terça-feira, 14 de novembro de 2017

Para uma anatomia do conservadorismo

Por Katya Braghini, no site Outras Palavras:

Este texto condensa, de maneira panorâmica, as questões teóricas e metodológicas que são recuperadas de uma bibliografia que se propõe a discutir o pensamento conservador na sua ação políticas. Fala-se muito em conservadorismo. Mas, pensá-lo na cultura política soa como demérito ou assunto dado. A própria expressão “conservadores” parece explicar tudo, seriam retrógrados. Ao apontar que tal pessoa, grupo ou intelectual é “conservador” estamos pensando em quê? Há questionamentos que exigem uma localização, de onde vem, quem são os conservadores? Outros, que refletem sobre suas formas de abordagem ao que compreendem como ação política.

Isto é, chamar alguém de “conservador” não explica claramente a posição do sujeito. Pensando o meu campo de trabalho, isso vale mais ainda para quem tem preocupação em estudar intelectuais. Não é suficiente chamar um intelectual de “conservador” para posicioná-lo historicamente. Talvez haja a necessidade, também intelectual, de saber posicionar tais pensadores em ação histórica, de modo a posicioná-lo como tal. Esse texto não trata de uma receita de detecção de conservadores, mas talvez sirva para pensarmos o nosso momento histórico. Ademais, convém para uma autorreflexão do leitor.

Roger Scruton, pensador inglês, diz o seguinte a respeito do que é ser um conservador:

O negócio do conservadorismo não é corrigir a natureza humana ou moldá-la de acordo com uma concepção ideal de um ser racional que faz escolhas. O conservadorismo tenta compreender como as sociedades funcionam e criar o espaço necessário para que sejam bem-sucedidas ao funcionar […]

Nossa existência como cidadãos, participando livremente na polis, é possível graças aos vínculos afetivos duradouros às coisas que nos são caras. Nossa condição não é a do homo oeconomicus, buscando em tudo um modo de satisfazer os desejos privados. Somos criaturas que constroem lares, em busca de valores intrínsecos e o que nos importa são os fins, não os meios de nossa existência [1].

Ele mesmo, como conservador, não é afeito às teorias que pensam o futuro. O autor julga que é uma vanglória considerar os projetos de vida, para além da política vivida. Mais importante é pensá-la pela funcionalidade do dia a dia. Ele tem apego às circunstâncias. Há um esforço na manutenção de instituições que tenham regras duradouras com “valores intrínsecos” aos quais nos prendemos pelo sentimento, e que explicam uma vontade natural de querer mantê-las como algo que é desejado: escolas, igrejas, bibliotecas, clubes, sociedades.

O assunto “conservadorismo” é embaraçoso. Algumas vezes, o fato de pensá-lo, acaba como sinônimo de aderência à questão. As justificativas são escusas, que reconhecem a importância do assunto, ainda que o tema seja um aborrecimento. Há quem diga que os conservadores sofrem desvantagem entre os acadêmicos e intelectuais, porque há enfado nas opiniões que defendem. Os pensadores ditos “progressistas” parecem construir realidades mais excitantes, ainda que falsas e irreais aos olhos de um conservador. Conservadores se apresentam como aqueles que recolocam a história nos trilhos da verdade e da realidade. Desconsideram o movimento de generalização de suas verdades, ampliadas à posição de “opinião de todos” como sendo uma ideologia. Equilibram-se às demandas do que chamam por “maioria silenciosa”, grupo que, de forma ideal, guarda com cautela os movimentos da história.

Existe um problema sobre o local do conservador no plano do pensamento e da realidade. A articulação social de conservadores para criar consensos políticos talvez seja mais rápida, de modo que ideias de conservação circulam com mais fluência pelos canais hegemônicos de comunicação e difusão. Há teorias sobre o pensamento conservador, ditas “aristocráticas”, que estabelecem a ligação direta entre as classes sociais privilegiadas e a difusão do pensamento conservador, como forma de projeto social. Isso é, partindo da vontade de uma elite administrativa, difunde-se um plano social ou político que passa pelos canais de difusão de informações de maneira mais diretiva e sistemática. Nesse aspecto, o pensamento conservador é caracterizado como ação que parte de uma classe a outra e passa a ser absorvida por todos, exatamente porque ele é o resultado de interesses de uma classe que procura legitimar-se por meio da universalização de suas vontades, saberes e práticas.

