Por Vladimir Safatle, na revista CartaCapital:
Como se fosse pouca toda a humilhação que a população de São Paulo foi e continua obrigada a passar com a gestão calamitosa de seus recursos hídricos, calamidade resultante da irresponsabilidade, ausência de planejamento e, em muitos casos, pura e simplesmente desonestidade com omissões criminosas de informação, temos agora um mais novo presente.
Todo morador de São Paulo conhece bem essa maneira tucana de resolver problemas eliminando seus nomes. Assim, passamos por um racionamento que deixou bairros sem água por dias, que entregou água suja a parcelas da população, aumentando exponencialmente as doenças provocadas por insalubridade, mas a princípio nada aconteceu. O nome “racionamento” foi excluído da novilíngua do Tucanistão. Tal procedimento já havia sido tentado com o PCC. Depois dos famosos ataques do PCC na cidade de São Paulo, o governo resolveu o problema através de uma tática digna das melhores correntes do nominalismo filosófico: ele deixou de chamar o PCC pelo nome. Este virou “uma organização criminosa que atua nos presídios”. Ele também foi aplicado na última greve de professores do Estado. Depois de meses de greve em um sistema de ensino falimentar e sucateado, a única coisa que o governador fez foi afirmar a todos: “Não há greve”.
Pois bem, essa estratégia de resolução de problemas pela eliminação de seu nome, essa lógica de governo baseada em estratégia de publicitário, acaba de ser premiada pela Câmara dos Deputados. Em alguns dias, o governador Geraldo Alckmin irá a Brasília receber um prêmio (sim, vale a pena escrever outra vez, um prêmio) pela sua gestão heroica da crise da água que ele mesmo criou em seu governo vitalício. “Eu mereço”, disse o governador. É verdade, Alckmin. Você deve merecer. Só quem não merece é o povo de São Paulo, que descobre que, em seu Estado, irresponsabilidade e incompetência gerencial dão prêmio.
Tal acinte é apenas expressão do mundo paralelo no qual vive o tucanato. Já virou piada o fato de os escândalos de corrupção sob o império tucano sempre morrerem nos escaninhos infinitos do Poder Judiciário. Mensalão tucano, corrupção do metrô, relações entre Carlos Cachoeira e o governo tucano de Goiás, Daniel Dantas e as privatizações, compra de votos na reeleição de FHC, Rodoanel, participação tucana no escândalo da Petrobras: nada disso terá sequência.
A razão é simples de entender: as relações entre o alto tucanato e membros do Poder Judiciário e da imprensa é algo que vem do berço. Todos frequentaram as mesmas escolas, cresceram nos mesmos clubes, participaram dos mesmos círculos. Assim, eles se defendem como casta. Há uma complementaridade de classe a unir todos eles na hora da defesa. Usando artimanhas de bacharel em advocacia, os processos tornam-se lentos, prescrevem, dossiês não são enviados e todos passam incólumes. Foi sempre assim no Brasil: alguns têm uma espécie de direito inato à transgressão das leis e à incompetência.
Mas o passo inovador agora é premiar o produtor da crise pela crise que ele não foi capaz de debelar. Este é, de fato, apenas um pequeno adiantamento do que espera o Brasil nos próximos anos. Gerentes que não gerenciam nada, revolucionários que não revolucionam nada, democratas que se incomodam com a democracia. Trata-se de procurar eliminar a experiência concreta das pessoas por meio da repetição compulsiva de estratégias de marketing e propaganda. Se o governo federal não tem mais nada a oferecer a não ser sua impotência e sua degradação cotidiana, a oposição só tem a oferecer seus passes de mágica com números e sua incompetência travestida de sucesso gerencial. Tudo isso mais parece uma peça de Alfred Jarry protagonizada pelo Pai Ubu e suas máximas.
Todo morador de São Paulo conhece bem essa maneira tucana de resolver problemas eliminando seus nomes. Assim, passamos por um racionamento que deixou bairros sem água por dias, que entregou água suja a parcelas da população, aumentando exponencialmente as doenças provocadas por insalubridade, mas a princípio nada aconteceu. O nome “racionamento” foi excluído da novilíngua do Tucanistão. Tal procedimento já havia sido tentado com o PCC. Depois dos famosos ataques do PCC na cidade de São Paulo, o governo resolveu o problema através de uma tática digna das melhores correntes do nominalismo filosófico: ele deixou de chamar o PCC pelo nome. Este virou “uma organização criminosa que atua nos presídios”. Ele também foi aplicado na última greve de professores do Estado. Depois de meses de greve em um sistema de ensino falimentar e sucateado, a única coisa que o governador fez foi afirmar a todos: “Não há greve”.
Pois bem, essa estratégia de resolução de problemas pela eliminação de seu nome, essa lógica de governo baseada em estratégia de publicitário, acaba de ser premiada pela Câmara dos Deputados. Em alguns dias, o governador Geraldo Alckmin irá a Brasília receber um prêmio (sim, vale a pena escrever outra vez, um prêmio) pela sua gestão heroica da crise da água que ele mesmo criou em seu governo vitalício. “Eu mereço”, disse o governador. É verdade, Alckmin. Você deve merecer. Só quem não merece é o povo de São Paulo, que descobre que, em seu Estado, irresponsabilidade e incompetência gerencial dão prêmio.
Tal acinte é apenas expressão do mundo paralelo no qual vive o tucanato. Já virou piada o fato de os escândalos de corrupção sob o império tucano sempre morrerem nos escaninhos infinitos do Poder Judiciário. Mensalão tucano, corrupção do metrô, relações entre Carlos Cachoeira e o governo tucano de Goiás, Daniel Dantas e as privatizações, compra de votos na reeleição de FHC, Rodoanel, participação tucana no escândalo da Petrobras: nada disso terá sequência.
A razão é simples de entender: as relações entre o alto tucanato e membros do Poder Judiciário e da imprensa é algo que vem do berço. Todos frequentaram as mesmas escolas, cresceram nos mesmos clubes, participaram dos mesmos círculos. Assim, eles se defendem como casta. Há uma complementaridade de classe a unir todos eles na hora da defesa. Usando artimanhas de bacharel em advocacia, os processos tornam-se lentos, prescrevem, dossiês não são enviados e todos passam incólumes. Foi sempre assim no Brasil: alguns têm uma espécie de direito inato à transgressão das leis e à incompetência.
Mas o passo inovador agora é premiar o produtor da crise pela crise que ele não foi capaz de debelar. Este é, de fato, apenas um pequeno adiantamento do que espera o Brasil nos próximos anos. Gerentes que não gerenciam nada, revolucionários que não revolucionam nada, democratas que se incomodam com a democracia. Trata-se de procurar eliminar a experiência concreta das pessoas por meio da repetição compulsiva de estratégias de marketing e propaganda. Se o governo federal não tem mais nada a oferecer a não ser sua impotência e sua degradação cotidiana, a oposição só tem a oferecer seus passes de mágica com números e sua incompetência travestida de sucesso gerencial. Tudo isso mais parece uma peça de Alfred Jarry protagonizada pelo Pai Ubu e suas máximas.
1 comentários:
Eu acho que São Paulo merece sim, é o berço do atraso e do reacionarismo desse país......
Postar um comentário