sábado, 21 de janeiro de 2017

Lava-Jato pode acabar para os golpistas

Por Eduardo Guimarães, no Blog da Cidadania:

Continuam surgindo indícios de que a morte de Teori Zavascki pode não ter sido apenas um acidente. Nas primeiras horas da manhã de sexta-feira (20), espalhou-se a notícia de que o site contendo a base de dados do avião em que o ex-ministro do STF morreu foi acessado 1.885 vezes no dia 3 de janeiro último, duas semanas antes do desastre.

Apesar dos indícios e do imenso número de interessados na paralisação das investigações da Lava Jato contra políticos com foro privilegiado, há sempre uma turma para a qual tudo é teoria da conspiração – o golpe parlamentar contra Dilma que este blog enxergava como plenamente possível anos e anos antes de ocorrer era visto como “exagero” pelos mesmos que, agora, acham que a morte de Teori foi uma infeliz coincidência.

Claro que pode ser coincidência, mas, assim mesmo, entidades da magistratura como a Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho (Anamatra) e a Associação dos Juízes Federais do Brasil (Ajufe) divulgaram nota na tarde de quinta-feira, 19, lamentando a morte do ministro do Supremo Tribunal Federal Teori Zavascki e cobrando que as causas do acidente que vitimou o magistrado sejam esclarecidas “com a maior rapidez e transparência possível.”

Mais cedo, um dos principais investigadores da Operação Lava Jato, o delegado federal Marcio Adriano Anselmo pediu a investigação “a fundo” da morte do ministro Teori Zavascki na véspera da homologação da colaboração premiada da Odebrecht. “Esse ‘acidente’ deve ser investigado a fundo”, escreveu em sua página no Facebook, destacando a palavra “acidente” entre aspas.

A desconfiança é tanta que o STF já busca soluções “mais transparentes” para que outro ministro daquela Corte dê continuidade ao trabalho de Teori na Lava Jato em vez de seguir a norma escrita de que em caso de vacância do cargo de relator de um processo por morte do titular, o sucessor dele seja o indicado pelo presidente da República.

O STF cogita sortear o processo da Lava Jato entre os diversos ministros porque entregá-lo àquele que Temer indicar para substituir Teori seria o mesmo que colocar o presidente da República para investigar a si mesmo.

Com efeito, a ausência de Teori no processo vai atrasá-lo muito. Dependendo da ministra Carmén Lúcia, o atraso pode durar anos – o que, se vier a acontecer, representará impunidade dos políticos com foro privilegiado que estão sendo delatados pela Lava Jato.

Recentemente foi divulgado pela Folha de São Paulo que, segundo a delação de funcionários da Odebrecht, R$ 2 milhões em propinas foram repassados ao empresário Adhemar Ribeiro, irmão da primeira-dama, Lu Alckmin.

A Odebrecht também apontou à Lava Jato dois nomes como sendo os operadores de R$ 23 milhões em propinas repassados pela empreiteira via caixa dois à campanha presidencial de José Serra, hoje chanceler, na eleição de 2010.

Tudo isso sem falar que o nome do presidente Michel Temer aparece 43 vezes no documento do acordo de delação premiada de Cláudio Melo Filho, ex-vice-presidente de Relações Institucionais da Odebrecht.

Produto de acidente ou de sabotagem, o fato é que a morte de Teori Zavascki foi um presente do céu para esses e muitos outros políticos que iriam soçobrar a partir das próximas semanas, quando o ex-ministro do STF homologaria um lote gigante de delações de funcionários da Odebrecht contra esses e outros políticos predominantemente dos partidos que sustentam o governo Temer.

Os petistas estão nas mãos de Sergio Moro, pois não têm foro privilegiado. O único petista graúdo que tinha direito de ser julgado pelo STF foi sumariamente cassado pelo Senado, o ex-senador Delcídio do Amaral. Lula e tantos outros petistas graúdos perseguidos pela Lava Jato não seriam julgados por Teori.

Muito pelo contrário: Teori contrariou fortemente o antipetismo, como fica claro, abaixo, nas imagens dos ataques que movimentos fascistas como o MBL vinham fazendo ao ministro, tendo chegado a cercar a sua casa em Porto Alegre e pendurado faixas com insultos em sua fachada, tudo porque achavam que ele era “petista”

Se existe alguém insuspeito de tramar contra a vida de Teori certamente são os petistas.

Por outro lado, se não houver pressão da sociedade a Lava Jato não irá mais atrás dos políticos com foro privilegiado.

Se os processos forem redistribuído no STF podem cair com qualquer ministro de qualquer uma das duas turmas porque os réus da Lava com foro privilegiado têm direito de ser julgados pelo Pleno daquela Corte, mas esses processos também podem ser entregue a quem Temer nomear para a vaga de Teori.

Processos no STF envolvendo petistas e tucanos têm mania de cair na mão de Gilmar Mendes, mas há muitas mãos naquela Corte que terão dificuldades para tocá-los da mesma forma que o ministro morto.

Após a morte de Teori, nenhum ministro do Supremo terá a mesma credibilidade e tampouco conseguirá dar andamento nas investigações até que entenda tudo. Essa postergação permitirá que a poeira do impeachment assente e dará uma desculpa à Lava Jato para parar tudo nos petistas que já estão sendo processados, sobretudo Lula.

Em minha opinião, a morte de Teori representa o fim tácito da Lava Jato, pois todos os petistas graúdos já foram indiciados. Os únicos políticos que poderiam vir a ser indiciados eram – não são mais, a meu ver – aqueles que têm foro privilegiado, a esmagadora maioria tucanos, peemedebistas, Michel Temer à frente. A morte de Teori poderá deixá-los impunes.

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PS: pesquisa Paraná divulgada nesta sexta-feira dá conta de que 83% dos brasileiros acham suspeita a morte de Teori Zavascki.

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