quarta-feira, 16 de fevereiro de 2022

Cuba e o cinismo de Biden sobre a Ucrânia


Por Jeferson Miola, em seu blog:


Em pronunciamento nesta 3ª feira [15], o presidente dos EUA Joe Biden disse que “não vamos sacrificar os princípios básicos de que as nações têm direito à soberania e à integridade territorial. Os países têm a liberdade de estabelecer seu próprio caminho e é correto que saibam com quem se associar”. Assino embaixo.

Biden se referia à Ucrânia. E por isso ele defendia, no entanto, apenas retoricamente e cinicamente, os princípios do direito internacional que os EUA negam a Cuba há 61 anos – os direitos à autodeterminação dos povos, à soberania, à independência e à autonomia imanente a toda nação soberana.

Não deixa de ser irônico e, também, cínico, Biden evocar o princípio do direito “à integridade territorial” ao mesmo tempo que seu país mantém, desde o ano de 1903 do século passado, um enclave dentro do território de Cuba, que é a base de Guantánamo.

Guantánamo é uma área de 116 Km2 ocupada e sob jurisdição completa dos EUA há 119 anos por imposição do império estadunidense como contrapartida à intervenção na guerra de independência de Cuba contra a Espanha [1898].

Depois da conquista da independência, Cuba foi pressionada pelo governo do presidente Theodore Roosevelt a incluir a chamada Emenda Platt na primeira Constituição do país. Esta Emenda obrigava a ilha caribenha a ceder aos EUA, “pelo tempo necessário”, ou seja, perpetuamente, partes do seu próprio território. Sem dúvida, uma modalidade de obsceno e perpétuo colonialismo e de grotesca pirataria.

Em 2002, durante o governo Bush, os EUA construíram em Guantánamo um centro ilegal de detenção, de tortura e de assassinatos de supostos inimigos do país no contexto da “guerra preventiva contra o terror”. Tudo feito à margem do direito internacional, do devido processo legal, dos valores civilizatórios e das resoluções da ONU.

Na tensão presente da aliança EUA-OTAN contra a Rússia, o governo Biden vem amargando sucessivas derrotas e se expondo ao ridículo.

Mais além disso, porém, no contexto da mudança qualitativa do jogo geopolítico mundial ditada pela iniciativa coordenada entre China e Rússia, os EUA passaram a atuar como aqueles jogadores em posição de desvantagem que cometem erros elementares e acentuam contradições fundamentais.

Para ser minimamente sério e confiável, Biden deveria [i] iniciar entendimentos para devolver a Cuba a soberania do território que usurpa há 119 anos, e [ii] levantar imediatamente o bloqueio ilegal e as sanções ilegais e criminosas impostas a Cuba e ao seu povo.

Joe Biden, o presidente de turno do poder imperial, faz uma ode ao cinismo e a hipocrisia. Na guerra que sonha desatar contra a Rússia, ele defende para a Ucrânia os mesmos princípios do direito internacional que os EUA negam a Cuba há 61 anos.

1 comentários:

Sergio Carvalho disse...

Pena que não se possa mais colocar uma base de mísseis russos em Cuba como foi feito em 1962 para ver os EUA mudar rápido de ideia quanto a Ucrânia. Em 1962 gerou uma crise e é praticamente a mesma coisa com a OTAN tentando usar a Ucrânia como base para cercar e ameaçar a Rússia. Só que agora não existe Guerra Fria, não existe o fantasma do comunismo, mas os interesses regionais, os interesses comerciais existem.