sexta-feira, 13 de julho de 2018

As preferências da nossa burguesia

Por Umberto Martins, no site Vermelho:

Se a verdade deve ser buscada nos fatos, como sugerem os comunistas chineses, é conveniente analisar o significado do espetáculo encenado pelos barões da indústria brasileira durante a reunião com presidenciáveis patrocinada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) no dia 4 de julho em Brasília.

A plateia, composta por cerca de 2 mil empresários - em sua maioria brancos, ricos, bem nutridos, de terno e gravata – respaldou as pregações do pré-candidato da extrema-direita, Jair Bolsonaro, aplaudido de pé em alguns momentos, e reservou vaias a Ciro Gomes, que teve a coragem de defender em palco tão hostil interesses e bandeiras da classe trabalhadora.


Capital e trabalho

Bolsonaro disse que indicará generais para seu eventual e improvável ministério, chamou o MST de “terrorista” e reclamou de já não poder fazer piadas racistas, numa alusão à sua condição de réu no STF por injúria e incitação ao racismo. Confessou que nada entende de economia e educação, entre outros temas estratégicos para o país.

Mas deixou claro a quem serve ao enfatizar que os trabalhadores devem optar entre ter “menos direito e emprego ou todos os direitos e nenhuma emprego”, sinalizando seu apoio à agenda do capital contra o trabalho, que lhe rendeu apoio entusiasta dos empresários.

Ciro Gomes desagradou os ouvidos patronais e foi vaiado ao caracterizar a reforma trabalhista como o que de fato é, “uma selvageria”, e reiterar o compromisso que assumiu com as centrais sindicais de apresentar um novo projeto sobre o tema, que promete debater antes com empresários, trabalhadores e especialistas.

Lembrando Cazuza

O pedetista não se abalou coma as vaias. Afirmou que “quando se é vaiado defendendo os trabalhadores parece que é um prêmio. Meu lado é o da classe trabalhadora”. Ganhou pontos no movimento sindical, fortemente golpeado pela nova legislação trabalhista.

A identidade dos barões da indústria com o líder da extrema-direita dá o que pensar. É a mesma burguesia que apoiou os golpes de Estado de 1964 e 2016 (simbolizado pelo pato da Fiesp), aliando-se nas duas ocasiões ao imperialismo em empreitadas contra a classe trabalhadora, a democracia e a soberania nacional. Os fatos sugerem que não devemos nutrir a ilusão de contar com a burguesia na luta por um novo projeto nacional de desenvolvimento, soberano, democrático e orientado para a valorização do trabalho (princípio consagrado pela Constituição de 1988) e o bem estar social.

A burguesia brasileira, urbana e rural, aliou-se ao imperialismo no golpe do capital contra o trabalho, que ao lado da reforma trabalhista compreende a entre do pré-sal ao capital estrangeiro e a privatização e desnacionalizando de empesas estratégicas. Só a classe trabalhadora objetivamente defende a Petrobras e as estatais e tem interesses concretos na defesa do desenvolvimento com soberania, democracia e justiça social. Só ela pode liderar um movimento político nesta direção.

Já a identidade dos empresários com o pré-candidato da extrema-direita recorda o apoio da grande burguesia alemã à ascensão de Adolf Hitler e do nazismo nos anos 30 do século passado. Não devemos negligenciar o avanço da extrema direita no mundo e muito menos no Brasil hoje. Nazismo e fascismo são recursos políticos de última instância do capitalismo, são a saída que a burguesia vislumbra para a crise.

Os fatos suscitam ainda a lembrança do título de uma canção de Cazuza: “A burguesia fede”.

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