Por Rafael Moro Martins, no site The Intercept-Brasil:
Um debate entre figuras-chave de três dos principais institutos do Brasil expôs algumas das entranhas do universo das pesquisas eleitorais. Mauro Paulino, desde o final dos anos 1990 diretor do Datafolha, Márcia Cavallari, do Ibope, e Fernando Rodrigues, do Data Poder360, trocaram farpas – embaladas em generosas doses de ironia – para defender os próprios métodos de trabalho. Na plateia, jornalistas que foram a São Paulo participar do 13º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo da Abraji. Inclusive do Intercept Brasil.
Cavallari e Paulino uniram forças para bombardear o sistema de trabalho do Data Poder360, o instituto fundado há pouco mais de um ano por Rodrigues para realizar pesquisas para o portal que ele comanda em Brasília. O Data Poder360 faz pesquisas apenas por telefone, usando um sistema automatizado – algo inédito no país. Rodrigues defende que a dele é “a que menos errou em 2016 na eleição de Donald Trump”.
Nas sondagens do Data Poder360, o militar de extrema-direita Jair Bolsonaro tem, sistematicamente, registrado índices de intenção de voto maiores do que em outras sondagens. Segundo Rodrigues, seu instituto tem uma base de dados com 200 milhões de números de telefone, fixos e celulares, para a qual são disparadas ligações aleatórias pelo sistema automatizado de pesquisa.
“O que o Data Poder360 faz é enquete, não pesquisa”, disparou Cavallari. Para quem não é do ramo, as pesquisas eleitorais costumam utilizar uma amostra da população selecionada a partir de critérios (renda, região do país, entre tantos outros) que refletem um corte fiel do eleitorado – pelo menos em teoria. Na enquete, ao contrário, a participação é aleatória e definida por quem escolhe responder, não pelo pesquisador.
“Eu acho, com todo o respeito a vocês dois: século 21, gente. O que a gente faz se chama pesquisa, nos EUA só se faz esse tipo de pesquisa. Lá se chama pesquisa, e aqui é assim também”, replicou Rodrigues. Pouco antes, ele – que durante anos foi o principal repórter da Folha de S. Paulo em Brasília – fizera troça do Datafolha, que se orgulha de realizar apenas pesquisas presenciais, ou seja, realizadas pessoalmente por um entrevistador.
“O Datafolha faz pesquisas no Largo do Batata”, zombou o jornalista, fazendo referência a um tradicional ponto de partida da manifestações políticas em São Paulo – boa parte das marchas de junho de 2013, na cidade, partiu dali. Paulino reagiu irritado: “Não é verdade. Você escreveu sobre nossas pesquisas durante 20 anos e sabe disso.”
Cavallari e Paulino uniram forças para bombardear o sistema de trabalho do Data Poder360, o instituto fundado há pouco mais de um ano por Rodrigues para realizar pesquisas para o portal que ele comanda em Brasília. O Data Poder360 faz pesquisas apenas por telefone, usando um sistema automatizado – algo inédito no país. Rodrigues defende que a dele é “a que menos errou em 2016 na eleição de Donald Trump”.
Nas sondagens do Data Poder360, o militar de extrema-direita Jair Bolsonaro tem, sistematicamente, registrado índices de intenção de voto maiores do que em outras sondagens. Segundo Rodrigues, seu instituto tem uma base de dados com 200 milhões de números de telefone, fixos e celulares, para a qual são disparadas ligações aleatórias pelo sistema automatizado de pesquisa.
“O que o Data Poder360 faz é enquete, não pesquisa”, disparou Cavallari. Para quem não é do ramo, as pesquisas eleitorais costumam utilizar uma amostra da população selecionada a partir de critérios (renda, região do país, entre tantos outros) que refletem um corte fiel do eleitorado – pelo menos em teoria. Na enquete, ao contrário, a participação é aleatória e definida por quem escolhe responder, não pelo pesquisador.
“Eu acho, com todo o respeito a vocês dois: século 21, gente. O que a gente faz se chama pesquisa, nos EUA só se faz esse tipo de pesquisa. Lá se chama pesquisa, e aqui é assim também”, replicou Rodrigues. Pouco antes, ele – que durante anos foi o principal repórter da Folha de S. Paulo em Brasília – fizera troça do Datafolha, que se orgulha de realizar apenas pesquisas presenciais, ou seja, realizadas pessoalmente por um entrevistador.
“O Datafolha faz pesquisas no Largo do Batata”, zombou o jornalista, fazendo referência a um tradicional ponto de partida da manifestações políticas em São Paulo – boa parte das marchas de junho de 2013, na cidade, partiu dali. Paulino reagiu irritado: “Não é verdade. Você escreveu sobre nossas pesquisas durante 20 anos e sabe disso.”