Ao curso de toda história brasileira vemos ações feitas em nome do pensamento conservador ou a partir dele, destacadamente nos processos políticos. Podemos percebê-lo como motor de vários movimentos tidos por evolucionistas, progressistas, desenvolvimentistas, chamando-os por “busca pelo progresso”, “modernização conservadora” etc.. De pronto não se trata de simplesmente considerar o conservador como um sujeito apegado somente ao passado, senão por uma forma peculiar de lançá-lo ao futuro, pensado como plano de reconstrução de um passado imaginado. O conservadorismo está marcado em padrões seculares de nossa cultura que permanecem inalterados, talvez “ressignificados”, como por exemplo, a manutenção das desigualdades sociais, esta que é uma de nossas conservações endêmicas preferidas.

O conservadorismo também está ancorado em diferentes interpretações de Brasil, fixando no imaginário intelectual, nomes identificados por este padrão de pensamento que pensam o “novo” pela readaptação de ideias “velhas”. Exemplos disso são Oliveira Viana, que busca no passado as raízes para o planejamento social e político do seu presente; a fixação do pensamento autoritário em relação ao Estado brasileiro na obra de Alberto Torres; no imaginário nacionalista de Vicente Licínio Cardoso, que via nos analfabetos e ex-escravos, o mote do retardamento do Brasil, um potencial humano morto, senão pela lapidação por meio de seus conhecimentos por meio da educação pública; no entusiasmo de Gustavo Corção, militante leigo do catolicismo, adepto da transposição das representações da família cristã para a organização social etc..

Como disse Norberto Bobbio, o conservadorismo só é explicado na sua base histórica, diante de sua relação com posições alternativas ou contrárias. Logo, podemos pensar os conservadores em coeficientes. Não dá para dizer que todos os pensadores conservadores são “simplórios”. Mas é possível concebê-los como sujeitos que seguem uma padronização no plano da articulação de seu pensamento. Essa padronização na forma de apresentação deste tipo de pensamento é um dos motes deste texto, podemos vê-lo sendo discutido ao longo da ideia.

Os conservadores são críticos da ideologia porque a compreendem pela negativa, são pejorativos. Não apresentam um conjunto ou sistema de ideias e persuasão política, senão pela convicção de um padecimento social. Acomodam-se na diluição de sua posição e disposição perante mundo, como o seu próprio exercício de política, e assim sendo, procuram organizar a sociedade. Sua ideologia é a própria negação de ideologias políticas, porque o ser conservador se apresenta como uma atitude. É uma disposição existencial, uma espécie de autoimagem projetada. Há um esforço do grupo em manter-se naturalmente posicionado como planejadores sociais mais prudentes e, por isso, ajuizados. Sujeitos conservadores pensam neles mesmos como o centro da natureza das coisas, porque se julgam sensatos. Não defendem uma “política conservadora” o tempo todo, porque não há uma necessidade para tanto.

Tem-se a impressão de que conservadores se atêm à superfície das coisas. Isso porque as ideias conservadoras são práticas e parecem solucionar os problemas de maneira simplificada. O esclarecimento é obstado pela estereotipia. Quando mal informados, ou formados, ou mesmo intelectualizados, fazem uma mesma operação retórica de manipulação do pensamento visando o resguardo de bens e valores particulares à sua vida, mesmo quando o assunto emerge sob o manto de “política nacional”. Mas é nessa discussão de “superfície” que vemos a marcação dos motivos, valores, razões e tradições que balizam, à maneira conservadora, a estruturação da vida de todos.

Diz-se que conservadores tendem a desdenhar de aspectos conceituais pensando o espectro político. Para os pensadores conservadores, isso não se trata de pensamento raso, mas de “ceticismo”. Nessa elaboração mental há um longo histórico de crítica aos racionalistas que explicam a sociedade por tratados matemáticos ou por extensas discussões filosóficas que criam prognósticos sobre o funcionamento social. Conservadores se pautam pela ideia de que somos imperfeitos intelectualmente. Possíveis mobilizações sociais dirigidas por utopias são tidas como desperdício de tempo, como sonhos que fogem aos padrões programáticos que já estão fundamentados em terreno sólido. Pensando este caso, há quem defenda a tese de que o pensamento conservador é autônomo, pois ele repercute a partir de qualquer estágio ou foco social, não sendo o resultado direto de uma política social do tipo “aristocrata”.

