quinta-feira, 10 de maio de 2018

Os golpes midiáticos nasceram na Venezuela

Por Nicholas Valdés, no site Carta Maior:

O conhecido jornalista espanhol Ignacio Ramonet afirmou nesta segunda-feira que foi na Venezuela que aconteceu o primeiro golpe de Estado midiático da história, e que o fato obriga a refletir sobre como utilizar os meios de comunicação no mundo de hoje.

No dia 11 de abril de 2002, há 14 anos portanto, houve uma tentativa de derrubar o então presidente Hugo Chávez, o que foi possível, durante algumas horas, especialmente graças ao papel dos meios de comunicação nos eventos que o propiciaram, declarou Ramonet, em entrevista para Prensa Latina, durante o encontro Venezuela en la Encrucijada (“Venezuela na Encruzilhada”), organizado pela Rede de Intelectuais e Artistas em Defesa da Humanidade.

Ramonet, que é diretor da versão em espanhol da publicação Le Monde Diplomatique, disse também que essa é a razão pela qual a Venezuela é também o país onde mais se reflete e debate sobre como os meios dominantes manipulam a população.

A comunicação de massas tem uma inegável importância para esse quadro, mas isso está atrelado à forma como a mensagem é trabalhada. Segundo o jornalista, “não basta ter muitos veículos para ser eficaz na tarefa de difundir ideias, já que quando um sistema é repetitivo demais pode produzir um resultado contrário ao que busca, ou seja, rejeição por parte da audiência”.

Ramonet deu como exemplo o caso da Argentina, onde Nestor Kirchner chegou à presidência apesar da vontade contrária da imprensa privada dominante, liderada pelo Grupo Clarín.

Desde então, a Argentina viu o crescimento de meios públicos muito importantes na última década, além da criação de significativas redes comunitárias. “Apesar de tudo isso, paradoxalmente, a direita se impôs nas últimas eleições presidenciais”, lembrou Ramonet.

O analista explicou que a razão da vitória de Macri em 2015 está, provavelmente, na elaboração da mensagem: “nos acomodamos com a ideia de que temos muitos veículos e que vamos conseguir algo com eles. Mas essa não é a fórmula, é preciso emitir um discurso bem elaborado”.

O jornalista alertou para o fato de a direita está tentando, nestes últimos meses, aproveitar a crise econômica mundial para regressar com métodos diferentes.

“Estamos observando no Brasil, onde se tenta dar um golpe de Estado judicial contra o governo de Dilma Rousseff, e também na Venezuela, onde a maioria opositora da Assembleia Nacional quer impor leis que, na verdade, não estão previstas pela Constituição”, explicou Ramonet.

Horas depois, num encontro internacional da Rede de Intelectuais e Artistas em Defesa da Humanidade, Ramonet falou com a reportagem do canal estatal venezuelano VTV, e afirmou que, nos últimos meses, a ultradireita, em todo o mundo, vem aproveitando a crise econômica global para reinstalar velhos procedimentos, visando atacar a institucionalidade das nações. Ele agregou que “eles (os representantes da nova direita) tentam criar debates que já não são tão frontais como os de 11 de abril de 2002, mas que buscam o mesmo objetivo: frear a experiência progressista na América Latina, porque ela joga contra os grandes interesses das oligarquias”.

O autor do livro Cien horas con Fidel (“Cem horas com Fidel”), citou o líder da Revolução Cubana, quem, na sua opinião, sempre teve clara a importância de trabalhar corretamente as mensagens dirigidas às massas.

“Há alguns anos, em Havana, num encontro que eu acompanhei, Fidel fez um alerta sobre o tema a um grupo de intelectuais: `é importante fazer com que as pessoas conheçam a nossa verdade´, e essa reflexão deve ser retomada na atualidade com muita força. Porém, os meios de comunicação são somente uma parte desse esforço, a diferença está nos conteúdos”, concluiu.

* Tradução de Victor Farinelli.

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