quinta-feira, 1 de dezembro de 2022

Tempo certo da questão trabalhista

Foto: Cláudio Kbene/Divulgação
Por João Guilherme Vargas Netto


Ao reler os contos de Machado de Assis temos as mesmas sensações de um avarento ao recontar as moedas de seu tesouro. Cada um deles, assim como cada uma delas, é um novo deslumbramento.

É o que acontece com o conto “Tempo de crise”, de 1873, em que se narram as especulações políticas sobre uma troca de governo. Com exceção do dito “lamber os vidros por dentro”, que à época queria dizer o mesmo que “trocar as meias sem tirar os sapatos”, de hoje, o conto é de uma atualidade e precisão surpreendentes ( o que se passava na Rua do Ouvidor passa-se agora aceleradamente nas redes sociais).

Cabem todas as dúvidas e opiniões de quem participa ou de quem apenas comenta, que são muitas.

Isso também acontece na atual conjuntura em que a multidão de participantes e palpiteiros tem seus aspectos positivos, o do interesse em ajudar o novo governo a acertar a mão.

Muitos são pertinentes e desinteressados, mas alguns têm o laivo da vaidade, da intempestividade ou da ranhetice.

Insisto em dizer que a variedade é boa, desde que compatível como uma orientação geral correta, o que vem acontecendo (reforçada pelo sucesso na Copa do Mundo que ajuda a normalizar a situação).

A nota das centrais sindicais apoiando o governo e a transição e sugerindo já uma proposta de aumento real do salario mínimo é pertinente porque orienta o cumprimento da tarefa essencial, qual seja a de aprovar no atual Congresso Nacional a PEC do Bolsa Família, garantidora da capacidade de ação do novo governo e de suas promessas.

As discussões efetivas de temas substantivos da questão trabalhista devem ser travadas em seu tempo certo, com o novo governo e uma nova conjuntura, econômica e política, de maneira tripartite e democrática.

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