Por Elaine Tavares, no site da Adital:
Na contemporaneidade vários são os exemplos de mentiras deslavadas produzidas pelo governo dos Estados Unidos para respaldar ataques contra outros países. A mais conhecida diz respeito as falsas denúncias de armas químicas de destruição em massa do Iraque.
Esse foi o motivo - inventado - que levou à invasão do território iraquiano em 2003. Outro engodo foi o 11 de setembro, quando derrubaram as duas torres do World Trade Center, o qual várias fontes alegam que foi uma grande armação dos serviços secretos estadunidenses para legitimar a invasão do Afeganistão. Sempre bom lembrar que tanto Sadam quanto Bin Laden eram amigos dos EUA, cria deles, inclusive, tendo sido treinados para defender os interesses dos Estados Unidos no lado oriental.
Mentiras também foram usadas durante a guerra do Vietnã, com informações falsas sobre os "inimigos" bem como sobre o papel que os EUA desempenhava no conflito. Na verdade, os EUA atacaram o país apenas para barrar o que chamavam de "ameaça vermelha", o comunismo, o que seria ruim para seus negócios. Mentiras sobre Cuba, sobre a Venezuela, sobre o Chile.
Em 1898, quando reivindicava o que acreditava serem os seus direitos sobre Cuba à Espanha, os Estados Unidos chegaram a explodir seu próprio navio, o USS Maine, que estava ancorado em Havana, matando um terço da tripulação. E foi justamente a comoção pelas vítimas que fez com que a população aprovasse a guerra contra a Espanha. Tal como aconteceu no 11 de setembro que resultou em ataque imediato ao Afeganistão, como "resposta" ou vingança.
Na atualidade, com a desestabilização criada no Oriente Médio, os Estados Unidos criaram - via mídia-a figura do terrorista árabe, a qual tem servido de desculpas críveis para novas invasões e ataques.
Ninguém é bobo de achar que os árabes são bonzinhos, coisa que nem asiáticos, nem americanos, nem qualquer outro representante do gênero humano é, por excelência. Existem os que são bons e os que se prestam às maldades mais atrozes, em qualquer etnia. Se temos o ISIS, temos também Guantánamo.
Mas, a ideologia produzida sistematicamente pelos meios de comunicação a serviço do governo imperial têm transformado qualquer árabe em inimigo. Exemplo mais recente foi o incêndio de um centro de refugiados na França, logo após o ataque terrorista em Paris, no qual, de maneira surpreendente, foi encontrado um passaporte sírio.
Isso mostra o quanto as técnicas de mentira e de ideologização da realidade vão sendo copiadas pelos países que conformam o bloco do G-8, que são os que mandam no mundo. Imaginem que cabeça essa do terrorista que vai explodir uma multidão, passando primeiro em casa para pegar o passaporte, que servirá de prova sobre quem ele é. Ah, tá!
O fato é que quase nada do que acontece no mundo é verdadeiro. No geral, o que aparece não é o que é de verdade. Mentiras, artimanhas, enganos, trapaças. Isso cabe a nós aqui no Brasil também, com coisas como a acusação de que os indígenas são o atraso do país, ou o crime da Samarco ou o incêndio na Chapada Diamantina.
Sempre há que procurar o que está por trás das palavras, o que está por trás dos fatos. E se a pessoa apurar melhor as coisas vai logo perceber que tudo tem a ver com interesses financeiros de alguns poucos grupos, os quais tomaram de assalto os governos dos países, passando a agir com desenvoltura, destruindo vidas e mundos, sem qualquer compaixão.
Não é sem razão que os garotos e garotas que são recrutados pelo grupo extremista que se autodenomina Estado Islâmico, abandonam tudo para vivenciar a violência mais voraz. Eles geralmente são vítimas dessa violência, ou seus pais e avós. E, ao final, são encantados pela ideia da beleza da barbárie, cometendo atrocidades múltiplas e divulgando-as mundialmente como grandes feitos. E por que não seriam, se a barbárie é a que parece sempre vencer?
Hoje, dias depois dos atentados na França, ainda reverberam as discussões nas redes sociais sobre a colonialidade da dor. Afinal, a apresentadora da Globo chora pelo franceses (europeus, brancos), mas não chora pelos palestinos (semitas, morenos) que são bombardeados todos os dias desde 1947 ou pelos mortos de Bento Rodrigues. E ainda há os que dizem que não há hierarquização na tragédia.
Mas, isso também é uma maneira de tentar tapar a realidade. Há hierarquização sim. Noam Chomsky, que é um teórico estadunidense, já mostrou como isso é real no seu lindo livro "Os guardiões da liberdade". Quando a vítima é aliada dos donos do mundo, a sua dor é viralizada, divulgada à exaustão. Mas, se a vítima é inimiga do donos do mundo ou se lhes é indiferente, então a sua dor cabe numa nota de rodapé, ou é simplesmente ignorada como acontece com os horrores perpetrados pelos capitalistas na África, ou na Ásia, ou na América Central ou mesmo no centro dos seus mundos.
O fato é que quando cai uma vítima do sistema, ela precisa mesmo ter sua tragédia escondida, para que não se gere a consciência de classe. Já quando quem tomba é do alto da pirâmide a coisa muda de figura, cria-se a ideia de que somos todos iguais na dor. Não somos. Nem na alegria, nem na dor, nem na vida mesma.
Então, não é de estranhar para nada que o facebook, esse projeto de emburrecimento e alienação, coloque a bandeira da França para customizar as fotos, e não coloque a da Palestina. Porque esse sistema de comunicação massiva é de propriedade do sistema. Seria mesmo um absurdo que ele se preocupasse com a dor dos pobres. Por isso parecem-me incognoscíveis as reclamações que se fazem na rede. Será possível que as pessoas não percebam isso?
E desse modo vamos caminhando com as caras enterradas nos celulares "espertos" conectados a uma realidade falseada.
Enquanto isso na realidade das gentes empobrecidas, bem aqui no nosso quintal, crianças e adolescentes ocupam escolas para que elas não fechem. Levam porrada, veem seus professores sendo brutalmente agredidos pela polícia que deveria protegê-los, mas não arredam pé. E de maneira subversiva vão usando o grande irmão, o facebook, para difundir sua luta. Só que, como não poderia deixar de ser, obscurecidos pelos mais variados espetáculos cotidianos que ganham todo o foco do sistema.
Essa é a vida, nossa ordinária vida. A luta de classes que não cessa.
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