Por Ricardo Kotscho, em seu blog:
Em meio à derrubada de quiosques e barracas de comerciantes na praça Miami, na favela da Vila Kennedy (que nomes sugestivos!), com escavadeiras avançando sobre o ganha-pão dos pobres, na “operação de ordenamento urbano” promovida pela Prefeitura do Rio, a pedido da Polícia Militar, acompanhada por tropas das Forças Armadas, a mulher desesperada começa a gritar no meio da confusão mostrada na TV:
“Como vou sustentar a minha família agora?”.
Numa cidade de podres poderes falidos com intervenção militar na segurança, em que ninguém responde pelo Estado, a pergunta dolorida da favelada ficou sem resposta.
Quem foi o responsável por esta barbaridade cometida contra uma população indefesa, sem ordem judicial, que se vira como pode para levar comida aos filhos?
As máquinas e os funcionários empregados na operação eram do prefeito Marcelo Crivella, o bispo omisso que não cuida da cidade e gosta de viajar, e agora age sob a proteção dos homens de farda, sem que ninguém de toga tomasse uma providência em defesa dos pequenos comerciantes.
Quem vai pagar pelos prejuízos e pelos dias parados dos donos das barracas e dos quiosques destruídos?
Em dezembro de 1968, Pedro Aleixo, o vice-presidente civil do general Costa e Silva, foi o único a discordar do Ato Institucional Nº 5 que jogou o Brasil nas profundezas da ditadura.
Com a destruição completa do Estado de Direito, Aleixo disse a Costa e Silva que a partir daquele momento o maior problema passava a ser o guarda da esquina investido de poder.
Ainda não chegamos a este ponto, mas estamos caminhando celeremente para um estado de anomia social e de desordenamento institucional.
Ninguém sabe mais quem manda em quem, qual é a lei que está valendo, o que pode e o que não pode ser feito pelo guarda da esquina, o funcionário da prefeitura ou o juiz de plantão.
Em política, não existe espaço vazio, ensinam os velhos sábios. Se os políticos e os partidos não se dão ao respeito, a turma da Farda & Toga rapidamente ocupa o vazio dos paisanos.
Com a falência da autoridade do prefeito e do governador, o espaço foi rapidamente ocupado pela intervenção militar decretada por um governo central em final de mandato cercado de denúncias de corrupção.
Sem conseguir aprovar as reformas por ter perdido o controle do Congresso Nacional, o mesmo que derrubou Dilma Rousseff, o presidente Michel Temer convocou as tropas e criou um Ministério da Segurança para mostrar a força que já não tem para governar o país.
A judicialização da política e a politização da Justiça cuidam do resto.
“No contexto da cadeia de poder e de autoridade do Brasil hoje, a judicialização da política se tornou inevitável, porque não há uma força política capaz de liderar uma superação do processo de crise”, constatou, dois anos atrás, o cientista político Leonardo Barreto, da Universidade de Brasília.
De lá para cá, este processo se acentuou e o sistema político-partidário foi engolido pelas togas da Lava Jato, que ocuparam o espaço vazio e se tornaram um superpoder acima dos outros.
O resultado disso está bem definido na abertura da coluna de Josias de Souza em sua coluna deste sábado no UOL, sob o título “Partidos mudaram de ramo e viraram prostíbulos”:
“Os partidos políticos brasileiros, como se sabe, estão em crise. Perderam a função. A própria política caiu em descrédito. Não há mais debate de ideias. Pouco importa que legenda está no poder. Muita gente pediu uma reforma política. Pois ela chegou. Os partidos legalizaram a infidelidade, instalaram uma porta giratória na entrada, reservaram R$ 2,6 bilhões do Tesouro Nacional para a compra de mandatos e mudaram de ramo. Os partidos viraram prostíbulos”.
A truculenta ação policial-militar na Vila Kennedy e a porta giratória da Justiça, em que ora um togado manda prender e, em seguida, outro manda soltar, cada um de acordo com a sua própria lei, faz com que agora a confiança que a população tinha nas Forças Armadas e na Justiça lavajatense também esteja ameaçada.
Depois disso, o que restará? Se a nova República da Farda & Toga ruir, o que virá?
