Charge: Enrico Bertuccioli |
A crise do capitalismo sob hegemonia dos abutres financeiros agrava-se nos EUA e na Europa e gera pânico na mídia rentista. Nessa quinta-feira (16), os jornalões brasileiros dão manchete para o tema. Folha: “Ação do Credit Suisse cai 25%, derruba bolsas e amplia desconfiança”. Estadão: “Fuga de ações do Credit Suisse desperta temor de crise global”. O Valor ainda tenta aliviar o clima: “Credit Suisse assusta mercados; anúncio do BC suíço reduz tensão”.
A quebradeira dos bancos também é destaque na imprensa dos EUA, epicentro da nova crise do sistema financeiro após o colapso do Silicon Valley Bank (SVB). O jornal Washington Post dá na primeira página: “Credit Suisse aumenta o nervosismo”. O Wall Street Journal alerta: “Problemas bancários pressionam mercados”. E o jornal New York Times aterroriza: “Temores de bancos se tornam globais, causando arrepios nos mercados”.
Já a mídia da Europa teme o contágio no Velho Mundo. O britânico Financial Times, considerado uma das bíblias dos banqueiros no planeta, dá chamada de capa: “Banco central suíço oferece suporte de liquidez ao Credit Suisse”. Na Espanha, o jornal El País enfatiza: “A crise do Credit Suisse aumenta o medo na Europa". E o La Vanguardia afirma: “A queda do Credit Suisse dispara os alarmes na banca europeia”.
A dimensão e a duração da nova crise
Não dá para saber ainda a dimensão e a duração desta nova crise do capitalismo financeirizado. Mas os sintomas são preocupantes. O economista Nouriel Roubini, que ficou famoso por prever o tsunami de 2008, teme a repetição da catástrofe. “O Credit Suisse é grande demais para ser salvo” e a sua eventual falência poderia significar um novo “momento Lehman Brothers”, alertou em entrevista à Agência Bloomberg. Há boatos de que outros dois grandes bancos franceses (Société Génerale e BNP Paribas) e um alemão (Deutsche Bank) também estariam em dificuldades.
Sobre as causas dessa nova tormenta, vários economistas concordam que ela está relacionada com a alta dos juros, nos EUA e na Europa. A partir de março de 2022, o Federal Reserve – o banco central ianque – elevou as taxas em um ritmo mais acelerado desde a crise dos anos 1980. O mesmo ocorreu em países da Europa. As reduções recentes não foram suficientes para evitar o caos. Além disso, o sistema financeiro está cada dia mais desregulamentado e caótico. O capitalismo virou um enorme cassino, que favorece apenas o 1% dos rentistas do planeta.
Enfrentar a oligarquia financeira
Como afirma Antonio Martins, em artigo postado no site Outras Palavras nesta terça-feira (14), “nenhum mito é para sempre. A crença na solidez das finanças que floresceram sob o neoliberalismo tornou-se mais frágil neste domingo (12), quando as três principais autoridades monetárias dos EUA se reuniram às pressas, entre si e com o presidente Biden, para tentar debelar um incêndio que crepitava no sistema bancário. Três bancos haviam quebrado nos dias anteriores – um deles, o Silicon Valley Bank (SVB), especializado em financiar startups e considerado por alguns o ‘sangue do setor tecnológico’. Havia sinais de que os depositantes corriam para sacar seus depósitos em outras instituições, temendo perdê-los. Surgiu o risco de uma ‘crise sistêmica’, catastrófica para a economia”.
Diante do perigo, o Federal Reserve decidiu honrar, com recursos públicos, todos os depósitos em bancos quebrados, favorecendo em especial os clientes mais ricos. “Não se sabe quanto custará este resgate, mas potencialmente ele pode chegar a centenas de bilhões de dólares. Além disso, abriu-se um crédito inédito (Programa de Financiamento a Prazo dos Bancos, ou BTFP) para salvaguardar, também com dinheiro do Estado e em condições favorecidas, outras instituições bancárias sob risco. É muito cedo para saber se as ações, defendidas por Joe Biden, terão êxito”.
Os sinais, porém, não são animadores. Para o jornalista, a atual quebradeira é consequência dos juros elevados que servem ao rentismo. “O movimento afeta de diferentes maneiras as economias e as sociedades. No Brasil, periférico e regredido, um índice absurdo (13,75%, ou 8,5% ao ano acima da inflação) paralisa investimentos e sangra o Estado. É o maior do mundo e duas vezes superior ao dos países que vêm em segundo lugar... Foi este movimento altista nos EUA, num cenário marcado por financeirização generalizada da economia, que levou o SVB ao colapso e ameaça outros bancos”. Para evitar o colapso é urgente enfrentar a oligarquia financeira, afirma Antonio Martins.
“As respostas começaram a surgir no próprio domingo (12). Nos EUA, viralizaram nas redes sociais as postagens que exigiam: ‘Nenhum resgate dos contribuintes para os ricos’. O senador Bernie Sanders, ex-candidato à Presidência, manifestou-se: ‘Não é hora de salvar o SVB. Não podemos continuar ladeira abaixo, com socialismo para os ricos e individualismo cru para todos os demais’. Já a senadora Elisabeth Warren, conhecida por sua luta pela reforma do sistema financeiro, lembrou em artigo no New York Times que sobram socorros para os bancos e os especuladores – enquanto não há à vista uma saída para milhões de estudantes afundados em dívidas bancárias”.
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