Por André Barrocal, na revista CartaCapital:
Era para ser uma semana triunfante para o vice-presidente Michel Temer. Por obra dele, o PMDB, partido que comanda, romperia com Dilma Rousseff, inspiraria outras siglas governistas a segui-lo e aí o impeachment seria questão de tempo.
E para tentar cativar desde já o empresariado, um porta-voz do vice encarregava-se de vender à praça os planos econômicos neoliberais de Temer. Mas as coisas não saíram exatamente como imaginado. Ao contrário. Temer parece em apuros.
O PMDB de fato abandonou a canoa governista, na terça-feira 29, sem conseguir, contudo, arrastar qualquer partido junto. Pior. Ao abrir mão de cargos federais, deu uma espécie de cheque especial para o Palácio do Planalto recompor sua base aliada com a distribuição de espaços antes ocupados por peemedebistas.
Uma dia após o rompimento, o gabinete do ministro Ricardo Berzoini, da Secretaria de Governo, viu uma romaria de parlamentares interessados em ocupar, diretamente ou via apadrinhados, as vagas disponíveis. Seriam contemplados na medida do possível e desde que se comprometessem a votar contra o impeachment e a apoiar o governo até 2018.
Um dos que participaram da romaria foi o líder do PMDB na Câmara, Leonardo Picciani (RJ). Ele foi ao Planalto junto com o ministro da Saúde, o deputado peemedebista Marcelo Castro, a fim de negociar a permanência do mesmo.
Dos sete ministros indicados pelo PMDB, só um se demitiu. Os demais fizeram de tudo para ficar, dirigiram inclusive apelos pessoalmente a Dilma Rousseff. Uma desmoralização para a autoridade de Temer como dirigente partidário.
Rival pelo controle do PMDB, o presidente do Senado, Renan Calheiros, definiu assim a debandada peemedebista articulada por Temer: “Foi um movimento pouco calculado, (pouco) inteligente”.
O único ministro do PMDB a demitir-se foi Henrique Alves, até então no Turismo. Alves é alvo de um inquérito no Supremo Tribunal Federal (STF) aberto há pouco graças a descobertas da Operação Lava Jato. No mesmo inquérito, está o presidente da Câmara, Eduardo Cunha.
Cunha é outra razão para Temer estar em maus bocados após o PMDB afastar-se do Planalto. Dono de uma imagem pública desgastada devido a seu currículo, réu no STF por corrupção, Cunha virou um dos símbolos do rompimento. Pior para Temer.
“Como anão moral, traidor e parceiro íntimo de tudo que não presta, à frente deste capítulo do golpe de estado em marcha no Brasil, Michel Temer e seu sócio Eduardo Cunha”, escreveu no Facebook o presidenciável Ciro Gomes, do PDT, logo após a decisão do PMDB.
Afastar o PMDB do PT era um desejo antigo de Cunha, a sonhar com a derrubada de Dilma para, talvez, a Lava Jato ser amordaçada pelo governo seguinte e ele salvar a pele. Uma versão incômoda para Temer, presumível incumbido do serviço sujo de abafar as investigações.
Para tentar desfazer a impressão de compromisso com alguma missão amordaçadora, Temer disse na quinta-feira 31, durante reunião na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), ser favorável às investigações.
Ao liderar o rompimento do PMDB com o governo, Temer também atraiu para si a ira petista e do Planalto. O líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT), disse em entrevista a um jornal de seu estado, o Ceará, que Temer está “no comando dessa operação do golpe”.
O líder no Senado, Humerto Costa (PT-PE), disse da tribuna da Casa que os petistas irão infernizar a vida de Temer, caso este assuma o lugar de Dilma. “Vossa Excelência será o próximo a cair, porque nós do PT, dos movimentos sociais e todos aqueles que defendemos a democracia, e já estamos mobilizados nas ruas, vamos seguir ocupando o Brasil inteiro, de norte a sul, para denunciar a ruptura da ordem democrática e dizer que não aceitamos qualquer tipo de golpe.”