Gangorra de percentuais
Para Paulino e Cavallari, a metodologia usada pelo Data Poder360 é responsável pela alta pontuação que Bolsonaro registra nos levantamentos do instituto. “[No Brasil] Quem não tem telefone é 9% da população. Se pegar a pesquisa do Fernando e ponderar com isso, vai baixar de 2 a 3 pontos o Bolsonaro, e aumentar de 2 a 3 pontos candidatos como a Marina. Essa é a diferença”, sugeriu a diretora do Ibope.
“Sessenta por cento dos eleitores do Bolsonaro são brancos, têm menos de 34 anos, moram em grandes cidades e têm acesso costumeiro à internet. Ele vai estar mais motivado a atender uma ligação automática [como a do Data Poder360] e responder porque também é o eleitor mais engajado nesse momento”, acrescentou Paulino.
Rodrigues reagiu: “O Bolsonaro, ao contrário do que o Mauro disse, é o voto mais duro. As pessoas respondem com vontade. Sobretudo quando não têm que olhar no olho de alguém. [Senão] Ficam com vergonha. E no telefone, não”, disse, para protestos dos concorrentes. Ele continuou: “Então, existe viés de todos os tipos. O que está na cabeça das pessoas é que no mundo democrático todos podem ser transparentes como estamos sendo, demonstrando qual a nossa metodologia de pesquisa”, falou, frisando a palavra pesquisa. “A não ser que nos EUA só se faça enquete”, completou, sobre boa parte das pesquisas eleitorais americanas serem feitas por telefone.
“Recebo muitas ligações de jornalistas [perguntando]: você não acha estranha a pesquisa do Data Poder360? Eu respondo não sei, pergunta pra ele”, ironizou Cavallari.
O chefe do Datafolha foi além: colocou em dúvida levantamentos como os realizados por uma corretora de investimentos financeiros, a XP. “Pesquisas influenciam o mercado financeiro. Quando uma empresa de investimentos faz uma pesquisa colocando o [ex-prefeito de São Paulo] Fernando Haddad como candidato do Lula, é completamente errado, a não ser que dissesse que o Alckmin é o candidato do Fernando Henrique Cardoso”, criticou, antes de disparar: “Tá faltando a imprensa pensar um pouco mais, ser mais crítica em relação a pesquisas, e dar a devida divulgação a algumas coisas muito estranhas que estão acontecendo”.
“Eu gostaria de ter tantas certezas quanto o Mauro quando ele fala que alguma coisa está errada”, ironizou Rodrigues. “Quem aqui nesta sala gostaria de saber como reagiriam os eleitores no dia da eleição se votassem no Duílio e ele fosse apontado como candidato do Lula? Alguém não teria curiosidade de saber? É uma pesquisa. Qual o problema de fazer essa pergunta? Nenhum.”
Perto do fim do debate, Paulino voltou a provocar Rodrigues, desta vez pelo acesso do jornalista à elite do Judiciário. “Quero fazer um pedido ao Fernando: marque uma audiência do presidente da Abep [entidade que reúne os principais institutos de pesquisas do país] e dos diretores do Datafolha e do Ibope – e você mesmo, se quiser participar – com os 11 ministros do Supremo. Nem precisa ser os 11; só o Fux [também presidente do Tribunal Superior Eleitoral]. A gente está tentando isso desde o ano passado…” A provocação foi uma resposta à afirmação de Rodrigues de que a metodologia do Data Poder360 foi aprovada por todos os integrantes da corte suprema, em audiências presenciais dos ministros com pessoas do site.
“Isso aqui tá pior que debate de candidato. Vocês criticam os candidatos, mas estão piores do que eles”, ironizou, já perto do final do encontro, o mediador José Roberto de Toledo, editor do site da revista piauí. “Acho que é uma riqueza que a gente possa ter essa discussão. Acho que todos fazem um trabalho excepcional, e nós fazemos um trabalho absolutamente correto, transparente ao extremo”, contemporizou Rodrigues.
No meio da troca de farpas, sobressaiu-se uma concordância: os diretores de Ibope e Datafolha disseram que uma pesquisa de intenção de votos nacional, com 2 mil entrevistas, custa pelo menos R$ 270 mil. Os preços praticados pelo Poder360 são bem inferiores a isso.
Ao final, quando todos já estavam em pé para ir embora, Rodrigues protagonizou um gran finale: subiu numa cadeira para chamar a atenção. “Uma última informação”, gritou. “Eu gostaria de falar de sintaxe. Eu não sou um instituto de pesquisa. Sou uma empresa que faz pesquisa”, disse. Mas era tarde: o barulho das cadeiras e das conversas da plateia e abafou o esclarecimento.
