Ilustração: Onça Verunschk |
No próximo domingo [18/10] a Bolívia decidirá nas urnas qual modelo o país adotará para a exploração e industrialização da maior reserva de lítio do mundo. Esta disputa se desenrola em torno de 2 modelos antagônicos.
Por um lado, a retomada do modelo soberano de industrialização e orientado para o desenvolvimento nacional que fora concebido ainda durante o governo Evo Morales e que, no pleito, está representado pela candidatura de Luis Arce, do MAS [Movimento ao Socialismo].
E, em contraposição, o modelo defendido pelos candidatos de direita e extrema-direita em linha com interesses estrangeiros, que consiste na desnacionalização e na entrega desta formidável riqueza a grupos multinacionais.
O lítio é um elemento químico de alto valor estratégico e econômico. É empregado nas indústrias química, farmacêutica e, principalmente, nas áreas de energia, eletrônica e produção automotiva.
Este “ouro branco”, como é chamado, está largamente presente no nosso cotidiano: em remédios antidepressivos, nas baterias de celulares e na maioria dos dispositivos eletrônicos.
Mas a aplicação do lítio será cada vez mais crescente na propulsão de veículos elétricos; uma realidade que nas próximas décadas desencadeará uma competição mundial pelo produto no contexto desta revolução tecnológica em curso.
É dominante no debate internacional a tese de que a derrubada de Evo Morales no golpe de novembro de 2019 é consequência da ofensiva dos capitais internacionais, na maioria estadunidenses, pelo combate às políticas de regulação e controle do governo boliviano em relação à cadeia de hidrocarbonetos [combustíveis minerais, como o gás] mas, principalmente, do lítio.
Elon Musk, o dono da fabricante de veículos elétricos Tesla, recentemente [junho/2020] confessou sua participação no golpe conduzido pelo secretário-geral da OEA Luiz Almagro a mando dos EUA. Além de assumir o atentado contra a democracia do país andino, Musk ainda ameaçou: “Vamos dar golpe em quem quisermos! Lide com isso”.
Pesquisas realizadas por institutos bolivianos e estrangeiros indicam que Luis Arce, do MAS, poderá ser eleito já no 1º turno. A tendência, hoje, é que ele obtenha uma votação acima de 40% e, ao mesmo tempo, uma vantagem superior a 10% de votos em relação ao 2º colocado, o direitista Carlos Mesa.
De acordo com a lei boliviana, com este desempenho Arce seria eleito no 1º turno. Isso, entretanto, não é garantia de que a oligarquia boliviana, que representa os interesses estrangeiros no país, respeite e aceite o resultado eleitoral e a soberania popular.
Suspeita-se que a oligarquia boliviana, com auxílio do exército de observadores [ou mercenários] da OEA, apoiados pelo governo Trump, promovam fraudes e falsifiquem o resultado eleitoral. Ou, então, a hipótese mais traumática é a de que, ante o fracasso eleitoral, eles aprofundem a dinâmica golpista, imprimindo características ainda mais sanguinárias no massacre dos povos originários.
Na eleição de outubro de 2019 Evo Morales obteve 47,06% dos votos – fez 10,54% mais que Carlos Mesa [36,52%], tirando uma vantagem de 640 mil votos.
Apesar disso, contudo, o mercenário Luis Almagro/OEA fabricou um informe falso para tumultuar o processo político do país e legitimar o golpe perpetrado com extrema violência pela oligarquia dominante [aqui].
Está fartamente documentado que o governo Bolsonaro, por intermédio da embaixada do Brasil em La Paz, não só apoiou o atentado do Almagro/OEA, como teve participação ativa na conspiração que levou à derrubada do presidente legítimo. E, além disso, o governo Bolsonaro participou da solução golpista [e bizarra] que legitimou a “autoproclamada” presidência de Jeanine Añez [aqui].
O capitalismo, em todas suas formas e estágios – da atual fase neoliberal, assim como nas etapas históricas pregressas [vide a Comuna de Paris, no longínquo ano de 1871] – já comprovou ser um sistema incompatível com a democracia e com a soberania popular.
A eleição na Bolívia no próximo domingo [18/10], se acontecer livremente com lisura, sem fraudes e sem interferência indevida, será um importante teste acerca do real respeito e compromisso da oligarquia boliviana e continental, assim como dos EUA, com a democracia e a soberania popular.
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