A própria Dilma Rousseff alfinetou Temer ao lançar, na quarta-feira 30, a terceira fase do programa oficial de construção de moradias populares, o Minha Casa Minha Vida. Segundo ela, querem “tirar o governo para golpear direitos garantidos da população”.
Uma cutucada facilitada pelo vice-presidente. Às vésperas de o PMDB separar-se do PT, o comandante do órgão peemedebista de estudos, Moreira Franco, deu uma entrevista a O Estado de S. Paulo sobre a agenda econômica do partido. Aliado de Temer, Franco transmitiu o que seria um governo pós-impeachment.
Entre as propostas, estão a redução dos financiamentos do Minha Casa Minha Vida, privatizações, enxugamento do Bolsa Família, do Pronatec, o programa de bolsas de estudo para cursos técnicos, e do Fies, de crédito a estudantes universitários. Ideias a se juntar ao plano “Ponte para o Futuro”, lançado pelo PMDB no fim do ano passado.
“É um programa de restauração do neoliberalismo. Nunca um Presidente da República seria eleito com um programa como o Ponte para o Futuro”, disse da tribuna o senador Lindberg Farias (PT-RJ). Críticas existentes também no PMDB. Caso do senador Roberto Requião (PR), para quem os planos de Temer foram feitos na medida para o interesses do sistema financeiro.
A negativa repercussão do plano levou Moreira Franco, um ex-ministro de Dilma, a dar outra entrevista, desta vez à Folha de S. Paulo, a fim de tentar convencer o País de que o PMDB não pretende cortar gastos sociais.
Diante dos últimos acontecimentos e pelo que se ouve no PT e no Planalto, Michel Temer que se prepare. Se a última semana esteve longe de ser inesquecível, as próximas não devem ser diferentes.
Era para ser uma semana triunfante para o vice-presidente Michel Temer. Por obra dele, o PMDB, partido que comanda, romperia com Dilma Rousseff, inspiraria outras siglas governistas a segui-lo e aí o impeachment seria questão de tempo.
E para tentar cativar desde já o empresariado, um porta-voz do vice encarregava-se de vender à praça os planos econômicos neoliberais de Temer. Mas as coisas não saíram exatamente como imaginado. Ao contrário. Temer parece em apuros.
O PMDB de fato abandonou a canoa governista, na terça-feira 29, sem conseguir, contudo, arrastar qualquer partido junto. Pior. Ao abrir mão de cargos federais, deu uma espécie de cheque especial para o Palácio do Planalto recompor sua base aliada com a distribuição de espaços antes ocupados por peemedebistas.
Uma dia após o rompimento, o gabinete do ministro Ricardo Berzoini, da Secretaria de Governo, viu uma romaria de parlamentares interessados em ocupar, diretamente ou via apadrinhados, as vagas disponíveis. Seriam contemplados na medida do possível e desde que se comprometessem a votar contra o impeachment e a apoiar o governo até 2018.
Um dos que participaram da romaria foi o líder do PMDB na Câmara, Leonardo Picciani (RJ). Ele foi ao Planalto junto com o ministro da Saúde, o deputado peemedebista Marcelo Castro, a fim de negociar a permanência do mesmo.
Dos sete ministros indicados pelo PMDB, só um se demitiu. Os demais fizeram de tudo para ficar, dirigiram inclusive apelos pessoalmente a Dilma Rousseff. Uma desmoralização para a autoridade de Temer como dirigente partidário.
Rival pelo controle do PMDB, o presidente do Senado, Renan Calheiros, definiu assim a debandada peemedebista articulada por Temer: “Foi um movimento pouco calculado, (pouco) inteligente”.
O único ministro do PMDB a demitir-se foi Henrique Alves, até então no Turismo. Alves é alvo de um inquérito no Supremo Tribunal Federal (STF) aberto há pouco graças a descobertas da Operação Lava Jato. No mesmo inquérito, está o presidente da Câmara, Eduardo Cunha.