Essa tese ajuda a explicar o fato de que o conservadorismo não é privilégio de uma elite de nascença, financeira etc. É possível que pessoas simplesmente queiram resguardar algo de que gostam na sua prática política. A ideia de autonomia do pensamento conservador explica a localização deste tipo de pensamento, mas não esclarece a adesão dos pobres a uma prática política conservadora nascida de uma expressão social diferente da sua.

Neste caso, uma literatura histórica como a de E. P. Thompson é exemplar, ao nos dar explicações para esse tipo de conciliação política. O historiador nos mostra os motivos para que uma classe opte em disseminar e batalhar por interesses sociais e políticos distintos aos seus. Talvez sentindo um privilégio; talvez almejando um status; talvez por batalhar os pequenos poderes etc. Sobre isso temos um exemplo interessante, bem recente. Durante a última eleição na cidade de São Paulo, uma dita intelligentsia paulistana não se furtou de ser conservadora ao qualificar os pobres da periferia de “tolos” e “inconsequentes” porque elegeram João Dória Jr. Por outro lado, há também quem chame os eleitores de Lula de “burros”. Ações conservadoras não partem somente de quem, assumidamente, se coloca nesta posição. Nada mais conservador do que tratar gente pobre por idiota, seja o sujeito posicionado à “esquerda” ou à “direita” na política.

Conservadores gostam da ideia de incorporação, buscam uma “unidade social”, mas não são adeptos de uma totalidade política, a não ser por segregação de grupos e órgãos considerados “doentes” ou “outsiders”. Não são fascistas em exercício constante, mas alimentam a ideia de eliminação de ideias e seres divergentes com facilidade, caso sintam medo da desestabilização social, mesmo quando ela não existe.

Na política, a atitude conservadora procura, acima de tudo, a autoridade e participa na luta pelos fundamentos que a validam. Julga que nenhum cidadão possui o direito natural que transcenda a sua obrigação de ser governado. Autoridade surge da noção de família. O conservador defende sua cultura ambiental, e as formas de intervenção deste solo, resguardado, são uma luta em torno da preservação de sua identidade. Se há uma discussão sobre o direito do exercício da autoridade entre conservadores, ela reside no aspecto tido por natural que é o seu desempenhado como força e domínio. Autoridade surge como uma conexão transcendente, que existe como “pureza”. Ela repercute da família para o governo, e para representações de coesão “Pátria”, “Nação”.2

Detecta-se um apego de pessoas conservadoras aos órgãos intermediários entre o Estado e a família: grupos assistencialistas, benevolências variadas, atuantes nas conhecidas instituições privadas da sociedade civil. Conservadores valem-se da sensação de organicidade que esses termos passam, porque a causalidade se basta como razão de causa e efeito. Não é a constituição interna das ideias envolvidas, o seu conteúdo, que está em jogo, a despeito dele ser modificado de tempos em tempos. O que parece valer é a existência de um sentimento, uma predisposição natural pela organização que esses termos ou lugares evocam, pois vale a pena fazer prosperá-la como sensação de segurança.

Essa flexibilidade do pensamento conservador é resultado mesmo da política cética de observação do real e por essa ideologia operacional pautada pelas circunstâncias. Não há ressentimentos ao usar as ideias dos oponentes, de pensadores progressistas, de neoliberais, neologismos, desde que passem à prova do sucesso histórico, pois eles se veem como maleáveis no esforço de acomodação do que defendem, seja no plano das sensibilidades, da estética, da política etc.

O caráter temporal é visto de maneira excêntrica. O passado não é uma idealização, nem um terreno inexplorado a ser construído pela história, mas é o reservatório de experiências da sociedade que permite aos homens preservar, no presente, as tradições escolhidas como corretas, mas que emergem como naturais e recomendadas porque sobrevivem ao tempo. No presente, é tido por “bom” essa construção mental que é reformulada, com aparência de solidez e que se choca com ideias fabulosas e com um futuro arriscado.

