terça-feira, 28 de fevereiro de 2017

As empresas suspeitas de José Yunes

Por Renato Rovai, em seu blog:

José Yunes que delatou sem a necessidade de acordo com o MP o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, é um empresário de sucesso. De muito sucesso. E de muitas empresas, muitas delas difíceis de entender para quem está acostumando com negócios de formato tradicional. Há muitas formas de colocar uma lupa sobre elas, uma é atentar para o nome de Arlito Caires Santos, morador de Barueri, que o blogue procurou para conversar antes desta publicação. Arlito, ou alguém que tem sua senha do Facebook, visualizou a mensagem e preferiu não responder.

Arlito Caires Santos é sócio na Stargate do Brasil Estética, Produtos e Serviços Ltda, nascida em novembro de 2001 e cujo objeto social é “comércio varejista de artigos médicos e ortopédicos”. Seu capital, RS 2.646.058,00. Desse valor, Arlito é dono de apenas 1 mil reais.

A Stargate do Brasil na verdade é filha da offshore, criada em agosto de 2001, no estado de Delaware, famoso paraíso fiscal norte-americano, por Glorybel Sousa e que poucos dias depois de aberta teve José Yunes nomeado como seu procurador.

Até onde o blogue apurou essa parece ser a primeira operação de uma teia de formação de empresas para algum tipo de finalidade não muito clara que começa a ganhar mais complexidade depois de uma década.

Goden Star e LightedHouse, duas empresas que passaram a operar no mesmo dia

Em 29 de maio de 2013, começa a Golden Star Serviços e Participações Ltda, na rua Texas, 1152, com capital de 5.720,000,00 para realizar “atividades de consultoria em gestão empresarial, exceto consultoria técnica especifica, aluguel de imóveis próprios, atividades de intermediação e agenciamento de serviços e negócios imobiliários, exceto imobiliários de holdings de instituições não-financeiras”.

No mesmo dia, nasce a LightedHouse Serviços e Participações, com um capital de 5.380,000,00. Também localizada na rua Texas, 1152, no Brooklin. Em ambas as empresas, Arlito tem 1 mil reais de participação. Todo o restante, mais de 11 milhões de capital, é da Stargate, a empresa controlada por Yunes.

O blogue apurou que no local onde ambas estão registradas, na verdade, funciona um escritório de contabilidade, a Sema Contábil.

Outras empresas de Arlito

Além dessas empresas em sociedade direta com a Stargate, Arlito Caires Santos tem algumas outras. São elas: Caires Music Produções e Eventos Musicais Ltda, Bardi Participações Ltda, MHS, Administração de bens próprios Ltda e Sitio Bonaparte Imóveis e Participações Ltda.

Em 1/10/2010, Arlito abriu com Suellen Pereira Santos, a Caires Music Produções e Eventos Musicais Ltda, com um capital de 60 mil reais. Desse total, 57 mil são de Arlito e 3 mil de Suellen. A área de atuação definida em contrato é de “produção musical, serviços de organização de feiras, congressos e festas”.

Dois anos depois, em 6/11/2012 ele criou a Bardi Participações Ltda. O objeto social é “Holding de instituições não-financeiras”. Ela fica localizada, pelo que o blogue apurou, no mesmo endereço onde residem Arlito Caires Santos e sua esposa, Maria de Fátima Pereira Santos, que é sua sócia. Cada um deles tem 50% das cotas de um capital total de 120 mil reais.

Em 25 de agosto de 2015, Arlito e sua esposa abrem outra empresa, a MHS Administração de Bens próprios Ltda, desta vez com um capital bem maior, de 1.280,000,00. Cada qual com 50% das ações e tendo como endereço o mesmo da residência de ambos. A empresa tem por objeto social a “compra e venda de imóveis próprios, outras sociedade de participação, exceto holding, aluguel de imóveis próprios e holdings de instituições não-financeiras”.

Sitio Bonaparte

No Sítio Bonaparte, que é a maior empresa onde Arlito tem participação, com capital total de 8 milhões de reais, as idas e vindas societárias chamam a atenção para uma teia ainda mais complexa.

A empresa foi criada em 14/02/2012, com capital de 8 milhões de reais e sede na rua Senador Queiros, 505, no centro de São Paulo. Neste local funciona a loja Mabel, como se pode ver na foto abaixo. A partir da loja Mabel, que tem filial em Recife e Ceará abre-se uma nova ramificação de empresas com outros personagens.

A Mabel atua na área de importação e exportação de produtos típicos chineses, como se pode ver pelo seu site.

