Por Tereza Cruvinel, em seu blog:
Flechas estão voando para todo lado. Depois da desmoralização da delação premiada da JBS, o procurador-geral Rodrigo Janot denunciou o PT, Lula e Dilma (duas vezes), atirou contra o PMDB do Senado e contra o ex-presidente José Sarney e finalmente, na noite de ontem, pediu a prisão de Joesley Batista e Ricardo Saud, da JBS, e do ex-procurador Marcello Miller. Com a reputação abalada na reta de saída, ele está polindo o arranhão na biografia com demonstrações de severidade mas, ao abrir tanto o leque, Janot acaba congregando aliados contra o alvo mais brilhante, a denúncia que ainda vai apresentar contra Michel Temer, robustecida pelas revelações do delator Lúcio Funaro.
Com o pedido de prisão do delatores da JBS e do ex-procurador ele marca um ponto com o segmento da opinião pública que havia decepcionado ao lhes conceder indulgência plena dos crimes confessados. A esperteza foi demais, engoliu os donos, a um custo elevado para Janot. Neste caso, não havia mesmo alternativa, restando saber agora se o ministro Fachin acolherá o pedido de prisão.
As denúncias contra Lula e o PT serviram ao mesmo propósito de reeditar o perfil do Janot implacável, compondo com as acusações de Pallocci obtidas por Sérgio Moro uma nova ofensiva contra o PT, que havia sido deslocado para a lateral do alvo desde que a Lava Jato começou a avançar sobre o PMDB e outros partidos. Agora, novamente, o demônio é Lula. E a hora era essa, antes que ele começasse uma outra caravana pelo país, avançando na consolidação de sua candidatura a presidente.
A denúncia contra o PMDB do Senado foi a mais intempestiva e politicamente equivocada. Quando atira contra Renan, Jucá, Eunício, Raupp e Sarney, Janot atiça reações que podem contribuir para a rejeição de sua segunda denúncia. Antes do autogrampo da JBS, ou seja lá o que tenha sido aquilo, estava se formando um clima favorável ao acolhimento. Agora, é certo que a denúncia já virá ao mundo fragilizada, no que pese sua suposta consistência. Será preciso aguardar por ela, e pela volta dos deputados do feriadão, para sentir o novo pulso da Câmara. Pois houve também Geddel, seu tesouro revelado e sua prisão, além da homologação da delação de Funaro.
Ademais, a denúncia contra o PMDB do Senado revelou a ligeireza da formulação e também certa ignorância sobre a dinâmica política dos últimos anos. Janot afirma, por exemplo, que a organização criminosa dos senadores peemedebistas, mais Sarney, começou a se formar a partir de 2002, quando Lula foi eleito, tendo alcançado sua estruturação por volta de 2004. Que precisando Lula de uma base de apoio mais sólida, entregou diretorias importantes da Petrobrás ao PMDB, naquela fase, que foram usadas para a obtenção de propinas e alimentação da quadrilha.
Flechas estão voando para todo lado. Depois da desmoralização da delação premiada da JBS, o procurador-geral Rodrigo Janot denunciou o PT, Lula e Dilma (duas vezes), atirou contra o PMDB do Senado e contra o ex-presidente José Sarney e finalmente, na noite de ontem, pediu a prisão de Joesley Batista e Ricardo Saud, da JBS, e do ex-procurador Marcello Miller. Com a reputação abalada na reta de saída, ele está polindo o arranhão na biografia com demonstrações de severidade mas, ao abrir tanto o leque, Janot acaba congregando aliados contra o alvo mais brilhante, a denúncia que ainda vai apresentar contra Michel Temer, robustecida pelas revelações do delator Lúcio Funaro.
Com o pedido de prisão do delatores da JBS e do ex-procurador ele marca um ponto com o segmento da opinião pública que havia decepcionado ao lhes conceder indulgência plena dos crimes confessados. A esperteza foi demais, engoliu os donos, a um custo elevado para Janot. Neste caso, não havia mesmo alternativa, restando saber agora se o ministro Fachin acolherá o pedido de prisão.