Faltam menos de sete meses para as eleições de outubro e não se vê no horizonte nenhuma força política capaz de pacificar e unir o país.
Caminhamos no escuro sem porta de saída à vista. As soluções mágicas e os golpes de mestre estão se esgotando.
Vida que segue.
“Como vou sustentar a minha família agora?”.
Numa cidade de podres poderes falidos com intervenção militar na segurança, em que ninguém responde pelo Estado, a pergunta dolorida da favelada ficou sem resposta.
Quem foi o responsável por esta barbaridade cometida contra uma população indefesa, sem ordem judicial, que se vira como pode para levar comida aos filhos?
As máquinas e os funcionários empregados na operação eram do prefeito Marcelo Crivella, o bispo omisso que não cuida da cidade e gosta de viajar, e agora age sob a proteção dos homens de farda, sem que ninguém de toga tomasse uma providência em defesa dos pequenos comerciantes.
Quem vai pagar pelos prejuízos e pelos dias parados dos donos das barracas e dos quiosques destruídos?
Em dezembro de 1968, Pedro Aleixo, o vice-presidente civil do general Costa e Silva, foi o único a discordar do Ato Institucional Nº 5 que jogou o Brasil nas profundezas da ditadura.
Com a destruição completa do Estado de Direito, Aleixo disse a Costa e Silva que a partir daquele momento o maior problema passava a ser o guarda da esquina investido de poder.
Ainda não chegamos a este ponto, mas estamos caminhando celeremente para um estado de anomia social e de desordenamento institucional.
Ninguém sabe mais quem manda em quem, qual é a lei que está valendo, o que pode e o que não pode ser feito pelo guarda da esquina, o funcionário da prefeitura ou o juiz de plantão.
Em política, não existe espaço vazio, ensinam os velhos sábios. Se os políticos e os partidos não se dão ao respeito, a turma da Farda & Toga rapidamente ocupa o vazio dos paisanos.
Com a falência da autoridade do prefeito e do governador, o espaço foi rapidamente ocupado pela intervenção militar decretada por um governo central em final de mandato cercado de denúncias de corrupção.
Sem conseguir aprovar as reformas por ter perdido o controle do Congresso Nacional, o mesmo que derrubou Dilma Rousseff, o presidente Michel Temer convocou as tropas e criou um Ministério da Segurança para mostrar a força que já não tem para governar o país.
A judicialização da política e a politização da Justiça cuidam do resto.
“No contexto da cadeia de poder e de autoridade do Brasil hoje, a judicialização da política se tornou inevitável, porque não há uma força política capaz de liderar uma superação do processo de crise”, constatou, dois anos atrás, o cientista político Leonardo Barreto, da Universidade de Brasília.
De lá para cá, este processo se acentuou e o sistema político-partidário foi engolido pelas togas da Lava Jato, que ocuparam o espaço vazio e se tornaram um superpoder acima dos outros.
O resultado disso está bem definido na abertura da coluna de Josias de Souza em sua coluna deste sábado no UOL, sob o título “Partidos mudaram de ramo e viraram prostíbulos”:
“Os partidos políticos brasileiros, como se sabe, estão em crise. Perderam a função. A própria política caiu em descrédito. Não há mais debate de ideias. Pouco importa que legenda está no poder. Muita gente pediu uma reforma política. Pois ela chegou. Os partidos legalizaram a infidelidade, instalaram uma porta giratória na entrada, reservaram R$ 2,6 bilhões do Tesouro Nacional para a compra de mandatos e mudaram de ramo. Os partidos viraram prostíbulos”.
A truculenta ação policial-militar na Vila Kennedy e a porta giratória da Justiça, em que ora um togado manda prender e, em seguida, outro manda soltar, cada um de acordo com a sua própria lei, faz com que agora a confiança que a população tinha nas Forças Armadas e na Justiça lavajatense também esteja ameaçada.
Depois disso, o que restará? Se a nova República da Farda & Toga ruir, o que virá?
Faltam menos de sete meses para as eleições de outubro e não se vê no horizonte nenhuma força política capaz de pacificar e unir o país.
Caminhamos no escuro sem porta de saída à vista. As soluções mágicas e os golpes de mestre estão se esgotando.
Vida que segue.
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