Cunha é outra razão para Temer estar em maus bocados após o PMDB afastar-se do Planalto. Dono de uma imagem pública desgastada devido a seu currículo, réu no STF por corrupção, Cunha virou um dos símbolos do rompimento. Pior para Temer.
“Como anão moral, traidor e parceiro íntimo de tudo que não presta, à frente deste capítulo do golpe de estado em marcha no Brasil, Michel Temer e seu sócio Eduardo Cunha”, escreveu no Facebook o presidenciável Ciro Gomes, do PDT, logo após a decisão do PMDB.
Afastar o PMDB do PT era um desejo antigo de Cunha, a sonhar com a derrubada de Dilma para, talvez, a Lava Jato ser amordaçada pelo governo seguinte e ele salvar a pele. Uma versão incômoda para Temer, presumível incumbido do serviço sujo de abafar as investigações.
Para tentar desfazer a impressão de compromisso com alguma missão amordaçadora, Temer disse na quinta-feira 31, durante reunião na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), ser favorável às investigações.
Ao liderar o rompimento do PMDB com o governo, Temer também atraiu para si a ira petista e do Planalto. O líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT), disse em entrevista a um jornal de seu estado, o Ceará, que Temer está “no comando dessa operação do golpe”.
O líder no Senado, Humerto Costa (PT-PE), disse da tribuna da Casa que os petistas irão infernizar a vida de Temer, caso este assuma o lugar de Dilma. “Vossa Excelência será o próximo a cair, porque nós do PT, dos movimentos sociais e todos aqueles que defendemos a democracia, e já estamos mobilizados nas ruas, vamos seguir ocupando o Brasil inteiro, de norte a sul, para denunciar a ruptura da ordem democrática e dizer que não aceitamos qualquer tipo de golpe.”
A própria Dilma Rousseff alfinetou Temer ao lançar, na quarta-feira 30, a terceira fase do programa oficial de construção de moradias populares, o Minha Casa Minha Vida. Segundo ela, querem “tirar o governo para golpear direitos garantidos da população”.
Uma cutucada facilitada pelo vice-presidente. Às vésperas de o PMDB separar-se do PT, o comandante do órgão peemedebista de estudos, Moreira Franco, deu uma entrevista a O Estado de S. Paulo sobre a agenda econômica do partido. Aliado de Temer, Franco transmitiu o que seria um governo pós-impeachment.
Entre as propostas, estão a redução dos financiamentos do Minha Casa Minha Vida, privatizações, enxugamento do Bolsa Família, do Pronatec, o programa de bolsas de estudo para cursos técnicos, e do Fies, de crédito a estudantes universitários. Ideias a se juntar ao plano “Ponte para o Futuro”, lançado pelo PMDB no fim do ano passado.
“É um programa de restauração do neoliberalismo. Nunca um Presidente da República seria eleito com um programa como o Ponte para o Futuro”, disse da tribuna o senador Lindberg Farias (PT-RJ). Críticas existentes também no PMDB. Caso do senador Roberto Requião (PR), para quem os planos de Temer foram feitos na medida para o interesses do sistema financeiro.
A negativa repercussão do plano levou Moreira Franco, um ex-ministro de Dilma, a dar outra entrevista, desta vez à Folha de S. Paulo, a fim de tentar convencer o País de que o PMDB não pretende cortar gastos sociais.
Diante dos últimos acontecimentos e pelo que se ouve no PT e no Planalto, Michel Temer que se prepare. Se a última semana esteve longe de ser inesquecível, as próximas não devem ser diferentes.
2 comentários:
É bem pouco.Como diz a sabedoria popular:"quem bem ou mal faz para si traz."
O irmão gêmeo do "AMIGO da ONÇA" pulou do avião, em pleno voo, sem paraquedas ...
Postar um comentário