Novamente Roger Scruton, crítico da Nova Esquerda Inglesa, pela “expropriação inteira de todo o manancial da virtude humana” (cf. Thinkers of the new left), diz que o conservador constrói o futuro à imagem do passado: “Assim como o passado contém o futuro, também o futuro requisita o passado. O passado, tal como o cidadão o entende, é o passado reorientado para o futuro”. Pensemos a tradição. Sabemos que a tradição pode ser prosperada em direção ao futuro. Conservadores não podem ser confundidos com “tradicionalistas”, pois a princípio, pode-se dizer que todas as pessoas se orientam, mentalmente, por bases tradicionais, se pensadas como operações pessoais que repassam os sentimentos do passado ao futuro, como uma organização de nossa experiência.

No caso do conservador, a tradição é o aspecto íntimo da sua atuação, pois são a força de autoridade, não se tratando de uma invenção, mas de uma herança, que se coloca como uma propriedade de um grupo específico e torna-se o modelo de prosperidade do tempo presente, visando o futuro. Legado como benefício trabalhado por gerações, uma sintaxe comum que prosperou. Para o conservador essa ideia é mais sólida do que dizer que toda tradição é “inventada”. Situações inventadas podem ser destruídas. A sintaxe comum de um legado, perpassa a história pela vontade. Ainda que não seja explicado o que constitui a dinâmica desta “vontade”, há valor no mérito, como um domínio na mão dos mais aptos, como resultado final deste impulso, força anterior que permite ao sujeito realizar pela determinação o que havia planejado previamente.

Esse mesmo autor diz que o conservador segue a filosofia do “vínculo afetivo”. Há uma ligação sentimental entre o conservador e as coisas que ama e que se deseja proteger contra a decadência. Apela a essa relação dinâmica entre as gerações, porque há sempre muita lamentação com a destruição daquilo que é caro às pessoas. Danificar o que nos é caro é um prejuízo ao padrão de tutela, pois “a interrompe com a relação aos que vieram antes e obscurece a obrigação para os que virão depois”. Teorias apontam para este caso como um tipo de conservadorismo “situacional”, ou seja, há um movimento de coalizão de forças visando à defesa de grupos, instituições, ideias que estão sob ataque. Não se trata de uma defesa em nome da positividade da causa, evidentemente. Vemos na história que se conservam regalias, imunidades especiais, privilégios escusos etc.

Russell Kirk, em 1953, compilou em The Conservative Mind: from Burke to Eliot os dez princípios conservadores a partir de obras de referência sobre o tema, quais sejam: a crença numa ordem transcendente, duradora que prega virtudes; aderência ao costume, à convenção e à continuidade; pautam prescrições; são guiados por seu principio de prudência; prestam atenção ao principio da diversidade, ainda que não gostem dos elementos destoantes; se contêm pela lógica da imperfectibilidade; há vínculos entre liberdade e propriedade; “suportam a associação voluntária, tanto quanto se opõem ao coletivismo involuntário”; pregam a prudência sobre o poder e às paixões humanas; compreendem que mudanças e permanências formam uma sociedade forte, quando previamente reconhecidas e harmonizadas.

Já Albert Hirschman fez algo parecido a partir de uma “cartografia” da retórica dos conservadores em 200 anos. Diferente de listar os princípios da doutrina, fez crítica às sínteses doutrinárias. Para o autor, essa retórica é marcada por padrões argumentativos invariáveis ao longo do tempo, um caráter relativamente fixo em seus “imperativos de argumentação”. Disto, percebe-se que os tais fundamentos conservadores são transformados em sua adaptação ao tempo, mas o que está em jogo são as combinações de argumentos em uma estratégia de repetição de discursos. Não há uma “inovação criativa”.

O pensamento conservador é uma “pseudo-doutrina”, pois é um “calculado instrumental”, uma “ideologia programada”, uma “recriação inconsciente” daqueles que são “obcecados pelo espectro onipresente e ameaçador” da crise e se interessam, em primeiro lugar, em organizar um “plano de preservação”. O grau de sofisticação do pensamento conservador reside nessas características que exige a sua prosopografia, ou uma análise combinatória de padrões contrários às contradições sociais. Vê-se ao longo do tempo a operação de três teses, que podem ser combinadas, ora usadas separadamente, a depender da ocasião: a tese da perversidade ou tese do efeito perverso; tese da futilidade e tese do risco.

