívidas tributárias de grandes empresas. Para o MP, o juiz Ricardo Leite, da 10ª Vara Federal de Brasília, tem um histórico de segurar processos por muito tempo e sem justificativas razoáveis, um comportamento que chama a atenção e deveria ser examinado de perto.

Para procuradores de Justiça e policiais federais da Operação Zelotes, Leite tomou uma série de decisões que atrapalharam as investigações. Entre outras coisas, ele negou a prisão temporária de 26 suspeitos de integrar o esquema, rejeitou o pedido de bloqueio de bens de certos investigados e recusa-se a quebrar o sigilo do processo. As prisões solicitadas, segundo os investigadores, eram necessárias para tomar depoimentos sem que houvesse a oportunidade de os suspeitos combinarem suas versões entre si, algo que agora já não se pode mais impedir.

O principal procurador da República na Operação Zelotes, Frederico Paiva, acredita que o caso até agora não entusiasmou nem o Poder Judiciário nem a mídia – ao contrário do que aconteceu com a Operação Lava Jato. Isso dificultaria as investigações, já que estão na mira grandes e poderosas empresas. “É preciso que a corrupção seja combatida por todos. Os valores [da Zelotes] são estratosféricos”. Suspeita-se de um desvio de até 19 bilhões de reais dos cofres públicos.

Para o procurador, os escândalos de corrupção no Brasil só despertam interesse quando há políticos no meio. “Quando atingem o poder econômico, não há a mesma sensibilidade.” Em entrevista recente à TV Gazeta de São Paulo, o ex-governador paulista Claudio Lembo disse que “o que aconteceu no Carf [o Conselho Administrativo de Recursos Fiscais] é gravíssimo, mas a imprensa não fala”. “Lá está o núcleo da minoria branca fazendo corrupção efetiva”, disse. “Há um conluio nacional de preservação de quem está dentro do Carf.”

Ricardo Leite deverá ser acionado também no Conselho Nacional de Justiça (CNJ). O deputado Paulo Pimenta (PT-RS) prepara uma representação de teor parecido com a do Ministério Público. Segundo ele, Leite é responsável por processos antigos contra personagens da Zelotes que jamais foram sequer chamados a depor. “Este juiz atrapalha o combate à corrupção e ao crime do colarinho branco no Brasil”, afirmou Pimenta.

Apesar das dificuldades, Frederico Paiva disse que o Ministério Público apresentará à Justiça, entre junho e julho, denúncias por corrupção e lavagem de dinheiro contra investigados na Zelotes.

Deflagrada em março, a Operação desbaratou um esquema de fraude que desfalcava os cofres públicos no Carf. O conselho é um órgão do Ministério da Fazenda em que, sem passar pela Justiça, os contribuintes podem contestar tributos cobrados pela Receita Federal. É formado por 216 conselheiros, metade indicada pela Fazenda e metade pelos contribuintes. As indicações privadas partiam basicamente das três confederações nacionais patronais: CNI (indústria), CNC (comércio) e CNA (agricultura).

O esquema era “sofisticado”, segundo explicou Paiva durante audiência pública na Câmara dos Deputados nesta quarta-feira 13. Havia conselheiros dispostos a manipular julgamentos e empresas de fachada a fazer a intermediação deles com contribuintes interessados em fugir da taxação da Receita. Os contatos entre os integrantes do esquema raramente eram feitos por telefone, uma forma de evitar deixar rastros. O pagamento da propina pelas grandes empresas aos conselheiros e intermediários ocorria por meio de um emaranhado de contas bancárias, outra forma de tentar não deixar pistas.

Entre as empresas suspeitas de integrarem o esquema de desfalque do Erário estão Santander, Bradesco, Opportunity, RBS (afiliada da Rede Globo), Camargo Correa, Safra, Gerdau, entre outros.

Atualmente, os investigadores estão passando um pente-fino em 74 processos do Carf. São casos de 2005 a 2013. Juntos, somam 19 bilhões que podem ter sido sonegados. Segundo Paiva, há indícios mais veementes de irregularidades em processos a somar 5 bilhões de reais e envolver de 15 a 20 empresas. De acordo com ele, todos os processos suspeitos envolvem grandes empresas.

Logo após a Operação Zelotes, o governo resolveu remodelar o Carf, um trabalho ainda em andamento. Uma das mudanças já definidas foi a instituição de gratificação para os conselheiros. Eles trabalhavam de graça, circunstância que poderia deixá-los mais inclinados a se corromper.

A gratificação foi instituída por um decreto de Dilma Rousseff. O deputado Bruno Covas (PSDB-SP) apresentou um decreto legislativo na Câmara a propor a anulação do decreto de Dilma, sob a justificativa de que o governo está em tempos de ajuste fiscal e não deveria criar gastos novos. “O modelo atual do Carf é propício à corrupção e ao tráfico de influência”, afirmou Paiva.

5 comentários:

Hélio Jorge Cordeiro disse...

Como diria um velho e bom patrício: Sonegar é preciso, viver não é preciso.

CAMO disse...

A justiça esta amarrada pela mídia, se a mídia é indiferente ao fatos a justiça também será, percebe-se que quem manda nas instituições neste país é a mídia.

Anônimo disse...


[AINDA SOBRE (pseudo-)JORNALISMO E A VÍTIMA A VERDADE!]

O Ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, concedeu uma boa e esclarecedora entrevista ao jornalista Mario Sergio Conti, programa 'Diálogos' [GloboNews] edição da noite de 14/05/2015...

E a tal da vítima o jornalismo!

A entrevista transcorria muto bem... E, aí, o Mário Sérgio Conti "parece ter lembrado do sósia do Felipão"! [Risos]

[Trecho do] 'DIÁLOGO'!

- Ministro José Eduardo Cardozo, eu estive com o Cesare Battisti durante todo o final de semana retrasado!... E eu vi que ele [o Battisti] está sendo vigiado 24 horas por dia por agentes da Polícia Federal...
- Mário, eu não estou sabendo deste fato! Você tem certeza?
- Ministro, eu vi!
- Do ponto de vista jurídico, não há absolutamente nada que justifique essa situação!
- Bom, eu vi! [o Mario Sérgio Conti repete a frase já demonstrando certa preocupação com a tal da 'verdade factual'! Adendo do matuto 'bananiense'!]
- Pois bem, Mário, amanhã mesmo eu irei averiguar essa sua informação...
- Eu vi!...
- E, caso se confirme, tomarei todas as providências cabíveis...

RESCALDO: com a palavra o 'amanhã'!
Pausa para rir!

Lá isso é jornalismo, siô?!

Messias Franca de Macedo - matuto 'bananiense'!
Feira de Santana, Bahia
República de 'Nois' Bananas

Anônimo disse...

Realmente, quem manda no País é a mídia. A mídia suja, tipo Estadão, Folha, Veja, Globo et caterva...

Assis disse...

Porque a mídia alternativa não põe a boca no trombone com a mesma intensidade, persistência e veículos do PIG? A TV, o radio, a internet e as redes sociais estão aí pra isso mesmo. Até quando vamos ficar indiferentes aos "juízes deuses" corruptos e as indicações sem concurso público???