Por Manuel Domingos Neto
No Washington Post de hoje: a pedido de Zelensky, Biden enviará onze helicópteros russos M-17 para a Ucrânia.
O gesto é apresentado como uma ajuda extraordinária para o exausto e desguarnecido exército ucraniano.
Este tipo de aeronave serve para transportar pessoal, mas tem capacidade de combate, pode lançar foguetes.
A notícia é apresentada como exaltação ao espírito solidário dos ianques. Um presente, um alento extraordinário aos ucranianos! Quem sabe, com essas aeronaves, seja possível evacuar tropas cercadas e mesmo atingir forças russas.
Os Estados Unidos compraram esses helicópteros porque eram mais adequados ao teatro afegão. Lembrança de um tempo cordial entre Moscou e Washington.
Como é sabido, os militares estadunidenses correram do Afeganistão deixando bilhões em armas e equipamentos nas mãos do Talibã. Os helicópteros russos foram preservados porque estavam em manutenção fora do território afegão.
É improvável que essas velhas aeronaves sejam entregues devido ao controle das fronteiras e do espaço aéreo exercido pela Rússia.
Caso os ucranianos as recebam, serão rapidamente abatidas. Se forem preservadas, logo ficarão imprestáveis por impossibilidade de manutenção. Não é mole guerrear com sucatas.
Sobrarão, além de vítimas de vítimas da insensatez, débitos milionários para a Ucrânia.
O caso lembra o costume francês de vender armas recauchutadas ao Brasil. Os franceses usaram e abusaram desta prática ao longo de um século.
Nos arquivos do Exército francês, li a correspondência secreta pertinente à venda de canhões usados na Primeira Guerra Mundial.
Os oficiais franceses faziam de tudo para convencer os brasileiros da qualidade dos trambolhos de que queriam se livrar.
Alimentada por fabricantes concorrentes, a imprensa brasileira denunciava a esperteza francesa, mas os negócios terminavam dando certo. Rolavam cordialidade e favorecimentos entre os militares dos dois países.
Diversos oficiais brasileiros receberam a “légion d´honneur”, medalha instituída por Napoleão em 1802. Exibir no peito a honraria causava inveja. Maledicências corriam soltas.
Assisti na TV francesa, durante o governo Fernando Henrique, a entrega da última grande quinquilharia ao Brasil, o porta-aviões francês Foch, batizado como São Paulo.
Lembro o sorriso radiante do almirante brasileiro sendo entrevistado. Falava um francês sofrível.
Lembro também a cara da autoridade gaulesa elogiando a compra brasileira, parecia uma figura que saltara dos velhos papeis preservados no Château de Vincennes.
Assim como seu antecessor, o porta-aviões Minas Gerais (adquirido do Reino Unido pelo governo JK), o mastodonte inútil seria fonte permanente de gastos.
Porta-aviões são navios ofensivos, mas no Brasil foram justificados como necessidade de patrulhamento de nossas costas.
O recurso público desperdiçado teria servido para estimular iniciativas importantes para a defesa nacional, mas os comandantes estavam ligados na competição entre as corporações e na caça ao inimigo interno.
Os ucranianos no sufoco e os ianques bancando os espertos. Pura impiedade. Parece que aprenderam com os franceses.
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