As denúncias contra Lula e o PT serviram ao mesmo propósito de reeditar o perfil do Janot implacável, compondo com as acusações de Pallocci obtidas por Sérgio Moro uma nova ofensiva contra o PT, que havia sido deslocado para a lateral do alvo desde que a Lava Jato começou a avançar sobre o PMDB e outros partidos. Agora, novamente, o demônio é Lula. E a hora era essa, antes que ele começasse uma outra caravana pelo país, avançando na consolidação de sua candidatura a presidente.
A denúncia contra o PMDB do Senado foi a mais intempestiva e politicamente equivocada. Quando atira contra Renan, Jucá, Eunício, Raupp e Sarney, Janot atiça reações que podem contribuir para a rejeição de sua segunda denúncia. Antes do autogrampo da JBS, ou seja lá o que tenha sido aquilo, estava se formando um clima favorável ao acolhimento. Agora, é certo que a denúncia já virá ao mundo fragilizada, no que pese sua suposta consistência. Será preciso aguardar por ela, e pela volta dos deputados do feriadão, para sentir o novo pulso da Câmara. Pois houve também Geddel, seu tesouro revelado e sua prisão, além da homologação da delação de Funaro.
Ademais, a denúncia contra o PMDB do Senado revelou a ligeireza da formulação e também certa ignorância sobre a dinâmica política dos últimos anos. Janot afirma, por exemplo, que a organização criminosa dos senadores peemedebistas, mais Sarney, começou a se formar a partir de 2002, quando Lula foi eleito, tendo alcançado sua estruturação por volta de 2004. Que precisando Lula de uma base de apoio mais sólida, entregou diretorias importantes da Petrobrás ao PMDB, naquela fase, que foram usadas para a obtenção de propinas e alimentação da quadrilha.
Janot aqui demonstra um perfeito desconhecimento dos fatos políticos, o que tira a força de sua denúncia. Quando foi eleito, em 2002, Lula não contou com o apoio eleitoral do PMDB , que apoiou José Serra, dando-lhe a candidata a vice, Rita Camata. E quando começou o governo, José Dirceu até tentou um acordo com o PMDB, para que integrasse a base e participasse do governo, mas Lula não gostou do preço cobrado e vetou o acordo. Eles queriam cinco ministérios (por sinal bons para negócios), entre eles Saúde e Minas e Energia. Lula já havia escalado Humberto Costa, do PT, para a Saúde, pasta que não queria usar como moeda de troca, por sua importância para a população; e para Minas e Energia já havia escolhido Dilma e não quis abrir mão. Iniciado o governo, apenas um grupo do PMDB da Câmara compôs-se informalmente com o governo, mas sem ocupar qualquer ministério.
Coalizão mesmo com o PMDB Lula só veio a formar em 2006, quando disputou a reeleição, embora tenha mantido José Alencar como vice. Reeleito, integrou o PMDB ao governo, entregando-lhe quatro ou cinco ministérios, tendo dificuldades para atender às exigências dos dois grupos. O da Câmara, comandando por Michel Temer, e o do Senado, liderado por Sarney e Renan.
Assim, a denúncia de Janot perde força quando invoca equivocadamente os fatos para justificar sua tese. Os denunciados não formaram organização criminosa a partir de 2002 ou 2003 porque nesta fase nem participavam do governo. É um detalhe temporal mas revelador de como o Ministério Público valoriza mais suas convicções do que os fatos.
Coalizão mesmo com o PMDB Lula só veio a formar em 2006, quando disputou a reeleição, embora tenha mantido José Alencar como vice. Reeleito, integrou o PMDB ao governo, entregando-lhe quatro ou cinco ministérios, tendo dificuldades para atender às exigências dos dois grupos. O da Câmara, comandando por Michel Temer, e o do Senado, liderado por Sarney e Renan.
Assim, a denúncia de Janot perde força quando invoca equivocadamente os fatos para justificar sua tese. Os denunciados não formaram organização criminosa a partir de 2002 ou 2003 porque nesta fase nem participavam do governo. É um detalhe temporal mas revelador de como o Ministério Público valoriza mais suas convicções do que os fatos.
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