domingo, 30 de maio de 2021

O “ministério paralelo” de Bolsonaro

Por Altamiro Borges

Em entrevista à GloboNews neste domingo (30), o senador Renan Calheiros, relator da CPI do Genocídio, afirmou que a comissão já possui provas concretas de que integrantes do chamado “ministério paralelo” da Saúde reuniam-se todos os dias com o “capetão” Jair Bolsonaro. O que tramaram? Quais interesses defenderam?

“Acho que já temos muita coisa comprovada com relação à existência do ‘gabinete paralelo’. Já temos até o número de reuniões que eles tiveram. Estamos com vários integrantes dessa consultoria paralela, especialíssima, porque despachava todos os dias com o presidente da República”, afirmou o emedebista alagoano à emissora por assinatura.

Renan Calheiros não deu maiores detalhes sobre essas provas. Na próxima terça-feira (1), a CPI do Genocídio retomará os depoimentos com a oitiva de Nise Yamaguchi – a sinistra médica pró-cloroquina que é apontada como uma das chefes do tal "ministério paralelo". Muita coisa pode vir à tona!

24 reuniões para tratar de estratégias na pandemia

Na quinta-feira passada (27), a Folha já havia dado algumas pistas sobre esse “grupo de aconselhamento ao presidente” fora da estrutura oficial do governo. Entre outras coisas, ela revelou que “documentos da Casa Civil da Presidência da República entregues à CPI da Covid mostram que pessoas apontadas como integrantes de um ‘ministério paralelo’ da Saúde participaram de ao menos 24 reuniões para tratar de estratégias do governo no combate à pandemia”.

Ainda de acordo com a reportagem, “Bolsonaro não esteve em seis delas, mas todas ocorreram no Palácio do Planalto ou no Alvorada (residência oficial da Presidência). Aparecem nessas reuniões o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), filho do presidente, o deputado federal Osmar Terra (MDB-RS), o assessor especial da Presidência Tercio Arnaud, o ex-secretário de Comunicação Fabio Wajngarten e a médica Nise Yamaguchi”.

A matéria garante que também houve reunião com a presença do filhote 01 do “capetão”, o senador Flávio Bolsonaro – já batizado carinhosamente de Flávio Rachadinha. “Os filhos do presidente estiveram em ao menos cinco reuniões. Três delas foram por videoconferência, para tratar do mesmo tema: ‘governadores e pedidos de apoio para enfrentamento da crise, as pautas são referentes a saúde, economia e outras áreas’”.

Sobre a excêntrica médica que irá depor na terça-feira na CPI do Genocídio, a Folha detalha: “Nise Yamaguchi esteve em ao menos quatro reuniões no Planalto... Em uma delas, em abril do ano passado, tratou sobre hidroxicloroquina, remédio que não tem eficácia comprovada contra a Covid-19. O presidente chegou a fazer postagens sobre a médica nas redes sociais para falar sobre o medicamento”. O que será que a “especialíssima” conselheira do “capetão” vai revelar na CPI?

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A Folha fez um breve perfil dos pretensos integrantes do “ministério paralelo de Bolsonaro”. Vale conferir e guardar:

Arthur Weintraub

Ex-assessor especial do governo e irmão do ex-ministro da Educação Abraham Weintraub. Os parlamentares dizem acreditar que o advogado pode ser um dos líderes do gabinete paralelo, após a revelação de vídeos em que afirmou que estava investigando a hidroxicloroquina a pedido de Bolsonaro.

Carlos Wizard

Empresário que atuava como conselheiro de Pazuello na Saúde, como o próprio general admitiu em depoimento à CPI. O senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE) solicitou que Wizard seja ouvido na comissão e pediu a quebra de sigilo do empresário, de março de 2020 até agora. De acordo com Vieira, os registros podem indicar a participação de Wizard nas discussões do governo sobre a gestão da pandemia.

Filipe Martins

Assessor internacional da Presidência. Os senadores querem saber qual a sua influência na elaboração de uma política externa ideológica, em particular refratária à própria China e à Venezuela — esse último país apontado como alternativa que teria evitado o colapso da falta de oxigênio em Manaus. Participou de ao menos uma reunião com representantes da Pfizer para negociar vacinas, segundo contou à CPI o gerente-geral da empresa na América Latina, Carlos Murillo.

Nise Yamaguchi

A oncologista é uma das médicas que mais defendem o uso da cloroquina e hidroxicloroquina para o combate da Covid. Ela chegou a ser cotada para assumir o Ministério da Saúde após a saída de Luiz Henrique Mandetta. O diretor-presidente da Anvisa, Antonio Barra Torres, disse em depoimento à CPI que ela apoiou a proposta de mudança da bula da cloroquina para que o remédio pudesse ser usado no tratamento da doença. Nise foi afastada da sua posição no corpo clínico do Hospital Israelita Albert Einstein, em julho de 2020, após declarações em que comparava o medo da pandemia ao sentimento das vítimas do holocausto.

Osmar Terra

Deputado federal e ex-ministro da Cidadania, é apontado como um dos conselheiros de Jair Bolsonaro que combateram o isolamento social, além do uso de máscaras. Ele chegou a prever menos de duas mortes por dia no país por causa da Covid-19. A média de óbitos, neste ano, passou de 3.000 pessoas por dia. Em 12 de março, ele distribuiu, por meio do seu Twitter, uma carta que defendia a imunidade de rebanho como redução da mortalidade, desconsiderando o número de vítimas para tal. A opção mais segura, no entanto, é a vacinação.

Tercio Arnaud

Assessor especial da Presidência, integrante do chamado "gabinete do ódio" e vinculado pelo Facebook a contas falsas para proferir ataques contra pessoas consideradas inimigas do presidente. Participa de encontros da cúpula do governo, como reuniões ministeriais, e tem acesso livre ao Palácio da Alvorada. Em janeiro, ele publicou um vídeo de Bolsonaro dizendo que foi preciso intervir em Manaus porque não se faz na cidade "tratamento precoce" contra a Covid. Segundo cientistas, não existe o que o presidente chama de tratamento precoce eficaz.

Fabio Wajngarten

Ex-secretário de Comunicação da Presidência, admitiu que a carta em que a Pfizer oferecia negociar doses de vacina ao Brasil ficou parada por ao menos dois meses no governo federal. Disse que "construiu atalhos" para a negociação com a empresa e criticou a gestão do ‌ex-ministro‌ ‌da Saúde Eduardo‌ ‌Pazuello‌ afirmando que vê‌ ‌como‌ ‌incompetência‌ ‌"ficar‌ ‌refém‌ ‌da‌ ‌burocracia".‌ ‌À‌ ‌revista‌ ‌Veja ‌ele‌ ‌disse‌ ‌que‌ ‌convidou‌ ‌os‌ ‌diretores‌ ‌da‌ ‌Pfizer‌ ‌para‌ ‌ir‌ ‌à‌ ‌Brasília‌ ‌e‌ ‌que‌ ‌foram‌ ‌feitas‌ ‌várias‌ ‌reuniões.

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