domingo, 2 de junho de 2019

Bolsonaro, Queiroz e o domínio do fato

Por Fernando Brito, no blog Tijolaço:

Não há, até agora, nenhum ato do sr. Jair Bolsonaro que permita ligá-lo, do ponto de vista criminal, às estrepolias de seu confessadamente amigo Fabrício Queiroz ou às de seu filho, Flávio.

Não há, a não ser que se utilize o estranho “Direito” que passou a imperar aqui e, embora com vergonha de utilizar o nome de “Teoria do Domínio do Fato”.

Neste caso, o fato de Jair Bolsonaro ter nomeado a filha de Queiroz em seu gabinete, recebendo sem trabalhar e repassando dinheiro ao esquema, além das contratações partilhadas – ora com ele, ora com Flávio – de parentes de sua ex-mulher Ana Cristina Valle são tão suficientes para provar que ele conhecia e patrocinava o esquema quanto o fato de Lula ter nomeado diretores que desviavam dinheiro na Petrobras.

Sérgio Moro reconheceu que não havia ato de Lula a justificar o suposto favorecimento no caso do Guarujá, mas que o ex-presidente ter nomeado e mantido aqueles sujeitos era motivo para condená-lo.

Ok, ok… Aos fatos, sem partidarismos.

À Veja, Bolsonaro reconheceu a intimidade de longos anos com Fabrício, que operou durante 11 anos no gabinete do filho. Admitiu que o arranjo com o policial servia a ele, Jair: “Eu mesmo já usei o Queiroz várias vezes.”

No caso de Jair Bolsonaro, há coisas que, fossem com Lula, seriam prova irrefutável de sua cumplicidade. Já imaginaram um cheque de R$ 24 mil de Paulo Roberto Costa, Renato Duque ou Nestor Cerveró depositado na conta de D. Marisa Letícia?

Imaginem o que diriam Deltan Dallagnol e Sérgio Moro disto ou das fotos de pescaria de Jair e Fabrício? Se uma cachacinha no sítio com Léo Pinheiro foi aos autos como prova do favorecimento a Lula, o que diriam das cocorocas pescadas em Angra?

Continuam faltando explicações óbvias: o empréstimo de R$ 40 mil que Bolsonaro fez a ele foi em dinheiro vivo, como os pagamentos ao Hospital Albert Einstein ou correspondeu a um saque bancário? Certo, R$ 24 mil foram pagos em cheques depositados para Michelle, e o restante? Veio em grana? Em depósito de envelopes, frecionados como o do filho Flávio?

Ainda – ainda! – não se está acusando o sr. Jair Bolsonaro de ilegalidade alguma, embora a promiscuidade já seja evidente.

Se a lei fosse “para todos”, das duas uma: ou Bolsonaro já seria réu ou Lula não poderia ter sido condenado, porque para ambos não há prova de atos ilícitos.

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