De acordo com a tese da perversidade, qualquer ação deliberada para melhorar alguma característica essencial da ordem política, social e econômica, serve apenas para agravar o exato aspecto que se deseja atenuar. A tese da futilidade sustenta que as tentativas de transformação social são inúteis, que nunca conseguirão “fazer a diferença”. A tese do risco, por sua vez, defende que o custo da mudança ou reforma proposta é demasiado alto para ser pago e as eventuais melhorias “não compensam o risco de fazer perigar preciosas conquistas anteriores”. Por isso, as formas para a transformação social são gradativas, flexíveis, pausadas e pensadas…

Finalmente, se pensarmos esse resguardo todo como um beneplácito tranquilo, nem parece ruim. Mas, o resguardo puro de possíveis ideias de futuro não existe. Projetos de futuro são frutos de batalhas de representações sobre a política, o moderno, a modernidade, dentro da qual reside um quadro de oponentes que não possuem a mesma condição material diante da luta. Deve-se considerar que nem sempre essa transposição de temas entre as gerações é pacífica. Ora ela surge de maneira reacionária, como se a sociedade ideal estivesse plantada naquilo que foi perdido e se pudesse resgatar; ora, por nostalgia, um tanto mais grave e, às vezes, doentia, quando acredita-se que o passado pode ser recuperado e trazido ao presente. Ambas chegam a nós de maneira violenta, são autoritárias, por vezes, francamente fascistas.

Destaca-se que nem sempre um conservador é um reacionário. Os reacionários se posicionam como críticos inflexíveis do tempo presente e da sociedade em funcionamento. Já partem do princípio da decadência, corrupção, perda da moral amplamente instaladas. Ondas de reação são ativadas para atacar elementos “progressistas”, tais como, as reivindicações por direitos civis das minorias; ou as tentativas de reformas o Estado-Providência; aos apelos juvenis nos anos 1960; as reivindicações operárias nos anos 1970 etc.. Essa tal “reação” depende da entrada de forças consideradas perturbadoras. E nem se pode dizer que o reacionarismo, um condensado de sentimentos, é um privilégio de sujeitos da direita e de conservadores. Sendo o resultado da suspeita, temor, raiva, impressão, comoção, pressentimento, todos raivosos, pode servir a muitos.

Ao final compreende-se que, a depender das condições historicamente dadas e dos pontos de ativamento apresentados no tempo, conservadores podem se transformar em doutrinários, dogmáticos e violentos, estando sujeitos aos pontos de amplificação do medo e de distensão dos seus limites de controle. Vê-se na história a divulgação e a prosperidade de movimentos conservadores motivando grupos a partir de diferentes aspectos sensíveis: explorando insatisfações, provocando raiva e hostilidades; reduzir suspeitas sobre determinados grupos ou classes; criar perspectivas de coesão, de vontades comuns; agitar movimentos de solidariedade etc. O pensamento conservador pode ser uma operação estratégica, de grupos e sujeitos, com usos de diferentes aparelhos de divulgação e circulação de ideias, em nome de uma coalizão urgente para dificultar o avanço da sua oposição.

Disse Arno Mayer: “A essência está na prática cujo conteúdo se modifica diante das circunstâncias”. Em outras palavras, no conservadorismo a prática está acima da teoria, o concreto acima do abstrato, o específico adiante do geral, a realidade cotidiana é mais importante que a utopia. Há o incômodo de experimentar a história em suas incongruências. Se tranquilos diante da realidade histórica, permanecem pacíficos. Como vimos, o processo de naturalização do conservadorismo é intrínseco ao seu proceder, dito pacato, processual e sensato, por isso, correto e real. Mas, uma analogia possível com a natureza relaciona-o ao vulcão Popocatépetl no México. Mais de 5 mil metros da mais bela e estacionada paisagem nevada. Até que chega um dia…

Notas:

1 - SCRUTON, Roger. Como ser um conservador. Rio de Janeiro: Record, 2015.

2 - Não se trata do “argumento de autoridade”, de pensar um poder concebido de maneira legítima, pois atado à responsabilidade, ou constituído pelo repasse de influência ou credibilidade concedido pelos grupos sociais onde se está em exercício. Esta autoridade resulta de um consenso daqueles sobre quem ela é praticada.

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