Seus sócios atuais são a GB 17 Participações Ltda, a Golden Star Serviços e Participações Ltda. e Izaias Alves de Araújo. A administradora é Ana Paula dos Santos Nunes de Brito.

A GB 17 é de Gilberto Pereira Brito. Ana Paula é a sua esposa pelo que se pode inferir dos documentos. O blogue tentou localizar Gilberto, mas não obteve sucesso. A Golden Star é uma das empresas de José Yunes com Arlito, onde o primeiro tem mais de 99% do capital. Ou seja, Yunes também é dono da Mabel.

Voltando ao objeto social da Sítio Bonaparte, ela é definida como de “compra e venda de imóveis próprios, aluguel de imóveis próprios, holdings de instituições não-financeiras”.

O leitor já deve ter percebido que várias das empresas criadas tem essa finalidade. Por coincidência ou não, a mesma da Yuni Incorporadora S.A, empresa da família Yunes, com capital aproximado de 180 milhões, que construiu o Spacio Faria Lima, onde a Tabapuã, empresa do presidente Michel Temer, tem duas salas no 25º andar.

A diretoria e participação societária da Bonaparte é a seguinte:

– Arlito Caires Santos, representando a LightedHouse e Serviços e Participações Ltda, que como você que chegou até aqui já sabe, não é de Arlito, mas de José Yunes. E que entra com 2 milhões de capital na Boanaparte.

– A Bardi Participações Ltda, com valor de participação de 2 milhões de reais na sociedade. A Bardi, como já registrado acima, é de Arlito e de sua esposa. Ambos tem 50% das cotas da empresa. Quem representa a Bardi neste contrato é Maria de Fátima Pereira Santos.

– Gilberto Pereira Brito, representando a Telugo, e que também tem 2 milhões de capital investido.

– E a Imoto Participações Ltda, também com capital de 2 milhões de reais, representada por Izaias Alves de Araújo.

A despeito de todos esses nomes, tudo leva a José Yunes de novo. No contrato de formação da Golden Star, na página 15, há um contrato de empréstimo da Stargate do Brasil, aquela empresa mãe de todo o esquema e que surge a partir da offshore criada em 2001 por Glorybel Sousa, de empréstimo de R$ 2 milhões para Gilberto Pereira Brito. No próprio contrato fica estipulado que se Gilberto não honrasse o compromisso em 60 dias, as ações que ele comprou no Sítio Bonaparte passariam a ser da Golden Star, ou seja, de Yunes. Não é possível saber, mas a hipótese do blogue é que este empréstimo acabou não sendo pago.

As conexões não param por aí. O emaranhado de empresas e nomes que vão surgindo indicam uma clara tentativa de esconder algo. O “irmão” de Temer, que disse ter sido feito de mula por Eliseu Padilha, parece entender muito mais desse universo de negócios heterodoxos do que sua declaração sobre o doleiro Lucio Funaro, operador de Cunha, indicava.

Yunes também parece não operar apenas para si.

É importante que o leitor não deixe de atentar para uma coisa, o atual presidente sempre pleiteou diretorias de Portos e Aeroportos quando deputado. Mesmo não tendo atuação aparente nessa área.

No governo Dilma, num dado momento Temer tinha Moreira Franco como ministro da Aviação Civil, e Edinho Araújo, dos Portos. Dois homens de sua total confiança. Na carta que deixa vazar e que indica claramente seu rompimento com a presidenta, Temer cita a demissão de ambos como fatores importantes para a decisão.

Yunes se diz irmão de Temer por ser amigo dele desde o final dos anos 50. Mas ao que tudo indica é mais do que isso.

Mais matérias

No dia 24, este blogue publicou a primeira matéria sobre os documentos do Tabapuã Papers, criado em 31/12 do ano passado.

A partir disso, o Anonymous entrou no jogo e espalhou a documentação na rede.

Na sequência, outros blogueiros começaram a destrinchar o material.

O Miguel do Rosário, do Cafezinho, fez uma matéria chamando a atenção para a sociedade de Roberto Marinho na Maraú, empresa da qual o filho Marcos de José Yunes se torna sócio logo depois da sessão do impeachment.

O Azenha chamou a atenção para a ZHouse, empresa dos Marinhos, que acaba ficando com uma parte da Maraú.

Nassif fez dois textos abrindo novas trilhas do material e num deles destaca o banco Pine, uma parte importante dessa história e que ainda merece um olhar mais atento.

Em outro texto Nassif também joga luzes sobre a Maraú.

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