Neste ano o 1º de Maio será celebrado num contexto especialmente adverso e crítico para a classe trabalhadora e o povo brasileiro. A legião de brasileiros e brasileiras desempregadas e desalentadas soma 16,7 milhões e o número de trabalhadores subutilizados sobe a 27,3 milhões, de acordo com as últimas estatísticas do IBGE. A fome e a insegurança alimentar frequentam hoje os lares de mais de 100 milhões de pessoas.
Associada aos dramas do emprego, estimulada pela instabilidade econômica global e a crise geopolítica, a carestia avança impondo uma perversa redistribuição da renda em prejuízo da classe trabalhadora, principalmente as camadas mais pobres que gastam a maior parte da magra renda com alimentação.
A inflação acumulada em 12 meses saltou para 11,3 % em março. Mas o castigo para os pobres, que compõem mais de 50% deste nosso Brasil, foi bem maior, uma vez que a cesta básica subiu 21,46% no mesmo período. Para agravar a penúria de quem trabalha os salários estão sendo arrochados.
Análise feita pelo Dieese de 231 reajustes obtidos por categorias profissionais com data-base em março de 2022 indica que 51,9% ficaram abaixo da inflação (INPC-IBGE). A variação real média dos reajustes em março foi de -0,5%. Este cenário adverso foi também observado durante todo o ano passado.
A renda subtraída da classe trabalhadora não evapora. É, de uma maneira ou de outra, apropriada sorrateiramente pelos capitalistas e destacadamente pelos investidores do sistema financeiro, os rentistas.
O Banco Central já anunciou a intenção de promover uma nova alta cavalar da taxa básico de juros sob o pretexto de conter a escalada dos preços. A Selic será elevada de 11,75 para 12,75% na próxima quarta-feira.
A decisão vai sangrar um pouco mais o bolso das famílias endividadas e elevar a dívida pública. Mas é saudada com entusiasmo pelo sistema financeiro, pois significa lucros fartos e fáceis para banqueiros e rentistas em geral.
A infelicidade do nosso povo tem uma causa maior. A política comandada por Jair Bolsonaro e Paulo Guedes, pautada pelo objetivo de satisfazer a sede insaciável de lucros dos grandes capitalistas, nacionais e estrangeiros, ao custo da destruição dos direitos trabalhistas, precarização das relações entre capital e trabalho e entrega da riqueza nacional.
O autoritário líder da extrema direita brasileira também não esconde suas intenções de liquidar o que resta da frágil democracia brasileira. Quer implantar um regime neofascista para calar a oposição popular e prosseguir com sua política destrutiva.
Urge redobrar os esforços para elevar a consciência da nossa classe trabalhadora, de forma a que possa viabilizar e liderar uma grande mobilização nacional para barrar o retrocesso e impor uma mudança de rumos. O caminho foi desenhado pela 3ª Conclat ao aprovar o documento unitário das centrais, dirigido aos candidatos e candidatas das próximas eleições.
Os sindicalistas apontaram várias medidas concretas para acabar com a fome, combater a carestia e o desemprego, resgatar direitos, defender a democracia e a soberania nacional. Cabe destacar a valorização do salário mínimo e dos salários em geral; a revogação da EC 95 (Teto de Gastos) e das reformas trabalhista e previdenciária; a interrupção e reversão das privatizações; o fortalecimento das empresas públicas e ampliação dos investimentos governamentais em saúde, educação, infraestrutura e outras áreas; a proteção do meio ambiente e das comunidades indígenas; políticas ativas em prol da igualdade e contra as discriminações de gênero, raça, etnia, sexo ou idade.
O desafio mais urgente para pavimentar o caminho da mudança é derrotar Jair Bolsonaro e eleger candidatos comprometidos com as causas trabalhistas nas eleições de outubro, afastando o neofascista do Palácio do Planalto e alterando a composição social e política do Congresso Nacional, hoje dominado por forças reacionárias. Que o 1º de Maio ilumine a consciência da nossa classe trabalhadora nesta direção.
* Adilson Araújo é presidente nacional da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB).
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