domingo, 21 de junho de 2015

O encapetado “pastor” Silas Malafaia


Por Altamiro Borges

O “pastor” Silas Malafaia está endiabrado. Após ser humilhado ao vivo pelo apresentador Ricardo Boechat – “Malafaia, vai procurar uma rola. Não me encha o saco. Você é um idiota, um paspalhão, um pilantra, tomador de grana de fiel, explorador da fé alheia” –, ele agora ameaça processar o jornalista e pedir sua cabeça ao “meu amigo Johnny”, o avarento dono da Band. É certo que o “pastor” tem muita grana e poder para infernizar a vida de um simples mortal. Mas ele terá dificuldade para convencer algum juiz honesto de que não é homofóbico – a principal acusação real do jornalista, tirando os adjetivos. O desabafo de Ricardo Boechat ocorreu quando ele comentava a cruel agressão à menina Kailane Campos, de 11 anos, apedrejada por usar roupas brancas do candomblé.

A jovem foi atacada no domingo passado (14), no Rio de Janeiro, por fanáticos que se apresentaram como evangélicos. Segundo reportagem de Isabel Vieira, na Agência Brasil, Kailane Campos não sofreu ferimentos graves, mas “a pedra arremessada por intolerância religiosa pode ter deixado marcas para toda sua vida. A opinião é da avó da menina, Kátia Marinho, que presenciou a agressão, e disse que, por medo, a neta quer evitar roupas brancas... ‘Ela está bem de saúde, só que não quer mais sair de branco’, disse a avó... A família está empenhada em fazer da agressão um símbolo da luta contra o preconceito religioso, lembrando que a cor branca, usada pelos praticantes do candomblé e da umbanda, também é a cor que simboliza a paz”.

O Rio de Janeiro, principal palco das pregações homofóbicas de Silas Malafaia, é o Estado com o maior número de seguidores de religiões afro no país (1,61%), segundo a Fundação Getúlio Vargas, e também o que lidera as denúncias de discriminação. Pesquisa da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República (SDH) de 2014 registrou 39 ligações para o Disque 100 denunciando a intolerância. São Paulo, em segundo lugar no ranking, contabilizou 29 casos. Segundo a professora Denise Fonseca, da PUC-RJ, algumas seitas neopentecostais fazem o “aliciamento de pessoas em estado de vulnerabilidade emocional ou material. Ao satanizar e trazer para dentro de suas igrejas, oferecendo o que chamam de ‘libertação’, nada mais estão fazendo do que roubando adeptos”.

A pesquisadora aposentada coordenou um estudo sobre os templos de religiões de matriz africana no Rio de Janeiro. “Ela acredita que por trás das agressões aos praticantes de candomblé e umbanda está a necessidade de religiões neopentecostais criarem um inimigo a ser combatido, para depois cooptar fiéis. Na pesquisa, entre 2008 e 2011, foram mapeados 900 templos religiosos de matriz africana no Rio e 450 queixas de intolerância. ‘São casos que começam com as agressões verbais – ‘filha do demônio’ e ‘vai para o inferno’, ou seja, a satanização – e passam por agressões às casas religiosas, com pichações e depredações e até agressões físicas’, revelou Denise Fonseca”, conforme a reportagem da Agência Brasil.

Esta postura preconceituosa e de estímulo ao ódio é o que explica a barbárie cometida contra a jovem Kailane Campos, entre tantas outras vítimas. Com afirma Marcelo Zorzanelli, em excelente artigo publicado no blog Diário do Centro do Mundo, não dá para esconder “a mão dos malafaias e felicianos na agressão da menina que sai de uma festa do candomblé”. Para ele, estas práticas “psicopatas” de discriminação são criminosas e deveriam ser duramente punidas. “O que dá o direito a este grupo de pessoas de jogar uma pedra na cabeça de uma criança de 11 anos? A Lei, certamente, não é. Em vigor desde 5 de janeiro de 1989, a lei nº 7.716 considera crime a prática de discriminação ou preconceito contra religiões no país”. Ao processar o jornalista Ricardo Boechat, o “pilantra” Silas Malafaia é quem deveria ser condenado.

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2 comentários:

marcio ramos disse...

... alguem precisa orientar o povo que toda e qualquer religião é uma falacia...

Anônimo disse...

Colocação sensacional, Miro. O Malafaia tá fora da casinha.