Para Paulino e Cavallari, a metodologia usada pelo Data Poder360 é responsável pela alta pontuação que Bolsonaro registra nos levantamentos do instituto. “[No Brasil] Quem não tem telefone é 9% da população. Se pegar a pesquisa do Fernando e ponderar com isso, vai baixar de 2 a 3 pontos o Bolsonaro, e aumentar de 2 a 3 pontos candidatos como a Marina. Essa é a diferença”, sugeriu a diretora do Ibope.
“Sessenta por cento dos eleitores do Bolsonaro são brancos, têm menos de 34 anos, moram em grandes cidades e têm acesso costumeiro à internet. Ele vai estar mais motivado a atender uma ligação automática [como a do Data Poder360] e responder porque também é o eleitor mais engajado nesse momento”, acrescentou Paulino.
Rodrigues reagiu: “O Bolsonaro, ao contrário do que o Mauro disse, é o voto mais duro. As pessoas respondem com vontade. Sobretudo quando não têm que olhar no olho de alguém. [Senão] Ficam com vergonha. E no telefone, não”, disse, para protestos dos concorrentes. Ele continuou: “Então, existe viés de todos os tipos. O que está na cabeça das pessoas é que no mundo democrático todos podem ser transparentes como estamos sendo, demonstrando qual a nossa metodologia de pesquisa”, falou, frisando a palavra pesquisa. “A não ser que nos EUA só se faça enquete”, completou, sobre boa parte das pesquisas eleitorais americanas serem feitas por telefone.
“Recebo muitas ligações de jornalistas [perguntando]: você não acha estranha a pesquisa do Data Poder360? Eu respondo não sei, pergunta pra ele”, ironizou Cavallari.
O chefe do Datafolha foi além: colocou em dúvida levantamentos como os realizados por uma corretora de investimentos financeiros, a XP. “Pesquisas influenciam o mercado financeiro. Quando uma empresa de investimentos faz uma pesquisa colocando o [ex-prefeito de São Paulo] Fernando Haddad como candidato do Lula, é completamente errado, a não ser que dissesse que o Alckmin é o candidato do Fernando Henrique Cardoso”, criticou, antes de disparar: “Tá faltando a imprensa pensar um pouco mais, ser mais crítica em relação a pesquisas, e dar a devida divulgação a algumas coisas muito estranhas que estão acontecendo”.
“Eu gostaria de ter tantas certezas quanto o Mauro quando ele fala que alguma coisa está errada”, ironizou Rodrigues. “Quem aqui nesta sala gostaria de saber como reagiriam os eleitores no dia da eleição se votassem no Duílio e ele fosse apontado como candidato do Lula? Alguém não teria curiosidade de saber? É uma pesquisa. Qual o problema de fazer essa pergunta? Nenhum.”
Perto do fim do debate, Paulino voltou a provocar Rodrigues, desta vez pelo acesso do jornalista à elite do Judiciário. “Quero fazer um pedido ao Fernando: marque uma audiência do presidente da Abep [entidade que reúne os principais institutos de pesquisas do país] e dos diretores do Datafolha e do Ibope – e você mesmo, se quiser participar – com os 11 ministros do Supremo. Nem precisa ser os 11; só o Fux [também presidente do Tribunal Superior Eleitoral]. A gente está tentando isso desde o ano passado…” A provocação foi uma resposta à afirmação de Rodrigues de que a metodologia do Data Poder360 foi aprovada por todos os integrantes da corte suprema, em audiências presenciais dos ministros com pessoas do site.
“Isso aqui tá pior que debate de candidato. Vocês criticam os candidatos, mas estão piores do que eles”, ironizou, já perto do final do encontro, o mediador José Roberto de Toledo, editor do site da revista piauí. “Acho que é uma riqueza que a gente possa ter essa discussão. Acho que todos fazem um trabalho excepcional, e nós fazemos um trabalho absolutamente correto, transparente ao extremo”, contemporizou Rodrigues.
No meio da troca de farpas, sobressaiu-se uma concordância: os diretores de Ibope e Datafolha disseram que uma pesquisa de intenção de votos nacional, com 2 mil entrevistas, custa pelo menos R$ 270 mil. Os preços praticados pelo Poder360 são bem inferiores a isso.
Ao final, quando todos já estavam em pé para ir embora, Rodrigues protagonizou um gran finale: subiu numa cadeira para chamar a atenção. “Uma última informação”, gritou. “Eu gostaria de falar de sintaxe. Eu não sou um instituto de pesquisa. Sou uma empresa que faz pesquisa”, disse. Mas era tarde: o barulho das cadeiras e das conversas da plateia e abafou o esclarecimento.
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